Carta do editor

janeiro-fevereiro de 2017

O diálogo como superação de conflitos e construção da paz

Prezados irmãos e irmãs,

Graça e Paz!

Um importante cientista da comunicação, o pensador alemão Harry Pross, disse certa vez que “toda comunicação começa no corpo e nele termina”. De fato, por mais que na atualidade se exalte o poder da tecnologia e se repita à exaustão que vivemos a melhor fase da história, no que se refere aos aparatos técnicos, por vezes nos esquecemos do fundamental: o corpo, com tudo o que ele tem de belo, de poder e também de fragilidade. A técnica deve estar a serviço do corpo, e não o corpo a serviço da técnica. Se a tecnologia não humaniza, ela não serve para nada. O corpo é insubstituível.

Acreditou-se que, com o avanço da tecnologia dos meios de comunicação, o mundo se tornaria uma aldeia. Todas as distâncias seriam encurtadas e a humanidade ficaria conectada. Ledo engano. Basta um pequeno olhar para a realidade e verificaremos verdadeira torre de Babel.

Não se trata de entrar no coral dos apocalípticos. De jeito nenhum. É o contrário. Nosso ideal é a integração. Mas é fato: o mundo está ruidoso demais. Ruídos de todas as espécies. O mais grave, no nosso caso, é quando os ruídos se referem ao desentendimento entre as religiões. As religiões, por obrigação, deveriam ser as primeiras a dar exemplo de concórdia. Aliás, a palavra concórdia, em sua origem, quer dizer “união dos corações”. E religião significa “unir-se de novo”, ou “ligar”, “unir”. União renovada em Deus. As religiões, fundamentalmente, trabalham para que, não obstante as diferenças e as pluralidades das formas de contato com o sagrado, o respeito e o diálogo prevaleçam. Os corações humanos precisam se entrelaçar. Quem devota o pensamento ao divino, pressupõe-se que tenha antes no coração sentimentos de humanização.

Referindo-se à religião cristã, quem primeiro dá o exemplo de comunicação sem ruídos é o próprio Deus. Por amor à humanidade, ele vem habitar no mundo. Não como ser extraterrestre, mas em tudo semelhante a nós, menos no pecado. Deus tem nossa cara, nosso sangue (cf. Hb 2,14-18). “E a palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Trata-se de um Deus presente. Não fica nas alturas contemplando os seus. Ele desce e experimenta na carne, no corpo, os mesmos dramas da criação.

É maravilhoso saber que Deus se fez corpo não porque precisasse, mas por amor incondicional, sem cálculos nem cobranças. “Esvaziou-se a si mesmo e tomou a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,7). Quem ama de verdade toma a iniciativa de quebrar o silêncio, a indiferença, e criar vínculos. Fazendo assim, Deus quis manter uma comunicação perfeita com a humanidade.

Esta edição de Vida Pastoral quer ser um contributo para as comunidades, com o objetivo de fazer perceber que há mais convergências do que divergências entre as mais variadas formas de contato com o sagrado. Há um caminho feito e iniciativas valiosas que precisam se consolidar sempre mais na perspectiva do diálogo inter-religioso, do entendimento, do respeito. Cremos que um dia todos participaremos do mesmo banquete, à mesma mesa, ao lado do único e supremo Criador. Enquanto peregrinamos neste mundo, é missão de todos nós amar-nos uns aos outros, respeitando as diferenças. Em cada ser humano mora o divino. “Vocês não sabem que são templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vocês?” (1Cor 3,16). Humanizando nossas relações, realizamos o sonho de Deus, que espera de nós convivência fraterna. Não há quem derrote o amor. Jesus provou isso. Precisamos fazer o mesmo, todo dia.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor.