Carta do editor

julho-agosto de 2016

Saúde integral para todos

Caros leitores, leitoras,

Graça e Paz!

Ouve-se com frequência que vivemos em um mundo doente. De vez em quando, uma epidemia fatal assola e assombra a humanidade. Encontram-se curas para algumas doenças. Aprende-se a conviver com outras. Não obstante todas as pretensas propostas salvadoras da tecnologia, o ser humano e a criação toda, por vezes, ainda parecem não encontrar sossego. Para a comunidade cristã, porém, o sentimento não deve ser nunca de desespero. Nossa marca maior é a esperança. Nada nem ninguém podem abalar esta esperança. Nem as doenças graves.

Desde o dia em que nos banhamos nas águas batismais, nosso corpo foi imerso em Cristo. Tornamo-nos novas criaturas. Daquele dia em diante, somos membros dele e formamos com ele um único corpo. Este é um mistério maravilhoso que nos envolve e nos enche de alegria. Mas é também comprometedor: no corpo do cristão manifesta-se a realidade do corpo de Cristo. Daí vem uma espécie de alerta: nos pensamentos, nas palavras, nas atitudes do cristão precisa brilhar o testemunho da vida em Cristo.

No batismo, recebemos o Espírito de Deus. É o Espírito que nos conduz pelos caminhos da vida. O apóstolo são Paulo nos lembra que somos o Templo do Espírito: “Vocês não sabem que são templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vocês?” (1Cor 3,16). O templo é o lugar onde Deus mora. Portanto, o divino mora em nós, habita nosso corpo. De modo que o corpo é sagrado e, como tal, deve ser cuidado, respeitado, honrado.

O corpo – este nosso corpo, na sua condição humana, com dores, necessidades, desejos – é o lugar onde se manifesta, na existência cotidiana, a realidade da vida nova em Jesus Cristo. Isso para dizer que nosso corpo tem dignidade. Não é algo desprezível, como muitas vezes na história se pretendeu incutir nas mentalidades. O corpo é digno. Nele se manifesta a realidade da vida de Deus.

A perspectiva cristã sobre a dignidade do corpo desafia o mundo. Se a beleza-padrão imposta pelo mercado expõe e ostenta corpos selecionados e até os explora, na visão cristã tudo o que é expressão de egoísmo, de procura desenfreada dos próprios interesses, precisa ser evitado. Se no mundo há corpos feridos pela dor, humilhados pela fome, pela miséria, se há corpos marcados pela violência…, a comunidade cristã é chamada a testemunhar o amor incondicional. Aquele mesmo amor vivido por Jesus até a cruz. Na dor do corpo jogado na rua ou na cadeia, está a mesma dor no corpo de Cristo e, portanto, no corpo do cristão.

Glorificar a Deus no nosso corpo e com nosso corpo é deixar ressoar em nós o que ensinou santo Irineu já no século II: “A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”. Nisso consiste a forma pela qual somos chamados a lidar com o sagrado no outro. Nisso consiste o compromisso cristão de testemunhar a bondade, a solidariedade, o respeito, a paz. Glorificar a Deus passa pelo compromisso de preservar a dignidade do nosso corpo e do corpo dos outros.

Que este número de Vida Pastoral nos ajude a olhar o mundo com esperança, a integrar esforços, fazendo valer o sonho de Jesus de vida em abundância para todos (Jo 10,10). Saúde para todos.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor