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Publicado em janeiro-fevereiro de 2026 - ano 67 - número 367 - pp. 10-19

ANIMAÇÃO BÍBLICA NA CATEQUESE

Por Ir. Izabel Patuzzo*

O artigo apresenta uma abordagem teológico-pastoral da animação bíblica na catequese, expondo, de modo sucinto, alguns fundamentos bíblicos que ajudam a entender a proposta da Igreja para que as Escrituras sejam sempre a fonte de toda ação evangelizadora, da qual a catequese faz parte. Por sua natureza e finalidade, a catequese tem uma íntima relação com o querigma, cuja centralidade é o anúncio da Palavra de Deus e a experiência mistagógica proporcionada aos seus destinatários, a qual tem por fim fazer com que cada batizado se torne uma testemunha da Palavra anunciada e vivida.

Introdução

Para falar sobre a animação bíblica da catequese, em primeiro lugar, é importante uma aproximação conceitual dos termos, a fim de esclarecer o que se entende neste artigo por animação bíblica e catequese. O vocábulo “catequese”, de origem grega (κατήχησις, catequesis), deriva do verbo κατηχέω (catequeo), cujo significado corresponde a instruir, ensinar e informar. Nos escritos neotestamentários, tem o sentido de ensinar oralmente, mediante a Palavra de Deus (cf. At 18,25; Gl 6,6; 1Cor 14,19; Rm 2,18). Quanto à expressão “animação bíblica”, trata-se do resultado de um longo processo na Igreja, que se iniciou com o Movimento Bíblico, antes do Concílio Vaticano II, e culminou com a Constituição Dogmática Dei Verbum.

As conferências pós-conciliares exerceram um papel fundamental no processo de propor a animação bíblica para toda a pastoral. Nesse caminhar da Igreja, a catequese – que, por sua natureza eclesial e evangelizadora, está centrada na Palavra de Deus – ocupa lugar de destaque. A recepção da proposta conciliar da Dei Verbum pelas conferências episcopais contribuiu para que a Palavra de Deus não fosse apenas a alma da teologia, mas também de toda a ação evangelizadora da Igreja. Todo esse caminhar com a Sagrada Escritura culminou na Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini, que propôs que a animação bíblica permeie toda a atividade pastoral da Igreja (VD 73) e, em seguida, que toda atividade catequética esteja centrada na Palavra de Deus (VD 74), para que os catequizandos possam fazer a experiência do encontro com o Cristo Palavra.

O ato de ensinar ou instruir com base nas Sagradas Escrituras fundamenta-se na longa tradição bíblica, segundo a qual o povo de Deus sempre se nutriu da Palavra divina. Israel recebe o dom da Lei no Sinai e se deixa guiar ao longo de toda a história da salvação (cf. Ex 20,1-21). Nas grandes assembleias do povo escolhido, a proclamação da Palavra ocupava lugar central nas tomadas de decisão, com o objetivo de manter a fidelidade à Aliança (cf. Js 24,25-28).

Os escritos veterotestamentários descrevem a Palavra de Deus (Dabar) como o agente divino que executa as diversas tarefas de Deus. De acordo com o Sl 33,6, ela age no ato da criação: “O céu foi feito pela palavra de YHWH, e todo o seu exército, pelo sopro de sua boca”. No relato da criação, em Gn 1,1-31, o vocábulo “palavra” ocorre oito vezes. Em seguida, essa Palavra é dirigida a pessoas escolhidas para uma missão importante, como em Gn 15,1: “Depois desses acontecimentos, a Palavra de YHWH foi dirigida a Abraão, numa visão: ‘Não temas, Abraão! Eu sou o teu escudo; tua recompensa será muito grande’”.

Também por meio dela, o Senhor se revela na história de seu povo: “YHWH continuou a manifestar-se em Silo, porque em Silo ele se revelava a Samuel pela palavra de YHWH” (1Sm 3,21). Aos profetas, Ele faz conhecer sua vontade: “A palavra de YHWH me foi dirigida nos seguintes termos” (Jr 1,4). A Palavra de Deus tem ainda o poder de curar: “Enviou sua Palavra para curá-los e da cova arrancar sua vida” (Sl 107,20).

Assim, a Palavra de Deus se revela em sua força criadora no Gênesis e libertadora no livro do Êxodo; sucessivamente, congrega Israel, corrige-o e aponta os caminhos da justiça e da retidão nas palavras dos profetas. Anima a caminhada de seu povo no exílio e, no pós-exílio, fortalece a comunidade dos fiéis. As sinagogas surgem e se multiplicam nesse período, pois a Palavra de Deus precisa ser estudada em um lugar apropriado.

Evidências arqueológicas mais remotas da existência de sinagogas na Antiguidade foram encontradas em diversos lugares, devido à situação de diáspora de Israel. Elas datam do século III a.C. As sinagogas foram construídas como casas de oração e de estudo das Escrituras, desempenhando um papel fundamental na preservação do povo judeu, ajudando a manter sua identidade e permitindo uma forma de culto móvel, mesmo após a destruição do templo. Em outras palavras, as sinagogas eram a casa da Palavra, pois no centro havia um espaço que lembrava a arca da Aliança – o local mais sagrado –, onde se guardavam os rolos de pergaminho. Assim, as comunidades judaicas da diáspora inevitavelmente criaram sinagogas para preservar suas tradições e identidade, enfrentando continuamente desafios políticos, litúrgicos, sociais, educacionais, judiciais e espirituais.

1. Jesus, Palavra encarnada e semeador da Palavra

Os Evangelhos sinóticos narram que Jesus frequentava, ensinava e curava nas sinagogas, seguindo a tradição de Israel (cf. Mt 4,23; 13,54; Mc 1,21-28; 3,1-6; 13,14-17; Lc 4,14-15; 4,43-44; 13,10-17). O evangelista João afirma, em Jo 18,20, que Jesus sempre ensinava nas sinagogas e no templo. O evangelista Lucas é o único a destacar que Jesus tinha o costume de frequentar assiduamente a casa de oração e da Palavra. O livro dos Atos dos Apóstolos relata que os apóstolos também anunciaram a Boa-nova de Jesus Cristo nas sinagogas próximas de Jerusalém.

O relato de Lc 4,16-21 apresenta a sinagoga como o lugar que Jesus costumava frequentar. Lucas é o único entre os evangelistas a destacar o hábito de Jesus de participar regularmente das atividades na sinagoga; dessa forma, ele o apresenta em conformidade com a tradição secular do povo judeu. O texto oferece elementos importantes para compreender o ministério de Jesus na Galileia.

Embora o fato de Jesus ir à sinagoga refletisse seu costume habitual desde a infância (“segundo seu costume”), a mesma expressão utilizada por Lucas em At 17,2 sugere que a prática da Igreja primitiva seguia a pedagogia do Mestre ao utilizar regularmente a sinagoga como espaço de ensino: “Ensinava em suas sinagogas e era glorificado por todos” (Lc 4,15). O texto também faz referência ao dia: “…entrou em dia de sábado” (Lc 13,10.14.16; 14,1), a mesma locução que ocorre em At 13,14 e 16,13. Em Lc 4,16-21, Jesus se levanta para ler o texto de Is 61,1-2. Assim, ele fundamenta seu ensinamento, seu programa de vida e sua missão nas Escrituras.

Apesar de o evangelista Lucas mencionar outros eventos de Jesus atuando nas sinagogas e realizando curas (cf. Lc 13,10-17), é apenas em Lc 4,16-21 que ele menciona o conteúdo de seu ensinamento. Portanto, aqui temos um exemplo do tipo de mensagem que Jesus proclamava nas sinagogas ao longo de seu ministério público. Ele é a Palavra semeada e, ao mesmo tempo, o semeador da Palavra. Assim, o evangelista conecta sua atividade de ensinar com o evento anterior, no qual, nas tentações, Jesus responde ao diabo citando as Escrituras. Lucas apresenta o ensinamento inaugural de Jesus, conforme as profecias do Antigo Testamento e sob a ação do Espírito Santo. Em Lc 4,15, Jesus é glorificado pelo seu modo de ensinar.

No terceiro Evangelho, Jesus é retratado como um judeu piedoso que frequenta regularmente a sinagoga para ensinar e curar. Em Atos, seus discípulos, fiéis ao seu modo de ensinar, também veem a sinagoga como um locus importante para a pregação cristã primitiva. As origens dessa instituição não são totalmente claras, mas, no primeiro século, ela já existia por toda a Palestina e na diáspora. O livro dos Atos dos Apóstolos também oferece importantes evidências sobre as práticas litúrgicas sinagogais no início do período cristão, retomando toda a tradição do Antigo Testamento: “Com efeito, desde as antigas gerações, Moisés tem em cada cidade seus pregadores, que o leem nas sinagogas todos os sábados” (At 15,21).

Como esse texto exemplifica, no sábado, a sinagoga era especialmente o lugar dedicado à leitura e à explicação das Escrituras, uma prática desenvolvida com base na Lei mosaica. Além disso, os estudos arqueológicos confirmam que a arquitetura das sinagogas parecia favorecer a troca livre de ideias entre os ouvintes presentes, e a prática sinagogal permitia que qualquer pessoa que tivesse algo relevante a dizer pudesse falar; isso é novamente pressuposto em
Lc 4,16-30 e At 13,15. A apresentação de Lucas indica não apenas que Jesus demonstrava regularmente sua piedade ao frequentar a sinagoga no sábado, mas também que era seu costume assumir o papel daquele que lia e explicava as Escrituras (cf. At 17,2). A expressão “como era seu costume” destaca o caráter paradigmático deste episódio, no que diz respeito tanto às práticas sabáticas de Jesus quanto ao conteúdo de sua proclamação.

Quanto à citação do texto do profeta Isaías, trata-se de um texto que incorpora duas passagens: Is 61,1-2 e Is 58,6, tendo sido a expressão “para restituir a liberdade aos oprimidos” adicionada por Lucas na passagem de Is 61,1-2. Desse modo, o evangelista chama a atenção especial dos ouvintes para a palavra “libertação”, como uma atividade característica do ministério de Jesus. O recorte lucano da passagem de Isaías é composto de três subunidades que destacam as características teológicas do programa missionário segundo o Evangelho de Lucas: o Espírito o acompanha em tudo o que Jesus realiza; ele veio para proclamar a Boa-nova aos pobres, cativos e cegos, restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor.

As ações que se destacam na passagem de Isaías são a unção e a consagração pelo Espírito para evangelizar, proclamar e restituir, ressaltando que o verbo “proclamar” aparece duas vezes e está diretamente associado ao verbo “evangelizar”. Assim, na perspectiva lucana, o conteúdo da evangelização de Jesus e de seus seguidores tem como fonte a Palavra de Deus, revelada nas Escrituras, pois ela é o princípio vital que perpassa toda a história da salvação. Por isso, falar de uma animação bíblica da catequese é um convite a examinar as Sagradas Escrituras, para redescobrir como as palavras e ações de Jesus são a centralidade do anúncio querigmático da Igreja.

O modo de ensinar adotado por Jesus estava em sintonia com o pensamento e a cultura de seus ouvintes. Na mentalidade semita de seu tempo, palavras e ações estavam intimamente ligadas. Lucas sintetiza a narrativa do terceiro Evangelho como uma exposição ordenada de tudo o que Jesus realizou e ensinou: “Fiz meu primeiro relato, ó Teófilo, a respeito de todas as coisas que Jesus fez e ensinou desde o começo, até o dia em que foi arrebatado ao céu, depois de ter dado instruções aos apóstolos que escolhera sob a ação do Espírito Santo” (At 1,1-2). As palavras anunciam os feitos, e estes esclarecem seus significados. Na antropologia bíblica, ações e palavras bastam para descrever o perfil de uma pessoa. Porém, no mundo bíblico, esses dois elementos têm como finalidade estar a serviço da comunicação com Deus, na oração, no culto e na transmissão de seus ensinamentos. As ações e palavras de Jesus estavam sempre em conformidade com a vontade do Pai.

2. O processo de elaboração e proposta da animação bíblica

O caminhar da Palavra, do qual se originou o novo paradigma de uma animação bíblica em toda a pastoral e, consequentemente, na catequese, passou por longo processo histórico-eclesial. Nesse caminhar da Igreja, no qual a Palavra de Deus ocupa lugar central em seu agir pastoral, o Movimento Bíblico, que surgiu em meados do século passado, teve um papel fundamental. Para chegar à promulgação da Constituição Dogmática Dei Verbum (DV), houve um despertar de toda a Igreja, capaz de trazer para novos contextos a centralidade da Palavra de Deus na obra da evangelização. Nesse percurso, reconhece-se como foi positiva a presença permanente e cada vez mais abundante das Sagradas Escrituras nas conferências episcopais e no magistério da Igreja, permitindo, assim, a consciência de que todos os batizados devem venerar as Sagradas Escrituras assim como veneram a Eucaristia; não apenas conhecê-las, mas orientar sua vida discipular com base nelas.

A Igreja, impulsionada pelo papa Francisco para um estado permanente de saída missionária, é enviada em missão para evangelizar em novos contextos sociais e culturais, seguindo os passos do Mestre, que ordenou, antes de subir ao céu: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria e até os confins do mundo”. Essa tarefa evangelizadora, entendida como o processo pelo qual uma pessoa é iniciada no caminho da fé e acompanhada em sua inserção na vida eclesial, exige novas chaves para a iniciação à vida cristã, a fim de responder às realidades dos destinatários do nosso tempo. Esse desafio também é apresentado pelo novo Diretório para a Catequese, que recorda aos evangelizadores a necessidade de estarem atentos aos cenários culturais contemporâneos. A proposta para a catequese nos próximos anos requer a capacidade de dialogar e escutar o mundo globalizado, plural, mutável, influenciado pelas mídias sociais e de comunicação. Diante de uma realidade multiforme, dinâmica, complexa e poliédrica, permanece a fidelidade ao modo de proclamar o Reino de Deus de Jesus de Nazaré, cuja centralidade do anúncio querigmático são as Escrituras, pois nelas se pauta o agir cristão.

Desde sua origem, a Igreja tem vivido e vive sob o influxo da Palavra. A Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini, ao propor o novo paradigma de uma animação bíblica de toda a pastoral, com a centralidade da Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, está indicando, na verdade, um ideal, uma meta, um desejo de voltar às fontes de sua origem. As Sagradas Escrituras dão testemunho de que tudo o que existe foi feito por meio da Palavra, do Logos divino encarnado.

3. Animação bíblica para uma catequese querigmática e mistagógica

Uma aproximação do texto de Lc 4,16-21, numa perspectiva praxiológica no âmbito da catequese, aponta para um dos elementos essenciais da natureza da catequese: o anúncio querigmático. No centro da estrutura literária do texto, a voz do narrador cede lugar à voz de Jesus, que proclama o texto retirado das profecias de Isaías. Partindo da pedagogia de Jesus, pode-se tomar aqui um dos critérios bíblicos basilares para a iniciação à vida cristã: a centralidade da Palavra de Deus na formação do discipulado de Jesus Cristo.

Antes de tudo, a natureza da catequese é o anúncio querigmático no contexto de seus destinatários. Jesus leva em consideração a experiência de vida de seus ouvintes e a mística de seu povo, que frequentava assiduamente as sinagogas como um modo de se aproximar das Escrituras, buscando nelas as orientações para um modo de vida conforme as diretivas de Deus. A metodologia proposta pelo texto implica não apenas o conhecimento, mas também o contato com a realidade dos sujeitos da catequese, com o entorno comunitário em que se desenvolvem, com o meio social, econômico, religioso e cultural ao qual pertencem, e com o mundo, entendido como as possibilidades ou os horizontes que moldam a vida do sujeito.

Assim como a sinagoga no tempo de Jesus era o lugar em que a comunidade dos fiéis se alimentava da Palavra, a catequese hoje, sobretudo na realidade eclesial latino-americana, é um lugar de encontro entre a Palavra e a vida. A catequese é uma proposta de integração entre a Palavra e a vida, tanto no nível comunitário quanto pessoal. A expressão dessa integração conduz à experiência mistagógica, que culmina na práxis celebrativa da fé. Em primeiro lugar, trata-se da catequese de iniciação cristã, em que o primeiro anúncio tem como finalidade o reconhecimento da pessoa de Jesus. Após o processo de acompanhamento, guiado à luz da Palavra, o catequizando toma a iniciativa, sendo ele mesmo quem avalia seu crescimento pessoal na adesão à pessoa de Jesus.

O evangelista Lucas retrata Jesus como aquele que ensina com base nas Escrituras. Outro elemento importante na catequese é a figura do catequista, como aquele que tem familiaridade com a Palavra e, por isso, a anuncia como testemunha de fé. Portanto, do catequista exige-se também uma capacidade de interpretar o texto sagrado, em vista de sua aplicação na vida de fé. Como anunciador e hermeneuta, o/a catequista deve sempre estar a serviço da Palavra. Ao terminar a leitura do texto do profeta Isaías, Jesus declara: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”. Esse é o destino da Palavra na vida de quem a escuta: realizar as ações que decorrem do texto; isto é, produzir frutos na vida de quem a escuta e acolhe.

4. Para uma animação bíblica da catequese

Para que haja, de fato, uma animação bíblica da catequese, é necessária sólida formação bíblico-teológica daqueles que assumem o ministério catequético na Igreja. A pessoa que exerce o ministério de catequista desempenha dupla função em sua missão evangelizadora: a de hermeneuta e mistagogo. Como guia da caminhada espiritual de seus catequizandos, o catequista é alguém que possibilita aos destinatários da Palavra passar da compreensão para a vivência das Escrituras. Para exercer tão grande ministério, quem evangeliza precisa cultivar uma espiritualidade cuja fonte primordial seja a Palavra de Deus.

A proposta de uma animação bíblica da catequese se insere num processo de comunhão e participação em todos os níveis de ministérios, comunidades, pessoas e carismas (cf. DAp 169), que, convencidos da importância da sinodalidade, se integram na dinâmica da pastoral orgânica. Portanto, o ministério catequético não está isolado dos demais ministérios exercidos na comunidade de fé.

Nesse sentido, a centralidade da Palavra de Deus no processo catequético significa, pois, uma disposição para articular e acompanhar todos os esforços pastorais, de tal forma que transpareça na comunhão nascida da práxis do mandamento do amor. Esse modelo de catequese, que parte de uma compreensão orgânica de toda a pastoral, situa a pessoa do catequista não como mestre, mas como discípulo, seguindo o itinerário proposto por Jesus na imagem apresentada nas sete parábolas do Reino no capítulo 13 do Evangelho segundo Mateus. Desse modo, o escriba se converte em discípulo mediante o conhecimento novo que vem das Escrituras e das experiências de discipulado de quem tem como único Mestre o Senhor Jesus. A imagem do escriba instruído no Reino dos Céus é inspiradora para a animação bíblica da catequese, pois ele é o depositário das coisas novas, ou seja, do novo modelo de catequese de inspiração catecumenal, e, ao mesmo tempo, das coisas antigas, que são o tesouro da tradição da Igreja: “Então lhes disse: ‘Por isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante ao proprietário que do seu tesouro tira coisas novas e velhas’” (Mt 13,52).

Entendida dessa forma, a animação bíblica da catequese carrega esse tesouro das coisas novas e velhas, sabendo olhar para trás e reconhecendo a riqueza da Tradição apostólica, de uma Igreja que nasce e desenvolve sua missão ao redor da Palavra. É uma catequese que se coloca no caminho da pedagogia divina de Jesus Cristo, o qual cuidou atentamente da formação de seus discípulos. Ele soube acolher seus discípulos, mas também provocar neles o desejo de dar passos para o acolhimento da graça e da disponibilidade para a conversão.

Conclusão

O caminhar da Palavra de Deus na Bíblia é a fonte de inspiração para a verdadeira animação bíblica da catequese. À luz das orientações do novo Diretório para a Catequese, durante o magistério do papa Francisco, a catequese assume uma perspectiva missionária, com o desejo de viver e irradiar a alegria do Evangelho. O ministério catequético se traduz em uma diaconia da Palavra, ressaltando que escutar, ler, meditar, celebrar e traduzir em obras a Palavra é um itinerário que se apresenta a todos os sujeitos da catequese, para que todos possam compreender que na Palavra de Deus está a fonte de vida e, por isso, fazemos dela o alimento de toda a vida e missão da Igreja.

A animação bíblica da catequese afirma, desse modo, a sacramentalidade da Palavra, que existe desde sempre e para sempre. Palavra que, por seu caráter performativo, não apenas diz, mas age. A exemplo de Jesus, que define sua missão salvífica retomando o texto de Isaías, a catequese, animada pela Palavra de Deus, põe-se a serviço de seu anúncio, para que, por meio dela, cada batizado possa ter seu encontro pessoal com Jesus Cristo. E o Espírito Santo guia, acompanha e fortalece a Igreja nesse itinerário catequético. É ele o protagonista da missão da Igreja; é o dom do Ressuscitado que infunde a força para que os evangelizadores anunciem a Palavra com parrésia (cf. EG 259).

Referências bibliográficas

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FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Brasília, DF: Ed. CNBB, 2013.

Ir. Izabel Patuzzo*

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada. Mestra em Aconselhamento Social pela South Australian University, mestra e doutora em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. E-mail: [email protected]