Roteiros homiléticos

Publicado em maio-junho de 2025 - ano 66 - número 363 - pp. 40-43

18 de maio – 5º DOMINGO DA PÁSCOA

Por Pe. Francisco Cornélio*

Páscoa: o tempo das novidades de Deus

I. Introdução geral

O tempo pascal é caracterizado pelas novidades do agir de Deus na história, cujo ápice é a ressurreição de Cristo, e a liturgia deste domingo é boa demonstração disso. De fato, todas as leituras recordam grandes novidades do projeto libertador de Deus para a humanidade, seja como realidade, seja como projeto, mostrando assim que ele age sempre de maneira nova e surpreendente, mesmo quando cumpre promessas antigas. Na primeira leitura, as principais novidades apresentadas são a nova forma de organização das comunidades, com a designação de lideranças locais – os presbíteros – para manter acesa a evangelização, garantindo continuidade à missão dos apóstolos e o acesso dos pagãos à salvação, com a abertura da porta da fé também para eles. Na segunda, o próprio Deus se apresenta como artífice de novidades: ele faz novas todas as coisas. Prova disso é a nova Jerusalém que desce do céu, como imagem do mundo novo, sem dores nem males, com o estabelecimento de sua morada em meio à humanidade. No Evangelho, a grande novidade é o amor como mandamento, à maneira de Jesus, e como elemento distintivo da identidade cristã no mundo.

II. Comentários dos textos bíblicos

1. I leitura (At 14,21b-27)

A leitura relata a conclusão da primeira viagem missionária de Paulo, acompanhado de Barnabé (At 13,1-14,28). Nessa viagem, os dois missionários realizaram intensa atividade apostólica, percorrendo várias cidades e anunciando corajosamente o Evangelho, não obstante as perseguições. O resultado foi o surgimento de diversas comunidades, consolidando a expansão da Palavra em direção aos confins da terra, conforme o mandato do Ressuscitado (At 1,8). A postura dos dois missionários constitui verdadeiro paradigma para a missão da Igreja em todos os tempos.

Antes de retornar para a comunidade que os tinha enviado – Antioquia da Síria –, eles resolvem fazer nova visita às comunidades recém-fundadas (v. 21), a fim de animar e encorajar os novos discípulos a perseverar na fé, tendo em vista as tribulações pelas quais devem passar para entrar no Reino de Deus (v. 22). Trata-se de atitude muito importante, que revela o afeto e a preocupação dos apóstolos com a perseverança das comunidades. Com efeito, o Evangelho é dom que precisa ser cultivado para poder gerar frutos. Daí o cuidado dos missionários com o futuro das comunidades. Por isso, designaram presbíteros em cada comunidade (v. 23), ou seja, formaram lideranças locais para garantir a continuidade da missão. Sem dúvida, essa é uma das grandes novidades que o texto apresenta. Sem essa iniciativa, dificilmente as comunidades perseverariam na fé, pois os apóstolos não podiam permanecer para sempre numa comunidade.

Além de animar as comunidades já formadas, os missionários aproveitam a viagem de volta para continuar anunciando a Palavra (v. 24-25). Ao chegar à cidade de onde tinham partido em missão – Antioquia da Síria (v. 26) –, reuniram a comunidade para contar tudo o que Deus tinha operado por meio deles (v. 27a). Este também é detalhe de grande importância: os missionários devem ter consciência de ser instrumentos de Deus, o verdadeiro autor da missão. Logo, o êxito da missão não é resultado de méritos humanos, e sim da obediência e fidelidade aos propósitos de Deus. Ao fazer um balanço da missão, eles contam outra grande novidade: também aos pagãos Deus abriu a porta da fé (v. 27b). Desse modo, eles declaram a universalidade da salvação, comprometendo a Igreja nascente a anunciar o Evangelho a todas as pessoas, indistintamente, inundando o mundo do amor de Jesus, para torná-lo mais justo e fraterno.

2. II leitura (Ap 21,1-5a)

A segunda leitura ainda é tirada do livro do Apocalipse, precisamente da última seção narrativa (19,11-22,5), correspondente ao último conjunto de visões do profeta autor. Tendo já descrito as impressionantes lutas entre o bem e o mal, com a vitória definitiva de Deus e seu Cordeiro, fazendo uso intenso de imagens e símbolos, como é próprio do gênero literário apocalíptico, o autor dedica a parte final do livro às visões do novo céu e da nova terra, e da nova Jerusalém, como destino da humanidade e ápice da história da salvação. O trecho lido neste domingo faz parte desse contexto.

O texto começa com uma visão esplêndida: o profeta contempla um novo céu e uma nova terra (v. 1a), imagem do mundo novo. Isso significa que o mundo velho desapareceu e o mal, representado pelo mar, foi vencido (v. 1b). Trata-se de imagem bastante consoladora, capaz de infundir esperança e coragem aos destinatários que viviam um momento turbulento, devido às perseguições. Embora já fosse previsto pelos antigos profetas (Is 65,17; 66,22), o anúncio de um mundo novo é sempre uma novidade, sobretudo para quem espera por libertação, vivendo sob o jugo do mundo velho, marcado pela opressão e pela injustiça, como viviam os membros das comunidades destinatárias do Apocalipse. A sequência do texto torna a mensagem ainda mais clara e animadora, com a descrição da nova Jerusalém que desce do céu (v. 2), tornando-se a morada de Deus em meio à humanidade, estabelecendo com esta uma relação de comunhão plena (v. 3). O resultado dessa relação é a superação definitiva da morte com suas consequências: luto, choro e dor. Já não haverá sofrimento, porque o próprio Deus vai enxugar as lágrimas do seu povo (v. 4). Somente um Deus capaz de fazer novas todas as coisas pode tornar-se assim tão próximo e companheiro da humanidade (v. 5).

O mundo novo, contemplado pelo profeta, já está em construção, mesmo que os sinais ainda sejam acanhados; o ponto de partida foi a ressurreição de Jesus. A humanidade inteira é chamada a colaborar nessa construção, o que se faz assimilando e vivendo o mandamento do amor, à maneira de Jesus.

3. Evangelho (Jo 13,31-33a.34-35)

Ambientada em Jerusalém, no cenáculo, a última ceia de Jesus com seus discípulos é o episódio mais longo do Quarto Evangelho, ocupando um total de cinco capítulos (Jo 13-17). Nesse amplo espaço narrativo, o evangelista não se limita a descrever uma refeição, mas aproveita para apresentar os mais profundos ensinamentos de Jesus, com as últimas recomendações aos seus discípulos. Àquela altura, certamente, todos eles já tinham consciência de que a vida terrena do mestre estava terminando. Logo, o clima era de despedida. Jesus, porém, não permitiu que, apesar de dramático, o momento fosse dominado pela tristeza; afinal, ele tinha plena convicção da ressurreição. Por isso, quis transmitir coragem e esperança aos discípulos, por meio de longo discurso de despedida, em forma de testamento (Jo 13,31-16,33).

Inserido no contexto acima exposto, o Evangelho desta liturgia traz dois temas muito importantes: a glorificação de Jesus e de Deus nele (v. 31-32), e o novo mandamento do amor (v. 34-35), a novidade maior. Contudo, o tema da glorificação também constitui uma novidade, sobretudo pela maneira paradoxal como é apresentado. A proximidade da morte de Jesus é indicada pela saída de Judas do cenáculo (v. 31a). O próprio Jesus tem consciência disso, pois logo anuncia que é chegada a hora de ser glorificado junto com Deus (v. 31b). O fato é que, no Antigo Testamento, a glória de Deus se manifestava por meio de acontecimentos impressionantes e fenômenos da natureza, como fogo, tempestades e nuvens. Aqui, Jesus ensina que é na sua morte que ele e Deus são glorificados (v. 32); associar a morte à glória é, sem dúvida, grande novidade. Na verdade, toda a vida de Jesus foi contínua manifestação da glória de Deus, sobretudo pela sua maneira de amar sem limites. E a morte na cruz é a confirmação disso, sobretudo no Evangelho de João.

Numa surpreendente demonstração de afeto, Jesus chama seus discípulos de “filhinhos”, confirmando ser o pleno revelador de Deus, o Pai (v. 33a). Sua relação íntima com o Pai o autoriza a promulgar um mandamento completamente novo, que é a maior novidade de todo o seu ensinamento: o amor à sua maneira (v. 34). É claro que o amor – a Deus e ao próximo – já estava previsto na antiga Lei (Dt 6,4-5; Lv 19,38), mas não desse modo. Ele ordena aos seus discípulos que se amem uns aos outros, estabelecendo seu próprio amor como parâmetro (v. 34). Trata-se de grande novidade, a ponto de tornar-se o único critério de pertença ao seu discipulado (v. 35). É também grande responsabilidade, pois a vivência recíproca desse amor é que caracteriza uma comunidade como pertencente a Jesus e manifesta a presença do Ressuscitado em seu meio. Portanto, somente o amor é suficiente para alguém ser reconhecido como discípulo ou discípula de Jesus.

III. Pistas para reflexão

Explicar bem as leituras, de maneira contextualizada e atualizada; com base nelas, recordar que o agir de Deus é sempre surpreendente, marcado por novidades. Mostrar que, mais do que um evento, a Páscoa é tempo propício para descobrir coisas novas e ressignificar coisas antigas. Agradecer a Deus pela vida das pessoas que exercem liderança nas comunidades e motivar todos a empenhar-se na vivência do mandamento do amor, assim contribuindo para a construção de um mundo melhor, mais humanizado, solidário e fraterno.

Pe. Francisco Cornélio*

*é presbítero da diocese de Mossoró-RN. Possui mestrado em Teologia Bíblica pela Pontificia Università San Tommaso D’Aquino – Angelicum (Roma). É licenciado em Filosofia pelo Instituto Salesiano de Filosofia – Insaf (Recife) e bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Salvador-BA. É professor de Teologia no Centro Universitário UniCatólica do RN. [email protected]