Roteiros homiléticos

16 de dezembro – 3º DOMINGO DO ADVENTO

Por Maria de Lourdes Corrêa Lima

A ALEGRIA E A ESPERANÇA NA EXPECTATIVA DO SENHOR

INTRODUÇÃO GERAL O terceiro domingo do Advento apresenta as exigências concretas para recebermos o Senhor que vem. A expectativa de sua vinda é dominada pela alegria, pois Ele já venceu e eliminou todo o mal. Vivemos hoje na esperança da plenificação, na história, dessa sua obra. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS 1. Evangelho (Lc 3,10-18) O texto do Evangelho de hoje é parte da pregação de João Batista e concretiza a conversão a que ele chama (v. 3-5: cf. o domingo precedente). Os v. 10-14 tematizam o aspecto ético; os v. 15-17, o messiânico-cristológico. Nos v. 10-14, as exigências da conversão não consistem no oferecimento de sacrifícios ou na realização de rituais (jejuar, vestir-se de saco, cobrir-se de cinzas), o que fora já criticado pelos profetas, caso não correspondessem ao amor realizado em atitudes de justiça (cf. Is 58,1-12; Jl 2,12-14). Também não é mencionada nenhuma conduta ascética. São apresentados três aspectos da vida diária como resposta à pergunta, típica de Lucas, que manifesta a conversão: “Que devemos fazer?” (v. 10.12.14; cf. At 2,37; 16,30; 22,10). O primeiro refere-se à pergunta das multidões. Mesmo os elementos fundamentais à vida – a túnica para vestir-se, o alimento para a própria subsistência – devem ser repartidos com aqueles que deles carecem. O segundo e terceiro dizem respeito a duas específicas profissões, conhecidas como facilmente exercidas de modo corrupto. São os coletores de impostos e os soldados judeus empregados no serviço de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (que a atividade do Batista seja ali especialmente desenvolvida, cf. 3,19-20). Não se trata de deixar de exercer tais ofícios, mas de exercê-los com honestidade. No contexto da pregação de João, colocada entre os v. 7-9 e 15-17, que possui claro tom escatológico, essas palavras carregam o mesmo tom. A maneira de conduzir a vida atual, na justiça e no amor, tem consequências escatológicas. Os v. 15-17 apresentam, como resposta à reação do povo ao seu anúncio, a pregação de João sobre a identidade do messias. Desde o tempo do exílio babilônico, quando cessou a monarquia em Jerusalém, desenvolveu-se, a partir da promessa de Natan a Davi (cf. 2Sm 7,14-17), a esperança de que Deus restauraria a dinastia davídica. No livro de Daniel (meados do século II a.C.), fala-se explicitamente de um “príncipe ungido” que virá (Dn 9,25). Nos últimos séculos antes de Cristo, desenvolveram-se muito as expectativas messiânicas em Israel. Isso permite compreender a interpretação que a multidão faz da pregação de João. Este, no entanto, deixa entrever em suas palavras não ser ele o messias. E indica suas características. Ele é: – Aquele que vem. Lucas não diz que vem “depois” (cf. Mc 1,7), para que Jesus não seja confundido com um discípulo do Batista; – O mais forte. João nem é digno de lhe prestar o serviço humilde de um escravo; – O que batiza com o Espírito Santo e com o fogo, enquanto o batismo de João é com água. Definindo Jesus, João apresenta-se como o profeta que anuncia imediatamente a vinda do messias escatológico. A água no batismo de João é sinal da conversão em vista da purificação (a remissão dos pecados). O batismo de Jesus é caracterizado pelo fogo, que também purifica, mas que o faz porque comunica o Espírito Santo. Fogo e Espírito estão associados na cena do dia de Pentecostes (cf. At 2,3-4). O fogo destrói aquilo que, diante de Deus, não tem valor (a palha: v. 17). A imagem do v. 17 expressa o julgamento escatológico, discernindo bons e maus: Jesus limpará a sua eira e recolherá o trigo: imagem da purificação dos fiéis e sua salvação; e queimará a palha no fogo sem fim. No batismo trazido por Jesus, antecipa-se o julgamento final de Deus, com a eliminação do que não se coaduna com o Evangelho e com a salvação para aqueles que o acolhem. O v. 18 conclui o texto, retomando a missão de João Batista como anunciador da Palavra. 2. I leitura (Sf 3,14-18a) O texto de Sofonias é um oráculo de salvação que se inicia com um convite à alegria (v. 14), ao qual se segue sua motivação: Deus agiu em favor de Jerusalém (v. 15), de modo que uma nova realidade terá lugar (v. 16-18a). O convite à alegria é enfático, ao ser apresentado quatro vezes (rejubila-te, grita de alegria, alegra-te, exulta). Trata-se de uma alegria que brota do interior, mas se manifesta também exteriormente, pela voz e outros sinais (cf. Is 55,12; Jr 50,11). O motivo para tanto é primeiramente que Deus revogou a sentença que pesava contra Jerusalém, aquela com que Ele a ameaçara (cf. 3,1-2). E o fez retirando de seu meio aqueles que eram responsáveis pelos desvios da cidade santa (cf. 3,3-4.11: príncipes, juízes, profetas e sacerdotes iníquos, ou seja, os orgulhosos aproveitadores). Os dirigentes que se transformaram em inimigos. Uma vez limpada a eira (cf. Lc 3,17), Deus se estabelece no seio do povo. Não haverá mais um rei davídico, mas o próprio Senhor será o rei de Jerusalém. Eliminando as classes dirigentes corruptas e tendo anulado o juízo contra Sião, chegou para ela o tempo de salvação. Ela não deverá mais temer o mal, isto é, tudo o que anteriormente ocorreu em virtude dos desmandos de seus chefes. Descreve-se então o novo estado de Jerusalém em virtude da intervenção de Deus. Agora não há mais lugar para o temor, só para a alegria. Aqueles que se encontram desencorajados, sem força, por efeito do medo, são chamados a recobrar o ânimo. A garantia é dada por Deus, que, forte, está no meio do povo como um guerreiro que o liberta. Mas não só: não é somente Sião que se alegra (v. 14); o próprio Deus se alegra por causa da cidade santa. Mostra, assim, a grandeza de seu amor por Jerusalém, causa última de sua renovação. O Evangelho de hoje apresenta Jesus como o mais forte que vem. Ele é o Senhor que purifica e renova seu povo e que “está no meio de nós”. 3. II leitura (Fl 4,4-7) O Apóstolo convida a alegrar-se sempre, em todos os momentos e situações. Não são os acontecimentos exteriores que motivam (ou não), em última instância, a alegria cristã, mas o Senhor, e o que em nosso favor Ele realizou e realiza (v. 4). Tal alegria manifesta-se exteriormente em gestos de bondade. A perspectiva da próxima vinda do Senhor corrobora o convite à alegria e lhe dá nova motivação (v. 5). Se essa é a alegria cristã, então todas as adversidades se tornam relativas. Em vez de se deixar dominar pela inquietação, o cristão as expõe a Deus na oração (v. 6). Essa entrega confiante nas mãos do Pai é então portadora da paz que vem de Deus. A paz é um modo de falar da salvação em sua realização concreta (cf. 2Cor 13,11; 1Ts 5,23). Mesmo sem compreender tudo, crendo no amor providente de Deus, o fiel se sabe guardado da inquietude e da angústia. Na paz-salvação que vem de Deus encontra forças (v. 7). A vinda do Senhor – sua primeira vinda, como também a segunda – é motivo de alegria e paz e é capaz de vencer todas as ameaças dessa história. DICAS PARA REFLEXÃO – Estou consciente de que minhas escolhas na vida diária, meu relacionamento com o próximo, meu agir na sociedade, devem ser pautados não só por exigências éticas, mas, através delas, pela consideração do valor escatológico que cada ato humano tem? – É a alegria no Senhor fonte de paz para nossa vida? Ela transborda em amabilidade no trato mútuo, de modo que a comunidade cristã possa ser reconhecida como comunidade de amor? – Como o cristão é capaz de dar alegria e esperança em nossa sociedade tantas vezes marcada pela inquietação, pelo medo, pela angústia, pela falta de perspectivas de uma imediata renovação?

Maria de Lourdes Corrêa Lima