Carta do editor

Janeiro – Fevereiro de 2018

Temas sociais: a questão da violência

O rosto da violência se nos apresenta de várias formas todos os dias. Está estampado na página do jornal, na tela fria da TV e dos computadores, e nos celulares em nossas mãos. Mas não é somente uma realidade ao alcance dos olhos, como uma imagem ou esfinge que nos quer devorar. A violência toca a nossa própria pele.

Toca a pele das crianças inocentes e indefesas, desde a violência física àquela que fere a alma, causando traumas indeléveis. Toca a pele dos adolescentes e jovens, que na fase dos sonhos, das descobertas, muitas vezes são expostos e submetidos exaustivamente à violência do consumismo, o qual incute em suas mentes a ideia de vencer na vida, nem que para isso tenham de passar por cima dos outros. Se, por um lado, o sistema econômico incita tal comportamento, por outro, priva-os do acesso à cultura, às oportunidades e ao direito de sonhar. Toca a pele dos idosos que, cansados com o peso dos anos, veem a doença e a morte subtrair-lhes o tempo para o repouso merecido. Violência terrível é aquela praticada pelo governo, quando rouba dos idosos o direito à aposentadoria no tempo certo. Aumentar o tempo de contribuição previdenciária dos trabalhadores pobres é uma forma de morte lenta. Cabe à comunidade cristã descobrir nos rostos sofredores de hoje o rosto do Senhor (Mt 25,31-46).

A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a superar a violência. O modelo para essa superação é o próprio Jesus. Um dia ele disse aos seus discípulos: “Eis que envio vocês como
ovelhas no meio de lobos. Por isso, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16). A postura dos seguidores de Jesus deve estar permeada de coragem e ternura. As injustiças do mundo devem ser combatidas não com armas, mas com o amor que emanado evangelho.

O amor que emana do evangelho não compactua com o ódio disseminado contra os pobres, os moradores de rua, os migrantes, os negros, os indígenas, os encarcerados, os trabalhadores sem-terra, sem-teto, as mulheres e os homens marginalizados por causa de sua religião, cor ou orientação sexual. O amor que emana do evangelho é o amor que jorra do coração de Jesus, que se derrama por todos. Até pelos seus algozes.

Na cena dramática de sua condenação (Mt 27), comportou-se com mansidão, porque tinha consciência de que o seu reino não é deste mundo (Jo 18,36), isto é, do mundo que se rege pelo ódio. A cruz foi seu triunfo. Não porque ele corresse de forma gratuita para a morte, mas porque denunciou, com palavras e gestos, a violência dos malvados. Jesus nunca se acovardou perante as injustiças e o mal perpetrados pelos sistemas violentos.

Não cabe aos seguidores de Jesus erguer a bandeira do ódio. Aos cristãos cabe o amor incondicional. Não é fácil. Mas é possível. O que o cristão não deve fazer é achar que pode se defender com as mesmas armas do inimigo. Jesus não se utilizou de armas. E quando um dos seus discípulos, naquele dia tenso e triste em que foi preso, querendo proteger o mestre, fez uso de armas, Jesus ordenou: “Guarda a espada no seu lugar. Porque todos os que usam da espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52). Jesus venceu os malvados com amor.

Nesse propósito, a exortação de Paulo apóstolo é fundamental: “Vocês não sabem que são templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vocês?” (1Cor 3,16). Quando ferimos o irmão, estamos ferindo o próprio Deus. O Senhor nos ajude a superar a violência neste tempo sombrio pelo qual o mundo passa. Boa leitura e feliz missão.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor