Roteiros homiléticos

Publicado em setembro-outubro de 2025 - ano 66 - número 365 - pp. 60-62

19 de outubro – 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Maicon Malacarne*

Ser a oração, viver a oração!

I. INTRODUÇÃO GERAL

A oração insistente conduz a liturgia da Palavra deste 29º domingo do Tempo Comum. Paulo, de fato, ao escrever a Timóteo, afirma que é preciso insistir “oportuna ou importunamente”. Trata-se de insistência paciente, mas confiante na justiça, como a da viúva do trecho do Evangelho de Lucas, a qual, diante da intransigência do juiz, não deixa de buscar aquilo que desejava. A oração delineia uma espécie de estilo de vida, em que não há desistência. Moisés, no texto do Êxodo, testemunha essa mesma insistência por meio da imagem dos “braços erguidos”. A vitória no conflito com os amalecitas não dependeu tanto da força do braço e das armas, senão que da confiança advinda da prece incansável, no alto da colina.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Ex 17,8-13)

Um combate entre os amalecitas e os israelitas compõe o cenário do texto da primeira leitura. Os amalecitas eram um grupo muito violento; quando os israelitas passaram pelo seu território, depois da saída do Egito, foram atacados por eles e perderam algumas pessoas. Enquanto acontecia o embate, coordenado por Josué, Moisés se pôs em oração, no alto da colina: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec” (v. 11).

Quando o cansaço dominou Moisés, duas outras pessoas o ajudaram a manter-se com os braços erguidos, Aarão e Ur: “um de cada lado, sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até o pôr do sol, e Josué derrotou Amalec e sua gente a fio de espada” (v. 12-13). Manter os braços erguidos é metáfora muito bonita da atitude de oração. Trata-se de persistir, de não desanimar, de aguardar o tempo certo para a “luta” ser vencida.

Outra dimensão interessante que o texto destaca é que a oração é sempre um movimento comunitário. Moisés, sozinho, não conseguia! O apoio, a força dos irmãos, a sabedoria da organização animam e fortalecem a oração. O povo de Israel vai descobrindo, pouco a pouco, que sua força está no Senhor, na proximidade dele e na constância da confiança, como povo que caminha em comunhão, no horizonte da Terra Prometida.

2. II leitura (2Tm 3,14-4,2)

Este trecho da segunda carta de Paulo a Timóteo se articula bem com o pedido de insistência na oração e constância na fé, testemunhadas pela viúva, no Evangelho, e pelos braços erguidos de Moisés, na primeira leitura: “proclama a Palavra, insiste oportuna ou importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e doutrina” (4,2).

A oração adquire um conteúdo fundamental por meio da Sagrada Escritura, “inspirada por Deus”, ensina Paulo, e “útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça” (3,16). Ler, ouvir, contemplar, estudar, compreender e viver a Palavra de Deus é muito importante para tornar a vida uma oração constante e – junto com o discernimento da Tradição da Igreja – crescer no espírito eclesial, de comunhão e participação, para realizar a vontade de Deus.

A “educação na justiça” é a pedagógica busca pelo sentido da vida, pela realização em plenitude de uma vocação que não se realiza de uma hora para outra, mas exige esforço e perseverança – “com toda a paciência”. A Palavra é que sustenta a estabilidade de uma fé viva e vivificante.

3. Evangelho (Lc 18,1-8)

O Evangelho deste domingo se inicia com a expressão “necessidade de orar sempre” (v. 1). Rezar sempre é necessidade que, poderíamos dizer, tem duas dimensões: uma dimensão antropológica, porque recorda o ser humano da transcendência, da expansão de si, da abertura para Deus, o que significa descentralizar o perigoso superfoco no “eu”; e uma dimensão de vida ativa, de vida orante. Não se trata de separar ação e oração, teoria e prática, mas de viver todos os dias um estilo de vida orante. É bonito aquilo que Romano Guardini escreveu: “Rezo porque vivo e vivo porque rezo”.

A oração se confunde com a respiração, com o sopro que guarda a vida! Não se trata somente de exercícios exteriores; a oração é o mergulho no amor de Deus, para que Ele possa crescer em nossa vida. Nesse sentido, o desafio maior não se relaciona com a quantidade de orações, mas com o tornar a vida uma oração, com o fazer da vida um itinerário orante.

A oração precisa atravessar aquilo que somos, todas as nossas relações. Em cada pessoa, a oração pode assumir uma perspectiva particular: rezar é aprender a viver mais pacientemente; rezar é alargar o coração; rezar é estender mais a mão e partilhar; rezar é silenciar; rezar é aprender a esperar; rezar é discernir a vontade de Deus; rezar é reconciliar(-se), aceitar um pedido de perdão! É no respiro da história que a vida orante vai ganhando rostos diferentes.

Na parábola de Jesus, é muito simbólica a imagem da viúva que se contrapõe à maldade do juiz que não temia a Deus nem respeitava homem algum. A viúva era uma das categorias mais pobres da época; sem o esposo, não tinha futuro, não esperava mais nada, a não ser a morte. O juiz é senhor de si, tem tudo nas suas mãos. A única possibilidade de sobrevivência da viúva é sua insistência, sua intensidade em confiar: “faze-me justiça” (v. 3) é a prece dela ao juiz.

A súplica insistente da mulher faz que o juiz, sob pressão, mude de opinião: “Como essa viúva está me importunando, vou fazer-lhe justiça” (v. 5). A parábola indica que não é Deus quem muda com a persistência da oração, mas a mudança é do ser humano. A oração nos transforma! A oração sensibiliza o coração. A oração humaniza e diviniza! O Evangelho conclui com a certeza de que também Deus é sensível e acolhe a prece dos seus filhos e filhas; são necessárias, no entanto, a coragem paciente e a amorosa persistência de viver, todos os dias, a oração – sem dicotomias.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Rezar não é uma ação no meio de outras ações nem um gesto exterior que deve ser cumprido como obrigação. A Palavra de Deus ensina que, na base de tudo, está a oração; é como se ela estivesse antes de tudo, durante tudo e depois de tudo. Cabe-nos respirar oração. A vida espiritual madura não é uma conquista pessoal nem um ato heroico; é, antes, o esforço de abertura da vida para que a graça de Deus possa encontrar espaços disponíveis para realizar maravilhas. Isso exige disciplina, persistência, resistência. Este domingo é maravilhosa oportunidade de refletir sobre a qualidade da nossa vida de oração.

Maicon Malacarne*

*é presbítero da diocese de Erexim, pároco da paróquia São Cristóvão, em Erechim, e professor de Teologia Moral na Itepa Faculdades. Mestre e doutorando em Teologia Moral pela Pontifícia Academia Alfonsiana – Roma.