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Publicado em julho-agosto de 2013 - ano 54 - número 291

Evangelizar a juventude

Por Eduardo Clandro* e Jordélio Siles Ledo**

O artigo oferece pistas para a compreensão da juventude em suas diversas dimensões, relações interpessoais, afetividade, sexualidade, projeto de vida e de profissão e as implicações disso para a evangelização da juventude.

A juventude tem sido caracterizada por diferentes visões. Para muitos estudiosos da sociologia, da psicologia e da antropologia, esse é o momento primordial para as relações da vida em grupo, para a relação entre os grupos de iguais e para as profundas buscas e experiências que interferem nos resultados de encontros, desencontros, inseguranças, curiosidades, medos, confusões, indefinições, mudanças, crises e crescimentos. Devemos olhar para a juventude como um momento da vida em que se intensificam os questionamentos, discernimentos, entendimentos, sonhos. Tomemos cuidado para não cobrar da juventude algo que ainda não é possível de ser oferecido, bem como desacreditar em suas potencialidades.

Desejamos pensar quais são os melhores caminhos para a nossa ação evangelizadora com a juventude. É um grande desafio entrar e compreender o universo da juventude, mas, ao mesmo tempo, compreender para além do período marcado por mudanças físicas, cognitivas ou afetivas. Queremos pensar na juventude como fase em que se afirmam suas escolhas, suas aptidões, suas experiências e, acima de tudo, sua necessidade de encontro com Deus. A evangelização deverá ser considerada como a ação fundamental e prioritária para que o jovem adquira boa identidade cristã e se envolva na edificação do reino de Deus.

Sensíveis ao tema da Campanha da Fraternidade e à realização da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, e aproveitando essa ocasião, precisamos refletir sobre a realidade e os desafios da evangelização da juventude movidos pelo espírito de um evento tão importante pela sua grandeza e pela força de trazer para os vários segmentos juvenis a possibilidade de rever estruturas e criar itinerários que favoreçam a formação humano-cristã.

Infelizmente, a realidade nos mostra que um grande número de jovens são interessados pela comunidade cristã quando se trata do sacramento da crisma, e logo após receber o sacramento deixam a comunidade de fé, ou participam esporadicamente da celebração da eucaristia. É urgente pensarmos em algo que seja mais contínuo para a participação dos jovens na vida eclesial. Nas realidades que temos assistido, nas comunidades por onde temos passado em missão, seja para cursos, seja para uma animação da pastoral Bíblico-Catequética, vemos a preocupação dos catequistas com muitos jovens que não estão iniciados à vida cristã. Alguns, quando procuram, não encontram respaldo, não se tem o que oferecer a eles, e há centenas de jovens que nem atentos para isso estão.

Precisamos rever nossa “catequese de crisma”, que deveria ser catequese com juventude, ou jovens, que não deveria focar apenas no sacramento, mas ajudar os jovens a enriquecer sua experiência de vida e construir sentido para ela em interação com a fé cristã. Para isso é necessário acolhermos e estarmos atentos às características e necessidades dos jovens e não apenas a transmitir conteúdo e doutrina.

1. Juventude e relações interpessoais

A juventude é o momento em que os olhares, a atenção e as energias se voltam para o outro. Os jovens descobrem e usufruem a fraternidade do seu universo jovem. Acabarão por descobrir que todo ser humano vive em busca de um sentido, que por trás das máscaras sociais há corações palpitantes. Em muitas situações, a vida que lhes parece um drama.

Surpreender-se, comover-se, transtornar-se à ideia de que há um outro também. O universo interior, vibrar ao sentimento de “você semelhante a mim”. Isso só é possível quando, pelo menos, começa-se a explorar esse universo. Pressente-se, então, que esse universo pode-se expandir na construção de intimidade recíproca com outros. Nasce, desse modo, uma verdadeira e imensa necessidade de amar.

O jovem tem sede de amar gratuitamente, com um amor novo, que nada deve a ninguém, escolhido livremente. Tem sede de amar profundamente até o encontro da intimidade do coração, onde o que é posto em comum são as próprias pessoas que se amam por elas mesmas. O romantismo pôs em relevo essa fase indistinta do amor jovem. Por exemplo, já encontramos um jovem que se apaixonou de tal modo por uma atendente que gastou todo o seu salário para lhe comprar um presente. Para muitos, isso é motivo de riso, mas para o universo do jovem isso é importante e significativo.

Na fase da juventude, as relações interpessoais se intensificam, sinal de maturidade. É o momento de abertura ao outro, convivência com o diferente, sensibilidade. Por isso precisamos pensar em uma evangelização que saiba lidar com a afetividade efervescente que esse jovem vive em sua vida; do contrário, não estaremos anunciando a mensagem ao seu coração.

2. A sexualidade como fator de socialização

A sexualidade por muito tempo foi considerada e interpretada como um tabu, e isso acontece ainda hoje em muitos ambientes. Com isso reduz-se a sexualidade a genitalidade apenas. No entanto, devemos compreendê-la para além disso. A sexualidade conduz a pessoa para a dimensão societária, eu-tu-nós.

A fase da juventude é o momento da abertura para o outro, como vimos acima. A relação de acolhida, diálogo, reciprocidade deve ser incentivada por aqueles e aquelas que assumem o papel e a missão de evangelizar os jovens. A cultura e a sociedade têm uma grande influência na formação do comportamento dos nossos jovens. Desde o nosso nascimento, fomos sendo formados a um determinado modo em relação a nossa sexualidade. Não recebemos a formação da sexualidade simplesmente nos livros ou aula, isso acontece naturalmente em todo o desenvolvimento da pessoa.

O meio social e a sociedade são fatores que contribuem para a formação da sexualidade, pois são eles que, muitas vezes, apresentam os padrões de comportamentos humanos. Algumas pessoas podem ser altamente sensíveis aos sofrimentos dos outros, pois foram criadas em um clima de ternura e compaixão. Outras, porém, tornaram-se pessoas altamente insensíveis à dor do outro, pois o seu convívio com as pessoas que as cercavam era de frieza.

A evangelização com jovens deve ser feita de momentos de interação que possibilitem o encontro com os outros, a partir da vivência da fé na vida em comunidade, e que os ajudem a fazer a experiência do Deus de Jesus Cristo. A evangelização com os jovens não pode simplesmente negar a sexualidade ou criar barreiras com uma série de moralismos, mas dialogar com os jovens, mostrar que a sexualidade também é criação de Deus e que pode ser melhor vivida à luz da fé. Não passar por cima das questões relativas à sexualidade, mas abordar com aquilo que a fé cristã pode oferecer para ajudar os jovens a aprimorar e a amadurecer sua sexualidade; não simplesmente com moralismos e interditos, mas como um caminho para maior felicidade ao esclarecer o uso mercadológico que é feito da exacerbação do sexo e as consequências disso na vida.

3. Juventude e vida afetiva

Devemos oferecer nosso apoio afetivo e emocional ao jovem, que vive um momento profundo de transformações.

Vivemos na época do sentimentalismo e emoções exacerbadas, o jovem em um dia pode ter vários sentimentos: melancólico, eufórico, retraído, tímido, expansivo etc. A atual sociedade coloca em alta os sentimentos e emoções. “A tendência de acentuar os sentimentos, no mundo contemporâneo, tem forte penetração no meio dos jovens e levanta questões importantes referentes à metodologia de trabalho pastoral” (Estudos da CNBB, 85, Evangelização da juventude, n. 24-25). Há necessidade de levar em conta os dois enfoques da cultura contemporânea e manter um equilíbrio entre os dois polos: o racional e o emocional. Emoções, sentimentos e imaginação precisam ser integrados em uma metodologia que tenha objetivos claros. Ao mesmo tempo, a razão deve deixar espaço para as emoções e a imaginação.

Ao mesmo tempo que têm fortes variações de emoções, os jovens têm uma grande facilidade para discutir, opinar sobre papel do Estado ou sobre as diversas ideologias políticas, mas têm uma enorme dificuldade em alguns momentos de falar sobre si mesmos, das suas dificuldades com os pais, das suas inconstâncias emocionais, das suas tristezas. No seio da comunidade cristã, é preciso criar espaços de confiança para essa abertura e para o apoio mútuo. A mensagem do Evangelho precisa ser apresentada como resposta às dimensões da vida do jovem. A formação deve ser integral, isto é, considerar as diversas dimensões da pessoa humana e os processos grupais.

Na adolescência e juventude, a emoção está muito presente, pois a sua abertura para a relação com o outro é imbuída a todo o momento de emoções. O traço dominante da afetividade da juventude é sua vivacidade. O que inclui, pelo menos, três caracteres: fácil agitação, o seu ardor e a sua profundidade. Nervos ao vivo e sensibilidade “à flor da pele”. Pouca coisa é necessária para que o jovem se exalte ou se indigne. Sabemos também que as paixões juvenis são momentos fortes na vida, as paixões são estados afetivos absorventes e tiranizantes que polarizam a vida psíquica em direção ao objeto. As paixões dos adolescentes e jovens valem enquanto duram. Dessa hiperemotividade, ligada à idade, e por vezes reforçada pela constituição, a ambiência e o regime de vida, decorre a instabilidade, a mobilidade de seus estados da alma. O aspecto espiritual do sentimento pode ganhar mais peso, mais consistência do que terá muitas vezes no decorrer da idade adulta.

A compreensão dessas características é, sem dúvida, fundamental, pois o jovem necessita se sentir num ambiente amigável e confiável para agir de forma natural, espontânea e sensata. Essa relação de amizade só funciona se for recíproca. Apesar de não haver uma receita pronta, cabe a nós, que nos propomos trabalhar com eles, a tarefa de ajudar mostrando o valor do respeito, da liberdade, da confiança, da vida em comunidade, da vida de fé, lembrando que o melhor exemplo deve ser a própria conduta do agente evangelizador.

4.  Projeto de vida e escolhas

Sabemos que é na fase da adolescência e da juventude que se faz a escolha profissional, vocacional e elabora-se um projeto de vida. Vale lembrar-se das dificuldades que se enfrentam para tais escolhas. É a partir da convivência com o outro, dentro do meio social, que os jovens farão suas escolhas de vida.

Os responsáveis pela evangelização dos jovens devem ajudá-los a tomar consciência da sua vocação, o chamado à vida, a ser pessoa, a ser cristão, a ser Igreja, a ser cidadão. “Desse modo, incluir os jovens na Igreja, hoje, significa olhar para as múltiplas dimensões nas quais eles estão inseridos, para, a partir daí, tratá-los como sujeitos com necessidades, potencialidades e demandas singulares em relação às outras faixas etárias. A juventude requer estrutura adequada para seu desenvolvimento integral, para suas buscas, para a construção de seu projeto de vida e sua inserção na vida profissional, social, religiosa etc.” (Estudos da CNBB, 85, Evangelização da juventude, n. 27).

O jovem hoje encontra dificuldade na busca de sua identidade, na qual se inclui a identidade ocupacional. Em geral, a fase da juventude é caracterizada por pelo menos algum questionamento dos temas básicos e um reexame dos valores, atitudes e crenças. Em parte, essas explorações são possíveis graças ao desenvolvimento intelectual desse estágio; em parte, resultam também da maturação sexual, que traz muitas inquietações sobre a própria identidade e valores.

O que estou sentindo? Por que estou me sentindo assim? Como serei quando me tornar adulto ou idoso? As questões emocionais associam-se como uma espécie de intransigência que conduz à expressão de sentimento, tais como: “ninguém se sentiu assim antes”, “ninguém na verdade me compreende”, “eu sei o que eu quero e para onde vou”, “deixe-me sozinho, eu estou bem”. O jovem tende a agir nessas questões como se, depois de entender e aplicar um princípio moral abstrato seu, não pairasse para os outros dúvidas sobre a exatidão de suas opções. Algumas vezes é difícil estabelecer uma comunicação eficiente com eles e até mesmo a convivência. Diante dessa realidade, o jovem pesquisa, indaga, conhece novos mundos, novas realidades sociais que apresentam a ele um turbilhão de possibilidades dentro da dimensão vocacional profissional.

O grande número de profissões existentes, as dificuldades de mercado de trabalho, o momento em que esse jovem vive, a formação da sua sexualidade, suas experiências afetivas, a pressão e a expectativa familiar, as exigências do grupo de iguais colocam dificuldades no caminho desse jovem no momento de escolha vocacional e profissional.

Recentemente, pesquisas realizadas pelas universidades brasileiras constataram que a principal causa do abandono do curso é a escolha errada da profissão. Por isso, afirmamos a necessidade de orientação vocacional e profissional para os jovens com o intuito de ajudá-los em suas escolhas, levando ao exercíco de tomada de decisão, pois é algo essencial à pessoa, numa dimensão constitutiva e qualificadora da própria vida. A experiência do processo de escolha e da elaboração do projeto de vida chega a ser vital para a formação da personalidade do jovem.

Nossa missão como Igreja é ajudá-los no discernimento vocacional e profissional, na elaboração do seu projeto de vida. Dentro de uma perspectiva cristã, ajudá-los a tomar consciência de que Deus tem um plano para cada pessoa, ou seja, Deus chama para uma missão específica na Igreja e para a construção do Reino e, assim, para assumir seu papel na sociedade.

5. Catequese para a educação da fé

Com uma juventude que é muito itinerante, como pensar a educação da fé para os dias de hoje? Sabemos que isso é um desafio, pois a fé pressupõe compromissos permanentes, a fé pressupõe coerência com a vida, a fé requer adesão ao seguimento de Jesus fundado na vida eclesial. Como fazer isso se temos a maioria dos jovens afastados da vida eclesial? É realmente uma missão que nós, homens e mulheres preocupados com a evangelização dos jovens, temos que enfrentar e assumir, fazer com que nossa prática seja atraente, que viver com Jesus Cristo seja compromisso assumido em prol de uma causa.

A maioria dos jovens considera-se católica, embora seja uma porcentagem em declínio. Essa autodenominação não significa a celebração habitual da eucaristia dominical, nem sua identificação com a Igreja, nem a influência da religião em sua vida cotidiana. Podemos dizer que os jovens atuais não se caracterizam pela indiferença ante a religião, mas se encontram imersos em novo itinerário religioso, pelo qual eles mesmos constroem seu próprio universo religioso à margem da referência eclesial. É a chamada religião ao gosto (Dicionário de Catequética, p. 643). Por outro lado, vemos alguns jovens inseridos em movimentos radicais, dentro e fora da Igreja, e isso prova a necessidade que nossa juventude tem de referencial.

Os jovens de hoje vivem com urgência a busca de sentido que dê respostas às questões fundamentais do ser humano. Essa busca, e sua abertura experiencial ao religioso, são duas perspectivas que deverão ser tidas em conta na catequese, já que potenciam o caráter pessoal e personalizador que deve ter o ato de fé, sem menosprezo dos componentes racionais e institucionais da mesma fé.

Esse tempo é marcado por uma mudança de época, com relação à prática religiosa. Somos a todo o momento expostos a muitas religiões, vindas com inúmeros convites e ofertas de milagres mágicos, com hora marcada. São inúmeras as propostas de um Deus milagreiro, esquecendo do Deus de Jesus Cristo. A mensagem bíblica é encontrada pelos jovens nos meios de comunicação e no comércio. Os jovens, mais do que os adultos, estão diretamente orientados para uma religiosidade que busca adequar-se à realidade pós-moderna.

Diante dessa realidade de desafios e desencontros, vemos ainda em nossas comunidades alguns jovens que sentem necessidade de contato mais íntimo com Deus e com o outro. Ainda percebemos a grande necessidade que o jovem e a jovem têm de Deus em sua vida, e isso eles podem encontrar na prática da religião, mesmo tendo algumas objeções com relação à Igreja instituição:

Constatamos que a imagem que muitos deles têm da Igreja é de algo ultrapassado, burocrático, e que fala uma linguagem que não se conecta com sua vida. Frequentemente compreendem-na apenas como instituição e não como a comunidade dos seguidores de Jesus (cf. Estudos da CNBB, 85, Evangelização da juventude, n. 67).

Algumas atitudes entre os jovens são comuns, pois alguns consideram a religião algo importante, mas que cada um deve acreditar do seu modo, a partir daquilo que se sinta melhor. Há também uma parcela da juventude que atua na vida da Igreja, embora apresente algumas discordâncias com relação à sua ação, e essa participação é mais eventual do que efetiva. E temos jovens que participam efetivamente da vida da comunidade e consideram isso de suma importância para a vida, como algo que dá sentido à vida, mas isso também não os impede de serem questionadores com relação à Igreja.

A fé não se compra no supermercado, fé é processo, é dom destinado a crescer, fé é compromisso. Quando olhamos para a Sagrada Escritura, ela afirma que o justo sabe que quem o sustenta é a fé. O sábio entende que não é possível viver sem a fé. A pessoa simples não faz interrogação sobre a fé, vive-a do seu modo simples… Entretanto, vivemos na sociedade da mais-valia, a pessoa vale pela produção, por aquilo que se pode oferecer, ou por aquilo que possui. O mercado é interesseiro e não se preocupa com a fé, mas, sim, com o lucro, o quanto se vai ganhar, quanto proveito se tira disso ou daquilo.

A catequese como educação da fé deve levar tudo isso em consideração e procurar desenvolver-se de maneira integral, dentro de uma pedagogia de caráter processual e dinâmica que valorize as dimensões da relação do jovem consigo mesmo, a relação com o grupo de catequese, com a sociedade, com Deus e com a Igreja, ou seja, uma catequese que conduza ao encontro transformador.

6. Catequese para o seguimento de Jesus Cristo

Pelo marcante significado e pelos riscos a que estão expostos nessa fase da vida, os jovens são interlocutores que merecem uma atenção especial da catequese. No coração da catequese com os jovens está a proposta explícita do seguimento do Cristo. É uma proposta que faz deles interlocutores, sujeitos ativos, protagonistas da evangelização, envolvidos na construção de uma nova sociedade para todos (cf. DNC, n. 189-193).

Nossa missão de catequistas é ajudar os jovens a compreender melhor o chamado para seguir Jesus Cristo. Ajudá-los a rever o seu conceito de Deus e de religião, por meio de uma boa atualização catequética e de um bom aprofundamento bíblico. Essa revisão e atualização se fazem ainda mais necessárias nos grupos que possuem jovens vindos de outras igrejas cristãs ou católicos que viviam afastados da comunidade.

É na experiência de Jesus que se educa a fé. Para isso, é importante destacar alguns elementos a serem trabalhados para uma consciência mais clara do verdadeiro sentido do chamado a ser cristão.

O primeiro passo para se ter um encontro é o OLHAR. “Vem e vê” (Jo 1,46); “Chamou a si os que ele queria (…) para que ficassem com ele” (Mc 3,1.3-14). É bom lembrar aos catequistas que ninguém pode seguir Jesus Cristo sem ter uma profunda experiência de vida com ele. Por isso, a catequese com jovens deve incentivar a importância da oração, através da leitura orante da Palavra de Deus, da celebração dos sacramentos e da vivência dos valores do Evangelho.

A catequese com jovens deve ser questionadora. Para seguir Jesus é preciso deixar-se questionar por ele: “Se queres (…) vem e segue-me” (Mt 19,21). Os catequistas devem compreender que isso não é teoria, não basta fazer o jovem sentir-se bem na experiência pessoal com Jesus Cristo e achar bonito o que ele fala. É preciso na educação ao seguimento de Jesus comprometer-se com ele. Esse compromisso nascerá de um sério e necessário questionamento, como fez o jovem Saulo: “Que farei, Senhor?” (At 22,10). O seguimento a Jesus é um caminho a percorrer e construir. A catequese deve ajudar o jovem a relacionar sua fé cristã com sua experiência existencial, com sua vida concreta, e a assumir compromissos permanentes.

Com criatividade pastoral, é importante apresentar e testemunhar Jesus Cristo dentro do contexto em que o jovem vive hoje. E como resposta às suas angústias e aspirações mais profundas, “devemos apresentar Jesus de Nazaré compartilhando a vida, as esperanças e as angústias do seu povo”. Um Jesus que caminha com o jovem, como caminhava com os discípulos de Emaús, escutando, dialogando e orientando (Estudos da CNBB, 85, Evangelização da juventude, n. 54).

A catequese com jovens deve ajudar cada um a perceber que seguir a Jesus é estar disposto a viver de um jeito novo, abraçando sua missão; iluminando seu projeto de vida com o projeto do Reino; construindo novas relações com as pessoas; assumindo com liberdade e fidelidade os anseios humanos que se revelam na juventude.

7. Catequese para inserção na Igreja e na sociedade

A formação do discípulo acontece na vida de comunidade, onde se experimenta o mandamento novo do amor recíproco, que suscita um ambiente de alegria, de amizade, de carinho, de acolhida e de respeito. O encontro com Cristo, presente entre aqueles que se reúnem em seu nome (cf. Mt 18,20), no amor, trará consequências e deixará marcas indeléveis na capacidade de relacionamento entre as pessoas, envolvendo os sentimentos, a inteligência, a liberdade e o compromisso com um novo modo de agir na Igreja e na sociedade. Comunidades e grupos assim formados atrairão os que vierem de fora (Estudos da CNBB, 85, Evangelização da juventude, n. 61).

A catequese deve em seu itinerário pedagógico motivar o jovem para a inserção na comunidade cristã. É preciso ajudar os jovens a compreender que não se pode seguir Jesus Cristo de forma isolada, egoísta, mas que o seguimento só se realiza plenamente quando estamos na comunidade. Tomé só conseguiu crer na ressurreição de Cristo quando voltou para a comunidade (cf. Jo 20,24-28).

Em nossa Igreja, há uma presença significativa de jovens em vários setores da vida eclesial: nas comunidades eclesiais de base e nas paróquias; participando das equipes de liturgia e de canto; atuando como catequistas e em diversas pastorais, movimentos, novas comunidades; institutos seculares e congregações. Entretanto, a presença de jovens na Igreja tem decaído.

A Igreja, em suas diversas comunidades e formas de expressão, precisa ajudar os jovens a fazer a experiência da comunidade-Igreja como corpo místico de Cristo, onde todos os membros estão interligados e cada um ocupa um papel diferenciado. A catequese deve apresentar que na comunidade há espaço para todos os dons e talentos e por isso deve motivar o jovem a perceber qual a função que pode exercer na comunidade através dos seus dons. A comunidade que precisamos apresentar ao jovem é a comunidade Corpo de Cristo. Temos serviços diferentes, mas todos convergem para a realização da única missão da Igreja (cf. 1Cor 12,4-30). Com isso, supriremos uma catequese apenas sacramental, pois com essa compreensão não basta ser batizado, ser crismado, dizer-se seguidor de Cristo, é preciso participar, assumindo seu papel e a sua missão na comunidade.

Tal inserção dos jovens será favorecida se as comunidades estiverem abertas para acolher o jeito de ser jovem, rompendo preconceitos e assumindo o seu papel de educadora, pois toda a comunidade é catequizadora, como nos afirma Puebla. É preciso, em nossa catequese, ajudar os jovens a fazer a experiência prazerosa de pertencer à comunidade cristã.

A consequência da inserção e da experiência na comunidade cristã faz com que o jovem assuma o compromisso com a transformação do mundo, da sociedade humana a partir dos valores do Evangelho. Não se pode ser cristão apenas dentro da Igreja, uma vez que o convite de Jesus é: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Mc 16,15). Inserido na sociedade, o jovem é chamado a ser sal e luz: “Vocês são o sal da terra (…) Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,13-14).

A catequese bem feita ajuda os jovens a sentirem-se incomodados, inquietos com a realidade social que os cerca, cheia de injustiças, discriminações e atentados à vida, e, a partir disso, leva-os a uma atitude de solidariedade, de compaixão ativa e de compromisso com o bem, com a verdade, a justiça e a vida como fez Jesus.

A educação da fé que aponta para o compromisso com a transformação da sociedade conduzirá o jovem para a realização do seu “ser jovem”, como agente transformador e protagonista dentro de uma sociedade que nem sempre o acolhe. Com isso, a catequese estará cumprindo o seu papel de unir fé e vida, formando cidadãos do Reino, discípulos jovens que sejam apaixonados e seguidores de Jesus.

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Eduardo Clandro* e Jordélio Siles Ledo**

* Pároco em Goiás, mestrando em Psicologia pela PUC-GO; especialista em pedagogia catequética; assessor da comissão pastoral para animação bíblico catequética do Regional Centro-Oeste da CNBB. E-mail: [email protected].
** Estigmatino, pároco em São Caetano do Sul – SP; mestrando em Teologia Pastoral pela PUC-SP; especialista em Pedagogia catequética; professor do curso de Pedagogia Catequética na PUC-GO e UNISAL, IESMA em São Luis – MA. E-mail: [email protected].