Carta do editor

março-abril de 2011

Graça e paz!

A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida à conversão quaresmal sob o tema “Fraternidade e a vida no planeta”. Precisamos abrir mais os olhos para os problemas ecológicos, particularmente para o aquecimento global, a questão central enfocada pela CF. É preciso também abrir os olhos para o fato de que a defesa da vida tem um sentido amplo e não restrito àquele ao qual alguns discursos querem circunscrevê-la.

         Na recente eleição presidencial, algumas lideranças eclesiásticas, em nome da Igreja e de entidades a ela pertencentes, recomendaram não votar na candidatura que, segundo elas, defendia o aborto. Para além de questionar a justeza desse julgamento e dessa posição, cabe considerar que, diante da realidade problemática do país, da necessidade de redistribuição de renda e de justiça social, o cuidado cristão com a vida no Brasil, ao se avalizarem tais discursos, parece se reduzir a evitar o aborto – um atentado grave à vida, mas não o único. A desigualdade social e a miséria, causadoras, entre outros malefícios, de altos índices de mortalidade infantil, não foram trazidos a esse debate – em que pese o fato de a outra candidatura ter vínculos fortes com o campo neoliberal no país. Defender a vida é se contrapor a práticas e leis abortivas. Mas é isso e muito mais: vai desde o cuidado com a menor das criaturas até a justiça social no contexto internacional.

Não há um punhado de terra que não esteja cheio de organismos vivos. Todo o planeta é um grande organismo. Portanto, a defesa da vida tem como uma de suas principais dimensões o cuidado ecológico com o planeta, sobre o qual pesam os riscos do aquecimento global e seus impactos sobre todas as formas de vida.

         Por vezes, critica-se a perspectiva ecológica como campo de vigorosa verborragia e pouca prática; particularmente o aquecimento global é não raro visto e reputado como mero mito. No entanto, os efeitos do desequilíbrio ecológico e do aquecimento do planeta já são perceptíveis: intensificação de secas e inundações, maremotos, furacões, aumento do nível do mar, deslizamentos de terra, ondas de calor e de fome, destruição de casas e lavouras, com a consequente ceifa de inumeráveis vidas. E as pesquisas científicas indicam que, se a atuação da humanidade no planeta continuar como está, essas catástrofes tendem a aumentar.

         A humanidade, sobretudo sua parte mais rica, está consumindo 20% a mais do que o planeta pode dar e, além disso, o faz de forma danosa. Se o parâmetro para todos for o padrão de vida dos países mais desenvolvidos, precisaremos de três planetas com as dimensões da Terra para suprir tal nível de consumo. É necessário, portanto, uma correção de rota, a fim de que todos possam consumir o necessário para uma existência digna, sem que a vida e a felicidade tenham por norte o consumismo, a acumulação de bens, a exploração desordenada dos recursos naturais e a falta de respeito para com todas as formas de vida. Que possamos encampar essa compreensão nas atitudes práticas do dia a dia.

Pe. JaksonFerreira de Alencar, ssp

Editor