Atualidades

PATROLOGIA DIDÁTICA

28/11/2025

Eliseu Wisniewski*

* Presbítero da Congregação da Missão Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontíficia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Eis o artigo:

A obra Patrologia didática (Paulus, 2025, 288 p.), de José Alberto Hernández Ibàñez, apresenta-se como uma contribuição relevante e oportuna ao ensino e à pesquisa teológica, especialmente no campo dos estudos patrísticos. O autor, reconhecido patrólogo e docente experiente, demonstra sensibilidade didática ao propor um manual que combina rigor acadêmico e clareza pedagógica, tornando acessível o estudo da patrística.

Do ponto de vista metodológico, a estrutura da obra evidencia uma construção intencionalmente articulada, orientada por um princípio de progressividade que acompanha, de forma sistemática, o desenvolvimento histórico da reflexão cristã desde os Padres apostólicos até a conclusão da era patrística. Tal organização não se limita a uma disposição cronológica, mas expressa uma lógica interna de continuidade teológica e hermenêutica, na qual cada período e autor é situado em função de sua contribuição específica à consolidação do pensamento cristão. A divisão em blocos temáticos, associada à inserção de anexos e referências complementares, demonstra uma clara preocupação com a formação integral do estudante, ao promover a integração entre domínio conceitual, leitura crítica das fontes e capacidade de contextualização histórico-teológica.

Ibàñez ultrapassa a mera apresentação cronológica dos autores, procurando evidenciar o dinamismo interno da teologia patrística enquanto resposta intelectual e espiritual aos desafios culturais, filosóficos e eclesiais de seu contexto histórico. O autor revela notável capacidade de síntese ao tratar de temas de elevada complexidade, como o debate dogmático, a gnose cristã e a distinção entre patrística e patrologia dentre outros, articulando-os de maneira didática e metodologicamente rigorosa. Tal clareza expositiva não se confunde com simplificação conceitual, mas expressa o esforço consciente de tornar acessíveis as categorias fundamentais do pensamento cristão antigo, preservando sua profundidade teológica.

Ao estabelecer uma relação direta entre o estudo dos Padres da Igreja, as orientações do Concílio Vaticano II e a proposta de “retorno às fontes”, Ibàñez situa sua abordagem no contexto mais amplo da renovação teológica contemporânea. Essa perspectiva, simultaneamente pastoral e hermenêutica, amplia o alcance do manual para além de sua função didática, ao favorecer o diálogo fecundo entre a tradição patrística e os desafios teológicos, eclesiais e culturais enfrentados pela Igreja no presente.

A vastidão do corpus patrístico e a complexidade dos contextos históricos e teológicos que o compõem tornam inevitável a exclusão de determinados autores e temas de destaque. Tal delimitação, embora justificável em um manual introdutório, poderia ser atenuada mediante a indicação mais detalhada de fontes primárias e secundárias, capazes de orientar de modo mais preciso o leitor interessado em aprofundar os estudos especializados. Ainda assim, a bibliografia complementar oferecida revela-se adequada para a finalidade proposta e cumpre satisfatoriamente a função de mediação entre a iniciação e a pesquisa acadêmica.

Em seu conjunto, a obra configura-se como um instrumento de inestimável valor para a introdução aos estudos patrísticos, ao conjugar clareza expositiva, rigor metodológico e sensibilidade pedagógica. O texto alcança plenamente o propósito de inserir o estudante de teologia no universo intelectual e espiritual dos Padres da Igreja, incentivando tanto a leitura direta das fontes quanto a reflexão crítica sobre o legado teológico que moldou o cristianismo e a cultura ocidental. Trata-se, portanto, de uma obra que transcende o âmbito puramente didático, oferecendo uma contribuição de significativa relevância formativa e espiritual para o pensamento teológico atual.