Roteiros homiléticos

Publicado em maio-junho de 2021 - ano 62 - número 339 - pág.: 57-60

11⁰ DOMINGO DO TEMPO COMUM – 13 de junho

Por Izabel Patuzzo

Parábola da semente

I. INTRODUÇÃO GERAL

O evangelho deste domingo apresenta Jesus falando dos mistérios do Reino de Deus em parábolas. Por que Jesus fala em parábolas? Os sábios mestres de seu tempo ensinavam em linguagem parabólica. Era um modo comum, pois as parábolas eram retiradas de realidades do dia a dia, muito familiares aos ouvintes. Numa sociedade rural, falar de lançar a semente na terra era referir-se a algo de conhecimento geral. O processo de semeadura e de crescimento da semente todos conheciam; sabiam que era devagar e que, para dar frutos, eram necessários tempo e cuidado. Jesus aplica essa metáfora para falar do processo de discipulado, que exige o tempo do anúncio, a espera da adesão e a conversão, para dar frutos na comunidade.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao povo de Deus, exilado na Babilônia, que Deus permanece fiel à sua Aliança e mantém firmes as promessas feitas no passado. Apesar dos desafios enfrentados pela dispersão do povo escolhido, Israel deve permanecer fiel à sua identidade, pois nenhum lugar, nenhuma situação deve fazê-lo deixar de ser um povo que segue os preceitos divinos.

A segunda leitura nos lembra que a vida terrena é marcada pela finitude e pela transitoriedade. Portanto, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus. Paulo continua a exortar os cristãos de Corinto a meditar sobre a existência humana à luz da morte, concebida como o fim do exílio do corpo, como a destinação final de uma peregrinação pelo mundo. O corpo é comparado a uma tenda provisória, pois nossa morada definitiva é a comunhão eterna com Deus e os irmãos.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1. I leitura (Ez 17,22-24)

A primeira leitura fala do ramo de cedro que se torna arbusto, imagem apresentada sob forma de oráculo contra o rei de Judá, Joaquim, que fez aliança com o faraó do Egito, atraindo a ira do rei da Babilônia, Nabucodonosor. As alianças políticas da época trouxeram submissão, guerra, empobrecimento e sofrimentos ao povo. O rei da Babilônia passa a dominar Israel, depõe o rei Joaquim e escolhe Sedecias como novo rei. Como vassalo de Nabucodonosor, o rei de Judá é forçado a pagar pesados tributos à Babilônia. Por fim, ele leva Israel a fazer nova aliança com o Egito, na tentativa de se libertar do jugo babilônico; com isso, a Babilônia, que era politicamente mais forte, pois tinha um aparato militar mais organizado, invade Judá e deporta parte da população. É nesse contexto que Ezequiel proclama sua profecia por meio de enigmas.

A mensagem do enigma é dirigida aos exilados, que não devem ter falsas ilusões. O exílio não será breve. Contudo, Deus não abandonará Israel, nem mesmo no exílio e na dispersão. Assim, o oráculo de salvação proferido pelo profeta é a certeza de que Deus é maior que qualquer autoridade humana, por mais dominadora que possa ser. O poder dos impérios é passageiro e acaba por si mesmo. Deus é o Senhor da história e está sempre presente, não importa onde seu povo esteja. O exílio trouxe grande mudança para a concepção de Israel sobre Deus; agora lhe fica evidente o cuidado amoroso de Deus, como aquele amigo fiel que em nenhuma circunstância abandona seu povo, mas buscará novos caminhos para conduzi-lo na justiça e na liberdade.

2. II leitura (2Cor 5,6-10)

Este texto de Paulo aos coríntios toca o coração de seus leitores e ouvintes. O apóstolo recorda que estar no corpo é como estar no exílio, fazendo uma alegoria com o período histórico em que Israel se sentiu distante de Deus por estar longe da sua terra e do seu lugar sagrado. A leitura nos deixa como mensagem que a vida na terra é passageira. O tempo de exílio neste mundo se caracteriza por um conhecimento parcial de Deus; é o tempo que exige fé, enquanto ansiamos pelo tempo do encontro face a face com o Senhor.

Contudo, Paulo não tem uma visão negativa da vida neste mundo, ao contrário: enquanto aguardamos o tempo do encontro com Deus, devemos viver de maneira digna, como preparação para o final do exílio. Enquanto habitam neste mundo – o que, na linguagem do apóstolo, consiste em habitar o corpo mortal –, compete aos cristãos viver de acordo com as exigências de Deus; caminhar à luz da fé, assumindo todas as responsabilidades de discípulos comprometidos com Cristo na construção do Reino de Deus. A perspectiva da vida plena que nos espera para além desta terra deve estar sempre no horizonte de todo batizado que caminha na história iluminado pela fé na ressurreição e pelo compromisso fiel com aquele que nos chamou para ser seus discípulos.

3. Evangelho (Mc 4,26-34)

A realidade do Reino de Deus retratada por Marcos na parábola pode ser comparada com aquilo que se verifica quando um agricultor lança a semente e depois continua sua vida ordinária até a colheita. Esse pequeno exemplo da vida do camponês serve para esclarecer um aspecto da situação do ser humano perante o Reino de Deus. O ponto de confronto é sugerido pelo contraste entre o pequeno começo do germinar e a grandeza do resultado final, quando a semente se torna planta e frutifica. Esse é o trabalho do discípulo que anuncia a Boa-nova do Reino. Anunciar a Palavra é como lançar sementes, e com certeza Deus as fará frutificar. A semente tem vida própria, isto é, tem o potencial de germinar, de se tornar planta e frutificar. Igualmente o Evangelho semeado no coração das pessoas tem o potencial de tocar o coração, converter e transformar aquele que ouve em discípulo comprometido com Cristo.

A narrativa do grão de mostarda destaca que essa semente tão pequena tem um destino surpreendente, para uma planta considerada de pequeno porte. Sua pequenez lembra que o discipulado instituído por Jesus também teve um início pequeno, mas com certeza se desenvolverá de forma gigantesca e surpreendente. A Palavra semeada tem em si a força de frutificar. Por isso, os discípulos devem semear com essa esperança. Os frutos são uma realidade certa, como a da semente de mostarda, que se torna grande hortaliça.

Não é por acaso que Jesus escolhe a semente de mostarda. Essa planta tem como característica se espalhar por si mesma, uma vez semeada em um ambiente. A mostarda não precisa ser continuamente semeada ou replantada; é uma espécie de hortaliça que se multiplica continuamente por si mesma. Essa parábola mostra o contraste entre a pequenez da semente e o tamanho da árvore, entre o começo insignificante e o fim maravilhoso. Com essa pequena comparação parabólica, Jesus faz aos discípulos o convite à esperança e à confiança que o Reino de Deus, uma vez semeado, frutificará com certeza. Não obstante os humildes inícios da ação de Deus para tornar manifesta e operante sua justiça e o triunfo da liberdade na pessoa e na obra de Jesus, sua manifestação final levará toda a história humana à plena justiça e liberdade. Seu projeto de salvação acolhe a todos, como a árvore que acolhe os pássaros do céu.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

As leituras deste domingo garantem-nos que Deus tem um projeto para a humanidade, e Jesus apresenta com clareza em que consiste esse projeto de amor. Nas suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, nova realidade: lançou sementes de transformação dos corações, das mentes e das vontades, de forma que a vida das pessoas e da sociedade fosse construída segundo o desejo de Deus. As sementes que Jesus lançou não foram em vão; estão entre nós e crescem pela ação de Deus. A nós cabe acolher e deixar que Deus realize sua ação em nós. Como discípulos missionários de Jesus, temos também a missão de semear as sementes do Reino no coração das pessoas ao nosso redor.

A referência à pequenez da semente, na segunda parte do evangelho, convida-nos a rever nossos critérios de atuação no serviço à Igreja e nossa forma de olhar o mundo e os irmãos. Às vezes não damos importância ao simples, ao pequeno e às coisas que nos parecem insignificantes, nas quais Deus se revela. Ele está nos humildes, nos pobres, nos pequenos, nas crianças, nos que renunciam a esquemas de triunfalismo e ostentação; e é deles que se serve para transformar o mundo. A parábola da semente lançada na terra nos traz grandes ensinamentos, sobretudo o de não nos deixarmos levar por tentações de ostentação, orgulho, prepotência e não reconhecimento da ação divina nos pequenos acontecimentos.

Izabel Patuzzo

pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção,
em São Paulo. E-mail: [email protected]