Roteiros homiléticos

23 de dezembro – 4º DOMINGO DO ADVENTO

Por Maria de Lourdes Corrêa Lima

MARIA, A MÃE DO PRÍNCIPE DA PAZ

INTRODUÇÃO GERAL Maria é a Mãe bendita do Senhor. Por sua fé, vivida em profundidade, ela é realmente modelo dos cristãos. Pela missão que recebeu de ser Mãe da humanidade, ela intercede para que o plano de Deus se realize em nossa vida. Esse é um plano de amor que, através do Filho encarnado que assumiu a história com todas as suas contradições, traz a todos o perdão, a comunhão com Deus. Cumpre-se, assim, a profecia de Miqueias acerca de um chefe que instaurará a paz. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS 1. I leitura (Mq 5,1-4a) O texto apresenta, no v. 1, uma promessa. Surgirá de Belém, de Éfrata, um novo chefe. Éfrata é um clã da tribo de Judá que habitou na região de Belém (cf. Gn 35,19; 48,7; Js 15,59); por vezes, substituiu o nome da aldeia de Belém. Enfatiza-se a pequenez desse lugar, que contrasta com a grandeza da cidade de Jerusalém (cf. Mq 4,2) e com a dimensão da promessa que lhe é feita. Como Belém é a cidade de origem de Davi (cf. 1Sm 16,1-23; 17,12-31), o novo dirigente é descendente desse grande rei. Sua origem antiga é uma referência ao início da dinastia davídica, pertencente já a um passado longínquo. Nos versículos que seguem, o profeta comenta esse anúncio de Deus. O novo chefe não é chamado de “rei”, mas de “dominador”. Com isso, embora filho de Davi, distancia-se dos reis daquela dinastia, tantas vezes infiéis ao Senhor. A relação desse chefe com Deus aparece na expressão “para mim”, que muitas vezes indica submissão. Ele obedecerá ao Senhor, realizará seu desígnio. O novo chefe governará em nome de Deus, com seu poder; será seu representante. Seu poder será universal, de acordo com as expectativas para o reinado do filho de Davi (cf. Sl 2,8; 71/72,8). Através dele, o povo se estabelecerá estavelmente no país, vivendo em segurança e bem-estar. Ele é o instrumento de Deus para trazer a paz, a plena realização, ao povo eleito (cf. Is 9,6; Zc 9,10) (v. 3). A restauração pertence a um futuro indeterminado, advirá após um tempo de provação, quando o povo eleito ficará entregue às suas próprias forças e decisões (v. 2). A mudança de situação ocorrerá quando uma parturiente der à luz (v. 2). Mq 4,10-11 chama Jerusalém de “parturiente”, que sofre dores de parto ao ir cativa para Babilônia; depois ela retornará. Se a parturiente de 5,2 é a cidade de Jerusalém, então primeiro os judeus serão de lá libertados, para depois terem lugar a promessa do novo chefe davídico e a reunião dos exilados com os judeus que ficaram na terra (ou a reunião do antigo reino do Norte com o reino de Judá). Outra interpretação entende que a parturiente é a mãe do chefe prometido, descendente de Davi. O texto estaria relendo a profecia do Emanuel (cf. Is 7,14) e aplicando-a a um tempo posterior. A tradição cristã viu nas características desse chefe prometido e na missão que lhe é outorgada a figura de Jesus (cf. Mt 2,6; Jo 7,42). Identificou, assim, a parturiente com sua Mãe. É nesse sentido cristológico que o texto tem lugar na liturgia de hoje. Ele fala do “Senhor”, do qual Maria é mãe (cf. Lc 1,43). 2. Evangelho (Lc 1,39-45) Os protagonistas da cena são as duas mulheres. Seus filhos, porém, estão presentes e exercem também papel importante. João salta (de alegria, v. 44), e isso tem um efeito em sua mãe, que fica repleta do Espírito (v. 41). Jesus é aquele que indica quem é Maria: ela é a mãe do Senhor (v. 43); ela é “bendita” porque seu filho é “bendito” (v. 42). Das duas mulheres, Maria é posta em evidência, e isso sob vários títulos: Maria é “bendita entre todas as mulheres” (v. 42), uma expressão semita que expressa que ela é abençoadíssima. Sendo “mãe do Senhor”, ela é implicitamente apresentada como mãe de Deus, já que o nome “Senhor” substituiu, na tradição judaica, o nome santo de Deus revelado a Moisés (cf. Ex 3,14). Sua palavra a Isabel comunica algo mais que uma simples saudação. Tem como efeito primeiro que João salta de alegria no ventre da mãe. Não se trata de um movimento natural, mas da manifestação daquela alegria que, no evangelho de Lucas, indica a chegada da salvação (cf. Lc 2,10). Por