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Publicado em maio-junho de 2024 - ano 65 - número 357 - pp.: 10-19

A Palavra de Deus no centro da vida da Igreja: Uma missão confiada à Animação Bíblica da Pastoral

Por Pe. Tarlei Navarro*

O artigo apresenta a gênese da Animação Bíblica da Pastoral, sua gestação e recepção no magistério da Igreja. O caminho percorrido pelo Magistério da Igreja para colocar a centralidade da Palavra de Deus como alma da teologia e da ação pastoral é longo. O papa Francisco convida toda a Igreja para uma caminhada sinodal, em saída para as periferias da humanidade e renovada pela fidelidade à Palavra de Deus. Este artigo tem por objetivo apresentar como historicamente o Magistério da Igreja chega a postular uma Animação Bíblica da Pastoral que perpasse todas suas ações evangelizadoras.

 

Introdução

O Movimento Bíblico católico percorreu um caminho dentro da história da Igreja. Esse processo, sem dúvida, foi construído em meio a diversos avanços e recuos com relação ao estudo e ao conhecimento da Sagrada Escritura. Evidentemente, nesse trajeto muitas foram as iniciativas e contribuições para o avanço do conhecimento da Palavra de Deus.

Um marco histórico na Igreja católica foi a promulgação do documento Providentissimus Deus (1893), do papa Leão XIII, que apoiou e incentivou o estudo da Sagrada Escritura, aliás com forte apelo para que ela fosse devolvida ao povo de Deus. De fato, a encíclica apresenta uma revisão sobre os estudos da Sagrada Escritura, passando pelos Padres da Igreja até os nossos dias. “Brilhe, pois, no professor de hermenêutica sagrada não só uma sólida ciência de toda a teologia, senão também um profundo conhecimento dos comentários dos Santos Padres e doutores.” Após esse documento, surgiram iniciativas importantes para o conhecimento e propagação da Sagrada Escritura, como a criação da Pontifícia Comissão Bíblica (1902) e da Pia Sociedade de São Jerônimo (1902).

Na continuidade da construção do Movimento Bíblico, destaca-se também o documento Spiritus Paraclitus (1920), do papa Bento XV. Esse documento traz diversas citações do próprio São Jerônimo a respeito do amor e do estudo devidos à Sagrada Escritura. A encíclica aconselha a aproximação do clero com a Sagrada Escritura e afirma ter na Palavra de Deus alimento para a vida espiritual, argumento para a defesa da fé e matéria para estudo assíduo.

Também chama a atenção o documento Divino Afflante Spiritu (1943), do papa Pio XII, escrito cinquenta anos após a Providentissimus Deus de Leão XIII, constituindo outro passo importante no incentivo do estudo e propagação da Sagrada Escritura. Em linhas gerais, o documento não apontou erros no trabalho de interpretação da Sagrada Escritura, porém destacou elementos essenciais para os exegetas católicos, chamando a atenção para maior dedicação aos estudos da Bíblia com base em suas línguas originais, o hebraico e o grego; para a importância da interpretação da Bíblia em seu sentido literal ou espiritual; para levar sempre em consideração, na interpretação da Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja.

Tudo isso culminou no Concílio Vaticano II, com a promulgação da Constituição Dogmática sobre a revelação divina Dei Verbum, que certamente fechou um ciclo, causou uma mudança copernicana e marcou o início de novos tempos para o Movimento Bíblico. Sobre a importância desse documento, Bento XVI (2010) afirma que “é de conhecimento geral o grande impulso dado pela Constituição Dogmática Dei Verbum à redescoberta da Palavra de Deus na vida da Igreja, à reflexão teológica sobre a revelação divina e ao estudo da Sagrada Escritura”.

Após a Dei Verbum, houve, de fato, incentivo ao uso da Sagrada Escritura nas Igrejas particulares. Surgiu assim, em muitos lugares, a chamada pastoral bíblica, uma iniciativa interessante que ajudava com cursos, palestras, retiros, grupos e círculos bíblicos. Embora a pastoral bíblica tenha sido importante ferramenta, esse passo ainda não atingia o enfoque desejado pela Dei Verbum, que incentivava toda a pregação da Igreja a ser regida e alimentada pela Sagrada Escritura (DV 21).

Nos últimos anos, têm surgido também iniciativas consideráveis na Igreja que apresentam a Palavra de Deus como protagonista. A Igreja na América Latina, por exemplo, realizou em Aparecida, de 13 a 31 de maio de 2007, a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, que resultou no Documento de Aparecida. Nessa conferência, surgiram progressos na dimensão bíblica, fez-se uso de certas metáforas para referir-se à Palavra de Deus: é a “rocha” que sustenta a vida cristã (n. 90; n.146) e o “farol” que guia a Igreja. Aparecida, além disso, assumiu um enfoque bíblico em sua proposta: discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Aqui se apresenta novo paradigma para apresentar o papel da Escritura na vida e na missão da Igreja: a Animação Bíblica da Pastoral (DAp 248).

Vale lembrar também o Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 5 a 26 de outubro de 2008 e teve como tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Esse Sínodo também trouxe para nosso tempo importantes reflexões e progressos na dimensão bíblica, o que levou Bento XVI, em 30 de setembro de 2010, a oferecer a toda a Igreja a Exortação Apostólica Verbum Domini. Esse documento trouxe a esperança de uma evangelização eficaz, pautada na Sagrada Escritura, como desejou a Dei Verbum, e “convidou a um esforço pastoral particular para que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que se incremente a pastoral bíblica, não em justaposição com outras formas da pastoral, mas como animação bíblica da pastoral inteira”. É isso que também recomendam os documentos 97 (Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja) e 111 (“E a Palavra Habitou entre Nós) da CNBB.

O desafio de fazer acontecer uma verdadeira Animação Bíblica da Pastoral exige a dedicação ao pastoreio segundo o modelo proposto por Jesus Cristo. O que de fato move todo esse projeto é o conhecimento de Cristo, buscando, portanto, focar sempre na centralidade da nossa fé – a pessoa de Jesus Cristo, “o mediador e a plenitude de toda revelação” –, propondo conhecer melhor sua pedagogia e, assim, incentivando e animando nossas pastorais eclesiais com o conhecimento e a propagação da Palavra de Deus.

1. Que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja

Foi o papa Bento XVI que nos recordou o lugar de destaque em que deve estar a Sagrada Escritura: “a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja” (VD 73). Hoje, mais do que em qualquer tempo da história, faz-se urgente aos católicos o conhecimento da Sagrada Escritura, pois é comum perceber o crescimento de leituras deformadas e instrumentalizadas da Sagrada Escritura em diversos ambientes religiosos. Ciente da missão de formar na fé, a Igreja, que tem sua fé fundamentada na Palavra de Deus, deve esforçar-se por fazer que todos os fiéis tenham um encontro com Cristo por intermédio da Palavra, de tal forma que seja Palavra encarnada no coração.

Acreditamos que hoje Deus continua a falar por meio da Igreja: “Deus, o qual falou no passado, não cessa de falar com a esposa de seu Filho dileto, e o Espírito Santo, por meio do qual a viva voz do Evangelho ressoa na Igreja, e por meio dela no mundo, introduz os crentes em toda a verdade e faz residir neles abundantemente a Palavra de Cristo” (Cl 3,16; VD 51).

Esse ensinamento da Sagrada Escritura tornar-se-á cada vez mais prioridade da fé, mediante o “sinal” de palavras e gestos humanos na ação litúrgica, nos sacramentos, na leitura orante ou na proclamação pelo leitorado durante a Eucaristia, na homilia, na liturgia das horas, nas bênçãos, na catequese, nas celebrações da Palavra onde existe escassez de presbíteros e também mediante o silêncio, para escutar a Palavra no íntimo, de modo que assim anime toda a vida eclesial.

É preciso ter consciência também de que, assim como, na história, após haver pregado o Reino de Deus, Jesus se dirigiu a Jerusalém para oferecer-se em sacrifício ao Pai, igualmente na liturgia, após haver proclamado novamente sua Palavra, ele renova a oferta de si ao Pai por meio da ação eucarística. Quando, no final do prefácio, dizemos: “Bendito o que vem em nome do Senhor: hosana nas alturas”, reportamo-nos idealmente àquele momento em que Jesus entra em Jerusalém para celebrar sua Páscoa; aí termina o tempo da pregação e começa o tempo da paixão.

2. A Palavra de Deus na vida dos santos

 Toda a preocupação da Igreja em torno da Palavra de Deus é, no fundo, o retrato da urgente missão de tornar Jesus conhecido, numa viva experiência de encontro com ele, por meio da Palavra que quer nos falar. Com efeito, percebemos nos relatos dos quatro Evangelhos que toda a beleza desse caminho se concentra na pessoa de Jesus Cristo, o revelador do Pai que, em sua relação com as pessoas, dizia belas palavras que curavam, com sua eficácia, as profundezas da alma.

Na vida da Igreja, os santos fizeram bonito movimento de encontro com a Sagrada Escritura. Santo Ambrósio dizia que “a Palavra de Deus é a substância vital da nossa alma; ela a alimenta, a apascenta e a governa; fora da Palavra de Deus, não há outra coisa que possa fazer com que a alma do homem viva” (AMBRÓSIO, 2011, p. 93). Santa Teresa de Calcutá entendeu bem o que era servir a Deus, cuidando de quem precisava de sua ajuda, encarnando a Palavra; bebeu da substância vital a ponto de gastar-se e cansar-se, procurando viver as obras de misericórdia: “Tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias humanas. […] Mas Ele abaixa-se e serve-se de nós, de ti e de mim, para sermos o seu amor e a sua compaixão no mundo, apesar dos nossos pecados, apesar das nossas misérias e defeitos” (apud GE 107).

É preciso ouvir a Palavra de Deus na vida dos santos, porque os santos são exemplos de como essa Palavra é eficaz, pois foram transformados por ela. Pensemos em Santa Teresa de Calcutá, de quem a palavra de Jesus “Tenho sede” mudou completamente o rumo da vida, levando-a à total consagração ao serviço dos pobres, com seu poder eficaz de transformação dos corações.

Somos unânimes em reconhecer o bem que Santa Teresa de Ávila fez à Igreja, mediante o dom que ela tinha de amar, sabendo traduzir o Evangelho numa linguagem acessível a todos. Portanto, todo o tesouro espiritual que nos deixou é fruto da sua lectio divina, da sua leitura amorosa da Palavra de Deus.

Santa Teresinha do Menino Jesus encontra o Amor como sua vocação pessoal quando perscruta as Escrituras, particularmente os capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios; e a mesma santa assim nos descreve o fascínio pelas Escrituras: “Apenas lanço o olhar sobre os Evangelhos, imediatamente respiro os perfumes da vida de Jesus e sei para onde correr” (apud VD 48).

3. Animação Bíblica direcionada ao conhecimento de Jesus

Para fazer Animação Bíblica da Pastoral, é necessário querer conhecer Nosso Senhor. Nesse sentido, existem várias preocupações que sobressaem na vida de Jesus, mas vamos nos ater a três, que formam o projeto de seu Reino e devem estar no centro da vida de seus discípulos missionários: a saúde do povo (cura dos enfermos, milagres de expulsão de demônios, salvação e libertação de doenças crônicas e restabelecimento da saúde); a alimentação do povo (multiplicação dos pães, refeições partilhadas, solidariedade com os pobres e famintos, ampliação do convite ao banquete em sintonia com o Reino); e a inclusão social e cultural do povo (perdão dos pecados, acolhida dos excluídos e pecadores, defesa dos mais vulneráveis, das mulheres, estrangeiros e órfãos, inclusão na mesa do Reino de Deus).

3.1. A saúde do povo

Fica-nos claro que Jesus resume sua missão como enviado-missionário do Pai ao dizer: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). O Deus de Jesus deseja que todos os seres humanos tenham vida plena, digna, eterna, em Deus: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. Eu vos escrevi tudo isto a vós, que credes no nome do Filho de Deus, para saberdes que tendes a vida eterna” (1Jo 5,11-13). Vida digna e saudável nesta terra, e vida em plenitude na eternidade.

Destarte, é oportuno destacar que a Sagrada Escritura contém várias páginas de amparo, conforto e cura, manifestando a intervenção de Deus. Dentre esses textos, faz-se necessário recordar a atenção dada por Jesus aos doentes e como ele mesmo, Verbo de Deus encarnado, carregou nossas dores e sofreu por amor ao ser humano, dando, assim, sentido à doença e à morte.

Isso nos faz pensar que a saúde do povo era prioridade nos ensinamentos de Jesus. Não é por acaso que lemos inúmeros relatos de Jesus com os doentes (cura dos enfermos, milagres de expulsão de demônios, salvação e libertação de doenças crônicas e restabelecimento da saúde).

A preocupação pela saúde física e da alma que Jesus sempre manifestou continua a ser lembrada na Igreja. Por exemplo, na liturgia da Palavra, quando acaba a proclamação do trecho do Evangelho da missa, o ministro é convidado a beijar o livro e a dizer: “Que as palavras do santo Evangelho apaguem nossos pecados”. Assim, fica-nos evidenciado que o poder de cura da Palavra de Deus é atestado na própria Escritura: “De fato, não foi erva nem pomada que os curou (diz-se do povo de Israel no deserto), mas a tua Palavra, que tudo cura!” (Sb 16,12)

Verifica-se, assim, quanto necessitamos ouvi-la, amá-la e vivê-la, já que a Bíblia não é peso para ninguém, mas sim libertação. É preciso recebê-la com humildade, pois somente ouvindo a Deus somos livres e curados. O apóstolo São Tiago Menor, poucos anos após a morte de Jesus, escrevia: “Sede praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-vos a vós próprios” (Tg 1,22).

3.2. A inclusão social e cultural

“Hoje a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,9-10). Jesus é uma presença que salva, cura e humaniza! Para ele, a vida humana está sempre em primeiro lugar; encontra-se, portanto, acima das leis, dos costumes culturais, dos ritos e tradições religiosas; do dinheiro, experienciado como ídolo e fonte dos projetos político-econômicos opressores (cf. Lc 16,13); da manipulação das Escrituras para justificar os sofrimentos e as discriminações sociorreligiosas das pessoas.

Assim, é importante recordar que “a encarnação da Palavra em Jesus foi um processo que se iniciou com o sim obediente de Maria e terminou com o último sim de Jesus na cruz, quando disse: ‘Está tudo consumado’ (cf. Jo 19,30)” (VD 28). A consequência direta disso é que essa Palavra encarnada continua hoje a denunciar sem ambiguidades as injustiças e a promover a solidariedade e a igualdade.

Uma das pedagogias inclusivas de Jesus que chamam a atenção na Palavra de Deus é a prática da acolhida às mulheres. Todos os Evangelhos mostram a acolhida de Jesus às mulheres, mas sobressai entre eles o Evangelho de Lucas: é o único que conta a história de Isabel (Lc 1,5-25), Maria (Lc 1,26-56), Ana (Lc 2,36-38), da viúva de Naim (Lc 7,11-17), de Maria Madalena, Joana, Susana e das outras mulheres que seguiam Jesus (Lc 8,1-3), de Marta e Maria (10,38-42), da mulher encurvada (Lc 13,10-17), da mulher que procura a moeda perdida (Lc 15,8-10), da viúva insistente (Lc 18,1-8) e das mulheres de Jerusalém que choram atrás da cruz (Lc 23,27-31). Além dessas mulheres, Lucas partilha com os sinóticos outras cenas de acolhida, como é o caso da sogra de Simão (Lc 5,38-39; Mt 8,14-15; Mc 1,29-31), a hemorroíssa e a filha de Jairo (Lc 8,40-56; Mt 9,18-26; Mc 5,21-43), a viúva que dá tudo quanto tinha para o tesouro do templo (Lc 21,1-4; Mc 12,41-44), as mulheres da Galileia que descobrem o túmulo vazio (Lc 24,1-8; Mt 28,1-8; Mc 16,1-8). É interessante que o aparecimento de uma mulher acaba sempre por trazer elementos positivos à narração, e isso faz que o encontro com as mulheres pontue o caminho de Jesus.

Nesse caminho, é importante recordar-nos de que Jesus se senta à mesa com os pecadores e publicanos (Mt 9,11); cura um enfermo no dia de sábado (Mc 3,1-6); perdoa os pecados de uma pecadora pública em sua casa (Lc 7,36-50); realiza a cura da filha de uma mulher estrangeira sírio-fenícia (Mt 15,21-28); dialoga em plena luz do dia com a samaritana (Jo 4,5-42); defende uma mulher que ia ser apedrejada por homens muito piedosos e observantes da Lei (Jo 8,1-11). Por causa dessas opções, Jesus sofreu diversas perseguições e conflitos (Mc 2,1-3,6).

É interessante notar que, partindo da vida dos caminhantes, Jesus organiza um círculo bíblico, relendo as Escrituras para iluminar a vida, compartilhá-la em profundidade, em chave de fé, e ajudar a prosseguir na missão do discipulado de maneira renovada. Também hoje, os temas de preocupações com a vida (das famílias, jovens, sofredores, comunidades, minorias, sociedade) podem ser o ponto de partida para partilhar a Bíblia, de modo que a Palavra de Deus se conecte com a realidade cotidiana das pessoas, desde que o encontro com Jesus e seu Evangelho possibilite uma visão de fé e fomente processos de transformação social, conforme seus ensinamentos.

Nos âmbitos pastorais, existem temáticas, desafios, buscas, aprendizagens, dificuldades que podem ser assumidos como pontos de partida para o diálogo com os textos das Sagradas Escrituras, como projetos de interpretação interculturais, e ser atualizados como Palavra de Deus para nosso tempo, impulsionando assim a vida de fé das comunidades.

Evidentemente, toda interpretação deverá estar em comunhão com a fé da Igreja, observando as narrativas que envolvem os escritos sagrados. Observando quanto os relatos de fé provocam questionamentos em vista de transformações nas comunidades, sem deixar de objetivar mudanças nos leitores de todos os tempos. Temos de observar a proposta de cada texto e permitir que nos sintamos destinatários daquela narrativa, participantes de uma realidade plausível, real em nosso tempo, a qual nos impulsione a transitar entre o teórico e o prático, sem jamais esquecer-nos de cuidar de quem precisa de nossa ajuda.

Obviamente, essas três preocupações de Jesus pela vida das pessoas superam as fronteiras culturais, sociais, econômicas e religiosas, e comunicam novo rosto de Deus, que nos ama com um coração de mãe (Lc 15,20-24), que se interessa de maneira particularizada por cada um de nós e se compadece diante da dor e do sofrimento de cada pessoa, porque “não é da vontade do Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca” (Mt 18,14).

A figura de Jesus é muito singular, e ninguém seria capaz de desvendá-la se ele mesmo não a tivesse revelado. Jesus é bem diferente dos religiosos de seu tempo. Isso é tão encantador, que nos faz ter a certeza de fé de que, “no centro da revelação divina, está o acontecimento de Cristo”, pois a “Palavra divina se exprime ao longo de toda a história da salvação e tem a sua plenitude no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus” (VD 7).

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Pe. Tarlei Navarro*

*é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Teologia pela mesma universidade. Bacharel em Teologia pela Faculdade Vicentina (Favi), em Curitiba-PR. Graduado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas-SP. Graduado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia São Boaventura (IFSB), em São Paulo-SP. Membro do Grupo de Pesquisa LEPRALISE (PUC-SP). E-mail: [email protected]