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Publicado em número 264 - (pp. 30-34)

O lento processo de abrir os olhos: uma visão geral de Lucas 24,13-35

Por Francisco Orofino

1. A proposta do Ano Catequético

O Ano Catequético em 2009, aprovado pela 44ª Assembleia Geral da CNBB, insere-se numa série de propostas pastorais recentes. Tais propostas geraram vários documentos que buscam orientar a caminhada da Igreja católica no Brasil. O grande objetivo deste Ano Catequético continua sendo a recepção do Diretório Nacional de Catequese como o documento maior, fruto de grande trabalho comunitário de mais de três anos, desenvolvido e aperfeiçoado nas várias Assembleias Gerais da CNBB. O DNC é a grande síntese que precisa ser recebida e assumida para que a caminhada catequética em nosso país possa prosseguir no mesmo vigor desses anos passados.

Aliás, foram tantos os documentos publicados nos últimos anos, que fica mesmo difícil acompanhar tudo o que se produziu em termos pastorais neste início de novo milênio. Sucederam-se vários processos de recepção desses documentos. Tivemos mais recentemente o novo Diretório Nacional da Catequese (2006), o Documento de Aparecida (2007) e, agora, as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (2008). Todos esses documentos estão inseridos em outras propostas pastorais, tais como as Campanhas da Fraternidade, a preparação para o 12º Intereclesial de CEBs, o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra. Essa atividade intensa pode gerar uma sensação perigosa de que temos a cada ano um documento provisório, que deve ser conhecido e estudado antes do surgimento de um novo, definitivo e último documento. Por outro lado, podemos interpretar todas essas propostas como sinais de vitalidade da nossa Igreja. Sinais de que estamos em busca de um rumo. Permanece o desafio de evangelizar uma sociedade urbana, profundamente marcada pelas propostas anticristãs do neoliberalismo (DGAE 24) e geradora dos excluídos “descartáveis”, apontados por Aparecida (DA 65).

Por isso, temos de acolher esta proposta do Ano Catequético em 2009 como um sinal de que buscamos rumos novos e criativos para nossos trabalhos pastorais diante da realidade injusta. O tema do Ano Catequético é: “Catequese, caminho para o discipulado”. O lema é tirado do conhecido episódio dos discípulos de Emaús: “Nosso coração arde quando ele fala, explica as Escrituras e parte o pão” (Lc 24,13-35). A escolha desse texto bíblico é sintomática. Aponta para a busca de “novo impulso à catequese como serviço eclesial e como caminho para um discipulado missionário” (Texto-base do Ano Catequético, 7). O texto começa justamente narrando como dois discípulos tomaram o rumo errado, desobedecendo às palavras de Jesus. Mostra também a proposta pedagógica de Jesus para trazê-los de volta à comunidade. Enfim, o texto de Lucas revela um processo catequético que visa, antes de tudo, abrir os olhos de gente desanimada que não consegue ver com clareza as coisas de Deus.

 

2. O que aconteceu na estrada para Emaús

O texto dos discípulos de Emaús é paradigmático para a vida cristã. Narra um episódio ocorrido numa estrada, no caminho, com duas pessoas derrotadas que, no fim de um processo, fazem a descoberta ou experiência do Ressuscitado. Depois de semelhante experiência, essas duas pessoas ficam totalmente transformadas. Voltam correndo para a comunidade, a fim de partilhar a experiência vivida no caminho. Portanto, Lucas 24,13-35 é um texto para “re-encantamento” de gente que está em crise. Crise gerada pela cegueira. Uma cegueira resultante da frustração, do desânimo causado pela derrota, pelo cansaço. É, por isso mesmo, um texto muito atual.

Na narrativa do livro de Lucas, nosso texto está inserido entre dois acontecimentos marcantes. O episódio se passa na tarde do dia da Páscoa, e o Pentecostes ainda não havia ocorrido. Narra uma crise que sobrevém entre a crucificação e a vinda do Espírito Santo. Indica que a cruz foi mesmo sinal de dispersão dos discípulos de Jesus. Muitos não acreditaram na ressurreição e resolveram voltar para a vida de antes. Como as coisas não aconteceram de acordo com o esperado, muita gente que entrou no movimento de Jesus decidiu voltar para casa. O gesto de “sair de Jerusalém” significa aqui fugir do confronto que levou Jesus à cruz. É um reconhecimento derrotista de que as forças contrárias à proposta de Jesus são mesmo muito fortes e não é possível enfrentá-las. Mas, ao fugir desse confronto, abandonam também a proposta de vida em comunidade.

O texto vai lembrar, antes de tudo, que não se pode fugir do confronto. A orientação de Jesus ao grupo de discípulos, no Evangelho de Lucas, é tomar “a firme decisão” de subir para Jerusalém (Lc 9,51), para o confronto, e lá permanecer até ser “revestido da força do alto” (Lc 24,49). “Sair de Jerusalém” é desobedecer às orientações de Jesus.

Assim, a narrativa começa mostrando dois discípulos saindo de Jerusalém. Vamos aceitar a proposta de que sejam Cléofas (Lc 24,18) e sua mulher, Maria (cf. Jo 19,25). Temos então um casal triste abandonando a comunidade em Jerusalém, voltando desanimado para casa em Emaús, trilhando o caminho que os afasta de Jesus e de seu mistério, vivenciado na paixão e morte do Messias esperado. Muitas dúvidas e questões na cabeça. Por que ele era tão fraco a ponto de nossas autoridades o prenderem e o matarem? E já se passaram três dias e nada acontece! Mesmo na comunidade não encontram respostas. “A ele mesmo ninguém viu!” (Lc 24,24).

Então Jesus se aproxima. Vai trilhar com eles o caminho da desobediência, para trazê-los de volta à comunidade (cf. Is 40,29). Mas, para os dois caminhantes, Jesus é um desconhecido. A cegueira impede-os de reconhecê-lo. O desconhecido se aproxima daquele casal desanimado e começa a caminhar com eles. A narrativa mostra que a iniciativa partiu de Jesus. Ele quer abrir os olhos daquele casal. Esta é a meta de todo o processo catequético: abrir os olhos das pessoas, para que possam descobrir a presença do Ressuscitado em suas vidas, assumir a proposta de Jesus e viver em comunidade.

A experiência que tiveram da paixão e morte de Jesus foi tão dolorosa para eles, que perderam o sentido da vida, da opção, da caminhada feita anteriormente. Esqueceram por que tinham saído de Emaús e entrado no seguimento de Jesus. Agora, derrotados pela violência das autoridades, voltavam desanimados para Emaús. Sentiam-se fracos e impotentes diante das forças contrárias ao Reino. Quem pode resistir ou fazer frente ao poder que matou Jesus? Na verdade, eles querem salvar suas vidas, fugindo do poder e da morte, voltando para a segurança de sua casa em Emaús, bem longe de todas as atividades repressoras em Jerusalém.

Mergulhados em suas crises e frustrações, não percebem que é o próprio Jesus quem se aproxima para caminhar com eles. Qual seria o problema? Provocados pelo novo companheiro de viagem, eles começam a falar. E, nessa fala, revelam o problema: “Nós esperávamos…”. O que esperavam? No fundo, que as coisas de Deus acontecessem assim como estavam na cabeça deles. A crise toda estava na imagem de Messias que tinham recebido e construído ao longo da vida. E, agora, a paixão e morte de Jesus revelavam um Messias diferente de tudo aquilo que poderiam ter imaginado. O problema é que estavam fechados num esquema rígido, doutrinal, dogmático, fruto de 400 anos de catequese feita pelos escribas nas sinagogas, misturado com as esperanças de libertação do poder e do jugo romano. Eles esperavam um Messias forte e vitorioso, alguém capaz de libertar o país das tropas de ocupação romana e instaurar um reino independente, como na época dos Macabeus, cuja vitória definitiva tinha sido ali mesmo, na cidade para onde iam, Emaús (cf. 1Mc 3,57; 4,1-25). Queriam a repetição de um passado não tão remoto assim, mas ainda muito vivo na cabeça do povo. Presos ao passado que não volta, não percebem o novo que está surgindo. Viver em época de incertezas traz sempre o risco de buscar seguranças nas certezas de épocas passadas. Infelizmente para eles, a vitória de Judas Macabeu em Emaús nunca mais se repetiria! As certezas e seguranças das épocas passadas foram ultrapassadas pelo caminhar da História.

