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Publicado em número 208 - (pp. 9-13)

Deus Pai: coração de Mãe e jeito de Avô

Por Pe. Benedito Ferraro

Falar de Deus Pai é falar da vida, da história, da criação. É falar do amor, “amor fontal” do qual tudo provém[1]. Mas implica também falar do ser humano, homem e mulher, pois são criados à sua imagem e semelhança: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança… e os criou homem e mulher” (Gn 1,26-27). Dessa forma, para pensarmos Deus, temos de pensar o ser humano, homem e mulher. E à medida que pensamos o ser humano, colocamo-nos no caminho para conhecer a Deus. Como nos diz santo Agostinho: “Façamos e nossa estão no plural e somente em sentido de relação é compreensível. Não quer dizer que fariam à imagem e semelhança de deuses: mas que o Pai, o Filho e o Espírito Santo fazem o homem à imagem do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que assim ele se tornasse imagem de Deus”[2]. Deus é Trindade. Portanto, pensar Deus, dentro do mistério da nossa fé, é pensar o Deus-Trindade, uma verdadeira família: “Já se disse, de forma bela e profunda, que Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família, pois que leva em si mesmo a paternidade, filiação e a essência da família, que é o amor. Este amor, na família divina, é o Espírito Santo”[3].

A preparação para o novo milênio, que estamos vivendo em seu terceiro ano, nos convida a compreendermos Deus Pai, mas com o coração de Mãe. Somos convidados a compreender Deus Pai-Mãe, como a fonte da vida e da história. É uma oportunidade ímpar para superarmos uma ideia de Deus centrada em demasia no conceito de autoridade patriarcal e vivenciá-lo a partir das novas experiências de comunhão, participação, misericórdia, vividas no nosso cotidiano. Somos convidados(as) a repensar nossos conceitos a partir de nossas vivências cotidianas e assim colocar Deus Pai-Mãe dentro de nossa vida. Ivone Gebara nos anima nesse caminho de reconstrução, ao dizer que “o grande desafio que nos é colocado hoje é o de compreendermos existencialmente aquilo que afirmamos ou, em outras palavras, o desafio de exprimirmos de um jeito simples, acessível e nosso, aquelas experiências que são realmente significativas em nossa vida”[4].

Sabemos que o que conhecemos de Deus, nos vem pela ação de Deus na história e, de modo ainda mais profundo e misterioso, na vida, prática, morte e ressurreição de Jesus, presença definitiva de Deus na história (cf. Jo 1,14; 14,5-9). Deus se revela como ele é na história, através dos acontecimentos e palavras e, sobretudo, em Jesus de Nazaré (cf. Hb 1,14; Cl 1,15). Dessa forma, o melhor caminho para se conhecer a Deus é seguir a dinâmica da história e, dentro dela, fazer o esforço de traduzir essa vivência em termos compreensíveis e acessíveis ao ser humano, para que a nossa vida possa espelhar a comunhão que existe na Trindade. Nessa busca, privilegiamos a dinâmica “econômica”, histórica, pois assim parece ser o caminho de nossa compreensão de Deus: “Os Padres da Igreja distinguem entre a “Theologia” e a “Oikonomia”, designando com o primeiro termo o mistério da vida íntima do Deus-Trindade, e com o segundo, todas as obras de Deus, através das quais ele se revela e comunica sua vida. É através da “Oikonomia que nos é revelada a “Theologia”; mas, inversamente, é a “Theologia” que ilumina a “Oikonomia”. As obras de Deus revelam quem ele é em si mesmo; e, inversamente, o mistério do Ser íntimo ilumina a compreensão de todas as suas obras. Acontece o mesmo, analogicamente, entre as pessoas humanas. A pessoa mostra-se no seu agir, e quanto melhor conhecermos uma pessoa, tanto melhor compreenderemos o seu agir”[5].

Queremos seguir essa orientação, compreendendo o Deus Pai, com coração de Mãe, a partir da vida e prática de Jesus de Nazaré, que nos revela o ser de Deus, comunhão de pessoas, iguais e diferentes, e que vivem em plena colaboração. Um Deus Pai-Mãe preocupado com a vida dos seus filhos(as), sem fazer discriminação alguma. São João assim exprime essa intuição, ao pôr estas palavras na boca de Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ou na terminologia de Mt 11,25-26: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. Essa atitude do Deus Pai de Jesus muito se assemelha ao carinho de mãe ou ao carinho de avô, que se desdobra para agradar seus netos e netas![6] Uma atitude acolhedora e que revela um sentimento de amor profundo para com todos(as), sem aquela dureza com que, muitas vezes, acabamos apresentando Deus para as pessoas.

 

1. Jesus, o Filho, nos revela o Pai (Jo 1,18; 8,14; 14,5-9)

Será que estamos conscientes da revelação de Deus em Jesus de Nazaré? Como compreender que em Jesus nós temos o caminho que nos leva ao Pai? (Jo 14,5-9). Como compreender a missão de Jesus, que sabe de onde veio e para onde vai (Jo 8,14), sendo, pois, “o caminho, a verdade e a vida”? (Jo 14,6).

 

a) O Reino de Deus e o Deus do Reino

Jesus, por meio de sua prática, nos mostra quem é o Pai (Jo 1,18). Ele é o hermeneuta, o intérprete do Pai. É através do anúncio do Reino que descobrimos o Deus de Jesus, que é o Deus do Reino (Mc 1,14-15; MT 9,35-36; Lc 4,14-30; Mt 11,2-6; Lc 7,18-25). É sempre movido pelo Espírito que Jesus realiza a obra do Pai, mas com coração de Mãe (cf. Lc 13,34).

O Deus que Jesus nos anuncia, tem muito que ver com o Deus que oferece a salvação ao seu povo no Egito (Ex 3,7-10). O anúncio do Reino tem tudo que ver com o desígnio amoroso de Deus Pai-Mãe, expresso já no Antigo Testamento, onde Deus aparece como mais amoroso do que coração de Mãe: “Pode a mãe se esquecer do seu nenê, pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você” (cf. Is 49,14-15). Na verdade, a Bíblia nos diz que Deus é mais do que Mãe!

Daí a importância do enraizamento do anúncio do Reino feito por Jesus no Antigo Testamento, que revela o coração de Deus Pai-Mãe. Este Deus, Jesus o revela na oração do Pai-nosso (Mt 6,9-12; Lc 11,1-4): Chama-o de Abbá (Papaizinho!)[7]. Essa era a forma de as crianças chamarem os pais! Na verdade, esta concepção de Pai tem um sabor de coração de mãe, ou, então, de avô! Sempre doce, afável, com coração aberto, bem a gosto da parábola do pai amoroso de Lc 15,11-32. Essa imagem de Deus amante dos pequenos, dos deserdados, está também presente na oração de Jesus em Mt 11,25-26.

Esse falar de Deus a partir do humano tem suas raízes na tradição teológica. O Concílio de Toledo (675) afirma: “Devemos crer que o Filho não procede nem do nada nem de outra substância, mas que foi gerado ou nascido (genitus vel natus) do seio materno de Deus (de utero Patris), isto é, de sua substância”[8]. L. Boff assim tenta nos explicar o sentido dessa definição: “A denominação de Pai a Deus não implica uma linguagem sexista. Bem compreendida, inclui também a denominação de Mãe, pois Pai significa o único princípio de geração. Esse princípio pode ser expresso pelo pai ou pela mãe, o que na geração humana corresponde à paternidade e à maternidade”[9]. Estamos diante de um Pai Maternal: “A doutrina trinitária do cristianismo e suas afirmações sobre o Pai materno representam um primeiro passo para superar o linguajar masculino na noção de Deus, sem recorrer a categorias matriarcais. Sua intenção verdadeira é chegar a uma comunidade de mulheres e homens sem subordinações ou privilégios. Na comunhão com o Primogênito “não há homem nem mulher, mas todos são um e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3,28-29). Somente uma comunidade de pessoas libertada do sexismo e do domínio de algumas classes sobre as outras pode chegar a ser imagem do Deus uno e trino”[10]. Essa visão de um Pai Maternal e de uma Mãe Paternal articulada com o conceito de Deus Pai, certamente traria um equilíbrio maior no interior das relações eclesiais e também no interior das relações sociais. É um desafio que devemos enfrentar na catequese, nas homilias e, de modo especial, é a grande tarefa teológica, diante da emancipação da mulher em nossa sociedade. Tarefa bonita, mas ao mesmo tempo exigente.

 

b) Jesus retoma o desígnio de Deus Pai-Mãe presente na promessa de salvação no Antigo Testamento

O anúncio da Boa Nova está enraizado nas promessas de vida e retomada do projeto de Deus ao longo da história do povo de Deus. Lc 4,14-30 e Mt 11,2-6 traduzem, na vida de Jesus e de seus seguidores, a presença da era messiânica preanunciada pelos profetas. Jesus “desengaveta” um texto de 500 anos e mostra que o desejo de Deus, Iahweh, continua sendo a referência fundamental (cf. Is 61,1-3). A retomada do “Ano da graça do Senhor” indica toda a profundidade de sua prática e mensagem. Ela vai fundo, alicerçada na experiência do povo de Deus (cf. Lv 25,8-17 e Dt 15,1-23). Bebe também da luta do povo na reconstrução de Jerusalém (cf. Ne 5,1-11).

Esses textos nos orientam na compreensão de que o desejo do Pai, a vontade do Pai, é buscada por Jesus, sempre movido pelo Espírito, que o impulsiona a realizar o projeto de Deus na história da humanidade, estendendo-o também para toda a criação (cf. Rm 8,18-­25). O Deus que salva é o mesmo Deus que cria. Não há oposição entre eles. Sua obra é obra de salvação, pois salva criando e cria salvando, no sentido de que a salvação é contínua criação. Por isso, o ser humano, homem e mulher, é convidado a cuidar da natureza, pois, neste cuidado com a criação, nós nos assemelhamos a Deus. Mas, se cuidarmos mal, estaremos nos aproximando da ação demoníaca.

 

c) Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo (Fl 2,5)

Jesus é Deus-conosco. O encontro com Jesus é encontro com Deus, comunhão de pessoas. Jesus se revela, revelando o Pai e o Espírito Santo, que o impulsiona na realização da obra do Pai-Mãe: “Devo anunciar a Boa Notícia (Evangelho) do Reino de Deus, porque para isso é que fui enviado” (Lc 4,43). Ele faz a obra do Pai-Mãe, movido pelo Espí­rito (cf. Lc 4,14-21).

Jesus chama a Deus de Pai, com coração de Mãe (Lc 11,1-4). Agradece ao Pai por sua opção pelos pobres e excluídos, oferecendo-lhes a sua intimidade e comunhão (Mt 11,25-26). Clama ao Pai (Abbá!) no momento do sofrimento (Mc 14,36.39). Deus Pai-Mãe ouve o grito dos seus filhos(as) (Ex 3,7-10). Ouve o grito do seu Filho muito amado! (Mc 14,32-42). No Novo Testamento, podemos encontrar marcas desta bondade de Deus na própria pessoa de Jesus. Os termos usados pelos evangelistas mostram a profundidade do amor de Jesus para com o ser humano, que muito se aproxima do amor de Pai e Mãe (cf. Mt 9,36; Jo 1,14). Ele é chamado de Emanuel, Deus-conosco (Mt 1,23). Deus-conosco é o Deus da solidariedade, da compaixão. O verbo evsplagcni, zomai, normalmente aplicado a Jesus ou a seu Pai, revela um amor de entranhas: “As splanchna eram as entranhas do corpo ou, como poderíamos dizer atualmente, as vísceras. Elas são o lugar onde estão localizadas as nossas emoções mais íntimas e mais intensas. Constituem o centro donde brota tanto o amor apaixonado como o ódio apaixonado. Quando os evangelhos falam da compaixão de Jesus como sendo movido em suas entranhas, eles expressam algo muito profundo e muito misterioso. A compaixão que Jesus sentia era obviamente muito diferente dos sentimentos superficiais ou passageiros de pesar ou de simpatia. Pelo contrário, está relacionada com a palavra hebraica para designar a compaixão, rachamim, que se refere ao útero de Javé. Na verdade, a compaixão é uma emoção tão profunda, central e poderosa em Jesus, que só pode ser descrita como um movimento do útero (âmago) de Deus. Nele, está oculta toda a ternura e toda a bondade divina. Nele, Deus é pai e mãe, irmão e irmã, filho e filha. Nele, todos os sentimentos, emoções e paixões são uma só coisa no amor divino. Quando Jesus era movido de compaixão, a fonte da vida tremia, o solo de todo amor explodia, e se revelava o abismo de ternura imensa, inexaurível e insondável de Deus”[11].

Essa longa citação nos ajuda a compreender a importância de novo conceito de Deus Pai, que se aproxima mais da vida, da prática e da compaixão de Jesus. Na verdade, a frase para Filipe deve ressoar em nós de forma bastante intensa: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Tendo os mesmos sentimentos de Jesus, nós estaremos sendo imitadores do — próprio Deus Pai, com coração de Mãe!

 

2. Reconstruir a utopia do Reino: “Reconstruir o céu, para transformar a terra” (Mc 1,14-15; Is 65,17-25; Ap 21,1-7)

Ao celebrar a chegada do novo milênio, somos convidados a retomar o projeto de Deus, que quer vida, e vida abundante, para seu povo, seus filhos e filhas. Não podemos abrir mão deste projeto de salvação, mesmo quando toda a ideologia dominante diga o contrário. Se negarmos esse projeto de Deus que inclui todos os seus filhos e filhas, como também a própria natureza, a terra mãe e o próprio cosmo, estaremos traindo a memória da tradição judaico-cristã. Celebrando o Deus Pai, com coração de Mãe, temos de enfrentar o sistema de exclusão que busca implantar-se no mundo inteiro.

Esse sistema, denominado neoliberalismo, quer impedir o povo de sonhar. Suscita nele a fascinação pelo consumo, movido pelo mercado, que se tornou o “Senhor da vida e da morte”. É o Mercado hoje que determina quem vive ou quem morre; quem trabalha ou quem fica sem emprego! Somos chamados a retomar a crítica ao neoliberalismo e hoje, com o aval de João Paulo II, na sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal — Ecelesia in America, 56: “Domina cada vez mais, em muitos países americanos, um sistema conhecido como ‘neoliberalismo’; sistema este que, apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis de mercado como parâmetros absolutos com prejuízo da dignidade e do respeito da pessoa e do povo. Por vezes, esse sistema transformou-se numa justificação ideológica de algumas atitudes e modos de agir no campo social e político que provocam a marginalização dos mais fracos. De fato, os pobres são sempre mais numerosos, vítimas de determinadas políticas e estruturas frequentemente injustas”.

Aceitar a Deus como Pai, com coração de Mãe, nos orienta a retomar os valores fundamentais do Reino, anunciado por Jesus de Nazaré, visando a salvar a vida dos seres humanos e da própria natureza, pois este sistema neoliberal, com seu projeto de desenvolvimento econômico, compromete a vida das pessoas bem como a vida do planeta. Por isso, temos de enfrentar a batalha dos valores. A luta pela ética da solidariedade é fundamental. Devemos buscar a globalização solidária e ecológica, vivendo e relançando os valores fundamentais da vida como a gratuidade, a solidariedade e a partilha, marcas profundas da presença do Reino de Deus no nosso meio.

Nossa atitude deve ser de muita esperança, contra toda desesperança, pois somos chamados a construir a nova cidade (cf. Is 65,17-25; Ap 21,1-7), onde não haverá lágrimas nem dor: “Na nova cidade, Deus estará entre nós, e toda a vez que dois ou três se reunirem em nome de Jesus, ele já estará entre nós. Na nova cidade, todas as lágrimas serão enxugadas, mas toda a vez que as pessoas comerem o pão e beberem o vinho em sua memória, o sorriso aparecerá em seus semblantes tensos. Mas toda a vez que os muros das prisões forem derrubados, a pobreza será dispersada e as feridas serão cuidadosamente curadas, a terra desgastada já dará lugar a uma nova terra. Através da ação solidária, o que é velho não será mais velho, e a dor não mais será dor. Apesar de ainda estarmos na expectativa, os primeiros sinais de uma nova terra e de um novo céu, que já nos foram prometidos e pelos quais aspiramos, já se tornam visíveis na comunidade da fé, em que o Deus misericordioso se revela. Este é o fundamento da nossa fé, da nossa esperança, e a fonte do nosso amor”[12].

Não podemos esperar a chegada do milênio como se algo acontecesse num passe de mágica. Devemos trabalhar para antecipá-lo na nossa vida de cada dia, retomando a prática de Jesus e sua mensagem, que nos ensinam a ver Deus Pai, com coração de Mãe, que quer que todos(as) desfrutem a beleza da vida e a ternura do amor. O milênio começa a cada dia!

 



[1] AG, 2.

[2] AGOSTINHO, A Trindade, São Paulo, Paulus, 1995, p. 257.

[3] JOÃO PAULO II, “Homilia pronunciada no Seminário Palafoxiano de Puebla (28 de janeiro de 1979)”, nº 2, em A Evangelização no presente e no futuro da América Latina. Puebla: Conclusões, São Paulo, Loyola, 1979, p. 40.

[4] GEBARA, I., Trindade, palavra sobre coisas velhas e novas. Uma perspectiva ecofeminista, São Paulo, Paulinas, 1994, p. 23.

[5] Catecismo da Igreja Católica, 236. Cf. também GARCÍA-MURGA, J. R., “Teologia e Economia”, em Dicionário Teológico: O Deus Cristão, São Paulo, Paulus, 1998, p. 854: “A economia se refere à comunicação (dispensatio) da salvação segundo a dinâmica da encarnação, e nos proporciona um modelo concreto, a pessoa e a vida de Jesus Cristo, para situar-nos diante de Deus em nosso mundo e em nossa história. A teologia nos abre a profundidade insondável desta salvação como comunhão no próprio Deus e com o próprio Deus, e nos apresenta o sentido mais profundo e a densidade última da economia e da história humana”.

[6] Rubem Alves procura indicar o caminho da convivência entre as pessoas como possibilidade de se aceder ao Deus Trindade, não através dos conceitos abstratos, mas através do cotidiano: “O Natal anuncia que Deus fugiu de ser Deus. Invejou os prazeres que os homens podiam ter, e Ele não: dormir, tomar banho de cachoeira, chupar mexerica, brincar, fazer amor, ter de se esforçar por conseguir. A teologia cristã dá a isso o nome de ‘encarnação’. O Natal é Deus dizendo que divino, mesmo, é o humano. Agora os três andam pela terra. Não mais como Pai, Filho e Espírito Santo (esses ficaram no céu), mas como avô, neto e brincadeira. Pai não serve. Tem de ser avô. E por que brincadeira, em vez de Espírito Santo? Porque o Espírito Santo, na tradição teológica ortodoxa, é o que acontece entre o Pai e o Filho (só para teólogos: é o ‘filioque’). Ora, o que acontece entre avô e neto é que eles brincam. Brincar é a mais divina de todas as atividades!” (ALVES, R., “Em nome do avô, do neto e da brincadeira”, em Folha de S. Paulo, 27/12/1998, p.1.3).

[7] Na perspectiva do artigo de Rubem Alves, citado acima, poderíamos falar de uma concepção de Deus na linha do avô: atencioso, solícito, atento às necessidades dos netos(as)!

[8] DENZINGER, H., Enchiridion Symbolorum. Definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum, Bologna, EDB,1996, p. 526.

[9] BOFF, L., A Trindade, a sociedade e a libertação, Petrópolis, Vozes, 1986, p. 210.

[10] MOLTMANN, J., “O Pai Maternal. O patripassianismo trinitário vencerá o patriarcalismo teológico?”, em Concilium, 163(1981/3), pp. 63-64.

[11] NOUWEN, H. J. M. e outros, Compaixão: Reflexões sobre a vida cristã, São Pauto, Paulus, 1998, pp. 26-27.

[12] NOUWEN, H. J. M. e outros, op. cit., pp. 161- 162.

Pe. Benedito Ferraro