Carta do editor

Setembro-Outubro de 2025

Mês da Bíblia 2025:
Carta aos Romanos
"A esperança não decepciona" (Rm 5,5)

Prezadas irmãs,
prezados irmãos, graça e paz!

Em um mundo marcado por guerras, criadas por líderes insanos, insensíveis e cruéis; em um mundo de paradoxos, em que a inteligência artificial avança, ao mesmo tempo que a ignorância humana insiste em negacionismos dos mais estúpidos; em um mundo de incertezas e imprevisibilidade; em um mundo de descobertas científicas incríveis, de invenção de pílulas para quase tudo, mas em que também há mortes prematuras e idosos abandonados, gente morrendo de fome; em um mundo de crises e desilusões, a esperança muitas vezes parece ofuscada e frágil como um fio prestes a se romper, deixando o futuro em interrogações.

Se, neste mundo, até o presente é roubado de multidões desamparadas, que vivem em verdadeiro “vale de lágrimas”, assim como rezamos na salve-rainha, como ter sonhos? Como será possível vislumbrar o futuro em uma espécie de pesadelo eterno para grande parcela da humanidade?

A esperança se equilibra em corda bamba.

No entanto, o apóstolo São Paulo nos apresenta uma perspectiva radicalmente diferente: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Essa afirmação do apóstolo não é otimismo vazio, mas certeza alicerçada na fé.

Na carta aos Romanos, Paulo explora a profundidade da graça divina. No capítulo 5, especificamente, ele descreve os frutos da justificação pela fé: paz com Deus, acesso à sua graça e, sobretudo, “esperança na glória que ele promete” (Rm 5,1-2). Mesmo diante das tribulações, o apóstolo explica que os desafios produzem perseverança, caráter aprovado e, finalmente, esperança (Rm 5,3-4). Essa esperança, porém, não é mera força de vontade humana. Ela brota de uma fonte divina. Por isso, é a Esperança que não decepciona, “porque o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5,5).

A esperança cristã está enraizada no amor incondicional de Deus, demonstrado na cruz de Cristo. Enquanto a esperança mundana depende de circunstâncias, a esperança em Deus apoia-se em sua fidelidade. Ele já provou seu amor por nós em Jesus Cristo, mesmo quando éramos pecadores (Rm 5,8). Assim, a esperança que ele oferece não é uma aposta, mas se ancora na realidade do seu caráter.

Para a comunidade cristã, toda a ação de Deus vem em direção ao espaço e tempo humanos em Jesus Cristo, o único verdadeiro eschatos. Porque Jesus se encarnou na história humana, o ser humano pode encontrar a verdade sobre si mesmo. Em Cristo a teologia encontra a fonte de sua reflexão, o conteúdo e a forma de seu discurso sobre o último. Último que, ao mesmo tempo, é o primeiro; o ômega que é alfa. Ele é o futuro que advém continuamente ao presente concreto e estreito do ser humano e do universo.

De acordo com o apóstolo Paulo, quem mantém a esperança viva é o Espírito Santo. É ele o vínculo perfeito do amor de Deus. Em momentos de fraqueza ou dúvida, o Espírito testemunha em nosso interior que somos amados e guardados por Deus (Rm 8,16). Essa segurança interior transforma nossa maneira de enfrentar as crises: mesmo quando não entendemos os caminhos de Deus, confiamos que seu amor jamais falha. O apóstolo, porém, não ignora a realidade do sofrimento. Pelo contrário, ele o inclui no processo de amadurecimento da esperança. As tribulações não são obstáculos ao plano de Deus, mas ferramentas que nos levam a nos lançar inteiramente, confiantes, em suas mãos. A esperança que não decepciona não nega a dor, mas transcende-a, apontando para um futuro garantido pela ressurreição de Cristo, no já e ainda não.

Que o Senhor nos inspire a viver com coragem, sabendo que nosso presente e futuro estão seguros nas mãos dele, que venceu a morte e nos chama para uma vida plena.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor