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Publicado em março-abril de 2010 - ano 51 - número 271 - (pp. 26-30)

A fé cristã diante da realidade econômica atual

Por Fernando Altemeyer Junior

Atravessamos profunda crise de civilização, que exige uma análise acurada dos fundamentos antropológicos da modernidade e a crítica da modernidade e da economia, para que não sejamos corroídos pela indiferença, cooptados pelo sistema ou neguemos a novidade do evangelho de Jesus Cristo. Apesar da crítica audaz dos profetas e das Igrejas, muitos ainda consideram a economia como um terreno de alienígenas ou especialistas. As Igrejas não deveriam tocar no econômico, pois este seria o reino de César. Os cristãos não teriam competência técnica ou instrumental para dizer uma palavra sobre os fundamentos econômicos e o modo de produzir a vida. Teólogos deveriam cuidar só do espírito e das almas. Empresários, do lucro e do capital. Trabalhadores, de seu trabalho e horas extras. Governos e empresas, da matéria bruta, dos royalties, das bolsas de valores, das mercadorias, dos contratos e das onipotentes leis do mercado. Os novos pobres deveriam restringir-se ao cuidado resignado das misérias a que foram submetidos! Seria isso verdade? A fé não teria vocabulário próprio para falar do pão, da terra, de propriedade e do trabalho e suor dignos? A fé não poderia julgar o reinado do dinheiro? A fé não pode pedir justiça como clamor divino? A fé não pode clamar por amor e caridade no interior do núcleo duro do econômico? Seria herética a fala de Mahatma Gandhi? Teria errado ao afirmar que “o teste da verdadeira organização de um país não é o número de milionários que possui, mas a ausência de fome em sua população”?

O texto-base da Campanha da Fraternidade de 2010, economia e vida, resolve a falsa dicotomia, ao afirmar que o objetivo concreto das Igrejas cristãs no Brasil é:

Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão. Este objetivo exige que haja justiça social, consciência ambiental, sustentabilidade, empenho na superação da miséria e da fome e, de um modo geral, que se considere, com atenção especial, a dignidade da pessoa e o respeito aos direitos humanos (nn. 16-17).

 

A dignidade humana é o critério fundamental, a regra para medir a justiça econômica, a chave para a tomada de decisões, a qual, sendo pessoal e intransferível, compreende a produção da vida — e vida abundante — como sinais da graça de Deus. Nem o econômico está ausente da presença de Deus. As Igrejas não pretendem propor as técnicas ou os instrumentais próprios das ciências econômicas, mas ousam dizer que existem exigências cristãs de ordem econômica. Não pretendem ditar normas e regras ao Estado, o que configuraria a volta do modelo da cristandade colonial, mas acreditam e sustentam que o Estado democrático deve ouvir todos os setores da sociedade civil, também as vozes dissonantes e dos grupos subalternos.

O que as Igrejas propõem é simples e direto: orientar a atividade econômica a serviço das pessoas. Daí a necessidade de tornar real a opção radical de Jesus: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6,24). É preciso tomar partido. Esse é o slogan da campanha. Esse é o mote dos exercícios quaresmais. Esse será o desafio para todos os brasileiros e para cada um dos fiéis das Igrejas participantes. Esse serviço filantrópico será alcançado com sensibilidade, ética, laços e conexões entre as comunidades e, sobretudo, pela prática da justiça e de processos de economia solidária em cada canto de nosso país. Será preciso radicalizar a democracia participativa, denunciar as exclusões e idolatrias que ferem a vida das pessoas e, de maneira pessoal e coletiva, conseguir que haja imenso mutirão em favor da sustentabilidade planetária e de uma caridade que salve pessoas, povos, a água, a terra e a vida ameaçada desde o ventre materno.

É preciso aceitar a compaixão ou a solidariedade como constitutivas de novo jeito de agir na infraestrutura econômica. A “nova economia solidária”, fundada na partilha e não na acumulação, na austeridade e não no desperdício ou no consumismo, na generosidade e não na avareza, será fruto de ações coletivas e dialogadas. Serão fruto da firmeza permanente. Venceremos o pecado capital, que nos diminui mediante a coisificação das pessoas, se afirmarmos que só Deus nos fez, faz e fará felizes. Não se pode acender velas e cultuar o deus-dinheiro. Não podemos nos curvar como escravos ou cegos deliberados que não querem ver os Lázaros que clamam até por migalhas e direitos subtraídos há séculos, ao preço de doenças e de corpos machucados.