Fechados num rígido esquema de interpretação da realidade, não percebiam agora a presença do Messias ressuscitado caminhando com eles! Não podiam perceber a salvação de Deus entrando em suas vidas naquela caminhada. Afinal, já não tinham acolhido a novidade trazida pelas mulheres (cf. Lc 24,22-23). De fato, era uma notícia muito estranha e surpreendente para ser aceita assim tão facilmente. Não estavam abertos a novidades desse tipo. Seria aceitar que Jesus vencera o caos e a morte, prenunciando nova forma de vida. Não era possível acreditar no que foi definido como “delírios de mulheres” (Lc 24,11). Mergulhados em suas frustrações, estavam fechados ao novo. Presos ao antigo, tornaram-se amargos e desesperados. Não conseguiam abrir os olhos para acolher a situação nova com os olhos da fé, necessária para aceitar a dinâmica de Deus nos fatos novos da vida (cf. Is 43,18-19). Somente a fé faz perceber que na vida não há becos sem saída. Só uma fé comprometida pode nos apontar alternativas para situações aparentemente sem saída. É o que Jesus vai fazer com eles, mediante as Escrituras.

Jesus explica-lhes a Escritura enquanto caminha com eles no caminho da desobediência. Os dois caminhantes não se dão conta de quem caminha com eles, mas gostam do que aquele desconhecido fala e explica. Mas primeiro Jesus fez perguntas e escutou atento ao que diziam. O método catequético de Jesus é o diálogo que se baseia na realidade deles, interpretada e esclarecida à luz das passagens da Escritura. A Bíblia na catequese é um meio de incentivar o diálogo pedagógico entre catequista e catequizando. O mais importante é que esse diálogo se inicie com base na experiência da vida de ambos. Somente o diálogo permite ir fundo nas questões de vida, nos desejos, nos sonhos. Ao mesmo tempo, obriga a pessoa a enfrentar as causas últimas do desânimo e da frustração, da fuga e do medo. As conversas sobre as situações de vida, iluminadas pelas passagens da Escritura, mudam a compreensão e aquecem o coração. Mas não abrem os olhos! Todo esforço catequético consegue apenas aquecer o coração.

O que abre os olhos é o compromisso assumido com base no que se aprendeu e se partilhou, numa experiência apaixonante. Quando se caminha dessa forma, com uma companhia agradável e interessante, partilhando passagens da Escritura, discutindo e conversando sobre fatos da vida e crises de fé, o tempo passa rápido. Logo chegam a Emaús. É aqui que Jesus faz o teste definitivo.

Até então a iniciativa coube a Jesus. O primeiro sinal de compromisso terá de vir agora por meio de uma iniciativa do casal. Para prová-los e gerar uma decisão, Jesus faz menção de ir adiante, esperando ver-lhes a reação. Esta foi positiva: abrem sua casa para acolher aquele peregrino amigo, que caminhou com eles até Emaús, mas ainda é um desconhecido. Esse é o ponto fundamental para nós hoje. Muito se fala de Jesus. Em todos os meios de comunicação se fala muito em Jesus Cristo. Mas, apesar dessa superexposição na mídia, Jesus ainda é ilustre desconhecido para muita gente. Falar dele é importante, mas não resolve nada se apresentarmos apenas determinado Jesus que nos agrade ou vá ao encontro dos desejos por riquezas ou milagres. Nós só reconheceremos o verdadeiro Jesus se abrirmos nossas casas para os desconhecidos e partilharmos com eles o pão que temos.

