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Publicado em número 239 - (pp. 17-20)

Grito de alerta: Estamos perdendo a juventude!

Por Prof. Renold J. Blank

1. Estamos perdendo a geração jovem

Recentemente proferi uma palestra num curso de teologia para leigos. Os coordenadores do encontro disseram-me que esse tipo de curso era muito procurado. De fato, havia em torno de 200 pessoas — muito interessadas, abertas, engajadas e comprometidas com os assuntos de nossa Igreja. Mas notei que a absoluta maioria dos participantes tinha idade acima de 40 anos.

A partir dessa experiência, comecei a prestar mais atenção na questão da idade e constatei, com espanto crescente, que a experiência daquele curso não era exceção, mas a regra.

Passei a verificar melhor o número dos jovens nas missas e vi que, em geral, eram minoria. Contei os participantes jovens, na última cerimônia de confissão comunitária, e cheguei a três, entre mais ou menos 50 pessoas presentes.

Na paróquia em que participo, constatei que o grupo de jovens, que sempre reza o terço antes da missa, é composto de mais ou menos dez integrantes — essa paróquia conta com aproximadamente 8 mil fiéis, dos quais no mínimo a metade tem idade inferior a 25 anos.

Comecei a conversar sobre esse tema com padres e leigos engajados, e eles, depois de certa hesitação inicial, confirmaram as minhas observações.

Nos centros urbanos, a maioria dos jovens não participa das atividades existentes nas paróquias. A grande massa da juventude não foi atraída pelos nossos grupos de jovens. São minoria absoluta os jovens que participam de um trabalho engajado na Igreja e frequentam escolas e universidades.

Isso vale também para a paróquia que conta com um grupo de jovens de, por exemplo, até 50 membros. Que percentual da população jovem essas 50 pessoas representam?

 

Por outro lado, passei recentemente num sábado à tarde — perto de um dos templos da Igreja Universal e encontrei ali centenas de jovens. Contaram-me que haviam participado do encontro semanal dos jovens — segundo eles, sempre “muito legal”, porque ali se discutiam temas interessantes.

Não tomo essa experiência como padrão, mas ela me deixa inquieto. Sensibilizado, além disso, por uma viagem recente à Europa, onde encontrei igrejas vazias e missas dominicais frequentadas esporadicamente por fiéis acima de 60 anos, comecei a ficar cada vez mais ansioso diante de nossa situação.

 

É por causa dessa preocupação que lanço este apelo a todos aqueles que amam a nossa Igreja, a todos aqueles que se preocupam com ela e levam a sério o desafio de pô-la cada vez mais a serviço deste mundo. Estar a serviço significa perguntar de que este mundo precisa e depois buscar caminhos, para responder àquilo que nos foi apresentado como necessidade e pedido.

No que diz respeito à juventude, devemos começar a agir agora, para que, em dez anos, não se chegue à situação que constatei na Europa. Temos de criar urgentemente alternativas e espaços atraentes para a geração jovem, se não quisermos que essa geração se perca, da mesma maneira como, no século XIX, se perdeu a classe dos trabalhadores e, no século XX, a dos intelectuais.

Os jovens significam o nosso futuro! Perdendo-os hoje, teremos as igrejas vazias amanhã.

Não basta mencionar que existem grupos de jovens com algumas dezenas de integrantes. Não conta o argumento de que, nas cidades do interior, a juventude ainda frequenta as missas. Tampouco interessa o argumento de que, em shows religiosos, organizados com toda a parafernália da indústria da propaganda, se apresentam massas de jovens cantando, pulando e batendo palmas.

Essas experiências são esporádicas, e os seus organizadores estão sujeitos a sucumbir à segunda tentação feita a Jesus — assim como Mateus a relata em 4,5-6. Tenta-se atrair a atenção com barulho exterior e anestésicos emocionais.

O projeto histórico de Jesus — denominado Reino de Deus —, porém, não se realiza por meio das massas emocionadas, que perdem a noção do mundo ao seu redor, deixando-se seduzir por um espetáculo de conforto espiritual ou pelas emoções dos assim chamados exorcismos. Tais massas, por outro lado, servem bem ao projeto neoliberal, muito interessado numa religiosidade emocionada e concentrada em si mesma. Os adeptos de tal religiosidade em nada vão incomodar o sistema, e a sua experiência de conforto espiritual, por outro lado, ajuda a compensar as frustrações que o próprio sistema produz.

Em vez de deixar-nos seduzir por propostas que o próprio Jesus já desmascarou como falsas, deveríamos voltar àquilo que é o nosso verdadeiro desafio: formar uma nova geração de cristãos e cristãs que levem a sério a vocação de ser fermento para a transformação deste mundo. Cristãos e cristãs que deem testemunho de uma maneira alternativa de viver, que não se retiram deste mundo para viver a sua religiosidade privada, mas nele se encaixem de maneira positiva e transformadora.

Diante desse desafio, a questão não é quantos jovens teriam participado de algum evento religioso-cúltico-sacral. A verdadeira questão e que percentagem da juventude de uma paróquia conseguimos motivar para que esses jovens se engajem num trabalho sério de construção do Reino de Deus ou, pelo menos, passem a se sentir parte ativa de uma comunidade que celebra em torno da eucaristia o seu compromisso de compartilhar o pão com aqueles que não o têm.

 

Além dessa questão, impõe-se também outra, não menos urgente: quantos dos fiéis jovens que encontramos em nossas celebrações religiosas são homens e quantos são mulheres? Conforme as estatísticas, na sociedade a percentagem entre homens e mulheres é de 50% cada. Será que em nossas missas de jovens também constatamos essa distribuição?

 

Não basta responder a essas indagações observando que em todas as paróquias já há grupos de jovens e, consequentemente, não falta oportunidade aos nossos jovens de ali participar.

Os grupos de jovens existentes, em geral, são grupos de oração. Esses grupos, sem dúvida, têm valor para aqueles que deles participam. Mas há muitos outros jovens que nem de longe pensam em entrar nesses grupos. O que oferecemos a estes jovens, de quem afinal também devemos cuidar? O que oferecemos àqueles que simplesmente não querem ser integrantes de grupos de oração? Será que eles não têm também direito de participar de algum grupo de jovens?

Penso, nesse contexto, em determinada paróquia em que o líder do grupo de jovens simplesmente não aceita integrantes que não participem da oração do terço antes da missa. Resultado: o grupo tem pouco mais de dez integrantes, pois a grande maioria dos jovens daquele local não aceita aquela prática de oração.

 

É nessa conjuntura que devemos agir. Aqueles que gostam de participar de grupos de oração devem encontrar tal possibilidade — nesse sentido, os nossos grupos de oração oferecem um serviço valioso e indispensável nas paróquias. Há, porém, outros jovens que não se sentem atraídos pelo tipo de religiosidade exercido em tais grupos.

Há muitos jovens, meninos e meninas, buscando desesperadamente companhia. Para eles, no entanto, estão fora de cogitação os exercícios de piedade como precondição para encontrar essa companhia. Será que, por causa disso, não devemos cuidar deles e delas?

Devemos, sim!

São eles que necessitam da nossa atenção especial. Não só devemos cuidar deles, mas, se realmente queremos estar a serviço do mundo e dos jovens, temos a obrigação de apresentar-lhes alternativas que respondam às suas necessidades.

Por causa disso, é importante criarmos, ao lado dos grupos de oração já existentes, grupos alternativos; grupos que de antemão não exijam dos jovens oração e exercícios religiosos, mas lhes ofereçam simplesmente espaço de convivência social. Sem pressão religiosa, sem exigência de santidade, sem o objetivo de fazer desses jovens pessoas piedosas que em todo canto enxerguem pecados.

 

2. Busca de contatos sociais

O jovem de hoje busca desesperadamente contatos sociais. Ele busca espaços para encontrar outros jovens, para discutir temas que lhe interessam.

Os jovens buscam lugares onde possam encontrar as suas futuras namoradas e os seus futuros namorados. Buscam locais onde possam dançar, jogar futebol e “trocar ideias”. Se nós não lhes oferecermos tais espaços, eles os buscarão em outro lugar. Se não encontram o seu parceiro ou a sua parceira em nosso meio, vão frequentar as baladas, os bares e os shoppings, visto que aí encontrarão outros e outras jovens.

Eis o desafio para nós, e a esse desafio devemos reagir agora, antes que seja tarde. Devemos criar tais espaços.

 

3. Proposta para a formação de novos grupos de jovens: “Nova Juventude”

Diante dessa situação, devemos criar espaços novos para aqueles jovens que não se sentem atraídos pelos grupos existentes. Devemos criar grupos alternativos, nos quais não se apresente como tema principal a oração, a espiritualidade e a religião, mas se ofereçam espaços de convivência e de fraternidade.

Os grupos estritamente religiosos, não há dúvida, desempenham importante papel para aqueles que têm essa expectativa. Mas há muitos outros jovens que não compartilham dessa atitude e até têm aversão a ela. É para eles que devemos criar novos espaços. Formar grupos para aqueles que buscam contatos sociais e amizade. Grupos em que seja possível dançar, discutir qualquer tipo de assunto, ouvir música, assistir a filmes e em que — por que não? — os jovens possam encontrar as suas namoradas e os seus namorados.

Devemos formar grupos em que ninguém seja pressionado para abraçar certo tipo de religiosidade ou certos exercícios e exigências espirituais, mas em que cada um simplesmente seja aceito como é — e, por causa disso, se sinta bem.

Atrás desse postulado, há a impositiva exigência de compreender a evangelização não como doutrinação, mas como humanização.

À medida que tentarmos realizar esse postulado, poderemos recuperar aqueles jovens que hoje simplesmente estão fora porque não gostam daquilo que lhes é oferecido. É para esses que devemos criar alternativas.

 

4. Alternativa atraente de uma “Nova Juventude”

Essa alternativa poderia chamar-se “Nova Juventude” (NJ).

Fazer parte da NJ poderia tornar-se o distintivo de uma juventude moderna, aberta, interessada nos problemas do mundo de hoje, a qual passo a passo, se deixasse engajar também na transformação deste mundo, conforme o grande ideal do Reino de Deus, sem, por causa disso, ter de passar por longos exercícios religiosos.

Fazer parte da NJ poderia tornar-se o distintivo de uma juventude nova, que não se retira deste mundo, mas, pelo contrário, o aceita de maneira positiva, como desafio e esperança.

Fazer parte da NJ poderia tornar-se o distintivo de todos aqueles jovens que se deixam entusiasmar pela formação de espaços humanizados, nos quais se poderia discutir de tudo: sexo, drogas, filmes, desemprego, estudos, namoro, problemas sociais, música, esporte… e até religião. Esses espaços humanizados possibilitariam aos jovens ter uma convivência de amigos e amigas, sem serem forçados a aceitar exigências religiosas; deles a religião faria parte não como doutrina, mas como pano de fundo, como convivência e experiência de amizade, de responsabilidade social e de fraternidade humana.

Tais grupos poderiam, por exemplo, assistir a filmes e depois discutir o conteúdo; discutir temas que lhes interessam; criar eles mesmos grupos de música, noites de dança, teatros e festas; organizar excursões para conhecer outras realidades; engajar-se em trabalhos sociais; convidar políticos, empresários, artistas e quem sabe até, de vez em quando, um padre ou um leigo engajado na Igreja, para falar de suas experiências e mostrar-lhes novos horizontes. Poderiam sonhar, criticar e formular projetos para a transformação do mundo, da sociedade e da Igreja.

Esses grupos poderiam se encontrar uma vez por semana. Embora pudessem contar com uma equipe de liderança que prepararia os encontros, deveriam funcionar em primeiro lugar na base da comunhão e da participação, compreendendo as suas atividades como “atividades de humanização”, e nunca de doutrinação.

É de tais grupos alternativos que precisamos em nossas paróquias, para dar resposta adequada aos jovens que estão à procura de espaços fora da Igreja, uma vez que dentro dela não os encontram.

O desafio é criar um verdadeiro movimento de NJ em nossas paróquias e na Igreja. Um movimento moderno, dinâmico e jovem, que não se apresenta em primeiro lugar como religioso. Os grupos da NJ não podem e não devem ser grupos de oração. Estes grupos já têm seu lugar garantido, atraindo certo público.

A NJ quer atrair outro público. Quer atrair aqueles jovens que não gostam de orações tradicionais, detestam confessar-se e acham as missas tediosas, mas, apesar de tudo isso, querem ser católicos. Quer atrair aqueles que até agora não acharam espaço em nossas igrejas, mas, apesar disso, gostariam de estabelecer contatos sociais num nível sério.

O que a maioria dos jovens quer, e até necessita, é esse espaço. Um espaço social alternativo àqueles que a sociedade em geral oferece, mas sem as marcas de aroma de incenso, de água benta e de imagens de santos e santas sem vida e sem energia.

À medida que oferecemos tais espaços, podemos recuperar esses jovens. E à medida que os recuperamos, realizamos aquele serviço ao mundo do qual o Concílio tanto falava. É o serviço ao mundo, e não a formulação de imposições, que garante à Igreja um futuro dinâmico e transformador, em que ela, cada vez mais, se tornará a cidade construída sobre o monte, a luz para um mundo que procura desesperadamente a luz.

 

Tenho esperança de que este apelo seja ouvido por grande número de pessoas. Espero que elas se deixem incentivar pelas poucas ideias aqui formuladas, ampliando-as e sentindo-se desafiadas a pô-las em prática nas suas paróquias.

Estamos à disposição para mais informações, eventual troca de ideias ou proferimento de palestras, para que assim o impulso seja bem-sucedido e juntos possamos criar espaços para a grande maioria de jovens que estão fora de nossas igrejas, por não termos sabido motivá-los a entrar.

Prof. Renold J. Blank