isso, entende-se que Isabel tenha sido tocada pelo Espírito (v. 42). Não se diz qual foi a saudação de Maria. Importa tão somente que sua palavra comunica uma realidade salvífica. É sua presença, sua voz (v. 44), e não o conteúdo de suas palavras que produzem esses efeitos em João e Isabel. Pois é a saudação da “cheia de graça”, que traz consigo o Senhor (cf. 1,28). Ela é aquela que acreditou. Isso a define em relação a Deus. O anjo comunicou a mensagem divina, e ela creu (v. 38), aceitou a palavra, mesmo de algo impossível humanamente. A fé é entrega à Palavra de Deus com a certeza de que ela não falhará, pois Deus é veraz e fiel. Ela se inicia no presente, mas olha para o futuro (“porque... será cumprido”, v. 45). Por isso, a fé compromete a pessoa inteira. Toda a vida de Maria recebe agora novo rumo. Tudo estará concentrado nesse Filho que ela concebeu, dará à luz, seguirá até a cruz. E, após a ressurreição, ela acompanhará os discípulos de seu Filho, a Igreja nascente (cf. At 1,14). No quarto domingo do Advento, às portas da celebração do Natal, a Igreja nos faz voltar os olhos para contemplar a Mãe de Deus, em sua grandeza e simplicidade, como aquela que colaborou com todo o seu ser no plano de Deus para a humanidade inteira. Ela se torna, assim, ícone, modelo para aqueles que celebram a vinda do Senhor. Rememorando o nascimento de Jesus na história humana, eles vivenciam sua vinda na sua própria consciência e no coração deste mundo, na expectativa da consumação final do Reino. Maria, porém, não é somente modelo exterior para o cristão. Como nossa mãe na fé (cf. Jo 19,27), ela colabora para que sejamos moldados à imagem de seu Filho (cf. Rm 8,29), sendo ela mesma a primeira imagem dele. 3. Segunda leitura (Hb 10,5-10) Confrontando os sacrifícios da Lei com o sacrifício de Cristo, a carta aos Hebreus mostra nessa passagem a superioridade desse último. Os sacrifícios da antiga Lei não eram capazes de eliminar realmente o pecado. Pois, por as vítimas serem animais (ou outros bens criados), não comprometiam em seu íntimo o ser humano. Além disso, entre o animal imolado e Deus não se podia verdadeiramente estabelecer uma comunhão. Os sacrifícios eram representações da entrega que o ser humano queria fazer de si mesmo a Deus. O sacrifício de Cristo, ao contrário, realiza o perdão e a comunhão de modo definitivo. Porque: É um sacrifício que engajou a consciência, o coração do Verbo encarnado. É expressão de sua obediência absoluta ao Pai: “vim, ó Deus, fazer a tua vontade” (v. 7.9; cf. Jo 6,38; Lc 22,42). Por isso é aceito, pois realiza o plano de Deus, a sua vontade, que é o determinante no ato cultual e o que garante que o sacrifício atinja sua finalidade (v. 10). Ele inclui todo o ser: surge do amor do Verbo e abarca a humanidade de Cristo, incluindo a realidade de seu corpo (seu ser histórico todo): “não quero sacrifício e oferenda... mas me formaste um corpo” (v. 5). Graças à humanidade assumida pelo Filho de Deus, graças à encarnação, pôde ser oferecido ao Pai o sacrifício que redime a relação entre o homem e Deus. Sendo então uma oferta perfeita, que cumpre totalmente a vontade, o desígnio, do Pai, realiza a santificação do gênero humano – e isso uma vez para sempre, sem precisar ser repetido (v. 10). Às portas do Natal, Hb 10,5-10 nos relembra que aquele Senhor que celebramos em seu nascimento é o Filho que se fez homem para, tornando-se um de nós, oferecer ao Pai o culto de verdadeira adoração, de louvor e expiação. Sua vinda na carne é obediência ao plano de amor do Pai (cf. Jo 3,16). E, entrando num mundo marcado substancialmente pelo pecado, Ele se oferece como sacrifício de perdão. Restabelece, assim, a comunhão quebrada e a paz. DICAS PARA REFLEXÃO – Como posso/podemos colaborar para que a obra do Messias, de estabelecer um reinado de paz na terra, chegue até os confins deste mundo, ao âmago de nossa sociedade e das consciências de nossos irmãos? – Que importância tem Maria na minha vida pessoal e de minha comunidade? Que relação tenho com a Mãe do Senhor? Como ela pode ser para mim espelho? – Sei interpretar a vinda do Filho de Deus a esta história dentro do plano do Pai que tanto amou o mundo?

Maria de Lourdes Corrêa Lima