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Publicado em setembro – outubro de 2017 - ano 58 - número 317

A missão de Paulo apóstolo: anunciar o evangelho (1Ts 2,1-12)

Por Equipe Centro Bíblico Verbo

Introdução

No ano de 2016, na Síria, Bana al-Abed, uma garota de 7 anos, auxiliada por sua mãe, ajudou a descrever, por meio de sua conta no Twitter, a situação de sofrimento vivida por cerca de 250 mil pessoas cercadas desde julho em Aleppo. Os bombardeios são intensos e constantes.

No dia 29 de novembro, postou em sua conta a foto de um prédio muito danificado, com a seguinte legenda: “Essa é a nossa casa, minhas amadas bonecas morreram no bombardeio da nossa casa. Estou muito triste, mas feliz por estar viva”.

Vários dias depois, Bana escreveu que estava doente: “Não tenho remédios, nem casa, nem água potável. Isso me fará morrer antes mesmo de uma bomba me matar”.

“Por que todo mundo não fala, não fala, não fala…?”

De acordo com a ONU, os refugiados sírios somam 4,8 milhões em países vizinhos e 900 mil na Europa. Essa guerra é dinamizada pelos interesses das nações poderosas (Rússia e Estados Unidos), os impérios de hoje. Pouco importa a vida das pessoas e seu sofrimento. O fornecimento de armas e a manipulação dos meios de comunicação alimentam uma guerra sem fim!

No tempo de Paulo, o povo sofria com o império romano. “Os romanos roubavam, assassinavam, pilhavam e chamavam o resultado de império; e onde criavam desolação, davam o nome de ‘paz’”, relatou um dos historiadores da época. Um dos meios para controlar o povo era o evangelho: “boa-nova”, “boa notícia”. Notícias de interesse do império e decretos do imperador eram apresentados como evangelho. Por exemplo, ele era usado para anunciar o imperador como “filho divino e salvador” por ter estabelecido a paz sobre a terra. Com esses evangelhos, o imperador ditava e moldava o cotidiano do povo dominado para impor e legitimar o poder e a dominação, como também para a cobrança sistemática de impostos, o monopólio do comércio e a implantação da religião e da cultura. O evangelho de Jesus anunciado por Paulo e suas comunidades, ao contrário da versão do império, visava à dignidade das pessoas.

  1. O evangelho de César Augusto Senhor e o do Senhor Jesus

Os especialistas descobriram e reconstruí­ram, nas escavações de algumas cidades asiáti­cas, textos com o termo “evangelho” usado na teologia romana imperial:

Posto que a providência que divinamente determinou a nossa existência dedicou sua energia e zelo para trazer à vida o mais perfeito bem em Augusto, a quem plenificou com virtudes para o benefício da humanidade, estabelecendo-o sobre nós e nossos descendentes como salvador – ele que terminou com a guerra e trouxe a paz, César, que por sua epifania excedeu as esperanças dos que profetizaram boas-novas (euaggelia), não apenas superando os benfeitores do passado, mas não permitindo nenhuma esperança de melhores benfeitores no futuro; e uma vez que o nascimento do deus trouxe ao mundo as suas boas-novas (euaggelia), em sua pessoa… (CROSSAN; REED, 2007, p. 222).

Há várias inscrições descobertas que contêm o termo “evangelho” ou “boas-novas”, usado pelo imperador romano César Augusto (27 a.C.-14 d.C.). Nelas, o imperador Augusto, senhor do império e da terra, é proclamado “filho divino” e “salvador”, por ser quem estabeleceu na terra a paz e a salvação definitiva, tanto no passado como no presente e no futuro. Seu nascimento – advento e epifania – é descrito como o único evangelho poderoso!

Assim sendo, sem dúvida, podemos reconhecer que a propagação do evangelho de César Augusto Senhor é uma “arma poderosa” para impor e legitimar o poder e a dominação do império. A legitimação do poder não somente é efetuada pela brutalidade e violência do exército, pela cobrança sistemática do imposto e pelo monopólio do comércio, mas também pela implantação da religião e da cultura promovida pelo império romano.

Por exemplo, uma inscrição relata que o imperador César Augusto, que era também o chefe da religião nacional (“sumo pontífice”), responsável por conservar, zelar e nomear os sacerdotes, construiu 82 templos para restaurar e fortalecer a religião romana. As próprias cidades conquistadas também construíram, em honra dos membros da família imperial, templos e teatros para manifestar sua subordinação ao imperador.

Foi a esse mundo do império romano que se dirigiram os missionários e as missionárias do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Apesar de sérios obstáculos e perseguições, as pregações cristãs circularam e ganharam adesões no império: “A Palavra do Senhor ecoou não somente por Macedônia e Acaia, mas a fé que vocês têm em Deus espalhou-se por toda parte” (1Ts 1,8).

A rápida divulgação da mensagem de Jesus se explica, pelo menos em parte, pelo mundo montado pelo império: sua organização social, estradas, correios, pensamento, cultura, religião e teologia. O evangelho do Senhor Jesus Cristo, que nasceu no meio do judaísmo, lançou raízes e cresceu no mundo greco-romano. Por isso, é notável o paralelismo entre a religião do império e a de Cristo.

Descobrimos alguns pontos de contato entre o culto do imperador e o de Cristo; por exemplo, os seguintes termos empregados para ambos: Filho de Deus; Senhor (Kyrios); salvador do mundo; Dia do Senhor; epifania; escritos sagrados, evangelho etc. Até o termo “Igreja”, frequentemente empregado para indicar “assembleia” no mundo greco-romano.

Todavia, há uma forte divergência, ou melhor, um conflito entre a religião do império e a de Cristo em termos de “modo de viver”: a religião do império preza “acúmulo e dominação”; a das primeiras comunidades cristãs, “partilha e serviço”.

Os exemplos são muitos. Confira e o significado do termo “evangelho”, ao ser empregado por Paulo, o grande missionário do Cristo Jesus Senhor no mundo greco-romano:

  1. a) “E como o anunciarão, se não forem enviados? Como está escrito: ‘Como são belos os pés dos que anunciam boas notícias!’ Mas nem todos obedeceram ao evangelho” (Rm 10,15-16a). Paulo adapta o texto de Is 52,7, escrito pelo grupo de “Segundo Isaías”, que exerceu suas atividades entre os desterrados na Babilônia. O evangelho do grupo assegura a todos a vida pela partilha e pela solidariedade (Is 55,1-3), o que Paulo anuncia como “boas-novas”.
  2. b) “Tal serviço será para eles uma prova: e eles agradecerão a Deus pela obediência que vocês professam ao evangelho de Cristo e pela generosidade com que vocês repartem os bens com eles e com todos” (2Cor 9,13). Paulo deixa a evidência de que ser fiel ao evangelho é praticar a fé em Jesus de Nazaré: caridade, solidariedade e partilha em favor dos necessitados.
  3. c) “Pois Cristo me enviou não para batizar, mas para anunciar o evangelho […]. Os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, ao passo que nós anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para as nações” (1Cor 1,17.22-23). O evangelho de Jesus Cristo é contrário ao evangelho de César Augusto Senhor. Enquanto o imperador privilegia seus aliados, ricos e poderosos em busca de bens, poder e a paz do império, ou seja, a “pax romana”, o evangelho de Jesus Cristo se alia à classe marginalizada, subvertendo o valor, o conceito e o poder do império: “Deus escolheu o que é insignificante e sem valor no mundo, coisas que nada são, para reduzir a nada as coisas que são. E isso para que nenhuma criatura se glorie diante de Deus” (1Cor 1,28-29).

Paulo semeia o evangelho de Jesus Cristo, que está na contramão do de César Augusto. Ganha adeptos no meio dos trabalhadores explorados, empobrecidos e humilhados nas cidades do império, como Filipos, Tessalônica e Corinto. Nas comunidades cristãs, eles conseguem recuperar a dignidade e a esperança dentro de uma sociedade basicamente escravagista e, ao mesmo tempo, são intensamente perseguidos pelos defensores poderosos do evangelho de César Augusto: enfrentam “tantas tribulações” (1Ts 1,6).

Uma das cartas de Paulo, que destaca a contraposição entre o evangelho de César e o de Jesus, é a primeira carta aos Tessalonicenses, provavelmente redigida por volta do ano 50 ou 51, em Corinto. Por meio dela, sabemos o objetivo do evangelho de Jesus: fazer com que o reino do Deus da vida esteja presente, de forma histórica, nas comunidades. Coragem, bondade, doação, amor, afeto até de mãe e pai são “ingredientes” do evangelho de Deus, anunciado por Paulo, em 1Ts 2,1-12.

  1. Deus nos confiou o evangelho

De maneira afetuosa, Paulo e seus colaboradores escrevem à comunidade de Tessalônica. Eles recordam como foram os dias vividos na cidade: “nossa estada entre vocês não foi inútil” (1Ts 2,1). Quando passaram pela cidade, eles tinham sido expulsos de Filipos, sentiam-se desalentados e preocupados; porém, fortalecidos pela presença de Deus, encontraram forças para anunciar o evangelho. Eles afirmam: “nossa pregação não vem de intenções enganosas, de segundas intenções ou trapaças” (1Ts 2,3).

Paulo e seus colaboradores reforçam que sua missão foi dada por Deus: “Deus nos considerou dignos de confiar-nos o evangelho” (1Ts 2,4). No trabalho missionário, não procuram agradar às pessoas usando palavras de bajulação nem fazem de sua missão um meio para ganhar dinheiro. É possível que tivessem ouvido alguma acusação, pois afirmam que “Deus é testemunha!”. Ou seja, estão querendo que seus destinatários acreditem que eles agem com reta intenção: anunciar o evangelho de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado.

Seguir um Messias crucificado é um escândalo. A mensagem dele é um convite a viver o projeto da justiça e do compromisso com as pessoas que estão à margem do sistema. Aquele que segue Jesus abandona outras práticas religiosas, afasta-se dos cultos do império, e isso provoca a separação dos parentes e vizinhos e também perseguição.

“Vocês se converteram dos ídolos a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro” (1Ts 1,9). O evangelho pregado por Paulo, Silvano e Timóteo é mensagem de vida e de liberdade, tendo como objetivo devolver a dignidade às pessoas. É contrário ao evangelho de César e não visa enganar, agradar às pessoas, bajular, ganhar dinheiro ou procurar elogios.

O evangelho de Jesus Cristo é contrário ao método do império romano, que usa de violência. Paulo e seus companheiros pregam o evangelho com carinho de mãe: “Nós nos comportamos entre vocês com toda a bondade, qual mãe acariciando os filhos” (1Ts 2,7). Nesse sentido, os missionários se colocam na mesma trilha dos antigos profetas, Oseias e Isaías, que recordam o amor incansável, gratuito e incondicional de Deus por seu povo: “eu os atraía com laços de bondade, com cordas de amor” (Os 11,4; Is 49,14-16).

E os missionários vão além em sua expressão de afeto e ternura: “Tínhamos tanto carinho por vocês que estávamos dispostos a dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas até a nossa própria vida, tão amados vocês se tornaram para nós” (1Ts 2,8). Paulo e seus colaboradores se apresentam como pai e mãe. O amor ressuscita. Quando amamos, não medimos esforços em vista do crescimento das pessoas. Em várias ocasiões, presenciamos essa atitude em Paulo; em 1Cor 4,15, ele afirma: “Porque, ainda que vocês tivessem dez mil pedagogos em Cristo, não teriam muitos pais, pois fui eu que gerei vocês pelo evangelho em Cristo Jesus”. Ou ainda: “Meus filhos, por vocês eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo se forme em vocês” (Gl 4,19).

No contexto greco-romano do século I, o trabalho manual, em geral, era considerado função de escravos. Os pregadores e missionários do evangelho de Jesus mergulharam no mundo dos trabalhadores pobres e escravos, a maioria da população. Também não queriam ser um peso para ninguém nem ficar atrelados ao sistema de patronato. Eles fizeram de tudo para preservar a liberdade do anúncio do evangelho: “Noite e dia trabalhando para não sermos de peso para nenhum de vocês, nós assim lhes proclamamos o evangelho de Deus” (1Ts 2,9; cf.1 Cor 9,1-18).

Mais uma vez, Paulo, com seus colaboradores, recorda sua integridade no anúncio do evangelho e, como um pai, exorta a comunidade a viver uma vida digna: “Nós exortamos e encorajamos vocês, e testemunhamos para que levassem uma vida digna de Deus, que os chama para seu Reino e glória!” (1Ts 2,12). E assim o desafio nos é lançado: como missionárias e missionários, vivamos uma vida reta, assumindo com amor de pai e mãe as pessoas com as quais trabalhamos. Amor gerador de outras vidas!

  1. Paulo, sua missão, afeto, força e estratégia

Quantas viagens com perigos em rios, perigos de ladrões, perigos por parte de compatriotas meus, perigos por parte das nações, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por estar entre falsos irmãos! Quanta fadiga e trabalho duro, quantas noites sem dormir, com fome e sede! Quantos jejuns, com frio e sem roupa! E, além de tudo, minha preocupação cotidiana, o cuidado que tenho por todas as igrejas! (2Cor 11,26-28).

Paulo desempenhou um papel importante na missão evangelizadora dos primeiros cristãos. Ao longo de onze anos, de 46 a 57, empreendeu três viagens missionárias, andando pelo interior da atual Turquia e ao longo da faixa litorânea da Grécia, na região do mar Mediterrâneo. Eram jornadas árduas, feitas a pé ou de navio.

Nessa andança, Paulo estabeleceu comunidades em quatro províncias do império: Galácia, Ásia, Macedônia e Acaia. Acompanhou pessoalmente a caminhada delas por meio de visitas, cartas e colaboradores, divulgando o evangelho até os confins do império romano. A influência de Paulo é indiscutível: “O cristianismo, tal como existe hoje, deve muito a ele”.

O trabalho de Paulo é incansável, talvez por crer na iminência da parúsia do Senhor Jesus. Mas a realização de sua importante obra missionária na construção da Igreja primitiva é moldada por certa força espiri­tual, formação e estratégia bem pensada e refletida:

  1. a) O amor de Cristo: “tudo o que para mim era lucro, agora considero como perda, por amor de Cristo” (Fl 3,7). O fariseu Paulo se converte à salvação pela graça e amor de Jesus Cristo, deixando a salvação pela observância da lei. Ele põe sua vida inteiramente a serviço de Jesus. Uma vida movida pelo amor de Cristo: “E já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
  2. b) Formação helenista: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Paulo viveu em Tarso, uma cidade grande, conhecida por abrigar escolas filosóficas. O estilo de vida da cidade grega (os esportes, a arte, a cultura etc.) influenciou e formou Paulo como um judeu mais aberto para o mundo do que seus irmãos na Palestina. Ele foi o grande missionário no meio dos não judeus!
  3. c) Infraestrutura: Roma, capital de um império sem precedentes, com mais de 1 milhão de habitantes e com o contínuo ir e vir de produtos e de pessoas: autoridades, exércitos, comerciantes, carteiros, escravos, pregadores de muitos cultos que percorriam a rede de hospedarias, rotas e estradas. Paulo, missionário e viajante, foi um dos que se beneficiaram dessa infraestrutura do império romano para irradiar o evangelho com maior facilidade.
  4. d) Cidades estratégicas: Paulo procurou as cidades importantes daquele tempo, nas quais fundou uma base para ampliar a difusão do evangelho. Transformou, por exemplo, Éfeso em sua base para espalhar as sementes do evangelho nos interiores da Ásia e da Galácia. A cidade de Éfeso, como Tessalônica e Corinto, era também conhecida por ser portuária, oferecendo maior facilidade de viagem (1Cor 16,5-9).
  5. e) Trabalho manual e opção pelos pobres: “Noite e dia trabalhando para não sermos de peso para nenhum de vocês” (1Ts 2,9). Com seu trabalho manual, Paulo mergulhou na vida dos escravos, que constituíam até dois terços da população nas cidades do império romano. Inserido no mundo do trabalho no qual a sociedade escravista explorava as pessoas, ele pregou e defendeu não só a dignidade humana, mas também uma nova ordem social: “Não há escravo nem livre” (Gl 3,28). Uma opção pelos pobres, exigindo a justiça, liberdade, fraternidade!
  6. f) Casa: “Áquila e Priscila, com a igreja que se reúne na casa deles” (1Cor 16,19). No mundo greco-romano, a casa, de modo geral, possuía uma loja ou oficina na frente e uma acomodação de moradia no fundo. Para Paulo, fabricante de tenda, a oficina era a base estável de contatos e reuniões. Aí nasceu a comunidade (igreja, congregação, assembleia). A casa era, para os primeiros cristãos, o espaço acolhedor e missionário de partilha e de celebração.
  7. g) Liderança: “Nós lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração por aqueles que se afadigam entre vocês, aqueles que os dirigem no Senhor e os aconselham” (1Ts 5,12). Paulo incentivou a formação e a autonomia da liderança local na vida da comunidade após sua saída. Eram pessoas que conheciam a própria realidade e tinham a confiança da comunidade com ampla rede de contatos sociais.
  8. h) Participação de todos: “Portanto, encorajem-se uns aos outros e se edifiquem mutuamente, como, aliás, vocês já estão fazendo” (1Ts 5,11). Paulo encorajava seus fiéis a se envolverem nas atividades pastorais. Esperava que compartilhassem todos os aspectos das necessidades pastorais da comunidade: “Carreguem o peso uns dos outros, e assim vocês cumprirão a lei de Cristo” (Gl 6,2).
  9. i) Cuidado afetuoso: “Meus filhos, por vocês eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo se forme em vocês” (Gl 4,19). Em suas cartas, Paulo, como mãe e pai, expressa seus afetos e preocupações para com seus filhos e filhas na fé (1Ts 2,7-8.11; 1Cor 3,1-3; 4,14). Com relacionamento maternal e paternal, ele acompanha a vida da comunidade, encorajando-a (1Ts 2,11-12) e exortando-a (1Ts 5,12-22). Um relacionamento pastoral constante, próximo e afetuoso!
  10. j) Carta: “Peço-lhes encarecidamente que esta carta seja lida a todos os irmãos” (1Ts 5,27). O correio era o meio de comunicação mais avançado e organizado do império. A cada trinta quilômetros havia postos de troca de cavalos e de pessoas para agilizar a entrega das cartas. Por meio delas, Paulo não só acompanhou as comunidades, mas também sintetizou suas ideias e orientações pastorais. É a importância dos “meios de comunicação”.
  11. k) Preocupação com as necessidades das comunidades que não foram fundadas por ele: é bem conhecido o afeto de Paulo por suas comunidades de fundação (1Ts 2,11). Contudo, ele se preocupou também com as necessidades de seus irmãos e irmãs de outras comunidades. Por exemplo, ele enviou Tito a Corinto para organizar a coleta para os pobres de Jerusalém (2Cor 8,6).
  12. l) Trabalho comunitário: “Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos tessalonicenses, em Deus nosso Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1,1). Paulo não viajava nem trabalhava sozinho. Sempre acompanhado pelos colaboradores, empreendeu várias viagens missionárias e organizou as comunidades. Encorajou a responsabilidade compartilhada na pastoral! Timóteo, por exemplo, foi enviado a Corinto para lembrar à comunidade as “normas de vida em Cristo Jesus” (1Cor 4,17). Um trabalho pastoral realizado de forma coletiva!
  13. m) Relacionamento afetuoso e familiar: “Recomendo a vocês nossa irmã Febe, diaconisa da igreja de Cencreia, para que a recebam no Senhor de modo digno, como convém a santos” (Rm 16,1). Nas saudações pessoais em Rm 16, transparecem os afetos e as preocupações de Paulo com muitas pessoas. Ao longo de sua vida missionária, ele cultivou o relacionamento afetuoso e familiar com seus colaboradores e colaboradoras, o que sustentou sua árdua atividade missionária.

Nos primeiros anos do movimento de Jesus, Paulo foi uma personagem importante. Propagou o evangelho de Jesus crucificado e ressuscitado para lugares distantes, como a Ásia Menor, Grécia e até Roma. Seu trabalho na evangelização e construção das comunidades é tão grande que muitos estudiosos lhe atribuem o título de um dos fundadores do cristianismo.

 Paulo foi missionário audaz de Jesus Cristo, com suas viagens, perigos, perseguições, sofrimentos, comunidades e, sobretudo, várias cartas (1Ts, Fl, 1 e 2Cor, Fm, Gl, Rm). Nelas se explica, em parte, por que Paulo conseguiu realizar tão importante obra missionária: paixão por Jesus e pelo povo; infraestrutura do império; trabalho manual com inserção no mundo dos pobres, associação, comunidades em casa, formação de liderança, trabalho comunitário; participação de todos; relacionamento afetuoso e familiar etc. A missão não foi uma atividade espontânea, mas fruto de uma ação pastoral bem refletida e planejada.

  1. Uma palavra final

Dois mil anos se passaram. A realidade da Igreja não é mais a de Paulo. O movimento cristão, por exemplo, foi apropriado pelo império romano em 313: a construção de templos e basílicas no lugar da casa, uma Igreja triunfalista, com um clericalismo excludente e uma liturgia ritualista, entre outros.

A religião imperialista persiste até hoje, e o mundo dos pobres explorados e humilhados também. Quais recomendações Paulo faria hoje às nossas igrejas e comunidades? É importante dialogar, a partir da nossa realidade e da experiência de vida, com Paulo, apaixonado pelo evangelho de Jesus crucificado e ressuscitado e pelo povo: “Tínhamos tanto carinho por vocês que estávamos dispostos a dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas até a nossa própria vida” (1Ts 2,8).

Equipe Centro Bíblico Verbo

O Centro Bíblico Verbo está a serviço do povo de Deus, desenvolvendo uma leitura exegética comunitária, ecumênica e popular dos textos bíblicos desde 1987, oferecendo diversos cursos sobre a Bíblia: www.cbiblicoverbo.com.br.