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Publicado em número 187 - (pp. 7-15)

Utopia na prática política

Por Pe. João Batista Libânio

No contexto da Campanha da Fraternidade/96

I. CONTEXTO DE MORTE DAS UTOPIAS E SEUS SINTOMAS

 

“Nós havemos de ver, qualquer dia, chegando a vitória.

O povo nas ruas, fazendo a história.

Crianças sorrindo, em toda a nação!”

(Zé Vicente)                               

 

Assim sonhou Zé Vicente, o cantor das CEBs. Mas a dura realidade está a desmentir-lhe os sonhos. Na década de 1960 parecia-se viver atmosfera utópica maravilhosa. Nos Estados Unidos, os jovens mobilizavam-se contra a guerra do Vietnam, que ceifava inutilmente milhares de vidas. E terminaram vencendo, levando o governo americano a abandonar a guerra com retirada inglória. O filósofo alemão H. Marcuse discutia em 1967 a questão do fim da utopia no sentido de que se entrava numa época em que “qualquer forma nova de vida sobre a terra, qualquer transformação do ambiente técnico e natural, é uma possibilidade real, que tem seu lugar próprio no mundo histórico”[1]. Anunciava, portanto, o início de uma era nova, de grandes transformações que permitiriam criar um mundo novo. No ano seguinte, os fatos pareciam confirmar-lhe o anúncio. A França foi agitada por onda de mudança profunda no meio da juventude que parou o país, na esperança de transformá-lo numa sociedade da liberdade, da participação, do gozo. A bandeira da Revolução Francesa, quase duzentos anos depois, drapejou nas mãos dos jovens na alegria de estarem gestando um mundo em que “só seria proibido proibir”[2].

Infelizmente o otimismo do filósofo alemão durou pouco. A onda passou. Os jovens voltaram às escolas, às universidades, derrotados pela frieza do sistema, brandido pelas mãos vigorosas do general De Gaule. Na Europa cessaram os últimos sinais de utopia. Enquanto isso, em nosso Continente, amordaçado pelos regimes militares, uma juventude não menos corajosa continuava ainda esperando, sonhando. Ainda prolongaram por uns dez anos nos esconderijos da clandestinidade seus projetos utópicos. Um a um foram todos eliminados pela violência da repressão até o silêncio da derrota total[3].

No entanto, a bandeira da utopia não desaparecera totalmente. Mudou de mão. Surgiram novos movimentos sociais, populares ou não[4]. Na sociedade civil, eles nasceram na década de 1970 de lutas reivindicativas e populares, ligadas ao campo ou por melhores condições de vida na cidade: transporte, moradia, saúde, educação, urbanização das favelas ou desfavelização. Vincularam-se às lutas sindicais, às das Igrejas progressistas, às dos grupos étnicos ou de gênero, às geracionais ou ecológicas, às pela terra dos sem-terra, das mulheres agricultoras, do movimento de barragens, às dos assalariados boias-frias, migrantes e diaristas do campo[5]. No início da década de 1980, uma série de outros movimentos sociais levou o regime militar a seu estertor[6]. O Brasil verde-amarelo ressuscitou das cinzas da ditadura na Campanha pela anistia, nas Diretas-já, nas emendas populares para a nova Constituição.

Nos vinte anos seguintes ao arrefecimento utópico da Europa, o Brasil parecia contradizê-lo. Contudo, a década de 1990 já vai avançada. E pesa sobre o país um sentimento de fim de festa. Grassa múltipla crise. Esperava-se que o socialismo trouxesse uma era de justiça social, e ei-lo desmoronando-se por todas as partes. Esperava-se que a vida dos pobres fosse melhorar depois de tanta luta, e ei-los ainda mais pobres e impotentes, formando o gigantesco exército dos excluídos. Esperava-se, depois do regime militar, uma política limpa, transparente, e eis que explodem escândalos em, todos os níveis do executivo, legislativo e judiciário numa política sem ética. Esperava-se que as Igrejas fossem aprofundando sua opção pelos pobres, e ei-las tergiversando. Esperava-se que as CEBs fossem receber total apoio da hierarquia, e ei-las colocadas sob suspeita[7]. Esperava-se que a religiosidade popular e os círculos bíblicos fossem crescendo e dando enorme vigor à presença crítica da Igreja, e eis a presença triunfal das Igrejas pentecostais na sua forma mágica, simbólica, reprimindo os desejos de libertação e criando verdadeiros supermercados da fé[8]. Esperava-se que a teologia da libertação se impusesse, e ei-la às voltas com tantos problemas internos e externos. Esperava-se que as mulheres, os leigos na Igreja fossem conquistar lugar cada vez mais destacado, e eis que a Igreja clerical segue cada vez mais pujante.

Esse clima vai mais fundo. Atinge o próprio modelo e paradigma de desenvolvimento que o Ocidente vem praticando há mais de quatro séculos[9]. Mais ainda. Parece que toda a civilização ocidental, que encontrou seu berço na Grécia pré-socrática, que foi mareada pela presença do cristianismo, entra em colapso. Anuncia-se com todas as letras o fim da era de Peixes, era do Cristianismo, para entrar-se na era de Aquário, era de uma religião da harmonia universal. A decepção estende-se ao cristianismo por não ter realizado seu sonho de paz, mas antes ter sido tão intransigente em relação às outras religiões, além de ter-se dividido em Igrejas que se combatem entre si. “Estamos hoje, no tempo cristão, acabando a etapa sob o signo de Peixes. Em grego, as iniciais de Jesus Cristo (Filho de Deus) Salvador formam a palavra peixe: IXTYS. No ano 2000 estaremos na era de Aquário, o que nos proporcionará uma nova ordem mundial, uma nova humanidade, uma nova religião”[10].

Neste momento de morte das utopias, vive-se profundo ceticismo diante das grandes palavras, das causas maiores, dos projetos englobantes, dos pretensos líderes, dos políticos altissonantes, das ideologias onipotentes. Prefere-se a espontaneidade livre à hierarquia, o jogo aos projetos e estruturas, a desconstrução à construção, a liberdade individual aos valores coletivos, o show às reuniões das grandes instituições religiosas ou políticas, o divertimento à militância, a novidade sem compromisso ao empenho construtivo, o lúdico à eficácia, o predomínio do efêmero, do instintivo ao racional planejado, a busca do exótico e do excepcional ao uniforme e rotineiro, os contos e pequenos relatos aos metarrelatos, a estética e a experiência religiosa pessoal aos dogmas, o presente usufruído ao futuro prometido, o pensamento débil à razão totalizante, as estórias à história, a dúvida e a pergunta às certezas definidas, os pequenos prazeres vulgares às grandes paixões, o cinismo calculista ao entusiasmo idealista, os consensos frágeis aos compromissos definitivos, o fragmento à totalidade, o pequeno grupo aconchegante às organizações disciplinadas e rígidas, o comunicativo ao produtivo, a diferença à uniformidade, o realismo de um presente sem encantos às utopias.

Como se vê, esse clima esvazia qualquer possibilidade de utopia. Convencionou-se chamá-lo de pós-modernidade[11]. É um “pós” que não significa nem “depois” nem superação, mas simplesmente um “ajuste de contas com a modernidade”, anulando-lhe as pretensões utópicas e ideológicas[12].

No mundo dos jovens, essa decepção parece ainda mais marcante. Há algum tempo, a revista “Isto É fez uma entrevista com 500 jovens entre 11 e 19 anos, das classes A e B de São Paulo. Os jovens idealistas da década de 1960 eram da mesma classe, e, não poucos, de São Paulo. Hoje, conclui a entrevista, a geração dos anos 1990 não quer mudar o mundo. Procura viver bem, com muito prazer, dentro do capitalismo, respeitando a família e a propriedade. “A vida é, para eles, um interminável videoclipe, uma mistura alucinante de dinheiro, sucesso e fama com uma pitada de romantismo e quase que nenhum idealismo”. “É a primeira geração pronta para viver sem culpa. Ela não quer romper com nada nem criar novos padrões”, observa o publicitário Jaime Troiano, de 45 anos, diretor da agência que coordenou a pesquisa. “Não apresenta conflito existencial. É mais superficial, hiperativa, pouco rebelde, ainda que irreverente é contestadora da hierarquia”, comenta o pedagogo Sílvio Bock, de 40 anos. A escola ideal para eles é a que dá liberdade de opinião, ouve-os e respeita-os, sem patrulhamento, de modo que cada um possa ser o que quiser.

Quando foram às passeatas, por ocasião do impeachment de Collor, não haviam determinado o objetivo político. Cada um por uma razão: raiva de Collor, matar aula, participar de grande acontecimento, curiosidade, acompanhar amigos, estímulo da TV, ter um programa diferente, fazer bagunça etc. Só um grupo muito reduzido confessa ter ido por compromisso político. “Esta é a geração pós-muro de Berlim e o Brasil deve ficar muito satisfeito com ela. Afinal, estes jovens têm ambição e querem fazer sucesso, têm sonhos que mostram que eles não estão perdidos, sem valores” — é assim que os vê o psicólogo romeno, naturalizado, de 65 anos, Haim Grünspun. É uma geração que vive a adolescência de modo mais saudável. “Eles não se sentem responsáveis pela miséria social, não se angustiam por não responder às expectativas dos pais. Vivem a própria vida e pronto”. “Não seguem líder nem cartilha”, não têm gurus, mas apenas modelos que lhes pautam as aspirações, que se encaixam no perfil que eles traçam de si e nos sonhos para o futuro, tal como foi Ayrton Senna: rico, arrojado, conhecido, reverenciado internacionalmente, ou é Xuxa: rica, famosa, bonita e desejada. Numa palavra, “ser feliz é ganhar muito dinheiro na profissão escolhida” (Santiago, 17 anos, filho do Governador A. Britto). A preocupação é com a carreira profissional, para ganhar dinheiro, ter sucesso e fama, comenta S. Bock[13].

A ampla pesquisa, que a arquidiocese de Belo Horizonte fez sobre a juventude, no interior do Projeto Pastoral Construir a Esperança, confirma muitos dos elementos acima citados, sobretudo no referente ao compromisso sociopolítico da geração dos anos 1990: 90,6% dos jovens confessam não participar de nenhum movimento social e comunitário, ainda que quase 55% desejariam fazê-lo. E porque não o fazem? A militância político-partidária é mínima: 2,3%; 65,49% mostraram não ter nenhuma preferência partidária[14].

Talvez o cantor espanhol resuma muito bem esse clima no mundo jovem:

 

Moro no número sete, rua Melancolia.

Quero mudar-me, faz anos, ao bairro da alegria.

Mas sempre que o intento, já partiu o trem da folia.

E na escada me sento a assoviar minha melodia.

 

E Umberto Eco finaliza seu famoso romance “O nome da rosa” com este enigmático dístico latino sem tradução:

 

Stat rosa prístina noinine

nomina nuda tenemus.

 

Nesse clima de pós-modernidade, dou-lhe a seguinte tradução e interpretação: “A rosa antiga subsiste na palavra, temos palavras vazias”. A rosa, símbolo da biblioteca, da história, do passado, da cultura ocidental, existe somente na palavra, no nome, sem nenhuma consistência, sem nenhuma realidade objetiva. Pois, na verdade, temos somente palavras vazias, a biblioteca incendiada. Confissão de descrença e ceticismo!

 

II. DIAGNÓSTICO

Constatar o fato torna-se fácil. O diagnóstico e as terapias exigem mais. Pedagogos de São Paulo mostraram compreensão positiva dessa nova geração de jovens das classes A e B, que curtem o presente, que se desassociam do passado, que não se angustiam com os problemas sociais, por não se sentirem culpados deles. Deixa-nos preocupados, porém, o fato de que existem milhões de jovens de outras classes sociais para os quais a vida não sorri da mesma maneira. É a exclusão das imensas maiorias que causa problema. Por que, então, se chegou a essa morte das utopias e a essa ilusão colorida?

 

1. As utopias de fins absolutos suicidaram-se

As utopias desbordaram de seus limites históricos e projetaram-se para fins absolutos. E, nisso, suicidaram-se. Com efeito, a utopia pertence ao mundo da história, da imanência, mesmo que ela empurre os horizontes dos desejos para sempre mais longe. No momento, porém, em que elas pretendem, com as mãos da imanência, construir, no fundo, o infinito, o Reino de Deus, o absoluto na terra, arrogam-se os direitos ilimitados do absoluto, tornam-se tirânicas, despóticas, e destroem a si mesmas.

Há duas utopias que vêm pretendendo se impor como fins absolutos: socialismo e capitalismo. A utopia do socialismo real almeja criar uma igualdade na terra, uma justiça social tal que somente com a supressão total da liberdade humana se torna possível. Imagina um ser humano sem pecado, todo ele voltado para a realização da utopia — que os dirigentes do partido comunista elaboraram para si, como fins absolutos e autônomos. Mas a natureza não é assim. É livre e pecadora. Por ser livre, não aceita que se lhe tire o direito último de construir-se um caminho de felicidade. Por ser pecadora, não adere sem mais a todo ideal, mesmo sendo bom, muito menos quando se trata de um bem maior que os interesses pequenos do egoísmo humano. Pode tergiversar. Ao encaminhar-se pelas vias da intransigência total, do totalitarismo, a utopia do socialismo real decretou sua morte. Era questão de tempo. Y. Calvez, especialista no processo político do Leste Europeu, depois de percorrer esses países, após a queda do socialismo real, afirma que uma evidência se impunha: Nenhum país queria mais manter em sua constituição o estatuto do partido único[15].

Sobre a ruína da utopia socialista, o sistema capitalista — encarnação resistente do sistema racional da modernidade — tripudia como vitorioso. Nesse sentido, o nipo-americano Francis Fukuyama anuncia o fim da história e o último homem na realização histórica da democracia liberal burguesa[16]. Em termos ainda mais radicais, já nem considera o capitalismo uma utopia, mas sua realização. E a sua forma atual chama-se neoliberalismo.

 

2. O processo crescente do neoliberalismo está a liquidar com as utopias

O neoliberalismo entrava as utopias com a exacerbação do individualismo. A sociedade centrada no indivíduo afasta qualquer discurso sobre a utopia.

Vige o darwinismo mais selvagem da “luta pela vida” ou, na expressão hobsiana, do “cada homem é um lobo para o outro”. Para reforçar ainda mais o individualismo, a ideologia neoliberal confunde intencionalmente o mundo do desejo e o da necessidade, colocando-os como motor do desenvolvimento tecnológico[17].

O desejo humano é infinito. O sistema gera a ilusão de poder saciá-lo, ao produzir cada vez mais coisas, objetos sempre novos, em vertiginosa rapidez, oferecidos ao consumismo desvairado. Tem-se a sensação de que a utopia está a realizar-se. Não se vê no horizonte nenhum limite ao consumismo.

A entrada vitoriosa da mídia e da informatização crescente aumenta ainda mais a sensação de realização plena da utopia consumista. Já não faz sentido algum sacrificar-se no presente para alcançar futuro melhor. Ele já é presente. Alguém, nesse espírito, formulou de maneira lapidar: “As flores, não as queremos para o funeral, mas agora”.

O futuro é o funeral. Não adianta nada conservar as flores do gozo, da alegria, do usufruir da existência para um futuro melhor para a humanidade. Estaremos então mortos e elas só servirão para ornar nosso caixão. “Carpe diem, gozemos o presente, o dia a dia com tudo o que ele possa nos oferecer. Em nossos termos, não adianta nada forjar utopias e sacrificar-nos por elas, pois, quando se realizarem — se é que se realizarão — estaremos mortos. Melhor gozar a presente realização capitalista.

 

III. POR QUE, ENTÃO, FALAR DE UTOPIA?

A utopia aposta em três brechas. Uma antropológica, outra social e outra espiritual. Por mais que a situação presente pareça impermeável a qualquer possibilidade de utopia, pela presença única e vitoriosa do neoliberalismo capitalista, a maior chance surge precisamente dessa realidade.

O desaparecimento da utopia socialista não significa, sem mais, o desaparecimento de todos os elementos utópicos lá existentes. Pelo contrário, isso liberta a tradição socialista da camisa de força dos regimes do Leste e coloca-a à disposição de novas utopias.

Percebemos as fissuras da ideologia neoliberal e os sinais de uma nova utopia que desponta no horizonte nos três níveis: antropológico, social e religioso. Por mais que o neoliberalismo se apresente como realização da utopia da humanidade, seu caráter terrivelmente materialista e consumista corrompe radicalmente o ser humano nas suas aspirações de transcendência. O socialismo real apostou no pão que pudesse saciar a necessidade de todos, realizando-os. Fracassou. As pessoas queriam beleza, liberdade, gozo para além do pão. O capitalismo joga seu futuro nos bens supérfluos em abundância, vestidos de imaginação e beleza, mas somente para alguns, deixando as imensas massas no simples desejo. Nem os poucos serão felizes, nem as massas suportarão para sempre essa exclusão.

A violência contra a ética, da parte do neoliberalismo, não pode resistir ao tempo. Os privilegiados, na condição de seres humanos, mais cedo ou mais tarde, confrontar-se-ão com seus privilégios. Se é verdade que a juventude dourada de São Paulo consegue “ser feliz” sem má consciência em frente à injustiça presente, culpando as gerações passadas, chegará o dia em que as coisas mudarão e, diante da injustiça, não terá mais a quem culpar, senão a si mesma. Nesse momento, a felicidade se esvairá.

A história conheceu invasões de bárbaros. Como no passado, as massas miseráveis, açuladas pela fome e pelo desespero, não encontrarão barreiras que as excluam. Se os recursos dos ricos para defenderem-se se sofisticam, as possibilidades de agressão também. A violência da miséria não pode ser parada pela violência do “apartheid dos ricos — veja-se o exemplo da África do Sul.

Se a teologia não está totalmente equivocada, se a fé cristã não é uma contrafação planejada, o ser humano é um ser aberto à transcendência e chamado à comunhão com a trindade. Veio da comunhão trinitária e dirige-se a ela. Essa marca ontológica, esse existencial sobrenatural — na linguagem de K. Rahner—, não pode, em todas as pessoas de uma sociedade, satisfazer-se com o projeto hedonista, materialista, consumista da fase avançada do capitalismo. Seria um atestado de falsidade ideológica para toda a história do cristianismo. Aceitaríamos a tese central do maniqueísmo, de um jansenismo extremo ou das correntes apocalípticas: A humanidade se perverteu e não há salvação. Nada resta a fazer além de esperar o armagedon ou provocar uma morte coletiva, como o líder espiritual Jim Jones da People’s Temple Cult, com seus mais de 900 fiéis, na Guiana Francesa, em 1978; ou como a seita apocalíptica Ensino da Verdade Suprema de Shoko Asahara, que, no metrô de Tóquio, em março de 1995, cometeu o atentado com o gás venenoso e mortífero sarin; ou como muitos outros casos semelhantes. Entre os dois extremos de acreditar que o sonho dourado do neoliberalismo saciará a fome de eternidade da humanidade, ou que só resta a sua destruição, vicejam forças utópicas que anunciam uma humanidade diferente.

