Artigos

Publicado em número 130 - (pp. 9-15)

A promessa ao Rei Davi

Por Frei Gilberto Gorgulho, op

INTRODUÇÃO

A eleição de candidatos ao governo do povo é ato de prudência política. Por isso, exige critérios para a escolha. Nossa intenção é apontar alguns desses critérios, refletindo sobre a promessa de Deus ao rei Davi na história do Povo de Deus (2Sm 7,4-17).

Essa promessa indica o caminho do discernimento sobre a ambiguidade do Estado. Tal julgamento tem por eixo a função da autoridade na libertação dos pobres, para se ir além de uma escolha segundo as aparências e para julgar conforme a justiça (Is 11,3-5; Jo 7,21).

Isso se torna possível se colocarmos a vida do povo como mediação para compreender os textos sagrados (cf. Lumen Gentium, n. 9). Povo é sujeito histórico superando a exploração, a dominação e a dispersão, e construindo relações sociais na liberdade, na justiça, no serviço e na solidariedade. A vida do povo é dom de Deus. E a história bíblica é a revelação e consolidação desse dom.

De fato, a Bíblia manifesta o processo de formação do Povo de Deus a partir da libertação dos pobres. O surgimento do Povo dos Pobres cria uma história que questiona e influi na história das dominações e dos dominadores. A Bíblia é o testamento dessa história dos pobres.[1]

Apontamos para quatro momentos da tradição bíblica que revelam a ambiguidade do Estado, a função e o serviço da autoridade na construção da sociedade justa e solidária.

 

I. O DIREITO DO REI: 1Sm 8,11

1. O povo livre

Recentes estudos sobre a formação de Israel como povo mostram que este surgiu num processo de libertação da dominação egípcia e das cidades-estado de Canaã entre 1250 e 1000 a.C.[2]

Israel aparece, como povo na história, através de um movimento de emancipação de vários grupos que saem da estrutura de dominação do imperialismo faraônico e das cidades-estado. Esses grupos formam novo modelo social, apoiados e sustentados por sua fé em Iahweh, o Deus libertador: o Deus dos hebreus e dos escravos fugitivos da servidão do Egito (Ex 3,18; 14,5).

Israel organiza-se com um projeto social camponês que contesta a estrutura da sociedade cananeia, pela qual as cidades-estado exploravam e se apropriavam de parte importante da produção do campo. A garantia desse projeto de liberdade e de vida sem escassez e sem exploração era mantida por leis agrárias de justa distribuição de terra entre as famílias, as famílias extensivas, e as tribos (Js 7,14; Lv 25,10). Mantinha-se também pela defesa comum entre as tribos e pela recusa de um governo de reis com burocracia e exército permanente e organizado (Jz 5).

Era a primeira experiência da vida de povo num processo consciente e vigilante de retribalização, que procurava assegurar relações sociais igualitárias.[3]

 

2. O Estado tributário

Essa experiência passou pela transformação do tribalismo comunitário para um Estado tributário como atestam as histórias dos Juízes e as antigas leis conservadas no Código da Aliança, em Ex 20-23.

A mudança vem de pressões externas (= filisteus: 1Sm 9,16; 13,19ss) e das contradições no interior da vida econômica das tribos. O desenvolvimento da agricultura e de modo especial da produção pecuária leva a um processo de concentração da propriedade e da arrecadação do tributo (Ex 22,8.27-28). Algumas tribos mais fortes começaram impor-se econômica e politicamente sobre as demais (Jz 8,2; 9).

Saul apoia-se numa classe camponesa emergente por sua produção pecuária que trazia conflito no meio das tribos (1Sm 9,1; 11,4-7; cf. Ex 22,8). Mas a mudança social era tal que o novo rei não conseguiu manter novo equilíbrio, e rompeu com as antigas lideranças tribais (1Sm 13,13; 15,23).

Davi alia-se aos camponeses e pastores empobrecidos e consegue uma liderança que controla o conflito entre o campo e a cidade. Refaz a unidade das tribos, constituindo um grande império no modelo das antigas cidades-estado e do grande império egípcio sobre Canaã (1Sm 22,2; 25,2-3.10). A conquista de Jerusalém, a instalação da Arca, a organização de uma burocracia de serviços legitimam e sustentam a organização do tributo e a aceitação religiosa do novo rei.

A organização davídica estrutura-se num Estado claramente tributário com Salomão.[4] O tributo organizado passa a ser o sustento da realeza e de suas empresas econômicas (1Rs 4; 9,15.22). Essa nova estruturação teve consequências graves para a vida do povo. E a tradição atesta que o Estado salomônico tornou-se idólatra, e a causa imediata da divisão das tribos do norte e do sul (1Rs 11 e 14).

 

3. A ambiguidade do Estado

A ambiguidade da realeza já fora percebida com acuidade pelos camponeses que criticaram a primeira tentativa da constituição de um rei sobre as tribos (Jz 9,15). A crítica continuou nos meios camponeses espoliados e afetados pelo tributo e pela corveia. Essa crítica foi estimulada, articulada e expressa literariamente pelos meios proféticos e pelos levitas do campo que sofriam as mesmas consequências que os camponeses. Sua repulsa é, então, colocada na boca de Samuel, no seu discurso contra a realeza (1Sm 8,14-18).

Esse discurso julga a ambiguidade do Estado tributário em seus níveis econômico, político e religioso. O “direito do rei” cristaliza essa ambiguidade que leva o povo para o empobrecimento e para a dominação política. A ambiguidade do Estado está em sobrepor-se ao povo; em vez de serviço e da libertação traz a exploração e a dominação.

 

II. A PROMESSA A DAVI E A HISTÓRIA: 2Sm 7,12

1. A legitimidade da realeza

A promessa de Natã a Davi foi a legitimação religiosa e política da realeza. Iahweh, o Deus das tribos, aceita a nova organização. A forma atual dessa palavra (2Sm 7,4-17) é fruto da experiência da realeza nos vários séculos da história do povo de Judá.[5]

Encontra-se aí uma camada antiga que reflete a legitimação de Natã: Davi foi eleito como chefe e pastor (v. 8). Depois de sua morte o descendente continuará a mesma função (v. 12).

No templo de Salomão, por influencias da ideologia régia do Egito, o rei é apresentado como o filho de Deus (v. 14). E a realeza recebe a garantia de continuidade para as gerações futuras.

 

2. Promessa e julgamento

A forma atual deixa perceber a influência da pregação profética posterior, e também a teológica deuteronomista. Duas perspectivas orientam a apresentação da realeza que subsiste pela promessa e é o objeto do julgamento de Deus que age na vida do povo e das nações.

A primeira perspectiva é o fato de Davi não ter construído o Templo. Isto dá a oportunidade para fazer a ligação entre Davi e a forma de vida das tribos. Marca também certa distância do Templo material! Pois, a “Casa” de Davi é sua dinastia em função do estilo da vida igualitária das tribos com suas casas patriarcais. Por isso, a promessa é construída num jogo de palavras: Davi não construirá a “Casa” de Deus, mas Deus construirá a “Casa” de Davi para preservar a vida das tribos de Israel.

A outra perspectiva é a experiência dos maus reis e o julgamento feito pelos profetas: os maus reis devem ser castigados e punidos. Assim, o redator inclui explicitamente o julgamento que virá sobre a monarquia se esta não for fiel à sua função (vv. 13-17).

É esta tensão entre a promessa e o julgamento que marcará a história e a esperança da dinastia de Davi na vida do povo nos séculos seguintes. Esta tensão é a base para o discernimento sobre a ambiguidade do Estado e sua função na vida do povo (Gn 49,8-11; Is 7,9-14; Sl 89; Sl 72).

 

III. O REI LIBERTADOR DOS POBRES: Is 11,5

1. Fé e política

A história do Estado davídico prende-se à evolução econômica e política do regime tributário. Este chega a um ponto alto com a situação econômica do século VIII a.C.[6] Essa situação aguçou o conflito e a opressão do campo. O latifúndio e a tributação destroem a casa dos camponeses e fazem aumentar o número de pobres, conforme atestam Amós, Miqueias (2-3) e Isaías.

A ambiguidade do Estado e a legitimidade da dinastia davídica colocam-se também de maneira mais aguda. A opressão favorecida pelos chefes de Sião leva a predizer a necessidade de suprimir até mesmo o Estado (Mq 3,9-12). Contudo, Amós e Isaías procuram afirmar o papel da dinastia para o futuro da unidade de todas as tribos. A situação de Judá é periclitante, conforme o testemunho de Dt 33,7, que podemos datar desta época; e também a palavra conservada em Am 9,11, que podemos atribuir ao profeta, se bem que na forma atual seja uma redação pós-exílica. É na utopia do lugar da dinastia na vida das tribos e na função do rei, juiz e libertador dos pobres, que Isaías apresenta as exigências políticas (Is 8,5ss; 10,1-4; 10,21; 30,15).

 

2. O discernimento político

A política de Isaías apoia-se na promessa davídica que ele atualiza. No momento da guerra siroefraimita, o livrete do Emanuel (Is 6,1-9,6) traz os elementos dessa esperança para Judá periclitante:

— A perenidade da dinastia é evocada pela imagem do Toco decepado que vai florescer, e pela imagem da Estela régia que, uma vez abatida, será, de novo, levantada quando dos ritos de renovação e de entronização de um sucessor ao trono (Is 6,13).

— A fé na promessa davídica é a condição da subsistência da “Casa de Davi” e do povo de Judá que passarão por grande provação (Is 7,9-14). É preciso não desprezar a legitimidade e função da dinastia cuja origem se prende às “águas de Síloé” (Is 8,5ss).

— O novo descendente de Davi no trono será o filho que deve manter o reino no direito e na justiça, segundo a ideologia régia comum no Antigo Oriente. O davidida é o Príncipe da Paz (Is 9,5-6).

 

O discernimento político se faz a partir da opressão dos pobres, da idolatria do Estado e das exigências da formação do povo, ou da criação de relações sociais na solidariedade e na estruturação concreta e eficaz da “Paz”. O discernimento se faz a partir da função do Príncipe da Paz, o libertador dos pobres (Is 10,1-4; 9,5-6).

 

3. O rei libertador dos pobres

Esse discernimento político se aprofunda na pregação do profeta desde a queda de Samaria (722 a.C.), e por ocasião das invasões e das gestões diplomáticas de Sargão II. O conflito entre Isaías e os Sábios da corte torna-se agudo (Is 19,11; 28,14). Isaías desmascara a diplomacia dos Sábios, e exige o discernimento da ação de Deus na história, onde se manifestam sua Sabedoria e seu Espírito (Is 29,14-15; 30,1-5; 31,3).

O ataque de Jerusalém por Senaquerib, em 701 a.C., deixou Judá como um escravo totalmente ferido e a capital à beira da ruína (Is 1,6-7). Mas, nesta ocasião, o profeta conserva sua fé na promessa davídica (Is 37,35). Chega também a um ponto alto de sua teologia do Estado e da função do rei libertador dos pobres.[7] É este texto que devemos ler no conjunto da pregação do profeta e em referência contra a autossuficiência do imperialismo assírio (Is 10,5-34).

 

1. O anúncio começa pelo julgamento de Deus contra a opressão e a idolatria do Estado. Deus vai decepar a floresta com suas árvores autossuficientes e orgulhosas. A imagem das árvores indica a maneira de agir da Assíria e sua política imperialista. Esse tipo de política e de dominação tem que ser cortado pela raiz:

Eis: o Senhor Iahweh dos Exércitos cortará a ramagem com grande violência.

Os que atingem o cimo serão cortados, os mais altos serão abatidos.

A espessura da floresta será arrasada a ferro, o Líbano virá abaixo sob o golpe de um Poderoso! (Is 10,33-34).

 

2. A promessa positiva é que a dinastia vai re­nascer. A renovação vem da “raiz”. Este termo indica a situação da dinastia de Davi no momento das ameaças de Senaquerib. Mas, desta “raiz”, ameaçada e periclitante, um Rebento vai surgir. O profeta afirma a continuidade da dinastia davídica como em Is 6,13:

Mas um Ramo sairá da raiz de Jessé, e um Rebento brotará de seu tronco (11,1).

 

3. O descendente de Davi terá sobre si a força do Espírito. Como o Espírito se manifestara na vida de Davi, de Salomão, de Moisés e dos Patriarcas, do mesmo irá se manifestar no rei futuro. Ele será a manifestação do Espírito e da Sabedoria que os Sábios da corte não sabem reconhecer. Os três pares de dons mostram a capacidade para discernir, executar e assegurar a vida religiosa do povo. Ele fará o povo respirar no Temor de Deus:

Sobre ele repousa o Espírito de Iahweh:

Espírito de Sabedoria e de Discernimento,

Espírito de Conselho e de Fortaleza,

Espírito de Conhecimento e de Temor de Iahweh.

Ele fará respirar no Temor de Iahweh (11,2-3a).

 

4. O novo rei será o juíz justo e o libertador dos fracos e dos pobres. Ele será a salvação do país contra os juízes e funcionários da corte que violam o direito dos pobres e fazem leis injustas e vazias (Is 10,2-3). Ele agirá como rei que reconhece o fundo da realidade e não julgará segundo as aparências (Pr 25,2). O Juiz é o que pronuncia a sentença justa, e é o que liberta o pobre da situação de opressão para restituir-lhe a liberdade e a dignidade no meio do povo:

Ele não julgará segundo a aparência, ele não dará sentença apenas por ouvir dizer.

Julgará com justiça os fracos, e com retidão dará sentença aos pobres da terra.

Com sua palavra ferirá o país, e com o sopro dos lábios fará morrer o ímpio!

A justiça será o cinto de seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins (11,3b-5).

 

5. Um novo paraíso surgirá pela supressão da violência e da hostilidade das forças antagônicas. Muitos autores pensam que os animais representam aqui as nações, numa parábola que Isaías usa para apresentar um mundo novo sem violência, sem exploração e sem dominação. Esse mundo novo paradisíaco será repleto do conhecimento de Deus (v. 9): a integração e libertação que refazem plenamente a vida do país e de seu povo (cf. Os 4,1-4):

Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito;

o bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos, e um menino pequeno os guiará.

A vaca e o urso pastarão juntos, juntas se deitarão as suas crias;

o leão se alimentará de forragem como o boi.

A criança de peito brincará junto à cova da áspide, a criança pequena porá a mão na cova da víbora.

Ninguém fará o mal nem destruição em todo o meu Santo Monte

porque a terra ficará cheia do conhecimento de Iahweh, como as águas enchem o mar! (Is 11,6-9).

 

IV. O REI IRMÃO DO POVO: Dt 17,15-17

1. O povo e o Estado

A reforma deuteronomista, em 622 a.C., marca uma fase importante na história econômica, política e religiosa do povo. É uma tentativa de síntese entre a vida igualitária das tribos e a centralização estatal e monárquica. O movimento deuteronomista preparado pelos meios levíticos e sapienciais consegue um projeto de constituição procurando unir as cidades no centralismo da cidade de Jerusalém. Procura, sobretudo, assegurar a vida do povo a partir da defesa do direito dos pobres. A Lei é sua garantia e expressão da vontade de Iahweh, que pede o serviço, a solidariedade e a justiça.

 

2. A divisão dos poderes

Esse projeto se concretiza num tipo de organização política (Dt 16-18) assentada na divisão dos poderes. Na base, os juízes asseguram a prática e a manutenção da justiça na casa e nas cidades. O poder e a função dos sacerdotes são limitados e determinados: “despojados foram os sacerdotes do contato individual com a divindade, o qual passa a ser atribuição dos profetas, que vêm a chamar-se os sucessores de Moisés”[8]. É nessa divisão dos poderes que se garante a manutenção da justiça e o espírito comunitário de solidariedade para que Israel possa reproduzir o modelo da Assembleia do deserto.

 

3. O rei irmão do povo

Nesse contexto, a Lei do Rei (Dt 17,14-20) traça o novo perfil da função da autoridade principal:

— vigilância contra o modelo salomônico que cristaliza a ambiguidade do Estado e sua dominação sobre o povo;

— obediência à Lei de Iahweh como limite e critério para o exercício da função da autoridade para o bem do povo;

— igualdade e solidariedade com o povo: o rei não pode ser um estrangeiro. Ele é fundamentalmente um irmão entre irmãos. Ele deve ser um administrador e um israelita exemplar no serviço. Com isto, desmonta-se uma estrutura de concentração do poder, e uma falsa sacralização da autoridade, fato que abriria o caminho para um poder absoluto e inquestionável!

 

V. A SOBERANIA DOS POBRES: Zc 9,9

1. Esperança e utopia

A promessa ao rei Davi foi a base da esperança e o critério para a organização do povo nos séculos de dominação pela Babilônia e pela Pérsia. E os profetas baseavam-se nessa promessa para projetar o mundo futuro do Povo de Deus livre e solidário vivendo na paz. Foi o caso de Jeremias, Ezequiel, Ageu e Zacarias (1-8). Durante o exílio de Babilônia, os judeus da Palestina, em torno da cidade de Masfa, fazem um projeto de restauração davídica (Sl 89; Jr 30-31).

Depois do fracasso de Zorobabel, em quem Ageu e Zacarias haviam depositado a esperança de restauração, ressurge a esperança e o projeto do mundo futuro. Esse espírito sustenta a vida do povo durante todo o período da dominação persa. Os escribas ligados ao Templo elaboram a figura ideal de Davi (2Sm 23,1-8), e atualizam as promessas dos antigos profetas. Tal atualização tem por eixo o esquema da ameaça e libertação de Jerusalém durante o ataque de Senaquerib. Esse esquema exemplar serve para anunciar o julgamento de Deus, a libertação de Jerusalém e do povo, e o advento do mundo novo (cf. Sl 76). O novo Davi será a libertação do povo oprimido e será a encarnação da paz. Esse processo de atualização aparece em vários Salmos, e de modo especial em Miqueias 4-5.

 

2. Os pobres e o futuro

A esperança na promessa a Davi chega ao ponto alto no momento das conquistas de Alexandre Magno. A esperança dos pobres ressurge em Jerusalém. Ela aponta para dois pontos: o futuro não está no militarismo conquistador; está na soberania dos pobres. E o modelo do Estado não é do tipo grego e ditador, e nem de tipo salomônico. O descendente de Davi será pobre e será o chefe da comunidade dos pobres.

Inserido na teologia de Zc 9-11[9] o anúncio do Messias pobre retoma o gênero literário do estilo de corte. Mas sua teologia do Messias pobre retoma a promessa dos profetas para anunciar o novo Davi como o Príncipe da Paz: ele será justo, protegido e pobre. Assim será a fonte da libertação e da paz para a renovação plena da Aliança. É pelo conteúdo desse anúncio que Jesus de Nazaré viu aí um sinal de seu messianismo. E sua entrada em Jerusalém, para realizar esse programa, inaugura a soberania dos pobres na sociedade e na história. Os pobres são o sinal objetivo da vinda de um mundo novo. O Estado e as instituições devem existir para efetivar esse processo de libertação que constitui a alma do povo: a superação da exploração e da dominação e a constituição da participação, da justiça e da solidariedade.



[1] A compreensão da promessa a Davi requer uma explica­ção da história da ambiguidade do. Estado, e exige também a descoberta do sentido messiânico dessa promessa. Dois estudos ajudarão a aprofundar esse aspecto: J. Coppens (Le messianis­me royal, Lectio Divina 54, Les Éditions du Cerf, Paris, 1968); e H. Cazelles (Le Messie de Ia Bible, Desclée, Paris, 1978).

[2] N. K. Gottwald. As tribos de Iahweh, uma sociologia da religião do Israel liberto — 1250-1050 a.C. São Paulo: Paulinas, 1986, pp. 495ss. Idem, The Hebrew Bible. A socio-literary introduction. Philadelphia: Fortress Press, 1985, pp. 284-288 (trad. bras. Ed. Paulinas, em preparação).

[3] Para a importância teológica dessa análise histórica e sua repercussão na eclesiologia, cf. N. Lohfink. A Igreja dos meus sonhos. São Paulo: Paulinas, 1986, pp. 76ss e 87ss.

[4] H. Cazelles. Histoire politique d’Israel des origines à Ale­xandre le Grand. Paris: Petite Bibliotheque des Sciences Bibliques, AT 1, Desclée, 1982, pp. 144ss (trad. bras. História política de Israel desde as origens até Alexandre Magno, São Paulo: Paulinas, 1986); A. Lemaire. Histoire du Peuple Hébreu, Que sais­je?-1898. Paris: PUF, 1981, pp. 30-36.

[5] J. Coppens, op. cit, pp. 39ss e 201ss.

[6] A.-G. Barrois. Manuel d’Archéologie Biblique. Paris: Picard, 1953, pp. 224-243.

[7] Será necessário ler o conjunto dos oráculos de Isaías en­tre 705-701 a.C., por ocasião da invasão de Senaquerib. Creio que a sequência seja a seguinte: 22,1-23; 32,9-14 — 37,22-35 — 10,5-19; 10,20-26; 10,27-34; 11,1-9 — 14,24-27; 17,12-14; 29,1-8; 30,27-38; 31,8-9 — 1,2-3; 1,4-9; 1,10-17; 1,18-20; 1,21-26 — 1,29-31.

[8] N. Lohfink. Grandes manchetes de ontem e de hoje. São Paulo: Paulinas, 1984, pp. 65ss.

[9] G. Gorgulho, Zacarias. A vinda do Messias pobre. Comentário Bíblico AT. Petrópolis: Vozes, 1985, pp. 89ss.

Frei Gilberto Gorgulho, op