Roteiros homiléticos

Publicado em setembro-outubro de 2025 - ano 66 - número 365 - pp. 54-56

5 de outubro – 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Maicon Malacarne*

A força vital da fé: dom de Deus para o mundo!

I. INTRODUÇÃO GERAL

O movimento da fé é um dos temas fundamentais da liturgia da Palavra deste 27º domingo do Tempo Comum. O profeta Habacuc ensina a transformar a pergunta das pessoas sofridas em oração confiante a Deus. Essa fidelidade à vida é acolhida com a promessa de um tempo certo para que tudo aconteça: “a resposta virá com certeza e não tardará”. A fé, aqui, é a arte de confiar e de esperar o tempo de Deus se realizar. Mais de seis séculos depois, os apóstolos pediram a Jesus: “Aumenta a nossa fé”. Jesus ensina ser a fé uma força vital transformadora que precisa aumentar os espaços na vida, por meio do serviço generoso do amor. Paulo, a Timóteo, testemunha que a fé é o compromisso de toda liderança, de todo servidor do Evangelho. A fé é dom gratuito e para a gratuidade, não uma honraria, não um mérito, não um merecimento.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4)

“Até quando, Senhor, chamarei e não me ouvis?” (1,2). O livro de Habacuc se inicia com a pergunta sobre o silêncio de Deus. Por que Deus não resolve tudo de uma vez? Qual o porquê do sofrimento? Por que a morte? Não é difícil sermos tomados pelo desconcerto, pela falta de sentido e até mesmo pela descrença.

Esse era o sentimento do povo que se dirigiu ao profeta Habacuc, por volta de 600 a.C., oprimido pelo poder do rei Joaquim, que estava preocupado com os próprios luxos e tinha deixado de lado todo e qualquer resquício de justiça e de misericórdia com as pessoas. O povo estava desesperado, e o profeta carrega esse “até quando?” como profunda oração a Deus. O profeta tem esta dupla vocação: ser a voz dos mais fracos e comunicar-lhes a voz de Deus.

O profeta, depois de partilhar o desespero do povo e reivindicar a ajuda divina, fica em silêncio e aguarda os sinais de Deus. É importante o movimento de esperar. Essa paciência ativa é iluminada pela imagem do Evangelho de hoje – a força escondida da semente de mostarda, a menor das sementes, que guarda a potência de uma grande árvore.

No tempo oportuno, Deus respondeu a Habacuc, pedindo que registrasse tudo “para que possa ser lido com facilidade” (2,2). A resposta de Deus convida a não desanimar; não será uma resposta imediata ao perverso Joaquim e seus amigos, mas “a resposta virá com certeza e não tardará” (2,3). A forma ideal para manter-se com esperança, com disposição, sem se entregar, é pelo caminho da fé: “o justo viverá por sua fé” (2,4). Deus prometeu e cumpriu: no tempo certo, a justiça vai vencer. Foi a grande mística contemporânea Simone Weil quem escreveu que “as coisas mais importantes do mundo não são para procurar, mas para esperar”.

2. II leitura (2Tm 1,6-8.13-14)

A segunda carta de Paulo a Timóteo recorda que todo ministério – de quem preside a comunidade, de quem assume alguma forma de apostolado – é revestido por uma graça que é maior do que um desejo ou uma disposição pessoal: “Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus” (v. 6). O serviço é sempre uma resposta ao dom e, sendo resposta, entende-se que o servidor é um instrumento da gratuidade de Deus.

A imposição das mãos, a transmissão da fé, é sinal visível de Deus, que transforma as pessoas em testemunhas verdadeiras do Evangelho, testemunho que assume até os limites da doação total da vida. Paulo recorda que ele mesmo, prisioneiro, sofrendo pelo Evangelho, é “fortificado pelo poder de Deus” (v. 8).

A norma por excelência de toda pessoa que assume um ministério é acreditar, é deixar que a semente da fé possa ter espaço na vida cotidiana: “guarda o precioso depósito” (v. 14), lembra Paulo. A fé, de fato, exige fidelidade. Fidelidade que se traduz na espera paciente e ativa, no serviço amoroso aos irmãos e irmãs, na denúncia das injustiças e do poder do antirreino, no testemunho generoso de bom convívio fraterno.

3. Evangelho (Lc 17,5-10)

Estamos no coração do ensinamento de Jesus sobre a misericórdia do Pai. Nos primeiros versículos do capítulo 17, Jesus chamou a atenção dos discípulos sobre o risco dos escândalos (v. 1-2) e sobre a correção fraterna (v. 3-4). O Evangelho deste domingo se inicia com o pedido dos apóstolos: “Aumenta a nossa fé” (v. 5). O discípulo é o seguidor de Jesus chamado a “aprender”, a acolher o ensinamento do Mestre. O apóstolo recebe a missão de levar ao mundo essa mensagem; é um discípulo enviado para anunciar a Boa Notícia de Jesus.

O pedido para “aumentar a fé” indica que a fé não é um conjunto de conteúdos e fórmulas bem organizadas. Ela é um movimento vital, uma força impetuosa, uma experiência verdadeira de Jesus Cristo. “Aumentar a fé” é acolher a profundidade do Evangelho e ter a ousadia de traduzi-lo no espaço e no tempo. Para isso, o apóstolo precisa compreender que não é ele o dono da fé e das verdades, não é ele a fonte de tudo. O apóstolo é um instrumento de Deus e vai compreendendo, passo por passo, que, antes de tudo, há um amor primeiro e que o apostolado não é um ato de heroísmo, senão que uma resposta, uma pequena resposta ao Amor.

Essa força vital da fé é ilustrada por Jesus com a imagem da semente de mostarda: “Se tivésseis fé do tamanho de um grão de mostarda [...]” (v. 6). A pequena semente parece insignificante, sem sentido, mas, no seu interior, há uma potência invisível, uma força, um movimento transformador. O apóstolo é aquele que descobriu a graça interior de ser chamado e enviado, não porque é a pessoa mais sábia e preparada, mas porque compreendeu (e está sempre compreendendo) que habita nele uma força maior.

A conclusão do Evangelho indica que toda missão apostólica deve carregar uma atitude de humildade, de pequenez, no espírito da semente de mostarda. Não é o apóstolo que deve aparecer, nem mesmo buscar honras e aplausos. O apóstolo é um servidor generoso: “Somos servos inúteis, só fizemos o que devíamos fazer” (v. 10). Os biblistas afirmam que a palavra “inútil” não é bem traduzida. Ninguém é inútil na obra de Deus. Melhor seria se fosse “somos simples servos”, “somos humildes servidores”. Todo trabalho, todo tempo missionário não é uma “utilidade”, mas sim uma gratuidade do amor: amados primeiro, enviados livremente a amar!

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

A fé não pode ser medida por quantidade, porque é um dinamismo que exige fidelidade e sinceridade com a verdade do coração. Para Jesus, o caminho de quem acolhe a fé é o serviço fraterno. É como se o servidor – que deve tomar consciência de que é portador do dom, não um contratado para trabalhar – possibilitasse aflorar do seu interior a força de vida que o habita. A liturgia da Palavra deste domingo, além de ser oportunidade de celebrar com os irmãos e irmãs em comunidade, propõe a importante reflexão sobre a saúde da nossa fé, sobre a forma como a acolhemos e a traduzimos para o mundo. A Palavra é um mapa que orienta, dinamiza e converte aquilo que precisamos transformar.

Maicon Malacarne*

*é presbítero da diocese de Erexim, pároco da paróquia São Cristóvão, em Erechim, e professor de Teologia Moral na Itepa Faculdades. Mestre e doutorando em Teologia Moral pela Pontifícia Academia Alfonsiana – Roma.