 

IV. NOVA UTOPIA

A “utopia e a aspiração de uma forma de convivência humana razoável e justa que instaura crítica à atual”[18], que no seu “não lugar” (ou+topos) presente quer um “bom lugar” (eu+topos) futuro. A forma de convivência, que o sistema capitalista impõe, não é humana, nem razoável, nem justa. Por isso, as forças sociais, que assim o percebem, vivem e sofrem, aspiram a outra forma e, nesse movimento, alimentam outra utopia e se alimentam dela[19].

O fato maior no horizonte da utopia é a superação da exclusão: pessoas, regiões, nações, continentes[20]. De longe, o maior crime da atual sociedade é a escandalosa desigualdade social. Umas poucas nações ricas consomem a maioria dos bens, deixando continentes à míngua. E, dentro das nações, pequenas camadas privilegiadas desfrutam de nível de consumo conspícuo, enquanto massas de pobres e miseráveis carecem do necessário. O modelo de desenvolvimento e de consumo irrestrito, implementado nos países ricos, tornou-se ameaça para a sobrevivência da humanidade.

A utopia de sociedade alternativa tem como função primeira pensar outra maneira de desenvolvimento, que não tenha como pressuposto a inesgotabilidade dos bens da terra, a produção indefinida de bens de consumo dentro da lógica do desejo insaciável açulado por propaganda cada vez mais sofisticada. O desejo é o “mal infinito”. Se o problema do desejo insaturável dos bens materiais por parte das minorias privilegiadas não for trabalhado psicológica, sociológica e espiritualmente, não há possibilidade alguma de encaminhar-se na direção de uma sociedade alternativa de maior igualdade, de justiça, de satisfação das necessidades básicas de todos.

Em relação ao atual modelo de desenvolvimento consumista, de um lado, e gerador de miséria, de outro, emerge a utopia de nova relação com a natureza, com o planeta terra. Não se trata simplesmente da atitude despertada pelo Clube de Roma na década de 1970[21], de parcimônia para evitar o esgotamento dos recursos naturais não renováveis. Antes, implica realismo de princípios éticos no trato com a natureza, incentiva postura espiritual e mística diante dela. O realismo exige proibição incondicional de intervenções na natureza que produzem efeitos em cadeia incontroláveis, imprevisíveis e danos irreversíveis — como os que acontecem após uma explosão nuclear do uso de venenos inassimiláveis, de resíduos não biodegradáveis, do desenvolvimento de tecnologias de alto risco e de desenlace catastrófico etc. No horizonte está a manutenção dos equilíbrios ecológicos necessários para a vida do planeta[22].

Mais ainda. A utopia deve pensar em desenvolver nova forma de consciência ecológica. A terra é vista como um organismo vivo, Gaia, a deusa da terra[23]. Requer-se conversão interior em relação às coisas. Milênios fizeram-nos pensá-las como meros objetos, totalmente disponíveis a nosso bel-prazer. Esquecemos a sua sacralidade. O resultado foi o desperdício, as montanhas de lixo, a indústria do descartável, o absurdo despotismo do homem em relação à natureza. A metanoia ecológica leva-nos a uma relação interior com todo o cosmo. Ele faz parte de nós. Trazemos em nosso corpo os mesmos elementos engendrados nas estrelas. Fazemos parte do cosmo. Somos um ser relacional com tudo o que existe.

A utopia, que anuncia a nova geração ecológica, promete ao ser humano a tão desejada harmonia. O homem moderno vê-se dilacerado por dentro, cheio de ruído interior, precisamente por não saber relacionar-se com o cosmo, com os outros, consigo mesmo e com o transcendente. A teologia católica, que sempre ensinara a existência do pecado original, apesar de um vocabulário arcaico desatualizado, toca o ponto fundamental quando fala “das afeições desordenadas”. Em termos modernos, significa esse afã de consumir, essa “hybris” de dominar o mundo, essa sede insaciável de produzir sempre mais objetos, alimentando a ciranda louca dos desejos. No silêncio interior e na harmonia com o mundo, percebe-se que a relação da contemplação da natureza intocada sacia mais o coração, enche-o mais de felicidade que a posse desregrada das coisas. Deus nos deu as janelas dos sentidos para usufruir, sentir o gozo das coisas que ele criou, e não só as mãos para transformá-las em objetos.

Fundamental também, para a nova utopia, é a inversão radical do movimento hegemônico do “sistema” que coloniza o “mundo da vida”. Sistema é o conjunto de atividades voltadas para a produção, distribuição e consumo de bens materiais e culturais, através do qual a humanidade domina o mundo, garante sua sobrevivência e o desenvolvimento de seu poder, imensamente potencializado pela gigantesca informatização. Existe para produzir, distribuir e consumir bens materiais ou simbólicos. Funciona segundo as regras da eficácia, produtividade, resultado, custos e benefícios. No Ocidente, ele está a colonizar o “mundo da vida”, que é o mundo da experiência, do sentido, da comunicação, das convicções básicas, dos valores. A inversão significa procurar que o mundo da vida humanize o sistema, coloque-o a serviço da vida, e não vice-versa, como vem acontecendo.

O processo de humanização implica a emancipação diante do império da razão instrumental, que transforma os fins autônomos da vida em meios para os seus próprios fins. Estabelece a prioridade absoluta do ser humano sobre a lógica da ciência e da técnica, integra a racionalidade numa totalidade orgânica em torno da vida e suas exigências. Refuga todo autoritarismo, elitismo, aristocratismo em benefício das maiorias, sobretudo pobres e excluídas. Modifica as relações entre as pessoas, ao colocar no seu centro a tarefa de buscar um entendimento entre elas no agir, no valorar, no modo de organizar a convivência humana. A própria compreensão do conhecer adquire nova forma, já não para possuir, adquirir conhecimentos, mas para partilhá-los com os outros. A linguagem, como mediação de comunicação, adquire relevância, em vez de ser pura força de domesticação ou dominação.

A pedra de toque dessa nova utopia é o papel e a relação com o mundo econômico, que se tornou a força principal do sistema. Em vez de a economia impor suas leis de maximização do lucro, de competitividade e de custos e benefícios às relações humanas, degradando-as e mercantilizando-as, deixa-se humanizar pela lei fundamental da vida humana que é a convivialidade, a convivência, a partilha, a comunicação entre as pessoas. Tal mudança supõe assumir o pressuposto básico de que o ser humano não é um lobo para o outro, mas seu irmão, que é radicalmente veraz, que existe uma inteligibilidade fundamental que nos permite dialogar em torno do bem, da verdade, dos valores. O esforço predominante nessa sociedade tem de ser a busca do consenso através do diálogo, rejeitando toda truculência, imposição, intransigência, fanatismo.

O consenso, por sua vez, não pretende reduzir tudo à uniformidade, mas se faz dentro do pluralismo, do respeito das minorias, da liberdade das alteridades. Viceja no interior duma sociedade pluralista, democrática e solidária, em que não há espaço para a imposição dos partidos únicos nem para a ditadura das maiorias que desrespeitam e arrasam as minorias de oposição. Existe uma democracia formal que se prevalece do voto numérico da maioria como se fosse exercício de liberdade, mas que não passa de uma farsa, sobretudo em contextos em que tais maiorias se adquirem espuriamente através da força quase invencível da mídia a serviço de pequenos grupos poderosos. Vive-se a insolúvel contradição de termos maiorias de minorias, isto é, maiorias de políticos que representam minorias de interesses. Infelizmente essa tem sido a situação de nossa política no Brasil. Um dos casos mais escandalosos é o da bancada ruralista, que, como grupo numeroso de parlamentares, defende os interesses de pequena parcela de usineiros e grandes proprietários de terra, impedindo qualquer reforma agrária em benefício de maiorias de sem-terra, colonos etc. E essas maiorias são representadas por minorias impotentes.

A utopia que surge abre horizontes ainda mais pretensiosos. Intenta articular os dois fenômenos mais significativos do momento atual: globalização e valorização das singularidades. De um lado, defende uma globalização de consciência em torno dos problemas fundamentais que afetam toda a humanidade: droga, ecocídio, pobreza de massas gigantescas, guerras fratricidas, indústria armamentista, armas letais ou de alto poder destrutivo, pesquisas científicas de alto risco, ciranda especulativa mundial, determinado tipo de desenvolvimento tecnológico, modelo produtivo de desperdício etc. Todos esses problemas só encontram solução através de tomada de consciência e esforço mundiais. Nenhuma nação consegue resolvê-los ficando apenas em seu território, devido à interdependência econômica, tecnológica e cultural gerada pela globalização, de modo especial, da informação.

Doutro lado, como nunca, as singularidades, as minorias, sentem o direito de expressar-se na sua originalidade própria, no campo das etnias, das culturas, das religiões, do sexo, dos grupos regionais e linguísticos, das pequenas iniciativas nos diversos setores etc. A ciência da informação possibilita a esses grupos menores terem muito mais força pela via da rede[24]. Articulando-se em rede, poderão influenciar muito além do lugar onde atuam e promover movimentos de alcance mundial. Como o sistema atua de forma global, só da mesma maneira consegue-se a contraposição a ele, com eficiência, na direção oposta.

O alto desenvolvimento tecnológico pode provocar competitividade desvairada, enorme concentração de renda, monopolização do capital e outros efeitos deletérios. No entanto, a utopia da nova sociedade pode vê-lo como maneira de aliviar homens e mulheres de trabalhos monótonos, duros, pesados e liberá-los para atividades artísticas, religiosas, culturais e de lazer. Para isso, dependerá, fundamentalmente, de como se gerenciará a informação e os meios de comunicação de massa. Neles estão as maiores potencialidades, bem como os mais perigosos riscos. A mídia e o mundo da informação, se não forem controlados pela sociedade civil organizada, consciente e livre, mas por grupos comerciais interessados nos fins do sistema — maximização do lucro, competitividade, custos e benefícios —, em vez de realizarem as dimensões mais elevadas da pessoa humana, podem aviltá-las, embrutecê-las com doses maciças de violência e sexo, além de serem apropriados por interesses econômicos particulares.

A circulação de informação e a mídia possibilitam que os países com enorme atraso cultural posam dar salto qualitativo sem passar pela lentidão da escola tradicional. A sua democratização impõe-se como con­dição fundamental para cumprir função positiva. Para isso, faz-se mister nova forma de gerir as concessões, de pressionar e controlar o seu exercício, por parte da sociedade civil organizada: famílias, Igrejas, grupos ideológicos, órgãos de defesa do telespectador, que zelarão por sua qualidade.

O cristão pode perguntar-se sobre o papel específico do cristianismo na elaboração dessa utopia e na busca de sua realização. O cristianismo oferece elementos fundamentais para assumir uma utopia: mensagem mística e compromisso. Com sua mensagem, tem conteúdos riquíssimos para a criação de utopias alternativas ao sistema vigente. Basta citar o sermão da montanha, o Pai Nosso, Mt 25, além da prática de Jesus. Como mística, oferece a experiência de Deus na pessoa do homem Jesus, pobre entre os pobres, alguém-totalmente-para-o-outro. Como compromisso, ele se apresenta fundamentalmente na qualidade de prática de amor aos excluídos, aos deserdados deste mundo.

Vale recordar aqui também a proposta de Hans Küng, referente à criação de uma ética global, a partir das religiões. E nela o cristianismo contribui com sua originalidade e experiência de dois milênios[25]. Não podem faltar nessa ética a dimensão de solidariedade entre todos os povos, sobretudo entre os pobres, a perspectiva ecológica, o horizonte holístico-espiritual desde a mística da sacralidade do cosmo em oposição a uma razão instrumental onipotente e orgulhosa, as intuições ricas da tradição socialista de prioridade do social sobre o individual, do interesse das maiorias sobre o das minorias, os sonhos ainda não realizados que alimentaram e alimentam a teologia da libertação.

 

CONCLUSÃO

“Esperar vale mais que entender” (Guimarães Rosa). Não basta analisar e entender o momento atual. Cabe esperar, criando utopias. E, nessa tarefa, “o importante é aprender a esperar” (E. Bloch). Pois, “o desaparecimento da utopia leva a uma estagnação em que o próprio homem se transforma em coisa” (K. Mannheim), como está acontecendo na nossa sociedade. “Pela esperança, o amor mede as possibilidades que lhe foram abertas na história. Pelo amor, a esperança tudo encaminha para as promessas de Deus” (J. Moltmann). Para isso, “o cristianismo anuncia o absoluto futuro, Deus, como mistério inefável que será sempre futuro, porque jamais deixará de ser mistério” (L. Boff). Esse absoluto vai acontecendo antecipadamente em nossos projetos humanos, mesmo que, em dado momento, pareçam impossíveis. “A prova de ter fé está em esperar de Deus o impossível. O impossível do homem é o possível de Deus” (Peter-Hans Kolvenbach).



[1] H. Marcuse, O fim da utopia, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969, p. 13.

[2] M. de Certeau, La prise de parole: pour une nouvelle culture, Paris, DDB, 1968; o clima utópico desse ano aparece na obra de Zuenir Ventura, 1968: O ano que não terminou, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1988.

[3] F. Gabeira, O que é isso, companheiro? Rio de Janeiro, Codecri, 1979.

[4] L. E. Wanderley, “Movimentos sociais populares: Aspectos econômicos, sociais e políticos”, in Encontros com a Civilização Brasileira 25 (1980), pp. 107-130; P. Singer, V. C. Brant. São Paulo: O povo em movimento. Petrópolis, Vozes, 1981; J. B. Libânio, “Movimentos populares e discernimento cristão. Situação no Brasil”, in: Perspectiva Teológica 16 (1984), pp. 345-352.

[5] Bassegio, “Sujeitos e valores emergentes”, in: Convergência 29 (1994), pp. 631-639.

[6] Ilse Scherer-Warren, Redes de movimentos sociais. São Paulo, Loyola, 1993.

[7] D. Amaury Castanho, Caminhos das CEBs no Brasil: reflexão crítica, Rio, Agir, 1987.

[8] Délcio M. de Lima, Os demônios descem do norte, Rio, Francisco Alves, 1989; Leila Landim, “Sinais dos tempos. Igrejas e seitas no Brasil”, in Cadernos do ISER 21, Rio, ISER, 1989; Id., “Sinais dos tempos. Diversidade religiosa Brasil”, in Cadernos do SER 23, Rio, ISER, 1990.

[9] Jung Mo Sung, Crise de paradigmas, texto-provocativo, mimeo., São Paulo, 1995; “Crise de paradigmas”, in Tempo e Presença 16 (1994), nº 276.

[10] Card. G. Danneels, “Cristo ou Aquário”, in Leila Amaral — Gottfried Künzlen — Godfried Danneels, Nova Era. Um desafio para os cristãos, São Paulo, Paulinas, 1994, p. 122. Ver também R. Bergeron — A. Bouchard — P. Pelletier, A Nova Era em questão, São Paulo, Paulus, 2ª ed., 1995.

[11] J. Colomer, “Postmodernidad, fe cristiana y vida religiosa”, in Sal Terrae 79 (1991), pp. 416s; J. D. Jiménez Sánchez Mariscai, “Postmodernidad: El encanto desilusionado o Ia ilusión del desencanto?”, in Religión y cultura 38 (1992), pp. 367-388; I. Vaccarini, “La condizione ‘postmoderna’: una sfida per la cultura cristiana”, in Aggiornamenti sociali 41 (1990) (2), pp. 119-135; G. Colzani, “Moderno, postmoderno e fede cristiana”, in Aggiornamenti sociali 41 (1990), nº 12, pp. 779-798; José Ignacio González Faus, La interpelación de Ias Iglesias latinoamericanas a la Europa postmoderna y a las iglesias europeas, Cátedra de Teologia Contemporânea, Madri, Fundación Santa Maria, 1988, pp. 13-67; José M. Mardones, “El reto religioso de la postmodernidad”, in Iglesia Viva 146 (1990), março-abril, pp. 189-204; L. González-Carvajal, Ideas y creencias del hombre actual, Santander, Sal Terrae, 1992; José Maria Mardones, El desa­fio de la postmodernidad al cristianismo, Santander, Sal Terrae/Fe y Secularidad, 1988; José Maria Mardones, “Un debate sobre la sociedad actual: I. Modernidad y postmodernidad”, in Razón y Fe 214 (186), nº 1056, pp. 204-217; II. “postmodernidad y cristianismo”, in Id., nº 1057, pp. 325-334.

[12] Colomer, 1991, p. 413.

[13] Isto É, 21 de abril de 1993, nº 1229, pp. 34-36.

[14] Arquidiocese de Belo Horizonte, Religião na grande BH, Belo Horizonte, Projeto “Construir a Esperança”, 1991; “Jovens: uma nova geração”, in Jornal de Opinião nº 274, 29.09-04.10.1994 (encarte especial).

[15] J.-Y. Calvez, “Quel avenir pour le marxisme”, in Etudes 373 (nov. 1990), pp. 475-485.

[16] Francis Fukuyama, O fim da história e o último homem, Rio, Rocco, 1992.

[17] Jung Mo Sung, “Desejo mimético, exclusão social e cristianismo”, in Perspectiva Teológica 26 (1994), pp. 341-356; J. Mo Sung, A idolatria do capital e a morte dos pobres. Uma reflexão teológica a partir da dívida externa, São Paulo, Paulus, 1989.

[18] J. M. Castillo, “Los cristianos y la utopia”, in El seguimiento de Jesus, Salamanca, Sígueme, 1986, p. 221.

[19] J. B. Libânio, Utopia e esperança (col. “Fé e realidade” nº 26), São Paulo, Loyola, 1989.

[20] H. Assmann, Crítica à lógica da exclusão. Ensaios sobre economia e teologia, São Paulo, Paulus, 1994, p. 17.

[21] Clube de Roma, Halte à Ia croissance?, Paris, Fayard, 1972.

[22] J. Riechmann, “Ecologia, economia y termodinámica. Por qué el fruto no vuelve a la flor y el reciclado perfecto es imposible”, in Noticias obreras nº 1140 (1995), pp. 195-202 (ampla bibliografia).

[23] L. Boff, Ecologia, a mundialização, espiritualidade. A emergência de um novo paradigma, São Paulo, Ática, 1993, p. 44.

[24] J. Riechmann e Francisco Femández Buey, Redes que dan liberdad. Introducción a los nuevos movimientos sociales, Barcelona/B. Aires/México, Paidós, 1994.

[25] H. Küng, Projeto de ética mundial. Uma moral ecumênica em vista da sobrevivência humana, São Paulo, Paulinas, 1992.

Pe. João Batista Libânio