A Campanha da Fraternidade ecumênica em 2010 é um convite para a conversão de mentes e almas, de corpos e consciências, do público e do privado, de empregados e patrões, dos governos e dos cidadãos. Será momento privilegiado para celebrar as dimensões sociais da fé cristã e realizar o sonho de uma mesa eucarística comum onde se viverá a comensalidade e a hospitalidade entre os irmãos e as irmãs do mesmo e único Deus, pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Já não há razão para o fosso entre as classes sociais. Já não há lugar para o mal-estar da civilização, para uma ciência de poucos, para hospitais para privilegiados, para a restrição de propriedade dos dons essenciais, como água e moradia, vistos como mercadoria qualquer. Não pode haver lugar para discursos e mandatos políticos que não respondam às necessidades das pessoas empobrecidas. A dignidade humana é o primeiro alicerce na construção da casa comum (oikomene) de todos os brasileiros. Não se pode aceitar a invisibilidade dos pobres e o fato de gente ser tratada como coisa ou avaliada como mercadoria descartável. Afirmar a subjetividade na vida em comunidade é o caminho para viver a cidadania e visibilizar o amor.

A norma que deve reger a economia deve denunciar a ideologia da invisibilidade que nega a vida ao pobre e romper com essa lógica. É preciso que a economia e os economistas, empresários e governos usem o “termômetro” dos pobres para mudar o modo pelo qual se produz, se compra e se vende. Diz o texto da Campanha da Fraternidade: “A maneira como são atendidos os órfãos, as viúvas e os estrangeiros é apresentada na Bíblia como ‘termômetro’ da fidelidade do povo em relação a Deus” (n. 73). À medida que os pobres forem ouvidos, também os ricos serão salvos. Como o afirmara Hannah Arendt: “Riqueza e penúria são apenas as duas faces de uma mesma moeda; os grilhões da necessidade não precisam ser de ferro, podem ser feitos de seda”. Uma nova economia deverá ultrapassar o neoliberalismo escravista e a globalização totalitária, geradores de fundamentalismos e messianismos violentos e da alienação em que vivem tantas pessoas.

A fala do papa João XXIII, expressa na Pacem in Terris, n. 80, de 11 de abril de 1963, anunciava as quatro bases inseparáveis de uma nova civilização que emergia nos anos 1960: verdade, justiça, solidariedade operante e liberdade.

Os grupos excluídos das benesses econômicas, em quase todas as metrópoles mundiais, querem concretizar essa mensagem, tornando-se sujeitos e interlocutores de nova ordem social, de outro mundo possível.

O texto-base da Campanha da Fraternidade ecumênica de 2010 demonstra que a pobreza não é fatalidade nem deve ser aceita como algo naturalizável, mas histórico e racional:

A pobreza não é uma fatalidade nem o resultado de fenômenos naturais, como enchentes ou a seca, que sem dúvida desafiam as capacidades humanas. Os seres humanos organizam-se em sociedade para fazer frente, juntos, às necessidades da vida. Na cooperação solidária podem aumentar as possibilidades de desenvolvimento de sua personalidade, desenvolvendo suas potencialidades, não apenas no campo material, mas também no nível intelectual, afetivo e espiritual. Todos querem, com razão, desfrutar de uma vida longa, saudável e criativa, como indivíduos e como membros da sociedade, pondo em ação o potencial de dons que Deus a todos distribuiu. Isso é um direito universal e uma necessidade que implica o bem de toda a sociedade (n. 47).

 

1. Novos atores e novas práticas

Grande obstáculo prévio deve ser superado:

A economia política moderna assenta-se sobre os pilares do interesse individual e de uma falsa ética utilitária. Estão de um lado os consumidores, que procuram satisfazer desejos e atender a preferências e interesses individuais. Do outro lado ficam os empreendedores e agentes financeiros, que buscam a maximização do lucro. A produção de mercadorias, sua lógica de venda e consumo deu origem à sociedade capitalista, onde predomina o aspecto financeiro. Uma importante parcela da moderna economia capitalista é meramente virtual, decorrente de vultosas movimentações financeiras, não gera bens e produtos em benefício da sociedade, servindo apenas para o enriquecimento de uns poucos com o fruto da especulação financeira. O ciclo completo da moderna economia política é um mundo autossuficiente, fechado a qualquer consideração ética sobre a vida e a conservação da natureza, sobre a justiça e a esperança humana. Valores éticos não são considerados nesta ciência que visa a qualquer custo ao lucro. A evolução da história, a miséria em que vive grande parte da humanidade, põem em questão o rigor e a seriedade dessa ciência e a bondade das políticas econômicas voltadas mais para o crescimento e a acumulação da riqueza do que para um verdadeiro desenvolvimento (n. 48).

 

Para realizar essa ingente tarefa, são cada vez mais ativos não só numerosos países ditos emergentes, mas também as florescentes organizações da sociedade civil em redes mundiais. Ainda mais efetivos são os movimentos sociais articulados, as associações profissionais, as entidades culturais e filantrópicas, os grupos religiosos de diversas confissões que atuam de forma ecumênica e tolerante. São os novos atores que se apresentam com novas práticas de transformação. Confrontam-se com a presença do mal e com a tentação messiânica do bem. Enfrentam o mal que muitas vezes está oculto e querem prevenir-se de tornar-se proprietários do bem. Esses novos grupos e ONGs estão repensando as categorias sociais em nossas sociedades assimétricas. Se querem mudar as cidades, necessitamos de novas atitudes, posturas, comprometimentos e autonomia efetiva.

Exemplo concreto de nova atitude nos chega da oficina de artesanato na Baixada do Glicério, na cidade de São Paulo, com o sugestivo nome de Casa Cor da Rua. Dentro de um galpão, jovens se organizam, trabalham e fazem surgir pequenas sementes de comunhão, de sensibilização em forma de renda mínima para sustento e profissionalização. Lidam com os fragmentos deixados pelas ruas paulistanas, construindo belos mosaicos em cerâmica e vidro. O talento vem das mãos do povo da rua e de muitos jovens em situação de risco. São uma prova molecular de que a arte não é patrimônio exclusivo de uma classe e, se condições são dadas, os resultados são excelentes. A matéria-prima que veio das ruas, do descarte urbano e do consumismo desenfreado são refeitas em móveis e novos utensílios pelos quais os próprios trabalhadores refazem o mosaico fragmentado de suas vidas. Coexistem quatro oficinas: a Escola da OAF “A Arte Que Vem da Rua”; a Escola da Coopamare “Coop’Arte”; a Escola da Casa de Oração do Povo da Rua “Arte da Rua”; a Escola da Associação Minha Rua, Minha Casa. Os produtos são mosaicos, luminárias de bagaço de cana, tetos de papel reciclado e móveis restaurados. São como a síntese de nova gramática do humanismo. Procuram integrar o eu autônomo ao tu reconhecido como outro, em sintonia com o nós vivido na comunidade social, chave importante da justiça social. Reafirma o texto da campanha: “A evangelização e o amor de Deus não se realizam sem o amor ao próximo e o zelo pela justiça social” (n. 98).

Assim se exprimiam os padres no Concílio Vaticano II:

O desenvolvimento econômico deve permanecer sob a direção do homem; nem se deve deixar entregue só ao arbítrio de alguns poucos indivíduos ou grupos economicamente mais fortes ou só da comunidade política ou de algumas nações mais poderosas. Pelo contrário, é necessário que, em todos os níveis, tenha parte na sua direção o maior número possível de homens, ou todas as nações, se se trata de relações internacionais. De igual modo, é necessário que as iniciativas dos indivíduos e das associações livres sejam coordenadas e organizadas harmonicamente com a atividade dos poderes públicos. O desenvolvimento não se deve abandonar ao simples curso quase mecânico da atividade econômica, ou à autoridade pública somente. Devem, por isso, denunciar-se como errôneas tanto as doutrinas que, a pretexto duma falsa liberdade, se opõem às necessárias reformas, como as que sacrificam os direitos fundamentais dos indivíduos e das associações à organização coletiva da produção. Lembrem-se, de resto, os cidadãos ser direito e dever seu que o poder civil deve reconhecer, contribuir, na medida das próprias possibilidades, para o verdadeiro desenvolvimento da sua comunidade. Sobretudo nas regiões economicamente menos desenvolvidas, onde é urgente o emprego de todos os recursos disponíveis, fazem correr grave risco ao bem comum todos aqueles que conservam improdutivas as suas riquezas ou, salvo o direito pessoal de emigração, privam a própria comunidade dos meios materiais ou espirituais de que necessita (Gaudium et Spes, n. 65).

 

2. Boa-nova econômica

Um jeito alternativo de concretizar as necessárias revoluções moleculares na vida social, econômica e política nos deve tornar atentos a novos sinais dos tempos.

Uma atitude basilar será aquela de juntar forças, meios e pessoas. Assim diz o texto-base da CF-2010:

No âmbito eclesial, servir mais a Deus e ao próximo do que desejar que Deus se coloque a nosso serviço para garantir prosperidade. Isso também envolve um bom aproveitamento das forças de trabalho voluntário de que cada Igreja dispõe. Comunidades eclesiais são espaços educativos que mobilizam e educam crianças, jovens e adultos. Uma nova mentalidade pode ser formada neste processo de conscientização. A força moral das Igrejas precisa estar a serviço de causas sociais importantes e condizentes com o projeto de Deus (n. 101).

 

Algumas pequenas pistas plausíveis que ajudam as Igrejas em seu serviço essencialmente libertador:

a) Suscitar, apoiar e multiplicar grupos de economia solidária, como cooperativas, associações de jovens e de mulheres, que possam forjar uma rede social autônoma.

b) Diagnosticar os novos sujeitos sociais presentes em sua cidade ou bairro, suas necessidades e projetos concretos de curto prazo que valorizem a participação cidadã.

c)  Lutar por políticas públicas de distribuição de renda nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e por projetos sociais efetivos de governos municipais e estaduais.

d) Proclamar e viver uma ética existencial, pessoal e comunitária, traduzida em atitudes ecológicas sustentáveis, em uma mentalidade não consumista que respeite cada ser humano, em defesa da vida e de uma justiça misericordiosa. Iniciar com a coleta seletiva do lixo da paróquia ou comunidade eclesial.

e) Integrar as pessoas desempregadas a grupos alternativos de produção de renda e procurar vinculá-las à vida sindical e associativa. Não dar o peixe, mas ensinar a pescar em grupo, sem paternalismos.

f)  Reler os dez mandamentos bíblicos em Êxodo, capítulo 20, para fundamentar nova ética econômica.

g) Favorecer debates nas comunidades em que se possa refletir sobre a consciência de direitos e deveres de cidadania econômica. Traçar ações coordenadas que atinjam as causas da injustiça.

h) Inventar novas formas de trabalho produtivo.

i)  Rever os salários pagos nas instituições religiosas e eclesiásticas para verificar se eles seguem o padrão da justiça distributiva e valorizam a pessoa e as suas necessidades básicas.

j)  Criar grupos de alfabetização de adultos e jovens para erradicar definitivamente o grande mal do analfabetismo.

k) Valorizar a pastoral da criança e a alimentação natural.

l)  Denunciar o trabalho infantil.

m) Exigir a auditoria da dívida pública brasileira.

n) Meditar, como verdadeira Lectio Divina, a oração do pai-nosso em todos os cultos e celebrações. De modo especial, pensar em pai-nosso e pão nosso.

o) Instituir ou consolidar o dízimo comunitário e doar um décimo anualmente a alguma comunidade ou grupo que esteja em necessidade, como exemplo concreto de despojamento, para evitar o acúmulo de bens sem uso fraterno, pois sobre todos os bens extraordinários pesa uma hipoteca social. Realizar essa prova dos noves da partilha econômica em favor de comunidades distantes, vivendo novamente a oferta às igrejas mais necessitadas, como preconizado nos Atos dos Apóstolos, quando a Igreja de Antioquia enviou seus bens em favor da Igreja-mãe de Jerusalém.

p) Abandonar a mentira que é a teologia da prosperidade, pois esta falsifica os homens e o próprio Deus.

 

3. Entre o local e o universal

A esperança que nasce do trabalho interativo culminará em festa e celebração. O próprio povo oferecerá o alimento por ele cultivado e colocará no altar de Deus o fruto da terra e do trabalho, para que estes sejam aceitos por Deus e transformados no Corpo de Cristo, como sinal significativo de sonhos alvissareiros e utópicos. “A dinâmica da existência histórica é de essência escatológica. Mas, se é assim, é porque pertence à essência do ser humano determinar-se teleologicamente” (Jean Ladrière).

No peregrinar em defesa da vida, os projetos diários serão feitos e refeitos. Não se pode abandonar as vítimas. Tampouco vitimizá-las. Sem a viva e necessária comunhão, vivida como compaixão e solidariedade operante, inspirada em utopia realista, os pobres retornariam à submissão. Na defesa da vida dos pobres, superam-se rivalidades secundárias com outros atores históricos, forjando redes e vibrando interiormente com a causa dos pequenos, sobretudo das mulheres, dos negros e das crianças.

Passaremos a construir a humanidade global por meio da ação local. A chave de novo portal humano e ético reside na “combinação do pessoal com o social, da pessoa com o planeta, do local com o global, do ético com o político, do econômico com o valor da dignidade humana, enfim da arte com o corpo. Isto fará emergir novas práticas alimentares, terapêuticas e educativas; novos processos de participação, de decisão e de gestão administrativa e política” (Augusto de Franco, Ação local).

O santo padre Bento XVI, na recente encíclica Caritas in Veritate, oferece-nos uma chave criativa e lúcida na orientação correta da globalização:

De fato, hoje, o envolvimento dos países emergentes ou em vias de desenvolvimento permite gerir melhor a crise. A transição inerente ao processo de globalização apresenta grandes dificuldades e perigos, que poderão ser superados apenas se se souber tomar consciência daquela alma antropológica e ética que, do mais fundo, impele a própria globalização para metas de humanização solidária. Infelizmente esta alma é muitas vezes abafada e condicionada por perspectivas ético-culturais de delineamento individualista e utilitarista. A globalização é um fenômeno pluridimensional e polivalente, que exige ser compreendido na diversidade e unidade de todas as suas dimensões, incluindo a teológica. Isto permitirá viver e orientar a globalização da humanidade em termos de relacionamento, comunhão e partilha (n. 42).

 

E o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) convoca:

Esta Campanha da Fraternidade ecumênica convoca as comunidades cristãs a deixar-se interpelar pelas palavras de Jesus: “Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde as traças e os vermes arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar. Mas acumulai para vós tesouros no céu” (Mateus 6,19-20a). “Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6,24). Toda a vida de Jesus foi um testemunho de simplicidade no uso dos bens materiais, de solidariedade com os pobres, de distribuição gratuita dos dons de Deus.

 

A união viva e verdadeira entre o sacrifício e a comunhão que Cristo veio celebrar toca as dobras de todo o tecido humano e social. Jesus exprimiu de forma total sua entrega de amor ao fazer do dom do seu corpo o sacramento maior da comunhão: “Isto é o meu corpo entregue por vós”.

No gesto de lavar os pés de seus discípulos, Jesus Cristo marca com vigor seu senhorio e sublinha a importância do corpo como gesto de comunhão holística, pessoal, social, econômica e religiosa.

Jesus radicaliza a comunhão, oferecendo o dom do seu próprio corpo. Para nossa salvação. Para nossa alegria. Como momento único e irrepetível da comunhão com Deus. Sinal vivo de que a fé cristã transforma morte em vida.

Diremos alegremente com nossos lábios, corações e mãos que o alimento suculento de nossas vidas é o próprio Cristo, que se oferece por nós: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6,35).

Fernando Altemeyer Junior