Roteiros homiléticos

19º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 13 de agosto

Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj

Vinde ao encontro do Senhor

  1. Introdução geral

As leituras deste domingo nos exortam a enfrentar o mar bravio da vida, superando o medo e abrindo caminho sobre as águas ameaçadoras de uma época difícil: intolerância, ganância, relativismo, injustiça, insensibilidade etc. Para caminharmos com Jesus sobre as águas, temos de estar dispostos a conduzir nossa vida no mesmo estilo da vida de Jesus. Quem não estiver disposto a morrer para o próprio egoísmo não conseguirá caminhar sobre as águas.

      II - Comentário dos textos bíblicos
  1. Evangelho (Mt 14,22-33): “Jesus disse: Vem!” (Mt 14,29)

Jesus estava orando sobre o monte enquanto o barco com os discípulos quase afundou no temporal. Desde os primeiros séculos, esse barco foi comparado à Igreja, porque nele estavam os seguidores de Jesus. Pode, também, representar a humanidade inteira. No barco da Igreja e da humanidade, todos nós somos ameaçados pelos acontecimentos, que são como uma violenta tempestade. Mas Jesus nos diz: “Coragem! Não tenhais medo!”.

Pedro nos representa, porque também nós duvidamos da presença do Cristo ressuscitado, e propõe: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. E Jesus diz: “Vem!”. Pedro necessita de uma prova que lhe dê segurança, por isso se arrisca. Mas, como era de esperar, ele tem medo, pois a travessia da vida é difícil, ameaçada pelas ondas imensas. E o discípulo grita. Mas Jesus segura a mão dele e o leva de novo para o barco, para que ali se sinta seguro, com os demais companheiros.

Pedro quis sair do meio dos discípulos para andar com Jesus, mas a situação dele piorou e Jesus o trouxe de volta para que participasse, no barco, da mesma sorte que os demais. No barco da humanidade e da Igreja, todos nós nos sentimos ameaçados, mas é quando estamos navegando no mesmo barco que Jesus acalma a tempestade. Por isso o Senhor que diz “Vem!” é o mesmo que nos devolve ao barco, porque fora do barco não é possível enfrentar as ondas. E Jesus quer participar da nossa sorte no barco; é dali que ele acalma a tempestade, fazendo-nos capazes de atravessar o mar violento.

Jesus disse a Pedro: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?”. Parece-nos que Pedro duvidou mais de si mesmo que de Jesus. Esse Pedro que duvida e grita é sinal da Igreja inteira. Todos nós somos Pedro, caminhando sobre as águas com medo de afundar. Mas sabemos que, embora pensemos que o barco, da humanidade e da Igreja, está abandonado e perdido no mar hostil de nossa época, Jesus tem estado conosco de um modo misterioso, e podemos percebê-lo dominando a noite e a tempestade.

  1. I leitura (1Rs 19,9a.11-13): vinde à Montanha do Senhor

Na primeira leitura, temos o encontro de Elias com Deus no monte. Perseguido pela rainha, Elias caminhou deserto adentro, fazendo o mesmo percurso que as tribos fizeram no passado. Elias faz esse caminho em sentido inverso, vai da terra prometida para o deserto, porque o povo está andando em sentido contrário ao compromisso firmado com Deus no tempo de Moisés. O povo prometeu fidelidade, mas afogou-se no mar da idolatria. Por isto Elias vai até o monte: ele quer ir ao lugar do compromisso inicial do povo com Deus; ele deseja voltar às raízes da aliança.

Séculos antes de Elias, Deus havia se manifestado a Moisés através de vários elementos da natureza: vento impetuoso, terremoto e fogo (Ex 19,16-18) – era dessa forma que se manifestava o poder de Deus. E Elias espera encontrar Deus nesses fenômenos que amedrontam o ser humano ainda hoje. Mas o Senhor acalma os fenômenos da natureza e se manifesta a Elias na suavidade de uma brisa.

O texto nos exorta a procurar Deus na simplicidade. As tempestades do mundo nos rodeiam furiosamente, mas Deus age no silêncio, e não em eventos espetaculares. O Senhor se revela na intimidade dos corações e acalma toda a agitação de nossa vida moderna, que nos coloca a todo instante à mercê da infidelidade ao projeto de Deus.

  1. II leitura (Rm 9,1-5): “Deus bendito para sempre” (Rm 9,5)

A segunda leitura nos esclarece mais ainda a respeito da infidelidade do povo da aliança a seu Deus: a não aceitação da vinda do Messias, Jesus de Nazaré. Paulo mostra-se preocupado com seu povo, que rejeitou Jesus, pois, fazendo assim, o povo da aliança rejeitou o próprio Deus, que na sua bondade ofereceu gratuitamente a salvação a todos os povos.

Paulo está consciente do grande valor de Israel: as alianças, as leis, o culto, as promessas, os patriarcas e também o Messias, nós os herdamos dos hebreus. Paulo diz que está disposto a tudo para que Israel aceite Jesus como enviado de Deus. A recusa de Israel a Jesus ocupa as preocupações do Apóstolo. Mas Paulo consola-se porque o convite de Jesus a Israel continua aberto. O Deus bondoso, eternamente fiel a Israel quando, ao longo da história, este se mostrou infiel à aliança, agirá com misericórdia para com seu povo.

Nós, cristãos, quando lemos a Bíblia, sempre nos sentimos povo de Deus, assumimos tudo que se diz sobre Israel, então podemos pensar que, embora no tempo de Elias e em outros momentos da história tenhamos sido infiéis à nossa aliança com Deus, o Senhor é fiel a nós e podemos contar com a misericórdia dele.

III. Pistas para reflexão

O foco da homilia deve ser o encontro com Deus. O Senhor é encontrado na humildade, na simplicidade, na interioridade. Fora de nós e dentro de nós há uma tempestade violenta que nos mete medo; pensamos que vamos afundar diante de tantos acontecimentos surpreendentes. Contudo, a comunidade do Reino não está sozinha, à mercê das forças poderosas da noite e da tempestade. Elias não está abandonado, Pedro pode gritar por Jesus e segurar na mão dele, Paulo pode ter esperança na misericórdia divina. Porque Deus lhes revela o seu rosto de amor e de bondade, tem uma proposta de salvação oferecida a todos por meio de Jesus Cristo. Por isso, a comunidade celebrante deve ser convidada a estar atenta às manifestações de Deus e a não perder as oportunidades de salvação que ele oferece.

Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj

Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj, é graduada em Filosofia e em Teologia. Cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE (MG). Atualmente, leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected]