Roteiros homiléticos

19 de julho – 16º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj

Cristo, o verdadeiro pastor que nos apascenta

I. Introdução geral

O tema do Deus pastor e do Messias pastor é o fio condutor das leituras de hoje. Esse tema tão importante do Antigo Testamento é reinterpretado com frequência pelo Novo Testamento. O evangelho sintetiza no simbolismo do pastoreio as intensas atividades de Jesus junto ao povo e o cuidado com os discípulos. Totalmente entregue à tarefa de proclamar o reino de Deus, Jesus se dedica com intensidade ao cuidado do rebanho que o Pai lhe confiou. Cristo, o verdadeiro pastor, não se comporta como os líderes religiosos a quem o profeta Jeremias critica como maus pastores que não cuidaram do rebanho de Deus. A vocação ao pastoreio foi dada por Jesus aos seus seguidores, não é exclusiva da hierarquia da Igreja. Todos os cristãos são convidados a continuar a missão de Cristo e, para que isso seja possível, é necessário fixar os olhos nele, modelo e critério do pastor.

II. Comentário dos textos bíblicos

  1. Evangelho (Mc 6,30-34): A multidão era como ovelhas sem pastor

Os apóstolos que tinham sido enviados dois a dois se reuniram novamente a Jesus e contaram tudo o que tinham realizado.

Como bom pastor, Jesus reúne suas ovelhas e as leva ao deserto para descansar. O deserto era o lugar onde o pastor costumava reunir suas ovelhas para restaurarem suas forças (cf. Sl 23,23). A atitude de Jesus demonstra seu cuidado para com seus discípulos. Ele cuida com carinho e atenção de suas ovelhas, levando-as para um lugar propício, devido à vida fatigante que levam com ele em prol do anúncio do reino. Todos, em certo momento, precisam dirigir-se ao deserto para estar a sós com o Senhor, recuperar suas forças e, depois, retornar à missão de anunciar o reino.

Também a multidão percebeu a intenção de Jesus e o seguiu para fora da cidade. A multidão vinda de várias cidades evoca a promessa de que o Messias deveria reunir os judeus dispersos pelo mundo. E Jesus percebeu a carência profunda desse povo. Ele se compadeceu porque eram como ovelhas sem pastor, famintas da palavra de Deus. Os supostos pastores do povo, que deveriam alimentá-lo com a palavra de Deus, estavam sendo omissos nessa missão.

O povo foi em busca de Jesus porque viu nele o verdadeiro pastor e encontrou nele o mesmo cuidado dedicado aos seus discípulos. 

  1. I leitura (Jr 23,1-6): Ai dos pastores que dispersam meu rebanho

Por meio de Jeremias, Deus condena a conduta dos maus pastores, os líderes religiosos daquela época. Em vez de reunir as ovelhas (o povo de Deus), dispersavam-nas. Em vez de cuidar delas, deixavam-nas perecer. Essas duas atividades principais do pastoreio, reunir as ovelhas e delas cuidar, estavam sendo negligenciadas pelos pastores do povo. Por isso Deus mesmo cuidará de suas ovelhas e as entregará a pastores mais dignos.

Além do simbolismo do pastor e do rebanho, o texto de Jeremias utiliza o símbolo do brotinho nascido de um tronco de árvore cortada. Esse brotinho representa o Messias, o rei pastor, sob cujo governo as ovelhas dispersas de Israel serão finalmente reunidas e poderão desfrutar de segurança, justiça e paz.

  1. II leitura (Ef 2,13-18): Reconciliados com Deus mediante a cruz

Ainda no quadro da salvação universal realizada por Deus por intermédio de Cristo, a segunda leitura nos lembra que, pela cruz, as ovelhas dispersas, não pertencentes ao povo de Israel, mas às outras nações, foram reunidas ao antigo povo de Deus. Israel bem como as demais nações foram reconciliados em Cristo e se tornaram amigos de Deus. Todos os seres humanos foram irmanados por meio de Jesus, todas as ovelhas foram reunidas em um só rebanho no Messias. Todos receberam um só Espírito. Tudo isso é o fruto da oferta da vida que Jesus fez a Deus por suas ovelhas.

III. Pistas para reflexão

- Lido com olhos cristãos, o salmo responsorial delineia a figura de Jesus, o bom pastor, e expressa a alegria dos fiéis: “O Senhor é meu pastor, nada me falta” (Sl 23,1). Jesus é o pastor que cuidadosamente guarda seu rebanho, defende-o dos perigos, alimenta-o com a rica mesa de sua palavra e do seu Corpo e Sangue.

- É importante enfatizar na homilia a experiência existencial e profunda de cada cristão com o Cristo ressuscitado. A eucaristia já não pode ser entendida como uma obrigação do católico, mas como o momento em que Cristo reúne suas ovelhas, após os trabalhos e as lutas por um mundo melhor, para que possam restaurar suas forças e ser alimentadas por sua palavra e pelo pão eucarístico.

- Também é importante que as celebrações efetivamente proporcionem um encontro pessoal e comunitário com o Ressuscitado, em vez de serem rituais mecânicos e enfadonhos, em que o presidente da celebração pronuncia palavras vazias de espiritualidade e vida plena. Não esqueçamos a palavra de Jeremias: “Ai de vós, pastores, que dispersam e destroem as ovelhas”.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected]