Eliseu Wisniewski*
* Presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Eis o artigo:
Muitas são as publicações que surgiram nos últimos tempos, desde as mais diversas perspectivas, sobre o tema da sinodalidade. Esse boom de textos reflete a crescente busca por entender não apenas o que significa caminhar juntos na Igreja, mas como esse caminhar se materializa na prática e na liderança, na participação ativa de todos os batizados, na escuta mútua e na tomada de decisões. Ao longo das obras, aparecem abordagens históricas, teológicas, pastorais e pastorais-litúrgicas que iluminam os desafios e as oportunidades de uma Igreja que se quer mais unida e mais receptiva aos diferentes membros do corpo eclesial.
Um ponto de destaque na obra Sinodalidade: perspectivas teológicas, canônicas e pastorais (Paulus, 2025, 176 p.), de José San José Prisco, é abordado de forma diferenciada. O autor, doutor pela Pontifícia Universidade de Salamanca, atua atualmente como docente de Direito Canônico nessa mesma universidade. O livro procura harmonizar os aspectos eclesiológicos e canônicos da sinodalidade. Alinhar essas duas dimensões é essencial para não distorcer o real significado de sinodalidade.
Para o autor o relacionamento entre teologia e direito canônico é essencial. A teologia, por um lado, ajuda a esclarecer o alicerce eclesial da sinodalidade, mostrando que a Igreja não é apenas um mistério de comunhão e de participação de todos na missão, pois é o Corpo de Cristo e o sacramento universal de salvação, mas também é apostólica, por estar fundada no testemunho e na autoridade que Cristo deu aos seus Apóstolos, autoridade que se mantém no colégio episcopal sob a liderança do Papa, o sucessor de Pedro. Por outro lado, o direito canônico pode indicar caminhos práticos para tornar a sinodalidade concreta e autêntica no tempo presente, usando adequadamente as estruturas canônicas já existentes, reformando o que necessita de ajuste e criando novas quando for necessário.
Sob essa ótica, a obra, organizada em três partes, começa tratando dos aspectos gerais da compreensão eclesiológica e canônica da sinodalidade, buscando esclarecer os fundamentos que embasam a reforma proposta pelo Papa Francisco (p. 13-55).
Em seguida, o autor distingue entre a sinodalidade autêntica e a falsa sinodalidade (p. 57–102). Como as formulações sobre sinodalidade são bastante variadas: evidenciado pelas muitas publicações recentes sobre o tema e, em muitos casos, até contraditórias: algumas se afastam da necessária continuidade com a Tradição da Igreja, outras estão contaminadas por ideologias de diferentes tipos, outras ainda estão sobrecarregadas pela inercia do passado, esperando apenas uma mudança aparente em vez de substancial. Assim, corre-se o risco de tratar essa questão como uma moda teológica passageira, sem reconhecê-la como uma dimensão constitutiva da Igreja, uma característica fundamental de sua natureza, que envolve a corresponsabilidade e a participação de todo o povo de Deus na vida e na missão.
A terceira parte foca nas estruturas da Igreja local, onde se observa a prática de “caminhar juntos” (p. 103-152). Prisco aponta que algumas dessas estruturas já aparecem no Código de Direito Canônico, ainda que devam ser repensadas à luz desses novos parâmetros; outras não constam da regulamentação vigente, embora existam graças à prática pastoral de muitas Igrejas locais, razão pela qual também merecem atenção.
O livro apresenta elementos teológicos, canônicos e pastorais da sinodalidade que iluminam o caminho de cada batizado e das comunidades cristãs. Coloca a sinodalidade na moldura da eclesiologia e do direito canônico para distinguir o verdadeiro do falso, descrevendo o processo e definindo o papel de cada membro do Povo de Deus, além de estabelecer meios para promover o diálogo e a tomada de decisões coletivas. Propõe formas práticas de vivê-la nas Igrejas diocesanas, transformando a Igreja em um espaço de diálogo e escuta, de comunhão e participação, de encontro e proximidade, uma encarnação real, concreta e duradoura da sinodalidade que a completa, modela e fortalece a vida da Igreja ad intra e o testemunho e serviço que ela é chamada a oferecer ad extra.
A obra surge como uma ferramenta oportuna para a formação dos agentes pastorais, intermediários e facilitadores da evangelização, envolvendo desde os presbíteros, especialmente os párocos, os diáconos, consagrados, catequistas e todos aqueles comprometidos com a vida eclesial. Eles são chamados a atuar como um elo que promove um novo jeito de caminhar como Igreja, um novo modo de viver como comunidade eclesial.