A iniciativa do casal vem por meio de um convite, de uma proposta de acolhida: “Fica conosco!”. Por influência da liturgia da Páscoa, instintivamente incluímos no convite a palavra “Senhor”. Mas o caso é que esse “Senhor” não está no texto. Eles ainda não sabem que é o “Senhor”. O peregrino que caminhou com eles até Emaús ainda é um desconhecido. Abrir a casa para acolher um desconhecido é um primeiro sinal de partilha. Sem a partilha, os olhos sempre estarão fechados. Naquele momento em que se partilhou a casa, a vida, a oração em volta do pão, os olhos se abrem. É a partilha que abre os olhos! O pão partilhado provoca a mais importante descoberta para as pessoas que trilham o caminho de Jesus: ele ressuscitou! Ele está vivo no meio de nós! É uma descoberta transformadora que consegue devolver-lhes o vigor perdido pelas derrotas da vida. O casal esquece o cansaço de um dia inteiro de viagem. Voltam correndo para Jerusalém. Estão de volta para partilhar com a comunidade a experiência do encontro com o Ressuscitado.

Com os olhos abertos, voltam para a comunidade. Mesmo de noite, animam-se a enfrentar todos os perigos que ainda continuam existindo em Jerusalém. Voltam para partilhar com os outros discípulos a descoberta feita no caminho de Emaús. Voltam renascidos e transformados. Tudo aquilo que tinham rejeitado como “conversa de mulheres” era a realidade nova trazida por Deus. Naquele pão partido, descobriram que o amor-doação e a partilha da vida são mais fortes do que qualquer força capaz de causar a morte. Ao receberem o pão partilhado, perderam o medo de Jerusalém, da cruz, da perseguição e da morte. Acolheram uma realidade profunda, misteriosa e transformadora que os fez renascer e lhes deu coragem. A volta rápida para Jerusalém, naquela mesma noite, é o sinal de que aprenderam que a vida nova, trazida pelo Ressuscitado, vem da partilha das experiências mais profundas. Descobriram que o amor é mais forte do que a morte. É esse amor, qual uma “faísca de Javé” (Ct 8,6), que abre os olhos. Na partilha do pão, fizeram sua experiência de amor que tem origem no Pai cheio de ternura, que acolhe com festa todos os que voltam para casa (cf. Lc 15,17-20).

 

3. Propostas do texto para uma catequese de “re-encantamento”

Esse texto é muito rico em experiências e métodos catequéticos. Podemos tirar dele muitas conclusões e ensinamentos. Vou destacar apenas alguns pontos que penso serem importantes para nosso grande objetivo, traduzido no Diretório Nacional de Catequese: superar uma catequese doutrinária e encontrar caminhos para um processo pedagógico de uma catequese vivencial com base na Escritura. Temos de acolher a Bíblia como nosso grande manual de catequese.

1. Podemos notar, como o primeiro grande destaque na narrativa, que não é a teoria, seja ela bíblica ou doutrinária, que abre os olhos. Não basta conhecer a fundo a palavra de Deus ou o catecismo da Igreja. É imprescindível a prática cristã. A Palavra é necessária para animar a caminhada, aquecer o coração, despertar o desejo de conhecer mais sobre Jesus. Mas tudo isso necessita ser experimentado na prática. É a prática que abre os olhos. A transformação vinda com a prática da partilha muitas vezes passa despercebida aos olhos do grande público. Mas as pequenas comunidades, os grupos de vivência, abrem os olhos diante do pouco que conquistaram. Essas pequenas conquistas lembram que a transformação deixa de ser um sonho e passa a fazer parte da vida. A experiência da verdade contida na Palavra torna o sonho uma realidade. Na prática da Palavra, a esperança se concretiza. A meta do processo catequético é o engajamento das pessoas na pastoral ou nos trabalhos comunitários. Não vale a pena tanto esforço em catequizar uma pessoa se depois não lhe abrimos espaço no trabalho comunitário ou no engajamento pastoral.

