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Publicado em edição especial – 1º centenário dos paulinos - ano 55 - número 300

Comunicação: eixo da ação pastoral da Igreja

Por Joana T. Puntel, fsp

A comunicação como elemento articulador das mudanças na sociedade. O beato Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, no início do século XX, intui o significado e a importância da comunicação como “eixo” sobre o qual se movem as pastorais. Alberione introduz então na Igreja um carisma pastoral: evangelizar com a comunicação. O elo comunicação e pastoral faz parte da nova evangelização, nas mais variadas exigências do mundo contemporâneo, especialmente a crise da transmissão da fé. O “eixo” é dinâmico, evolui com os tempos; as pastorais, para realizar o diálogo entre fé e cultura, devem entrar no dinamismo atual da comunicação.  

Introdução

Na comunicação vista como elemento articulador das mudanças na sociedade, encontra-se o bem-aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, no início do século XX. Alberione intui, na sua época, o significado e a importância da comunicação como “eixo” sobre o qual se movem as pastorais, e introduz na Igreja um carisma pastoral: evangelizar com a comunicação. O elo comunicação e pastoral faz parte da nova evangelização. O “eixo” é dinâmico, e as pastorais, para realizar o diálogo entre fé e cultura, devem entrar no dinamismo atual da comunicação.

1. Comunicação como elemento articulador das mudanças na sociedade

Ao considerar a comunicação como eixo da ação pastoral da Igreja, faz-se necessário explicitar o que se entende dizer com a palavra eixo: uma peça simples, em contínuo movimento, que é o suporte para o movimento de outras peças, enfim, que é imprescindível para que outros componentes de um todo se movam. Pode parecer simplista e até estranha, ou até mesmo audaciosa, a pretensão de afirmar que a comunicação é o eixo da ação pastoral. Não se trata de assegurar que a comunicação é o centro; este é Jesus Cristo, mas a comunicação é o que move a ação pastoral em direção a esse Jesus Cristo.

Fundamentando o que se acaba de dizer, o Documento de Aparecida (n. 484), que nos interpela para o discipulado e a missionariedade, afirma: “a comunicação é o elemento articulador das mudanças na sociedade”. A ação pastoral da Igreja deve estar em sintonia com as mudanças que se realizam na sociedade para poder dialogar com as pessoas de hoje: diálogo entre fé e cultura – três palavras indispensáveis para a fundamentação das mais variadas tipologias de pastorais.

Esse eixo traz algumas exigências do que significa ser/estar na sociedade hoje e, por conseguinte, desenvolver uma ação pastoral eficiente, competente, que realmente realize e consolide o diálogo entre a fé e a cultura. Quais seriam essas exigências? Entre tantas, aponta-se o que parece essencial: alargar os horizontes e sensibilidade aos sinais dos tempos – uma grande e profunda visão da sociedade, onde vive o ser humano, objeto da nossa pastoral. Considerando essa importância, a Igreja, nos seus documentos, insiste progressivamente na necessidade do compreender, do educar-se para a comunicação e, naturalmente, para as suas interações, pois estamos diante de um “novo sujeito” a ser evangelizado na sociedade contemporânea. Portanto, o diálogo entre fé e cultura se faz indispensável no olhar sobre a cidade.

Alargar os horizontes: visão e sensibilidade

A pergunta, do ponto de vista da evangelização, é: O que está acontecendo com o ser humano em meio às mudanças, inclusive estruturais, que a sociedade vive hoje? Pois não se trata somente de observar as inúmeras novas tecnologias que surgem e que hoje chamamos de cultura digital, mas de alargar o horizonte e alcançar o ser humano – o que acontece com ele? Nasce um novo antropológico. E isso interessa à pastoral.

Parte apreciável das mudanças na forma de viver (MORAES, 2006) vincula-se à primazia da comunicação na ambiência tecnocultural e digital. Redes infoeletrônicas, satélites e fibras ópticas atravessam a Terra, interligando povos, países, culturas e economias.

Não há dúvida de que a sociedade contemporânea está imersa em um espaço midiatizado (SODRÉ, 2006, p. 16) regido pelas novas tecnologias e moldado pelo virtual. O que ocorre (e é o “novo”!) é que a comunicação centralizada, unidirecional (unilinear) e vertical é transformada especialmente pela ambiência proporcionada pelas redes digitais. Nesse contexto, a mídia deixa de ser um campo fechado em si, de utilidades apenas instrumentais, e passa à condição de produtora dos sentidos sociais.

Esse novo modo de ser no mundo está relacionado com o fato de que, hoje, as novas gerações já são nativas digitais. Muito mais do que antes, somos seres em comunicação global. Esse é um modo de ser em rede comunicacional. Há um processo, pode-se dizer, de superação da existência individual para o estabelecimento de um corpo coletivo. Por isso, afirma o pesquisador Pedro Gilberto Gomes (2009, p. 5), “a tecnologia digital está colocando a humanidade num patamar distinto. Esse patamar, muito embora tenha raízes no progresso anterior, representa a constituição de uma nova ambiência social”.

Tal fato é um salto qualitativo porque representa um estágio superior do qual não há volta. Exemplifica o pesquisador que, assim como a invenção do alfabeto foi um salto qualitativo com respeito à oralidade, e a eletricidade com respeito ao vapor, a tecnologia digital está colocando as pessoas em uma nova ambiência social.

Afirma o comunicólogo Muniz Sodré (2009, p. 8) que estamos vivendo um quarto bios que implica uma nova tecnologia perceptiva e mental, portanto, um novo tipo de relacionamento do indivíduo com as referências concretas e com a verdade, ou seja, uma outra condição antropológica. Em outras palavras, está se gerando uma nova ecologia simbólica, isto é, há uma alteração nos modos de percepção e práticas correntes na mídia tradicional; uma alteração nos comportamentos e atitudes na esfera dos costumes normalmente pautados pela mídia. Surge, então, no entender de Sodré, um novo éthos: um novo habitat, uma atmosfera afetiva (emoções, sentimentos, atitudes) em que se movimenta determinada formação social. “O éthos caracteriza-se pela manifesta articulação dos meios de comunicação e informação com a vida social.” Ou seja, os mecanismos de conteúdos culturais e de formação das crenças são atravessados pelas tecnologias de interação ou contato.

2. Tiago Alberione: exemplo de visão e sensibilidade – sintonia com os tempos

Ao longo da história, encontramos pessoas que souberam “alargar o olhar, ter visão e sensibilidade aos sinais dos tempos” para fazer o bem. E são inúmeros os pontos luminosos que “semearam” a história. Foi cultivando a visão sobre o mundo, a sociedade do novo século que nascia (1800 para o 1900), um pequeno-grande homem, Tiago Alberione, dócil ao Espírito, despontou como ponto luminoso na Igreja, profundamente sintonizado com a realidade sociocultural e eclesial. Ele despertou, inquietou-se e perguntou ao Senhor: “O que fazer pelos homens do novo século?”. Sua inquietação naquele contexto nascia de um chamado para proclamar a Palavra de Deus com os modernos meios de comunicação, então florescentes. No início, certamente com a imprensa, depois com o rádio, a TV, chegou até a tentar o cinema, enfim, os audiovisuais, e, vislumbrando o futuro, disse: “tudo que a ciência poderia oferecer para fazer o bem”. Era preciso alargar o horizonte, estar em sintonia com os tempos, para proclamar a Palavra de Deus. Tudo foi amadurecido na oração e Tiago Alberione fundou então a Família Paulina, iniciando com os padres e irmãos paulinos; depois, com a valorização da mulher, vieram as irmãs paulinas: todos com um carisma para a evangelização com a comunicação.[1]

Alberione iniciou, assim, na Igreja, um estilo original de evangelização – santidade e apostolado com a imprensa e os sucessivos meios de comunicação, “a pregação escrita junto à pregação oral”.[2] A Igreja e a sociedade ganharam a Família Paulina para evangelizar com a comunicação. Ele intuiu o significado e a importância da comunicação como “eixo” sobre o qual se movem as pastorais. Introduziu, então, na Igreja um carisma pastoral: evangelizar com a comunicação.

As mudanças do contexto social influenciam sobre a pastoral. E Alberione chega a dizer em certa ocasião: “convém alargar [os horizontes], segundo as necessidades de hoje […] Convém tomar o mundo e os homens como eles são hoje, para fazer o bem, hoje”. “Toda a Família Paulina orienta-se para a pastoral […] Hoje, fala-se muito a respeito do espírito pastoral; no entanto, já faz algum tempo que esse espírito pastoral despertou” (1965). Dar orientação moderna às obras é o que deduzimos de seu espírito profético e criativo. Assim, diz:

a religião, a doutrina, a moral, a ascética são imutáveis; no entanto, têm sofrido e sofrem ainda certo progresso acidental, porque vão sendo compreendidas pelos homens e se adaptam às necessidades dos tempos e das classes sociais. Nós devemos conduzir as almas ao paraíso; no entanto, devemos conduzir não aquelas que viveram dez séculos atrás, e sim aquelas que vivem hoje. (Anotações de Teologia Pastoral, 92-93).

Havia muita preocupação de organizar as atividades apostólicas: a vontade de alcançar a todos, não somente os indivíduos, mas também a massa do povo e as classes cultas, a criatividade para ir ao encontro de necessidades reais das pessoas e a sensibilidade para conhecer o contexto social contemporâneo são as motivações profundas que levaram Alberione a amadurecer a ideia da evangelização com a comunicação para anunciar o Reino de Deus, e que ele confiou aos membros da Família Paulina. Vale ressaltar ainda a abertura de mente e o senso de missionariedade de Alberione ao formar a Família Paulina: ele quis a presença da mulher associada ao zelo sacerdotal, daí a fundação de várias congregações femininas.[3] Não se cansava de enfatizar, para os seus seguidores, que o equilíbrio do carisma paulino se compõe de uma contemplação com finalidade apostólica e de uma ação pastoral com motivos contemplativos.

O carisma paulino tem uma identidade pastoral e encontra na evangelização com a comunicação a sua permanente juventude (SASSI, 2013), lembrando-se que, desde o início, o bem-aventurado Tiago Alberione descreveu o carisma paulino como uma unidade indissolúvel de diversos elementos: “O mundo tem necessidade de uma nova, longa e profunda evangelização (La primavera paolina, p. 680).

3. A comunicação como eixo da ação pastoral da Igreja

O elo comunicação e pastoral faz parte da nova evangelização, nas mais variadas exigências do mundo contemporâneo, especialmente a crise da transmissão da fé. O “eixo” é dinâmico, evolui com os tempos; as pastorais, para realizar o diálogo entre fé e cultura, devem entrar no dinamismo atual da comunicação.

No contexto da cultura em que vivemos, faz-se necessário assumir a própria comunicação como eixo transversal de toda a ação pastoral. Isso requer o esforço para compreender a comunicação como uma experiência de vida. E aqui podemos sempre “linkar” com o pensamento do Magistério da Igreja, nas mensagens dos papas por ocasião do Dia Mundial das Comunicações, onde nos falam sobre a “Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital” (2011),  “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização” (2013) e “Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro” (2014), chamando-nos a atenção para o fato de descobrirmos como sermos cristãos no contexto das redes sociais.

As mensagens, então, tratam de uma perspectiva que assume a comunicação para além dos aparatos, e oferecem a reflexão sobre a necessidade de substituir o costumeiro deslumbramento perante as novas tecnologias pela reafirmação do ser humano como um ser de comunicação na comunidade e pela comunidade, integrando ecossistemas comunicativos abertos e criativos, sejam estes os espaços da família, da escola ou da paróquia, do ambiente de trabalho, ou da própria mídia (Bento XVI, 2010).

Em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações (2010), Bento XVI adverte aos cristãos que, para dar respostas adequadas a questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, as vias de comunicação, abertas pelas conquistas tecnológicas, tornaram-se um instrumento útil. De fato, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16).

Não há dúvida de que, como já dissemos, estamos imersos em uma cultura, um ambiente que se chama cultura digital, pois são milhões de pessoas que circulam no grande espaço que a internet oferece, à procura de informações, conteúdos, contatos, entretenimento, serviços, produtos. Assim, como afirma o recente Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014), “deve-se entender a sociedade atual a partir dos processos de comunicação centrados na pessoa e nas relações entre ela, a sociedade e o mundo. A própria sociedade, seus indivíduos e instituições passam a tomar as mídias, suas práticas e lógicas como referência no estabelecimento de seus processos internos” (16). E João Paulo II (2005) afirmava: “A nossa época é um tempo de comunicação global, onde muitos momentos da existência humana se desenrolam através de processos midiáticos”. Isso proporciona o surgimento de novos ambientes de interação social, que possibilitam a homens e mulheres desenvolverem novos modos de ser pessoa, de estar na sociedade, de ser comunidade e de viver a fé.

Todas as transformações, as mudanças em que estamos imersos, apresentam desafios e oportunidades para a Igreja (e, portanto, as pastorais), neste início de século XXI, que convergem para a necessidade de uma revisão pastoral e cultural. Já nos dizia o Documento Aetatis Novae (4): “A revolução das comunicações afeta […] a percepção que se pode ter da Igreja e contribui para a modelação das próprias estruturas e funcionamento. Tudo isso tem consequências pastorais importantes”.

Essa “revolução” impulsiona a Igreja a uma espécie de revisão pastoral e cultural, a fim de ser capaz de enfrentar de maneira apropriada a passagem de época que estamos vivendo, afirma João Paulo II. O descortinar desse novo tempo leva a Igreja a “se impregnar, sempre mais profundamente, no mundo mutável das comunicações sociais” (Dia Mundial das Comunicações, 2001). Para anunciar o Reino proposto por Jesus, “não basta utilizar a mídia para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é preciso integrar a própria mensagem nessa nova cultura criada a partir da comunicação moderna” (Redemptoris missio, n. 37). Trata-se de inculturar o Evangelho na comunicação atual. 

Comunicação como “habitação” de um mundo

Um dos pontos fundamentais, como parte da compreensão da “comunicação como eixo da ação pastoral da Igreja”, está na mudança de mentalidade em compreender a comunicação não reduzida a instrumentos, mas, segundo o pesquisador Luca Pandolfi:

pensar a comunicação como um lugar do qual nós fazemos parte e devemos habitá-lo segundo o estilo evangélico que, pouco por vez, procura os caminhos corretos para encarnar-se. Esta mudança de mentalidade é fundamental: faz pensar a evangelização como promoção de vida, isto é, como boa notícia que faz emergir a vida. O conceito de encarnação é o modo com o qual se evangeliza; uma evangelização sem encarnação não tem sentido.[4]

Dessa “habitação” do mundo, podemos observar que estão nascendo novas maneiras de pensar, de ensinar e de aprender. Portanto, não se trata simplesmente de adquirir um novo computador. A mudança consiste em uma passagem de uma “ideia” que possuíamos até o momento a respeito do texto, da leitura. Dá-se uma mudança de método, isto é, escrever não é mais oferecer simplesmente uma mensagem pronta que comunica a intenção do autor, mas oferecer material para o trabalho do leitor, que, agora, se transforma em “autor”. Muda-se a forma de produzir. Muda, então, a função do chamado receptor. É o usuário que se serve, como deseja, dos produtos de consulta; pode escolher segundo os seus gostos e desejos. Assim, especialmente a hipermídia favorece o desenvolvimento da interatividade de forma extraordinária. Trata-se não apenas de uma ”novidade” a mais no mercado, e sim de novas linguagens que já se encontram, progressivamente, na área da educação. Podemos perceber isso através dos cursos a distância que estão proliferando de forma crescente em todo o país. Chegamos a uma etapa na qual cada pessoa se transforma em um “nó” comunicativo coligado a todos os outros. Nessa perspectiva, não se poderá mais viver senão “em rede”.

