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Publicado em novembro-dezembro de 2021 - ano 62 - número 342 - pág.: 24-31

Centenário do cardeal Arns, eminente comunicador

Por Fernando Altemeyer Junior

O artigo é uma homenagem a dom Paulo Evaristo Arns pelo seu centenário. Nascido em 14 de setembro de 1921 e falecido em 14 de dezembro de 2016, Paulo foi homem sábio, profeta da esperança, defensor da vida. Ele se tornou pastor dos pobres, tal qual Jesus e tal qual Francisco!

Introdução

A vida de dom Paulo Evaristo Arns foi marcada pela comunicação. Na noite escura da ditadura no Brasil, esse pastor do povo paulistano será a voz que clama firme diante do medo e da violência imposta pelos militares. Dom Paulo, por palavras, sermões e atos, oferece o mapa seguro da esperança, com voz serena. Nascido em 14 de setembro de 1921, na festa da Santa Cruz, falece no Hospital Santa Catarina, no coração da metrópole paulistana que tanto amou, em 14 de dezembro de 2016, festa de São João da Cruz. A cruz marca a hora do nascer e a hora do morrer. Cruz que liberta. Cruz que ilumina. Cruz que é sinal de contradição. Cruz que comunica a esperança paradoxal da vida que vence a morte. Dom Paulo comunica o que crê e vive o que fala. Foram 95 anos e três meses de vida ofertada a Deus.

Os valores que conduziam suas palavras brotavam do Evangelho de Jesus em chave ecumênica e aberta a cada pessoa humana.

 Além do amor primordial à literatura, aos clássicos e às línguas clássicas e modernas, o cardeal Arns, membro da Ordem Franciscana desde 1939 e presbítero católico desde 1945, foi sempre dedicado à comunicação, à produção e difusão de boletins, à escrita e pesquisa literária e às publicações e presença nas mídias. Manteve isso quando bispo auxiliar, arcebispo e cardeal. Servir a Cristo, reconhecido no rosto dos pobres reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, será a razão do seu viver “paulino”. Dom Paulo se torna pastor por amor, proximidade e ação colegial. Aprende isto do próprio coração de Jesus: reunir em torno de si pessoas entusiasmadas; não cansar os ouvintes; comunicar o segredo alvissareiro; conquistar a atenção de cada pessoa; fazer-se entender; não dar respostas prontas, mas fazer perguntas inteligentes; ser avesso ao fundamentalismo religioso; dar amplo espaço para pensar e crer nos jovens e nas mulheres, sem impor; ser direto e objetivo; tratar a todos com respeito e retidão; ser bem-humorado e sagaz; ver a realidade, emocionar, crer na força histórica dos pobres; ser movido pelo amor e pela justiça; preocupar-se com aquele ou aquela que o questiona e interpela; ouvir o interlocutor e descobrir sua verdade; e, sobretudo, suscitar consciência crítica, chamando a todos de amigos e empurrando-os com a frase final dos encontros com ele: “Coragem, vamos em frente!” Esse era seu modo de viver a vida diante de Deus e dos irmãos como pessoa íntegra, plena e articulada.

Frei Crisóstomo, ofm, indicará o jovem frade para aprimorar-se, na França, no estudo dos Padres da Igreja. Paulo virá a se tornar, assim, um dos primeiros patrólogos brasileiros, sabendo unir o amor aos clássicos à refinada sintonia com o povo mais simples das favelas e cortiços, e mesmo com os irmãos de rua. Entende a arte de comunicar como tarefa primordial do cristão que se faz testemunha fiel do Evangelho de Cristo. Seu período de cinco anos de pós-graduação na Sorbonne, de 1947 a 1952, em pleno pós-guerra, o fará ouvir atentamente os melhores pensadores da época, conhecendo a perspectiva inovadora da Nouvelle Théologie (Nova Teologia), de eminentes figuras como Jean Daniélou, Henri de Lubac e Yves-Marie Congar, e de pensadores como François Mauriac, Paul Claudel, Jean-Paul Sartre e, sobretudo, Emmanuel Mounier.

Ao voltar ao Brasil, torna-se professor em Petrópolis-RJ e Agudos-SP, até ser sagrado bispo auxiliar da cidade de São Paulo, em 3 de julho de 1966, exatos sete meses do término do Vaticano II. Será nomeado, por ordem explícita do papa Paulo VI, o quinto arcebispo metropolitano, em 1º de novembro de 1970, e elevado a cardeal em 5 de março de 1973. Exerce o cargo de arcebispo paulistano durante 27 anos, até sua renúncia, em 1998, sendo sucedido por dom frei Cláudio Hummes e, posteriormente, pelo cardeal Odilo Pedro Scherer.

Ele será figura central da Igreja brasileira durante o período de 1964 a 1985, na ditadura civil-
-empresarial-militar, destacando-se pela firme defesa dos direitos humanos, sempre sintonizado com os ditames do documento Gaudium et Spes e do texto da Conferência Geral de Puebla, na qual teve participação exemplar, ao lado de dom Romero e dom Luciano Mendes de Almeida. Dom Paulo escreve, em 7 de março de 1981:

Ser cristão é fazer o que Cristo fez: pregar a vida. Combater as doenças e suas causas. Nas pessoas e nas estruturas. Afinal, restituir a grande esperança do povo, repetindo com a Bíblia: onde o mal cria condições de exploração, Deus suscita forças de libertação integral (ARNS, 2006, p. 65).

Dom Paulo, tão logo nomeado bispo auxiliar do cardeal Agnelo Rossi em 1966, para servir na região norte (Santana), também passou a acumular a função de bispo referencial para os meios de comunicação, propondo ao arcebispo e cardeal a organização de uma sétima linha de pastoral, aos seus cuidados entre 1966 e 1970: a linha da Opinião Pública. Dom Paulo a assume como desafio evangelizador de primeira grandeza (ARNS, 1972, p. 118-123). Tal perspectiva teria bebido das intuições de dom Helder? Certamente era preocupação conectada ao que vinha sendo discutido por grupos emergentes na América Latina, como a Ação Católica especializada e intelectuais cristãos presentes nos ambientes públicos, universitários e na mídia. Dom Paulo abre caminho novo na relação da Igreja com as mídias e o jornalismo. Exemplo disso foi a introdução da arquidiocese de São Paulo na rede mundial de computadores, ao convidar o eminente professor Dr. Fernando Fonseca, da USP, para desenvolver o site inaugural da arquidiocese. Estava sempre antenado com as inovações tecnológicas, com os ambientes virtuais e, sobretudo, com o clamor do povo.

Dom Paulo acreditava que cada um dos 2 mil centros comunitários era um sinal sacramental do Cristo no Planalto Paulista, enlaçado pela serra da Mantiqueira e pela serra do Mar, e aberto para os Vales do Ribeira e do Paraíba. Fazer comunidades, acreditar nas comunidades e governar a Igreja de forma colegiada foram marcas exemplares de quem confiava na palavra das irmãs e dos irmãos em Cristo. Gostava de estar no meio do povo, sentia-se amado e ouvia atentamente cada pessoa.

De maneira independente e constante, o cardeal valorizou a participação dos leigos na vida política, sindical e associativa, em agrupamentos sociais a favor da cidadania e de uma comunicação livre e libertadora. Entre os 51 livros de sua autoria, três manifestam o núcleo do seu pensamento humanista: I poveri e la pace prima di tutto (Roma: Borla, 1987); Von Hoffnung zu Hoffnung. Vortragre, Gesprache, Dokumente (Düsseldorf: Patmos Verlag, 1988); Conversa com São Francisco (São Paulo: Paulinas, 2004).

1. Dom Paulo, jornalista profissional

O cardeal sempre se orgulhava ao mostrar sua carteira profissional e o registro de jornalista da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Os encontros com os jornalistas, mediados inicialmente pelo bispo dominicano frei Neves, na igreja de Nossa Senhora da Consolação, depois por irmãs paulinas e, por fim, pelo monsenhor Arnaldo Beltrami, sempre eram marcados por imensa fraternidade e expectativa. Os jornalistas sabiam que estar com dom Paulo renderia sempre uma notícia de capa no jornal. Assim, profissionais como Ricardo Kotscho, Ricardo Carvalho, Roldão Arruda, José Mayrink, Débora Crivellaro e Chico Pinheiro se sentiam à vontade para perguntar, sabendo que seriam ouvidos e teriam uma resposta corajosa, sem firulas nem linguagem hermética. Dom Paulo já oferecia o olho e o lead da matéria. Dom Paulo já vinha pautado! Ricardo Carvalho diz sobre o cardeal corintiano: “Passei a acompanhar muito de longe a vida eclesiástica até que, como repórter da Folha de S. Paulo, a partir de 1976, fui designado para cobrir a Cúria Metropolitana, com dom Paulo Evaristo Arns no comando. Uma convivência que mudou a minha vida” (CORAGEM, 2017).

