Roteiros homiléticos

12 de julho – 15º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj

Chamados e enviados para proclamar a conversão 

I. Introdução geral

Deus, com absoluta liberdade, chama todos e cada um em particular. Isso significa que ele não faz acepção de pessoas, mas todos são vocacionados à filiação divina, suprema vocação humana, embora haja distintas missões, conforme os desígnios de Deus. Para o exercício do anúncio do evangelho, algumas coisas são exigidas dos enviados e dos destinatários. Dos primeiros se exige que renunciem aos interesses egoístas e se dediquem com afinco à proclamação do reino, mesmo que o missionário se torne malquisto ou rejeitado. Exemplo disso é Amós, que não falou palavras agradáveis e não buscou os próprios interesses. Dos destinatários da missão se requer a acolhida ao missionário como enviado de Deus e a docilidade à palavra divina por ele proclamada.

II. Comentário dos textos bíblicos

  1. Evangelho (Mc 6,7-13): Chamou os Doze e os enviou dois a dois

Esse trecho do Evangelho de Marcos nos insere no âmago da vocação da Igreja, que é ser missionária.

A comunidade, representada pelos Doze, é formada pelos discípulos seguidores de Jesus, que participam da vida e missão de seu mestre. São seguidores porque foram convocados por Jesus para segui-lo e a ele responderam afirmativamente. Isso significa que a vocação cristã não se fundamenta em méritos pessoais, mas unicamente no amor e na gratuidade de Deus, por meio de Jesus, e no consentimento humano.

Uma vez chamados, os discípulos são enviados a serviço da transformação deste mundo em um reino de fraternidade e paz. Jesus os envia com o mesmo poder e autoridade porque o discípulo participa da missão do Mestre, assumindo seu estilo de vida e seu destino. Esse poder e autoridade estão a serviço do anúncio do reino, não são para benefício próprio. O poder sobre os espíritos impuros ou sobre enfermidades significa que o reino de Deus se expande enquanto o reino da morte e do pecado cede espaço. Não há nenhum poder mágico, mas a ação de Deus que destrói o poder das trevas quando a luz de Cristo é levada aos povos.

O envio de dois em dois é muito importante, por causa do apoio mútuo e da deliberação a respeito da melhor forma de evangelizar em cada local, ressaltando assim o sentido da vida em comunidade. Isso também mostra que os discípulos estavam de acordo a respeito do conteúdo da mensagem, o que evitava possíveis desconfianças nos ouvintes, pois naquela época havia muitos charlatães prometendo felicidade em troca de benefícios.

A missão dos Doze exige empenho, que se traduz principalmente em despojamento: não lhes é permitido levar nada do que geralmente se levava numa viagem, para que a provisão viesse de quem os acolhesse. Não se preocupando em levar pão, não cobravam nada para poder comprá-lo. Apenas sandálias foram permitidas, porque teriam longo caminho a trilhar. Além das sandálias, um só bastão para se defender das feras. Por conta da urgência do anúncio, não deviam perder tempo com quem rejeitasse a mensagem. Dessa forma, o anúncio chegaria com rapidez e eficácia àqueles que o acolhessem com fé.

  1. I leitura (Am 7,12-15): Vai, profetiza para meu povo

Na primeira leitura, o sacerdote Amasias pensa que o profeta Amós usa a religião para ganhar dinheiro. O sacerdote se sente incomodado com as profecias de Amós e tenta persuadi-lo a ir embora, aconselhando-o a ganhar dinheiro em outro lugar, pois ali é Betel, santuário real, e as críticas do profeta não são nada agradáveis ao rei. Amós informa que não pertence a nenhum grupo de “profetas”, como eram chamados os conselheiros dos reis. Ele não usa a religião para ganhar dinheiro, mas tem sua própria profissão.

Amós não profetizava por decisão pessoal, ele apenas correspondeu ao chamado de Deus. Não deu a si mesmo essa tarefa e, aliás, ela não era nada lucrativa para ele; ao contrário, ao criticar o rei, o profeta poderia receber grandes represálias. O que Amós estava fazendo nada mais era que obedecendo a uma ordem de Deus, que o chamou e o enviou a profetizar para que Israel voltasse ao caminho que os antepassados haviam percorrido com o Senhor durante toda a história da salvação. A mensagem podia até não ser agradável, mas visava ao arrependimento e à conversão.

  1. II leitura (Ef 1,3-14): Em Cristo Deus nos chamou a ser seus filhos

A segunda leitura de hoje nos apresenta a vocação humana, ou seja, o plano divino da salvação para os seres humanos: abençoados em Cristo, escolhidos nele antes da criação do mundo e designados para serem filhos de Deus. Esse grandioso desígnio de salvação se realiza mediante Cristo na oferta de sua própria vida, que nos redime do pecado e nos confere a sua graça. Mas isso não excluiu a colaboração humana; ao contrário, exige fé e empenho pessoal para viver em santidade. Além disso, essa sublime vocação humana demanda o anúncio da “palavra da verdade”, isto é, o “evangelho da salvação”.

III. Pistas para reflexão

- Os vocacionados à missão recebem a instrução de nada levar na viagem a não ser o estritamente necessário, pois Deus cuidará do sustento deles por meio da hospitalidade oferecida aonde forem. A hospitalidade era um costume e até mesmo uma lei universal na sociedade antiga. Lendas folclóricas asseguravam que os deuses se disfarçavam de seres humanos para testar a hospitalidade das pessoas e, caso não fossem acolhidos, podiam-se esperar severos castigos. A sociedade moderna não oferece as mesmas condições e os mesmos costumes da sociedade antiga, contudo permanece a orientação de Jesus a respeito do desprendimento que cada vocacionado deve ter.

- É bom ressaltar o exemplo de Amós, que tinha liberdade para dizer o que Deus lhe ordenava, pois, se não dependia da religião para o próprio sustento, não sentia a imposição de dizer somente as palavras que agradassem aos ouvintes. Também Paulo é exemplo de abandono nas mãos de Deus.

- Pode-se enfocar o exemplo do apóstolo Paulo, que reconhecia as próprias fraquezas e limitações, consciente de que a missão só podia ser levada a termo porque Deus o fortalecia e o capacitava.

- Deve-se destacar também o papel da comunidade no êxito da missão. A hospitalidade dada aos missionários na Antiguidade pode ser atualizada na sociedade moderna em diversos atos que promovam o desenvolvimento da missão.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected]