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Publicado em janeiro-fevereiro de 2017 - ano 58 - número 313

O jubileu do diálogo

Por Rabino Michel Schlesinger

Shamai e Hilel discutiram incontáveis assuntos legais por muitos anos. Em certo momento, conta o Talmude, [1] saiu uma voz do céu e declarou: “Elu VeElu Divrei Elohim Chaim VeHalachá KeBeit Hilel” (“Estas e também aquelas são palavras do Deus vivo; no entanto, a Lei será determinada conforme a opinião de Hilel” – Talmude Babilônico, Tratado de Eiruvin, 13b). [2] Nossos sábios se perguntaram: Se ambos possuem razão, então qual o critério para se determinar a lei? E a resposta é maravilhosa: Hilel mereceu que a lei fosse determinada da sua maneira porque sabia dialogar com elegância. Citava a opinião do seu oponente sempre com respeito, antes mesmo de citar seu próprio pensamento.

Introdução

O Jubileu de Ouro do Concílio Vaticano II e da Declaração Nostra Aetate é oportunidade para uma profunda reflexão sobre as conquistas e desafios do diálogo católico-judaico.

A presença judaica no Brasil é tão antiga quanto a chegada dos portugueses ao país em 1500. As primeiras caravelas trouxeram judeus que fugiram da perseguição religiosa promovida pelos tribunais da Inquisição na península Ibérica (PÓVOA, 2010).

No início do século XVII, judeus provenientes da Holanda fundaram a primeira sinagoga e a primeira comunidade judaica organizada das Américas na cidade de Recife, no estado de Pernambuco, no Nordeste brasileiro (CARVALHO, 1992).

Foi durante o Ciclo da Borracha,[3] no século XIX, que ondas migratórias judaicas provenientes do Marrocos se instalaram no Pará e no Amazonas. Além das capitais Belém e Manaus, esses imigrantes do Norte da África se instalaram também em cidades ribeirinhas nesses dois estados do Norte do país.

Já no século XX, judeus oriundos da Europa Central, Oriental e Ocidental fundaram as colônias agrícolas de Phillipson e Quatro Irmãos, nas cidades de Erexim, Passo Fundo e Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul.

As duas guerras mundiais foram responsáveis pela chegada de grandes massas migratórias judaicas asquenazes, [4] no século XX, às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Com a criação do Estado de Israel, em 1948, os judeus oriundos dos países árabes foram obrigados a deixar seus países no Oriente Médio, como o Egito, o Líbano e a Síria, e se iniciou a mais recente onda migratória judaica com destino ao Brasil.

A imigração judaica para o Brasil trouxe diversos desafios aos judeus. O maior desafio de qualquer religião é manter suas tradições e, a um só tempo, participar da vida contemporânea. A comunidade judaica brasileira enfrenta esse mesmo desafio. As comemorações e rituais de passagem, aparentemente anacrônicos, ainda têm muito a contribuir à vida do judeu observante do século XXI. Ao mesmo tempo, a modernidade traz desafios inéditos, que acarretarão uma mudança das práticas milenares tradicionais.

 Superando preconceitos

Por meio do conhecimento de alguns preceitos básicos do judaísmo, tem-se a portunidade de superar o preconceito que separou religiosos de diferentes denominações.[5] Um santuário no tempo”, assim o Shabat foi descrito pelo rabino Abraham Yehoshua Heschel (HESCHEL, 2004), um dos mais importantes filósofos judeus do século XX. O Shabat, descanso sabático do povo judeu, está entre os pilares fundamentais do judaísmo. Sua origem mítica remonta à ideia de que Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Por esse motivo, também nós devemos criar de domingo a sexta-feira e utilizar o sétimo dia da semana como um dia de orações, estudo e reflexão.

A sexta-feira é um dia dedicado aos preparativos para o Shabat. Antes do anoitecer, a comida deve estar pronta, a casa precisa estar limpa, a família deve banhar-se e se vestir com roupas festivas, a mesa deve estar preparada para o jantar ritual.

O Shabat começa com o acendimento de duas velas, uma referência aos termos utilizados pela Torá (Pentateuco) ao ordenar a observância do descanso sabático. Na primeira referência está escrito “zachor” (Ex 20,8), que significa “recordarás o sábado”, e na segunda aparição, o termo utilizado é “shamor” (Dt 5,12): “observarás o Shabat”.

O serviço religioso que inicia o sábado chama-se Cabalat Shabat, o recebimento do Shabat. Dentre as principais orações desse serviço, destaca-se a Lechá Dodi. Escrita pelos cabalistas na cidade de Safed, no Norte de Israel, no século XVI, essa oração compara o povo judeu a um noivo que aguarda a chegada de sua noiva (o Shabat) com ansiedade e alegria.

Quando a família retorna da sinagoga, dá-se início ao jantar cerimonial. Existe um costume dos pais abençoarem seus filhos; é realizado o Kidush, que é a santificação do vinho; faz-se a lavagem ritual das mãos e a bênção sobre as duas chalót, que são pães trançados. Durante o jantar, costuma-se entoar cânticos especiais, as zemirót, e o jantar termina com o agradecimento pela refeição, o bircát hamazón.

No sábado de manhã, é realizada a oração matinal, o Schacharit, que tem como destaque a leitura pública da porção semanal da Torá, além de um estudo sobre o seu conteúdo. O serviço matutino é encerrado pela oração de Mussáf, um acréscimo litúrgico em lembrança ao sacrifício adicional de Shabat que era realizado no Templo de Jerusalém.

O almoço de Shabat segue, em linhas gerais, o mesmo ritual do jantar de sexta-feira. À tarde realiza-se o serviço religioso de Minchá, com a leitura do início da porção da Torá da próxima semana. Finalmente, o Shabat termina com a Havdalá, que é a cerimônia de separação entre o sábado e o início da nova semana. Para esse ritual, utiliza–se vinho, uma vela especial trançada com diversos pavios e especiarias. O objetivo é impressionar nossos cinco sentidos e nos preparar para o início de uma nova semana.

Assim como o Shabat, todas as festas do calendário judaico têm início na véspera. Esse calendário é composto por anos de doze meses e anos de treze meses, e os meses têm 29 ou 30 dias. O sistema é baseado nas fases da lua, porém existe um acerto em relação ao calendário solar, para que as festas aconteçam sempre nas mesmas estações do ano. O Rosh Chodesh, início de mês judaico, cairá sempre em uma lua nova, e a lua cheia coincidirá com a metade do mês.

Dentre as dezenas de datas festivas presentes no calendário judaico, destacam-se as Festas de Peregrinação. Três festas recebem esse nome porque marcavam uma época de visita dos judeus ao Templo de Jerusalém na antiga Judeia.

A primeira Festa de Peregrinação do calendário judaico é Sucót, a Festa das Cabanas. Nessa comemoração, relembramos as tendas frágeis nas quais viveram os israelitas durante suas andanças pelo deserto. Recordamos principalmente que a verdadeira proteção não nos é concedida pelos muros e cercas, mas pela vigilância de Deus. Quatro diferentes espécies são utilizadas na comemoração desse feriado: a cidra, a palmeira, a murta e o salgueiro são unidos de forma ritual, representando a diversidade do povo judeu. Além disso, recebemos a visita simbólica de sete personagens bíblicos que “hospedam-se” em nossas cabanas em cada uma das noites da festa.

Pessach, a segunda das Festas de Peregrinação, comemora a libertação dos escravos israelitas da terra do Egito. Segundo a narrativa bíblica, por centenas de anos os filhos de Israel trabalharam como escravos do faraó, até Deus ordenar que Moisés os libertasse da opressão. A saga tem seu ápice no episódio da travessia do mar Vermelho. Segundo os rabinos, cada geração deve sentir como se ela própria tivesse saído do Egito.

Por esse motivo, comemora-se anualmente a Festa da Passagem (o Pessach). O ponto alto da comemoração é o Seder, que significa ordem, sequência. O Seder é um jantar ritual composto por quinze diferentes etapas, por meio das quais a história do êxodo é contada de maneira teatral, com destaque especial para a participação das crianças. Durante a semana da festa, fica proibida a ingestão de qualquer alimento ou bebida que leve trigo, cevada, aveia, centeio ou espelta e seus derivados. Em vez disso, utiliza-se a Matsá, o pão ázimo, em recordação ao alimento dos recém-libertos que, durante a fuga, não puderam esperar o seu pão fermentar.

Sete semanas depois de Pessach, comemora-se Shavuót (semanas). Essa festa marca a entrega da Torá no monte Sinai. Entre os principais costumes está o da vigília. Durante toda a noite da festa, costuma-se ficar acordado estudando as fontes judaicas. Além disso, enfeitam-se as sinagogas com flores, porque se acredita que o monte Sinai ficou coberto com flores durante a entrega da Torá. Comem-se derivados de leite durante essa festa e lê-se o livro de Rute. Segundo a tradição, o rei Davi, que era bisneto de Rute, nasceu e morreu em Shavuót, razão pela qual prestamos uma homenagem lendo a história de sua bisavó. Rute é a primeira mulher a converter-se ao judaísmo, segundo a tradição. Também por esse motivo, lemos na Festa da Entrega da Torá a história da primeira pessoa que voluntariamente decidiu abraçar o judaísmo e as leis da mesma Torá.

Existe um período do calendário judaico conhecido como as Grandes Festas. Trata-se do ano novo, Rosh Hashaná, seguido por dez dias de arrependimento, Asseret Iemei Tshuvá, e o Iom Kipur, o dia do perdão. Durante esse período, Deus julga cada uma de suas criaturas e determina acerca do seu futuro. Rosh Hashaná remonta à criação do mundo. Passaram-se 5.774 anos desde a criação do homem e da mulher no sexto dia da criação. O ano novo é comemorado por dois dias de orações nas sinagogas, além de refeições festivas. Na sinagoga destaca-se o

Shofar, chifre de carneiro tocado para anunciar a chegada do novo ano e despertar a consciência dos fiéis. Durante as refeições, come-se maçã com mel, que representa a perspectiva de um ano bom e doce. Além disso, costuma-se comer cabeça de peixe ou de carneiro, em referência à tradução literal do nome do feriado, porque Rosh Hashaná significa a cabeça do ano.

Depois de dez dias de arrependimento e reflexão, chega o dia mais austero do calendário judaico, o Iom Kipur. Nesse dia, estão proibidas as relações íntimas, banhos por prazer, cosméticos, calçados de couro e, principalmente, alimentos e bebidas. Durante esse jejum absoluto de vinte e cinco horas, os judeus realizam diversas orações, pedem perdão por suas transgressões e solicitam que o ano que há pouco se iniciou seja de paz. Um dos pontos altos do serviço é a oração do Col Nidrei. Durante essa reza, todos os rolos da Torá da sinagoga são retirados da arca sagrada e o cantor entoa três vezes a oração solene. No final do dia, um longo toque do Shofar é ouvido, marcando o final do jejum e a conclusão do julgamento divino.

Os dois feriados pós-biblicos mais importantes são Purim e Chanucá. O primeiro festeja a sobrevivência dos judeus que viviam na Pérsia durante o reinado de Assuero, e o segundo comemora a reconquista do Templo de Jerusalém e o milagre do azeite que deveria durar apenas um dia e ardeu incessantemente por oito. Purim é comemorado pela leitura pública do livro de Ester e uma festa alegre, e Chanucá é celebrado pelo acendimento diário da Chanuquiá, o candelabro de oito braços.

Existem também feriados ligados à história nacional do Estado de Israel. Entre eles destacam-se o Iom Haatsmaút (dia da independência) e o Iom Hazicarón (dia da recordação), em memória aos mártires das guerras de Israel. Fatos recentes da história judaica também são lembrados em ocasiões como o Iom Hashoá, o dia do Holocausto.

Além das comemorações coletivas, o judaísmo também festeja as etapas importantes da vida particular dos judeus. O ciclo da vida é celebrado por meio de rituais de passagem. No início, esses rituais foram criados para marcar as etapas da vida dos homens judeus, uma vez que a mulher não participava de celebrações públicas por uma restrição social. Nas últimas décadas, sobretudo nas comunidades reformistas e conservadoras, a mulher passou a comemorar também suas mudanças de etapa.

No oitavo dia depois do seu nascimento, o menino deve passar pelo ritual da circuncisão. Essa celebração remonta à circuncisão do patriarca Abraão e de todos os homens de sua casa (Gn 17). A cerimônia marca a entrada do menino na aliança celebrada entre Deus e o povo judeu. Nessa ocasião, a criança recebe seu nome hebraico. As meninas recém-nascidas recebem seu nome em uma cerimônia chamada Simchát Bat (a alegria da filha), que é realizada na sinagoga, quando a família próxima recebe a bênção de um rabino.

Ao atingir a maioridade religiosa, os judeus também realizam uma celebração. A comemoração dos meninos chama-se Bar-Mitzvá e acontece aos treze anos. As meninas festejam aos doze anos o seu Bat-Mitzvá. As duas cerimônias acontecem na sinagoga e marcam a entrada dos jovens na vida judaica adulta. Meninos e meninas passam a ter todas as prerrogativas e obrigações religiosas de judeus adultos.

O casamento judaico acontece embaixo da chupá (lê-se “rupá”), uma tenda nupcial que simboliza o futuro lar do casal. As alianças fazem parte do ritual judaico. Além disso, é realizada a leitura da ketubá, um documento matrimonial. Depois da realização de diversas bênçãos e das palavras que o rabino profere em homenagem ao casal, o noivo quebra um copo com o pé. O rompimento do copo simboliza a destruição dos Templos de Jerusalém. A mensagem é de que os noivos precisam sempre se lembrar de que pertencem a um povo que também tem seus reveses, além de momentos de celebração. A lei judaica prevê a possibilidade de divórcio religioso, caso seja essa a vontade do casal.

O judaísmo tem muitos costumes relacionados à maneira de se marcar o luto e a despedida de um familiar falecido. O enterro deve acontecer em um cemitério judaico, depois de o corpo passar por uma lavagem ritual, a tahará. Existem três diferentes períodos de luto, nos quais as restrições são decrescentes e, por outro lado, aumenta gradualmente a reinserção dos enlutados na sociedade. O primeiro período é de sete dias, depois trinta e, finalmente, um período de onze meses, durante os quais será recitada diariamente uma oração de homenagem à pessoa falecida, o Kadish (santificação). O judaísmo acredita que, embora assuma outra forma, a vida continua depois da morte.

De maneira particular, o judaísmo vê em suas comemorações e rituais de passagem uma oportunidade de enriquecimento espiritual para a vida do judeu observante.

 Convergências

Nos últimos cinquenta anos, sociedades de todo o mundo organizaram grupos de diálogo e aprofundaram o trabalho de conhecimento mútuo. No Brasil, o primeiro grupo a surgir foi o Conselho de Fraternidade Cristão-Judaico. Em seguida, surgiu a Comissão Nacional de Diálogo Católico-Judaico, que tem como coordenador do grupo católico o cônego José Bizon e que completou mais de trinta anos de existência, trabalhando em quatro diferentes esferas: teológica, social, pessoal e institucional.

Religiosos católicos e judeus se reúnem com frequência em diversas cidades brasileiras para estudar a tradição religiosa do outro, traduzindo em pesquisa e análise o empenho de aproximação teológica. No âmbito social, unimos forças para promover causas comuns, como a ética, a consciência ambiental, a segurança, a justiça social, entre tantas outras. Vínculos pessoais entre líderes de ambas as comunidades foram estabelecidos e são constantemente fortalecidos.

Finalmente atuamos para aproximar as instituições da comunidade judaica, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e as diversas federações israelitas, das instituições católicas, como a CNBB e o Celam.

A cidade de São Paulo tem a maior comunidade judaica do Brasil.5 Nas últimas décadas, a relação entre a arquidiocese dessa cidade e a comunidade judaica foi muito próxima. Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel estiveram juntos em diversos momentos marcantes, sendo o mais conhecido de todos a missa rezada na Catedral da Sé em 1975.

Desde que assumiu a Arquidiocese de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer fez questão de manter um diálogo fluido com a comunidade judaica. Em 2008, realizou uma viagem à Cidade do México a convite do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) e do Congresso Judaico Latino-Americano, junto com dom Raymundo Damasceno de Assis. Em 2009, a convite da Confederação Israelita do Brasil (Conib), esteve na Congregação Beit Yaacov para recordar as vítimas do Holocausto. Por diversas vezes, dom Odilo aceitou nosso convite de estar na Congregação Israelita Paulista (CIP), por ocasião de diferentes encontros e celebrações. Merecem destaque a visita que o cardeal realizou na noite do Col Nidrei (início das celebrações do Iom Kipur, o Dia do Perdão, data mais sagrada do calendário judaico), em 2010, e sua presença no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, em janeiro de 2013. Além disso, Scherer esteve em um evento beneficente promovido pela CIP na sala São Paulo, onde a Filarmônia de Israel, sob a regência do maestro indiano Zubin Mehta, se apresentou em 2011. No mesmo ano, a convite do Congresso Judaico Latino-Americano, o cardeal participou de uma conversa informal, no clube A Hebraica, com o grupo Novas Gerações daquele organismo do subcontinente.

Foram também diversas as ocasiões em que o cardeal Odilo nos recebeu na catedral metropolitana e em outras instituições da Igreja católica em São Paulo. Certa vez, dom Odilo nos chamou para um jantar no mosteiro de São Bento. Por se tratar da semana de Pessach, celebração da recordação da travessia do mar Vermelho depois da escravidão dos israelitas no Egito, recusamos o convite, alegando que nossa alimentação kasher (ritualmente apropriada para o judaísmo) era ainda mais restritiva naquela época.

O cardeal nos assegurou de que todas as providências tinham sido tomadas. Quando chegamos ao mosteiro, junto com representantes da Federação Israelita do Estado de São Paulo, ficamos surpresos ao constatar que um serviço de buffet kasher havia sido contratado em consideração à nossa pequena delegação. Recentemente, também participamos de uma comemoração pelo cinquentenário do início do Concílio Vaticano II, que reaproximou católicos de judeus, depois de séculos de abismo, no aniversário de São Paulo, em uma catedral metropolitana lotada. Na mesma ocasião, uma homenagem à memória de Anne Frank, jovem que se refugiou e acabou perecendo na Europa nazifascista, foi prestada. Uma missa foi dedicada, em janeiro de 2014, à memória das vítimas da Shoá, por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

O desafio que nos aguarda para os próximos cinquenta anos, em minha opinião, é muito claro. Precisamos fazer com que o diálogo inter-religioso atinja também nossos congregantes. O membro comum de nossas comunidades ainda não conhece o trabalho inter-religioso e, por vezes, propaga preconceitos por total ignorância da natureza daquele que lhe é diferente.

Muitas são nossas semelhanças; ao mesmo tempo, temos algumas convicções distintas. Assim como Shamai e Hilel, não seremos julgados pela verdade de nosso discurso, porque cada religião tem sua verdade, mas pela elegância com que conduziremos as discussões.

Shalom.

 

Bibliografia

CARVALHO, Flávio Mendes. Raízes judaicas no Brasil. São Paulo: Nova Arcádia, 1992.

HESCHEL, Abraham Joshua. O Shabat. São Paulo: Perspectiva, 2004.

PÓVOA, Carlos Alberto. A territorialização dos judeus na cidade de São Paulo. São Paulo: Humanistas, 2010.

SCHLESINGER, Michel. Revista História Viva — Grandes Religiões — 2. Judaísmo, o culto à Torá e a saga do povo judeu. São Paulo: Duetto, 2008.

TALMUDE Babilônico. Tratado de Eiruvin, 13b.

[1] Compilação de debates dos rabinos entre 50 antes da Era Comum e 550 depois da Era Comum.

[2] As traduções do hebraico e do aramaico são de responsabilidade deste autor.

[3] Ciclo da Borracha é o chamado período em que a possibilidade de obter lucro com a extração da borracha de seringueiras no Norte do país atraiu um grande fluxo migratório.

[4] Judeus asquenazes são os provindos dos países da Europa Ocidental.

[5] Os parágrafos que se seguem são de minha autoria e foram publicados, pela primeira vez, na revista História Viva Grandes Religiões 2 — judaísmo, da editora Duetto, p. 83.

Rabino Michel Schlesinger

Michel Schlesinger é rabino da Congregação Israelita Paulista e representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso. E-mail: [email protected]