Em 1973, os militares lacraram a Rádio 9 de Julho, que desde 1954 – ano das comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo – operava ininterruptamente, transmitindo por ondas curtas e médias para todo o planeta. Durante seis tenebrosos anos, até 1979, a Igreja e seu cardeal serão emudecidos pelos ditadores de plantão nos governos autoritários dos generais Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Os transmissores foram lacrados, em 1973, sob a alegação de que a concessão estava perempta. Em 1985, a Fundação Metropolitana teve negado o pedido de devolução de frequência. Só em 1996 o governo federal devolveu a rádio à Fundação Paulista, na frequência de 1600 kHz. Em 1999, a rádio volta ao ar em caráter experimental, depois de 25 anos sem transmitir.

Por graça divina, intermediada pela iniciativa dos Paulinos, a partir de 1979 o cardeal passa a ter espaço na Rádio América (na época, 1410 Khz AM). Os Padres e Irmãos Paulinos haviam assumido a administração da rádio em 1967, com sede na Rua Dr. Pinto Ferraz, na Vila Mariana. Em 1980, por mediação do radialista Francisco Paes de Barros, o cardeal inicia promissor programa radiofônico de meditações, que permanece até os anos 1990 na Rádio Record. Depois, ainda, haverá uma presença especial nas Rádios Globo e CBN. Isso exigirá um estúdio radiofônico na residência arquiepiscopal, com o suporte de religiosas da Congregação das Irmãs Paulinas e apoio técnico e profissional do frade dominicano Sérgio Calixto Valverde.

Nos encontros com os padres novos, dom Paulo sempre formulava sua intuição como comunicador e pedia que cada padre “falasse com a cidade”, reservando ao menos um dia da semana para estar em ambiente urbano, sem ficar preso ou restrito à paróquia. Que a paróquia fosse sua base e que o mundo urbano fosse o horizonte. Que pudesse habilitar-se para o pequeno e para o urbano. Para falar aos pobres e para estar com os cientistas. Conversar com jornalistas e com o Conselho Regional de Medicina. Saber ouvir o povo e saber dizer algo sobre bioética. Padre e leigos com pés fincados em um povo concreto, situados em um setor urbano contextualizado, que soubessem, porém, pensar globalmente. Isso poderia ser mediante ações pastorais amplas, estando em rádios, televisões, teatro, cinema ou presentes no mundo das artes. Cada padre gastasse tempo com os comunicadores, com sindicalistas, com gente das associações profissionais, com artistas, com a universidade, os universitários e, sobretudo, os cientistas. Falar para o todo, sabendo-se parte. Algo hoje chamado de “hologramático” por Edgar Morin (a parte está no todo e o todo está na parte). Dom Paulo sempre abrindo e esticando horizontes. Saindo do local e do particular, sem perder a conexão com o mundo imenso das periferias, com seu olhar telescópico. Nos encontros com seus padres, ele dizia: “A cidade é nova cada dia, e precisamos ouvir seus clamores e atender suas necessidades. A cidade é viva. A cidade é também um sujeito de interlocução dos agentes de pastoral. São Paulo tem alma e espera nossa palavra de esperança”.

A disposição para falar com os comunicadores, estar a serviço dos comunicadores, o levará finalmente a criar, em 1991, um Vicariato Episcopal da Comunicação, articulado de maneira profissional por monsenhor Arnaldo Beltrami.

2. Os dons do cardeal franciscano

Grão-chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o cardeal Arns acolherá professores que o regime militar tinha aposentado, perseguido ou censurado, como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Paulo Freire, entre tantos. Dom Paulo aplica concretamente cada palavra e intuição luminosa dos documentos conciliares Dignitatis Humanae, Nostra Aetate, Dei Verbum e Ad Gentes.

Patrocinou a edição do best-seller Brasil, nunca mais, que retrata os porões da ditadura e os sofrimentos vividos por centenas de brasileiros torturados clandestinamente pelos militares no país. Graças a essa obra, não se perdeu a memória da ignomínia praticada contra a pessoa humana nestas terras. Apesar da censura, dom Paulo falou pelas rádios comunitárias, por folhetos alternativos, pelo jornal arquidiocesano O São Paulo, como caixa de ressonância das centenas de comunidades eclesiais de base.

A teologia que sustenta seu pensamento é libertadora, compassiva e franciscana. Dom Paulo articula sua teologia com o humanismo cristão que bebe nas fontes dos Evangelhos, passa pela Patrística e assume as decisões do Concílio Vaticano II.

Por questão de justiça, registro a ação reformadora do cardeal, ao constituir um colégio de bispos auxiliares em uma Igreja sinodal e participativa. Dessa seleção de ouro fizeram parte: Benedito de Ulhôa Vieira (bispo auxiliar de 29/11/1971 a 14/7/1978); Joel Ivo Catapan, svd (bispo auxiliar de 11/12/1974 a 1/5/1999); Luciano Pedro Mendes de Almeida, sj (bispo auxiliar de 25/2/1976 a 6/4/1988); Alfredo Ernest Novak, cssr (bispo auxiliar de 19/4/1979 a 15/3/1989); Décio Pereira (bispo auxiliar de 2/4/1979 a 21/5/1997); José Thurler (bispo auxiliar de 1966 até 23/4/1992); Francisco Manuel Vieira (bispo auxiliar de 12/12/1974 a 15/3/1989). E os eméritos: Antônio Gaspar (bispo auxiliar de 6/12/1982 a 20/12/2000); Mauro Morelli (bispo auxiliar de 12/12/1974 a 25/5/1981); Fernando José Penteado (bispo auxiliar de 2/4/1979 a 5/7/2000); Antônio Celso Queiroz (bispo auxiliar de 10/10/1975 a 9/2/2000); Angélico Sândalo Bernardino (bispo auxiliar de 12/12/1974 a 19/4/2000). Cada um deles coordenava uma parte geográfica específica da cidade e, simultaneamente, exercia uma ação pública coletiva, tocando os nervos da cidade. Assim, por exemplo, dom Angélico cuidava da região episcopal São Miguel e era o bispo responsável pela pastoral operária; dom Luciano era o bispo da região episcopal Belém e da pastoral do menor; dom Fernando atuava na região sul, com os movimentos sociais e de moradia; a dom Décio cabia o centro da cidade e as universidades. Uma geografia, um povo e uma linha transversal tocando a cidade. Sempre articulados, mediante as reuniões frequentes na casa do cardeal, e empenhados na proclamação do Evangelho no mundo urbano, em torno de prioridades assumidas por um plano de pastoral em que os leigos tinham voz e vez. Dom Paulo, como teólogo qualificado da Patrística antiga, sabia que

o cristianismo descansa suas estruturas sobre o germe original do carisma do Cristo vivo. Esse carisma é original no sentido de começo primordial de onde tudo nasceu e no sentido de origem permanente que referencia tudo o que se constrói sobre sua base. De tempos em tempos, o carisma acorda e se eleva como força renovadora, subvertendo a rotina em pleno funcionamento e a competência burocrática incorporada pelas instituições (PASSOS, 2018, p. 198).

3. Dom Paulo e o jornalista judeu martirizado

Houve um divisor de águas na vida do cardeal. Tal qual novo João Batista, dom Paulo, dentro da catedral da Sé, fará a memória perigosa de um judeu assassinado pela ditadura, clamando ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó: “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor” (SYDOW; FERRI, 2017, p. 225). Estiveram unidos ao cardeal Arns seu “padrinho espiritual e tio”, dom Helder Pessoa Câmara, um “bispo auxiliar” e pastor presbiteriano, reverendo Jaime Nelson Wright, e um “irmão mais velho”, o rabino Henri Israel Sobel. Foi dia de macroecumenismo e diálogo inter-religioso. Foi dia do Evangelho mais puro e universal. O dia em que os assassinos e torturadores se calaram. O dia em que a ditadura militar, que agia impunemente desde 31 de março de 1964, foi ferida de morte, para que o Brasil pudesse viver livre e democraticamente.

É necessário recordar o bilhete escrito por frei Tito de Alencar Lima, em maio de 1973, ao cardeal Arns:

Aproveito a ocasião para desejar-vos feliz Páscoa. Confio enormemente no senhor, crede-me; confio, sobretudo, na vossa alma franciscana. Descobrimos, na prática, o que é evangelizar no Brasil de hoje. A Igreja que se purifica na perseguição, sobretudo quando quer viver, integralmente, os valores evangélicos: a paz, a verdade, a justiça, a fraternidade e o amor entre os homens (ARNS, 2001, p. 306).

4. Aprendendo com o cardeal

Falar com a cidade e evitar ficar preso aos muros da igreja. A Pascom e as assessorias de imprensa das dioceses, congregações e entidades religiosas precisam falar com todas as pessoas da cidade. Articular uma linguagem inclusiva para falar direto aos corações e às mentes.

Estar a serviço dos jornalistas de todos os meios de comunicação. Compreender as perguntas que os de fora fazem aos de dentro. A Pascom é uma diaconia da Igreja a serviço das/os jornalistas, não um clube de católicos.

Estudar os grandes jornais, rádios, redes de tevê e mídias para saber qual é o assunto do dia (gancho – lead) e, assim, “estar com a faca e o queijo nas mãos”. Sintonizar com os sinais dos tempos, para não falar sozinho ou apresentar matérias que não interessam, porque obsoletas ou esotéricas. Enfrentar as questões polêmicas com muito estudo, sabedoria e sagacidade evangélica. Nunca fugir das questões e evitar as armadilhas dos fundamentalismos e da cegueira moral.

Sintonizar com o papa Francisco, que pede aos comunicadores cristãos que gastem as solas dos sapatos para ouvirem e serem ouvidos. Ser capaz de subir aos telhados e simultaneamente descer aos porões da humanidade. Ser palavra inteligente e lúcida em tempos de opressão, ódio e mentiras. Falar a verdade com leveza, profundidade e serenidade; sobretudo, com inteligência. Ficar ao lado dos empobrecidos e da justiça social. Ser um nó na rede mundial das comunicações.

Falar pela rádio com emoção e falar pela televisão de forma clara e alegre.

Compreender a metrópole cosmopolita como verdadeiro cadinho de culturas e raças, situado entre o temor e a esperança. Temor da violência e da droga que mata a juventude e as crianças; esperança em seu trabalho e organização social, particularmente dos migrantes, dos refugiados e das mulheres. São Paulo vive sempre entre a riqueza cultural de uma das maiores produtoras de arte e de espetáculos do Brasil e a miséria da maioria de seu povo, que não pode jamais, na vida, assistir sequer a uma peça de teatro ou a uma apresentação de orquestra sinfônica, por absoluta falta de dinheiro para sobreviver.

Recordamos aqui o centenário do nascimento do nosso amado cardeal Paulo Arns, alegres com a vida plena que recebeu de Deus Pai criador. No fiel seguimento de Jesus, ele se tornou pastor dos pobres, tal qual Francisco! Fez a viagem derradeira ao Criador com alegria e paz interior.

Referências bibliográficas

ARNS, Paulo Evaristo. Comunidade: união e ação. São Paulo: Paulus, 1972.

______. Da esperança à utopia: testemunho de uma vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.

______. Estrelas na noite escura: pensamentos, São Paulo: Paulinas, 2006.

CORAGEM: as muitas vidas do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Documentário. Produção de Ricardo Carvalho. São Paulo: Verbo Filmes, 2017.

PASSOS, João Décio. As reformas da Igreja católica: posturas e processos de uma mudança em curso. Petrópolis: Vozes, 2018.

SYDOW, Evanize; FERRI, Marilda. Dom Paulo: um homem amado e perseguido. São Paulo: Expressão Popular, 2017.

Fernando Altemeyer Junior

é graduado em Filosofia e Teologia, mestre em Teologia e Ciências da Religião pela Université Catholique de Louvain-La-Neuve, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e assistente doutor nessa universidade. E-mail: [email protected]