2. Jesus mostra um método catequético que educa para a liberdade. Toda a sua pedagogia, nesse processo, era levá-los a tomar uma iniciativa. O gesto fundamental de convidar o desconhecido pertence unicamente ao casal. Por isso mesmo, sempre fica a pergunta quando lemos essa narrativa: e se eles não tivessem convidado o desconhecido a entrar na casa deles? O que teria acontecido? Jesus teria seguido adiante, mas com eles não teria acontecido nada! Nada teria mudado em suas vidas. Teriam continuado a existência de sempre em Emaús, mergulhados no medo, na insegurança, na tristeza e nos sonhos do passado. Para eles não haveria esperança de um futuro, de uma vida plena. Mas tudo isso foi superado por meio do gesto, da iniciativa livre de acolher o desconhecido dentro de casa. Feito o convite, Jesus o aceita prontamente. E, então, tudo acontece. É uma catequese que cria sujeitos livres de sua própria história. No livro do Apocalipse, esse recado fica ainda mais explícito: “Já estou chegando e batendo na porta. Quem ouvir a minha voz (a Palavra) e abrir a porta (tomar a iniciativa de me acolher), eu entro na sua casa e janto com ele e ele comigo” (Ap 3,20).

3.  Voltar para Jerusalém. Já vimos que, no Evangelho de Lucas, a cidade de Jerusalém simboliza o confronto entre a proposta da comunidade cristã e as forças contrárias ao reino de Deus. A catequese de Jesus serviu para mostrar que fugir desse confronto não é a solução. Todo o objetivo de Jesus é trazê-los de volta à comunidade. É na comunidade que encontramos forças para perseverar diante das forças contrárias ao Reino manifestadas na sociedade violenta, agressiva e consumista em que vivemos hoje. Assumir a vida em comunidade já é vencer toda a ideologia neoliberal que propõe a individualização, o consumo, a exclusão. “Re-encantá-los” para a vida em comunidade é a meta de toda a pedagogia de Jesus com os discípulos de Emaús.

4.  Saber desaparecer. Não seremos catequistas de uma pessoa todo o tempo. Quando um catecúmeno assumiu a vida em comunidade, o catequista deve “desaparecer”. Ou seja, não seremos formadores o tempo todo. Temos de viver em comunidade, como irmãos e irmãs de caminhada. Uma hora temos de deixar de ensinar e trilhar juntos o caminho do aprendizado comunitário, assumindo juntos os trabalhos pastorais.

 

4. Um exemplo como conclusão

Abrir os olhos e descobrir-se inserido na caminhada é um processo lento. Neste Ano Paulino, vale a pena destacar o exemplo do apóstolo Paulo. Foi longo o processo que levou Saulo a se descobrir Paulo. Pelos dados que temos, Saulo já era um homem maduro, com estudos teológicos, muito empenhado nos ensinamentos da tradição judaica (cf. Gl 1,11-14). Segundo os Atos dos Apóstolos, a primeira reação dele diante da novidade trazida pelos discípulos de Jesus foi de raiva e ódio (cf. At 9,1). Saulo quer arrasar a Igreja. Na estrada de Damasco, ele cai e perde a visão. Com os olhos fechados, é conduzido para Damasco. Foi pela coragem de um discípulo chamado Ananias, em entrar no lugar em que Saulo estava e chamá-lo de irmão, que “caiu de seus olhos algo como escamas…” (At 9,18).

Mas o processo de ver claramente sua vocação e missão não termina nesse episódio. Saulo ainda vai levar mais uns 12 anos até encontrar sua verdadeira vocação, ao entrar na equipe missionária organizada por Barnabé em Antioquia (At 13,2). É no trabalho missionário que seus olhos se abrem totalmente e ele encontra sua verdadeira vocação apostólica. Deixa de ser apenas discípulo e torna-se discípulo missionário. Um apóstolo. Nessa primeira viagem da equipe missionária, há uma mudança radical. Ele muda definitivamente de nome, de Saulo para Paulo (At 13,19). Nessa época, ele conta uns 47 anos de idade. Paulo levou cerca de 15 anos para abrir totalmente os olhos. No fim desse processo, ele pode dizer com toda tranquilidade: “Já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim!”.

Francisco Orofino