Na fase industrial, e como característica da modernidade, temos a cultura de massa, como uma “profusão ilimitada dos signos”. Ligada ao processo de desenvolvimento industrial e urbano, a comunicação de massa inicia a produção de um produto industrializado e hegemônico. Consequentemente, temos uma cultura hegemônica. Nesse contexto, a comunicação de massa se transforma em produção e transmissão de formas simbólicas. É uma grande mudança, profunda, na sociedade, porque a comunicação de massa, como forma simbólica, começa a mediar a “cultura moderna”. É a fase industrial.

Já na pós-modernidade, a comunicação chegou a constituir-se como uma nova ambiência, um conjunto de valores, uma forma nova de viver, de nos movimentar, de nos socializar. E isso é, do ponto de vista antropológico (nossas crenças, nossos estilos de vida, nossos costumes etc.), uma cultura midiática, ou seja, a comunicação que realmente se constitui em um elemento articulador que gera, administra, sustenta, desenvolve e ancora todos os aspectos de vida/sociedade que vivemos na sociedade contemporânea.

Para Antonio Spadaro, as recentes tecnologias digitais não são mais somente tools (ferramentas), isto é, instrumentos completamente externos ao nosso corpo e a nossa mente. “Os modernos meios de comunicação há tempo fazem parte dos instrumentos comuns através dos quais as comunidades eclesiásticas se expressam, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muitas vezes, formas de diálogo mais abrangentes”. Foi o próprio Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2010, a declará-lo.

Já é consenso entre os pesquisadores que a Internet está mudando, sim, nosso modo de pensar e de viver a fé na contemporaneidade. “Se a Internet está mudando nosso modo de pensar, ela não estará modificando a nossa forma de pensar a fé? Está alterando nosso modo de pensar e viver a experiência da Igreja? Está transformando a nossa maneira de ler a Bíblia?”.

Segundo Spadaro, as redes sociais não expressam um conjunto de indivíduos, mas um conjunto de relações entre os indivíduos. “O conceito-chave não é mais a ‘presença’ na Rede, mas a ‘conexão’: estando presente, mas não conectado, se está ‘só’. Se eu interajo, eu existo. O indivíduo entra na Rede para experimentar ou ampliar de algum modo a proximidade/vizinhança. Deve-se, portanto, entender como o conceito de ‘próximo’ evolui a partir da Rede.”

Importante perceber que a lógica da Internet implica que o conhecimento passa pela relação. “A web 2.0 é uma rede de relações, o conteúdo não é comunicado através da transmissão, mas por compartilhamento. Se um conteúdo é transmitido, ele não é conhecido, mas se é compartilhado, sim. Exemplo: no meu blog, se eu publicar e deixar apenas ali, poucos irão ler. Já tentei fazer isso. Mas se eu postar no Twitter, imediatamente mais de 2000 pessoas irão ler no mesmo dia” (SPADARO, 2012).

Conclusão

Gostaria de concluir, retomando a expressão com que iniciei esta exposição: a comunicação como elemento articulador das mudanças na sociedade. Há um ponto luminoso que nos incentiva e que apresentou à Igreja um modo original de evangelizar: o bem-aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina no início do século XX, que intuiu o significado e a importância da comunicação como “eixo” sobre o qual se movem as pastorais e as dinamiza. Alberione introduz na Igreja um carisma pastoral: evangelizar com a comunicação. E a comunicação se torna o “eixo” dinâmico da ação pastoral da Igreja.

E concluo com as palavras do presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações (Vaticano), D. Carlo Maria Celli, na sua intervenção no último Sínodo sobre a Nova Evangelização, 2012:

A nova evangelização nos pede de estarmos atentos à “novidade” do contexto cultural no qual somos chamados a anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo; mas também à novidade dos métodos […] Estamos vivendo momentos de profundas mudanças na comunicação. Elas são visíveis no que diz respeito à técnica. Mas na cultura são mais significativos ainda.

Não podemos simplesmente fazer aquilo que sempre fazíamos e como fazíamos com as tecnologias. Hoje, mais do que nunca temos necessidade de audácia e sabedoria para evangelizar. Então, primeiramente, fazer atenção que a Boa-Nova deve ser proclamada também digitalmente. E o outro desafio é mudar o nosso estilo de comunicação. Devemos ocupar-nos, sobretudo, da questão da linguagem. No fórum digital, há o espontâneo, o interativo e o participativo. Estamos aprendendo a superar o modelo do púlpito.

Referências

ALBERIONE, Tiago. UCBS, A. 8, 20 de agosto de 1925, p. 3-4, em La primavera paolina, p. 680.

_______. Anotações de Teologia Pastoral, p. 92-93.

BENTO XVI. “Mensagem para o 44º Dia Mundial das Comunicações”, 2010.

CNBB. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. Documentos da CNBB, 2014.

GOMES, Pedro Gilberto. Entrevista à IHU On-line (Revista do Instituto Humanitas Unisinos), abril de 2009, edição 289.

JOÃO PAULO II. “Mensagem para o 35º Dia Mundial das Comunicações Sociais”, 2001.

________. Redemptoris missio, n. 37.

________. O rápido desenvolvimento, n. 3.

MORAES, Dênis de (org.). Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006.

PANDOLFI, Luca Pandolfi. “Nuovi Media e nuove mentalità di comunicazione”. Conferência proferida em Roma, outubro de 2012. Tradução da autora. Lucas Pandolfi, da diocese de Roma, professor de Antropologia Cultural e Sociologia da religião na Pontifícia Universidade Urbaniana, onde dirige o Centro de Comunicação Social.

SASSI, Silvio. “O Carisma Paulino é pastoral”. Roma, 20/08/2013.

SODRÉ, Muniz. “A interação humana atravessada pela midiatização”. Entrevista à IHU On-line (Revista do Instituto Humanitas Unisinos), abril de 2009, edição 289.

________. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2002. Também em MORAES, Dênis de (org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006.

[1] A Família Paulina, fundada pelo bem-aventurado Tiago Alberione, iniciada em 1914, é composta pela Pia Sociedade de São Paulo (Padres e Irmãos Paulinos); pela Pia Sociedade Filhas de São Paulo (Irmãs Paulinas); pelas Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre; pelas Irmãs de Jesus Bom Pastor (Pastorinhas); pelas Irmãs de Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos (Apostolinas); e pelos Institutos Seculares: Maria Santíssima da Anunciação (Anunciatinas), de São Gabriel Arcanjo (Gabrielinos), Santa Família, Jesus Sacerdote e União dos Cooperadores Paulinos.

[2] Apostolato stampa, p. 24.

[3] A essência do pensamento de Alberione sobre a mulher está no livro A mulher associada ao zelo sacerdotal.

[4] Luca Pandolfi, “Nuovi Media e nuove mentalità di comunicazione”, Conferência proferida em Roma, outubro de 2012. Tradução da autora. Luca Pandolfi, da diocese de Roma, professor de Antropologia Cultural e Sociologia da religião na Pontifícia Universidade Urbaniana, onde dirige o Centro de Comunicação Social.

Joana T. Puntel, fsp

Irmã paulina, doutora em Ciências da Comunicação pela Simon Fraser University (Vancouver, Canadá) e Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela The London School of Economics and Political Science (Londres, Inglaterra). Docente na FAPCOM e no SEPAC. Pesquisadora, conferencista na área de pastoral da Comunicação; tem várias publicações na área da Comunicação, Igreja e Cultura. E-mail: [email protected]