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Publicado em número 366 - pp. 22-33

PAPA FRANCISCO E O DESTAQUE DA MULHER NA LIDERANÇA DA IGREJA

Por Ir. Dra. M. Neusa Santos, ciic*

O texto aborda as mudanças promovidas pelo papa Francisco para permitir maior participação das mulheres nos ministérios da Igreja, destacando a importância de superar barreiras culturais e tradições arraigadas. Além disso, enfatiza a necessidade contínua de desafiar obstáculos persistentes e promover uma liderança feminina mais equitativa na Igreja Católica.

 

Introdução

Em uma série de pronunciamentos, o papa Francisco tem enfatizado, de maneira contundente, a importância vital da presença da mulher na Igreja e na sociedade. Suas palavras ecoam não só como uma declaração de fé, mas também como um apelo urgente à compreensão de que, sem a presença feminina, a harmonia no mundo estaria comprometida. “Sem a mulher, não há harmonia no mundo”, afirmou o papa Francisco em uma de suas homilias na missa na capela da Casa Santa Marta, em 9 de fevereiro de 2017. Essa declaração possui um profundo significado, ressaltando a contribuição única e indispensável das mulheres na construção de um mundo mais sinodal, pautado pela colaboração, escuta mútua e participação ativa de todos na construção de um futuro comum.

O papa prosseguiu, ressaltando que a mulher é a guardiã da harmonia, pois desempenha um papel fundamental na promoção do equilíbrio e na construção de relacionamentos saudáveis. “Quando não há mulher, falta a harmonia”, afirmou. Segundo ele, a sociedade precisa superar estereótipos ultrapassados e reconhecer que a mulher não é destinada apenas a papéis tradicionalmente atribuídos, mas, sim, a ser a catalisadora da harmonia de que tanto se necessita.

1. A importância da presença feminina na igreja

A perspectiva do papa Francisco vai além de uma visão limitada e estereotipada sobre o papel da mulher. Ele destaca que a mulher não deve ser simplesmente encarregada de tarefas domésticas, pois é a portadora da capacidade única de trazer harmonia e alegria ao mundo. Suas palavras desafiam preconceitos arraigados e convidam a sociedade a reconhecer e valorizar a contribuição única das mulheres em todos os setores da vida.

Em um mundo que, cada vez mais, busca a equidade e o reconhecimento da diversidade, as palavras do papa Francisco ecoam como um chamado à reflexão sobre a importância da presença feminina na Igreja. Por trás do desejo e do imperativo de maior presença e participação das mulheres na Igreja, não existe uma ambição de poder ou um sentimento de inferioridade, nem uma procura egocêntrica de reconhecimento, mas sim um clamor para viver em fidelidade ao plano de Deus, que preconiza ao povo, com quem ele fez um pacto, que todos sejam reconhecidos como irmãos e irmãs. Trata-se de um direito à participação e igual corresponsabilidade no discernimento e na tomada de decisões; fundamentalmente, é um desejo de viver de forma consciente e coerente com a dignidade comum dada a todas e todos pelo batismo.

O papa ressalta que a exploração da mulher é um crime que vai além da injustiça social, atingindo a própria essência da harmonia divinamente desejada para o mundo. “Explorar as pessoas é um crime de lesa-humanidade, é verdade, mas explorar uma mulher é mais do que isso: significa destruir a harmonia que Deus quis proporcionar ao mundo. […] é uma destruição”, enfatizou (Francisco, 2017). Assim, as palavras do papa Francisco, além de reconhecerem a importância da mulher na Igreja, convocam a uma transformação de mentalidade em toda a sociedade. A construção de relações horizontais e fraternas requer uma profunda reflexão sobre como vivenciamos a igualdade entre homens e mulheres na Igreja.

Ao observarmos atentamente a trajetória histórica da presença feminina na Igreja, é inegável a percepção de um constante fluxo de transformações ao longo das diversas épocas. Esse dinamismo, impulsionado pelo Espírito que renova todas as coisas, tem sido um agente de mudança fundamental, desafiando as estruturas estabelecidas e convocando as mulheres a desempenhar papéis mais significativos e autênticos. Indiscutivelmente, estamos imersas em um processo de emancipação e libertação, rompendo as correntes de um patriarcado que nos confinou a uma posição de submissão. Nesse despertar, reconhecemos o nosso direito de desbravar fronteiras e construir nosso caminho com fios que renovem a experiência de liderança na esfera eclesiástica. No entanto, essa jornada não é isenta de desafios, especialmente quando confrontamos certezas arraigadas que nos mantêm condicionadas, minando nossa capacidade de enxergar, ouvir, discernir e decidir a partir de perspectivas diversas.

A resistência à mudança, muitas vezes enraizada em tradições milenares, não pode ser subestimada. O desafio está em desconstruir não apenas as estruturas externas, mas também as mentalidades arraigadas que perpetuam a subalternidade feminina. Este é um chamado para questionar os paradigmas culturais e religiosos que, por séculos, delinearam as posições e funções das mulheres na Igreja. Este apelo do papa representa a necessidade de derrubar barreiras, sejam elas físicas ou simbólicas, e construir pontes que conectem corações e mentes. Ele nos convida à “Fraternidade Universal”, expressão que nos impulsiona a enxergar além das diferenças, abraçar a diversidade e cultivar um sentido profundo de pertencimento global. Dentro desse chamado, sentimos a urgência de superar divisões que alimentam desigualdades, substituindo-as por uma cultura de respeito, compreensão e solidariedade. É uma convocação para criar um mundo onde cada indivíduo seja valorizado, a aceitação triunfe sobre o preconceito e a comunhão seja a essência das interações humanas, especialmente nas relações entre homens e mulheres.

A urgência de adotar novos paradigmas torna-se evidente não só para a promoção da igualdade de gênero, mas também para uma vivência mais autêntica da fé. A diversidade de vozes femininas na Igreja pode oferecer uma riqueza de perspectivas, contribuindo para uma compreensão mais abrangente e inclusiva da mensagem cristã. O Espírito que renova todas as coisas clama por uma Igreja que reflita a plenitude da humanidade, sem restringir as contribuições com base no gênero. Assumir esse desafio implica a desconstrução de estruturas opressivas e a construção de pontes para um diálogo frutífero entre tradição e renovação. O dinamismo do Espírito não nos chama para rejeitar o passado, mas para reinterpretá-lo à luz de uma compreensão mais profunda da dignidade e vocação das mulheres na Igreja.

No cenário atual de nossa história, a permanência nos papéis de liderança na Igreja e na sociedade representa um convite à coragem, à quebra de correntes antigas e à construção de um futuro em que as mulheres possam florescer plenamente. Este é um apelo a todas as mulheres que ousam sonhar com uma Igreja verdadeiramente igualitária, onde todos somos irmãs e irmãos, onde todos são chamados a caminhar lado a lado, independentemente do gênero, em busca da verdade e da santidade.

2. O ano de 2025 começa com um marco histórico: irmã simona brambilla assume a liderança de um dicastério no vaticano

O início de 2025 trouxe uma notícia que marca um momento singular para a Igreja Católica: a nomeação de irmã Simona Brambilla como a primeira mulher prefeita de um dicastério no Vaticano. No dia 6 de janeiro, festa da Epifania do Senhor, o papa Francisco confiou à religiosa das Missionárias da Consolata a liderança do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. A escolha dessa data não foi apenas uma coincidência, mas um sinal eloquente do caminho que a Igreja está trilhando: assim como os Magos ofereceram seus presentes ao Menino Jesus, a nomeação de irmã Simona é um reconhecimento dos dons indispensáveis que as mulheres oferecem à vida e à missão eclesial.

A vida consagrada feminina ocupa um papel central na Igreja, com o número de congregações femininas superando amplamente o de masculinas em todo o mundo. Durante séculos, as religiosas têm sustentado obras de caridade, educação, saúde e missão, muitas vezes em situações de grande adversidade. Nomear uma mulher para liderar o dicastério que supervisiona essa dimensão vital da Igreja é um gesto profético que reflete o desejo do papa Francisco por uma governança mais inclusiva e representativa. Irmã Simona Brambilla traz consigo uma trajetória marcada pela liderança, pelo discernimento e pelo serviço, tendo atuado anteriormente como secretária do mesmo dicastério que agora lidera. Sua presença nesse papel não é apenas um marco histórico, mas também um convite a toda a Igreja para refletir sobre a sinodalidade e a colaboração como caminhos essenciais para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

O simbolismo dessa nomeação, feita no dia dos Reis, também nos leva a pensar na universalidade e na diversidade que o Evangelho celebra. Assim como os Magos vindos de diferentes partes do mundo reconheceram o Cristo como Rei, a liderança de irmã Simona reafirma que os dons das mulheres são essenciais para a Igreja em todos os seus níveis. Francisco, ao tomar essa decisão, recorda que a presença feminina em posições de destaque não é uma concessão, mas uma expressão de justiça e fidelidade ao Evangelho.

A nomeação de uma mulher para um dos mais altos cargos do Vaticano ecoa como um sinal de esperança e renovação. Em um contexto global de mudanças aceleradas, a vida consagrada enfrenta desafios profundos, desde a diminuição de vocações até a necessidade de adaptação a novas realidades culturais e pastorais. Este gesto do papa Francisco também é uma oportunidade para repensar a liderança na Igreja.

 A liderança na Igreja não se fundamenta no poder ou no prestígio, mas no serviço, na escuta atenta e no compromisso com os mais necessitados. Ao confiar essa missão a irmã Simona, o papa Francisco reforça que a sensibilidade e a sabedoria das mulheres são fundamentais para enriquecer a missão eclesial. Este marco histórico deve ser acolhido como um presente que ilumina novos caminhos para o futuro. Assim como a estrela guiou os Magos ao encontro do Menino Deus, a presença de irmã Simona à frente de um dicastério simboliza a disposição da Igreja de avançar com coragem e abertura.

3. A ascensão das mulheres em posições de liderança e decisão: do brasil ao vaticano

Em uma perspectiva global, o papa Francisco, fundamentado no princípio do batismo, tem incentivado uma participação mais significativa das mulheres nas esferas de responsabilidade dentro da Igreja. Ele tem enfatizado que muitas mulheres, movidas pelo Espírito Santo, sustentam a Igreja em diversos pontos do mundo, demonstrando uma dedicação notável e espírito missionário e profético. Por meio da Carta Apostólica Spiritus Domini, o papa ampliou as oportunidades para que as mulheres possam acessar os ministérios de leitorato e acolitato. Além disso, em janeiro de 2021, o papa nomeou duas religiosas brasileiras, irmã Maria Inês Vieira Ribeiro e irmã Márian Ambrósio, como consultoras na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, um gesto que reflete a proximidade da Igreja com os diferentes espaços geográficos e a diversidade presente em sua missão universal.

Na Santa Sé, diversas mulheres ocupam cargos de destaque, incluindo cinco subsecretárias e uma secretária, refletindo uma significativa mudança na composição da hierarquia da Cúria romana. A nomeação histórica de Alessandra Smerilli, em 2021, como secretária no Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, e de irmã Raffaella Petrini, como secretária-geral do Corpo Governante do Vaticano, evidencia esse avanço. Petrini, de 52 anos, é a primeira mulher a ocupar essa posição, considerada a “número 2” do Vaticano. As Comissões Pontifícias também têm contribuído para essa transformação, com as nomeações de Nuria Calduch-Benages e Emilce Cuda como secretárias, em 2021 e 2022, respectivamente. Nos últimos dez anos, o papa Francisco tem impulsionado mudanças na representação feminina no Vaticano, nomeando mulheres para cargos de destaque, como a brasileira Cristiane Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, e a irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos.

A Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, promulgada em 2022, marcou um momento significativo na trajetória da Igreja Católica ao abrir as portas para a maior participação de leigos, incluindo mulheres, em cargos de direção nos dicastérios. Esse passo importante reflete o compromisso do papa em promover a igualdade de gênero e reconhecer o papel fundamental das mulheres na condução dos destinos da Igreja. No entanto, mesmo diante dos avanços notáveis, é imperativo reconhecer que há um longo e contínuo caminho a ser percorrido para que as mulheres assumam plenamente seu lugar de fala e influência nos âmbitos eclesiais em todo o mundo. Não basta apenas abrir portas; é necessário proporcionar condições para que essas mulheres não ocupem só cargos de servas, mas também se tornem construtoras ativas e fundamentais das ideias que moldam as decisões eclesiais.

É essencial que a abertura inicial proporcionada pela Praedicate Evangelium seja acompanhada por medidas práticas e políticas que garantam a efetiva participação das mulheres em todos os níveis da estrutura eclesial.
Isso implica dar espaço e assegurar que as vozes femininas sejam ouvidas e respeitadas, contribuindo assim para a construção de uma Igreja mais inclusiva e compassiva. Além disso, é necessário desafiar as normas culturais e as tradições que, por vezes, têm limitado o papel das mulheres em vários espaços eclesiais. A promoção da igualdade de gênero não é apenas uma questão de política interna da Igreja, mas também uma oportunidade de testemunhar os valores universais de justiça, igualdade e dignidade humana.

Nesse processo de transformação, é importante que as lideranças eclesiais estejam abertas ao diálogo e à reflexão contínua sobre as maneiras de fortalecer e aprimorar a inclusão de mulheres. Somente através do respeito mútuo e da colaboração, a Igreja poderá, verdadeiramente, avançar em direção a uma comunidade que reflete a diversidade e a riqueza de suas próprias crenças.

4. Transformações no vaticano e na crb: o papel das mulheres em posições de liderança

No Brasil, a história da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), fundada em 1954, é uma narrativa que ecoa transformações profundas em relação à figura feminina no espaço de decisões. Ao percorrer seus 47 anos de existência sob a direção exclusiva de homens, a conferência testemunhou uma evolução notável em 2001, ao eleger sua primeira presidente, marcando, assim, um momento de mudança em sua trajetória.

A escolha de uma mulher para liderar a conferência não foi apenas um ato simbólico; foi um rompimento audacioso com uma tradição que, durante décadas, foi caracterizada por uma liderança predominantemente masculina. Essa eleição, além de representar uma mudança de protagonistas, é uma afirmação clara de que as vozes e as perspectivas femininas são relevantes e essenciais para a condução dos destinos da conferência. O ano de 2001 tornou-se um marco significativo para a Conferência dos Religiosos do Brasil e para todo o cenário religioso e social do país, sobretudo as congregações religiosas que fazem parte dessa histórica instituição. A ascensão de uma mulher à presidência foi uma conquista individual e também um sinal de que as estruturas tradicionais estavam sendo desafiadas e redefinidas para incorporar a diversidade de talentos e lideranças.

A eleição da primeira presidente não foi isenta de desafios. Certamente, enfrentou resistências arraigadas em normas e preconceitos de longa data. Contudo, o simples ato de escolher uma mulher para liderar destacou a necessidade urgente de questionar e superar barreiras de gênero dentro das instituições religiosas. Além do aspecto de gênero, a eleição trouxe consigo uma nova perspectiva, uma abordagem única que incorporava experiências e sensibilidades muitas vezes ausentes nas lideranças anteriores. Essa diversidade de visões enriqueceu as discussões e decisões da conferência e também ajudou a criar uma atmosfera mais inclusiva, em que as vozes outrora silenciadas encontraram espaço para ressoar. Contudo, é necessário reconhecer que, apesar desse marco importante, ainda há um longo caminho a percorrer. A conquista de uma presidência feminina não deve ser vista como um fim em si mesmo, mas como um ponto de partida para uma contínua reflexão e ação em prol da igualdade de gênero em todas as esferas da vida religiosa.

O panorama atual da Conferência dos Religiosos do Brasil reflete uma transformação significativa, evidenciando um progresso notável na promoção da igualdade de gênero e na valorização da liderança feminina. A presença predominante de religiosas em cargos de presidência e de assessorias executivas e nas coordenações regionais desafia estereótipos enraizados e constitui um passo importante em direção a uma representação mais equitativa nas tomadas de decisão. Ao observar os cargos de assessorias executivas, percebemos que não se trata apenas de uma mudança na presidência, mas de uma transformação mais ampla na estrutura de poder. O progresso notável está em desafiar a concepção tradicional de quem deve ocupar essas posições de influência, proporcionando assim uma representação mais diversificada e inclusiva.

No entanto, é fundamental perceber que, mesmo diante desses avanços, a caminhada rumo à igualdade de gênero na CRB e em outras instituições da Igreja está longe de ser concluída. A aceitação crescente da liderança feminina deve ser acompanhada por esforços contínuos para superar obstáculos persistentes, desafiando normas culturais e estruturas arraigadas que, por muito tempo, limitaram o papel das mulheres na tomada de decisões. No entanto, apesar dos progressos notáveis, ainda há desafios a serem enfrentados para garantir uma representação mais completa e inclusiva. O caminho rumo à liderança feminina na Igreja está em constante evolução, e a experiência da Conferência dos Religiosos do Brasil serve como um exemplo encorajador desse movimento. A presença significativa de mulheres em cargos de liderança é um testemunho do potencial e da diversidade que a liderança feminina traz para a Igreja, promovendo uma visão mais abrangente e equitativa do serviço religioso.

Pensem em uma Igreja sem as consagradas! Não se pode pensar: elas são esse dom, esse fermento que leva adiante o povo de Deus. São grandes estas mulheres que consagram a sua vida a Deus, que levam adiante a mensagem de Jesus (Francisco, 2014).

Essa citação do papa Francisco, proferida durante a festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo e o dia da Vida Consagrada, na praça São Pedro, no Vaticano, em 2 de fevereiro de 2014, ressoa como um reconhecimento eloquente da contribuição vital das religiosas na Igreja. Ao afirmar que não se pode pensar em uma Igreja sem as irmãs, o papa destaca a presença e a essência do papel desempenhado por essas mulheres na comunidade eclesiástica. A proposição de considerar uma Igreja desprovida das irmãs como algo impensável enfatiza a singularidade e a inestimável contribuição que elas oferecem. Assim, as palavras do papa Francisco nos convidam a reconhecer e contemplar a riqueza da Vida Consagrada na Igreja, especialmente por meio da presença e dedicação das irmãs. O papa afirma que elas são o fermento que impulsiona o povo de Deus adiante, mantendo viva a mensagem de Jesus nos dias atuais, e que sua importância na tessitura espiritual da comunidade cristã é indiscutível. O potencial feminino tem uma extraordinária riqueza implícita: a capacidade de trabalhar em cooperação com base na experiência de sentir-pensar; a flexibilidade para procurar alternativas onde abunda o caos; a empatia e a capacidade de comunicação para gerar relações e laços na vida cotidiana; a disposição de colaborar de forma solidária, de tecer redes e gerar sinergias; a abertura para procurar respostas e novos canais de solução; a resiliência para resistir em meio a situações difíceis; a alegria para promover e prolongar a celebração.

Conclusão

A diversidade de talentos, habilidades e perspectivas que as mulheres trazem para a Igreja enriquece a comunidade cristã de maneiras inimagináveis. O papa nos convida a refletir sobre como a ausência desse elemento crucial impactaria a dinâmica espiritual e a missão da Igreja. Em alusão à narrativa bíblica de Mc 16,1-8, que descreve a ressurreição de Jesus, neste momento sinodal, como mulheres, nesta hora sinodal da Igreja, somos chamadas a despertar para o desdobramento de dons e possibilidades que surgem quando a noite é quebrada, quando as pedras que aprisionam a vida são removidas, quando o Espírito é autorizado a habitar, a espalhar a paz e a vestir-se de força e esperança, de tal forma que se possa contribuir para a tão necessária reforma da Igreja. As Mulheres do Amanhecer são aquelas da mais radical ousadia, que sustentam a esperança agarradas à promessa, que caminham pela noite e, em estado de missão, abrem brechas para o Espírito, para que ele possa entrar e fertilizar tudo.

“As mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade atual. Às vezes, somos demasiado machistas e não deixamos espaço à mulher. Mas a mulher sabe ver as coisas com olhos diferentes dos homens” (Francisco, 2015).  Essa afirmação do papa Francisco, proferida em 18 de janeiro de 2015, durante um encontro com jovens na Universidade de São Tomás, em Manila, nas Filipinas, traz à tona uma reflexão profunda sobre o papel das mulheres na sociedade contemporânea. Suas palavras ressoam como um chamado à conscientização e à transformação, destacando a importância de ouvir atentamente as vozes femininas e reconhecer a singularidade de sua perspectiva.

Referências bibliográficas

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Ir. Dra. M. Neusa Santos, ciic*

*jornalista, doutora em Comunicação e Semiótica e mestra em Comunicação e Práticas de Consumo. MBA em Gestão Estratégica de Marketing. Atua como assessora de comunicação da Conferência dos Religiosos do Brasil e integra a Comissão de Comunicação e Cultura Digital da Confederação Latino-Americana de Religiosos (Clar). Redatora da Revista Convergência. Membro da Comissão de Comunicação da COP 30 e da Comissão do Ano Vocacional da CNBB em 2026. Diretora dos Cursos de Comunicação e Mídias Digitais da CRB Nacional e professora de Comunicação nos cursos de Comunicação da Clar pela plataforma ComuniClar. Coautora dos livros Comunicar para humanizar e Éticas em redes, comunicação e jornalismo: conceitos e tendências.