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Publicado em novembro-dezembro de 2020 - ano 61 - número 336 - pág.: 4-11

ESPERAR O MUNDO QUE VIRÁ: Perspectivas escatológicas a partir da COVID-19

Por Dom Leomar Antônio Brustolin

INTRODUÇÃO

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS), do Concílio Vaticano II, afirmou que “é dever da Igreja investigar a todo momento os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado, em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas” (GS 4).

A emergência da Covid-19 impactou a forma de ler a realidade, de viver o cotidiano e de esperar o amanhã. Esse “sinal do nosso tempo” precisa ser interpretado à luz do Evangelho, especialmente no que se refere à fé e à esperança cristãs. Isso implica compromisso do cristão com o presente histórico e atenção ao futuro prometido em Cristo, como recorda a Carta Encíclica Spe Salvi (SS): “A fé em Cristo nunca se limitou a olhar só para trás nem só para o alto, mas olhou sempre também para a frente, para a hora da justiça que o Senhor repetidas vezes preanunciara” (SS 41).

Nesse sentido, uma abordagem sobre as possibilidades do futuro pós-pandemia deverá tanto contemplar o horizonte do Eterno, em que a vida não conhece fim, quanto convocar à responsabilidade sobre o momento atual, revisando a relação que se estabelece com a criação. Tudo está interligado, pois a fé cristã supõe uma integralidade até o fim da história, quando, em Cristo, tudo será recapitulado, o que existe no céu e na terra (Ef 1,10).

O cristão celebra o que crê e crê celebrando o cumprimento das promessas de Cristo. O Advento é, por excelência, o tempo litúrgico que mais evidencia a dimensão escatológica da Igreja. Enquanto se prepara a celebração da vinda de Cristo na carne, no Natal, igualmente se espera sua futura vinda gloriosa na parusia:

Naquele tremendo e glorioso dia, passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra. Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino (Prefácio do Advento IA, grifo nosso).

1. PASSA O MUNDO PRESENTE

Nas últimas décadas, diversos fatores influenciaram para que grande parte da humanidade desconsiderasse a finitude, o sentido da vida e a transcendência. Alcançou-se tão alto grau de bem-estar, que parecia desnecessário considerar um horizonte além desta vida que adoece, envelhece e morre. A busca da imortalidade pelas novas tecnologias e a noção de que só o presente deve ser considerado exorcizaram qualquer ideia de que este mundo é finito e a pessoa também o é.

O individualismo, as metas do mercado, o excesso de conectividade e a busca de um desempenho competitivo distraíram o ser humano da essência da vida. Sons, imagens e os mais variados recursos de entretenimento produziram tanta exterioridade, que a vida deixou de ser “espreitada”.

Na correria do cotidiano, a mente ficou embotada, e a consciência, afetada. Muita gente questionava até a necessidade de um Salvador, como apregoa a fé cristã. O mundo, que não se percebia ameaçado nem mesmo diante da crise ecológica, tornou-se surdo aos discursos que reclamavam por maior cuidado e atenção com a vida em todas as suas manifestações.

De repente, um dado novo desconcertou tudo, e o mundo parou. Inesperadamente e, sem preparo, o humano passou a perceber a dimensão de sua vulnerabilidade e finitude. Albert Camus, em seu romance A peste, destaca que “os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo tantas pestes quanto guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas” (CAMUS, 2009, p. 18).

O vírus da Covid-19, com seu alto grau de propagação, abalou as relações das pessoas e afetou a economia, a política e a cultura. Provocou séria reflexão sobre o sentido de viver e conviver num mundo doente, ameaçado por um inimigo invisível e poderoso. A ocasião leva muitas pessoas a “um momento de preocupação pelo futuro que se apresenta incerto, pelo emprego que se corre o risco de perder e pelas outras consequências que acarreta a atual crise” (FRANCISCO, 2020, p. 31).

Padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, em sua homilia na Sexta-feira Santa de 2020, na basílica de São Pedro – Roma, recordou que a pandemia nos despertou intensamente para o perigo do “delírio de onipotência”. Foi suficiente o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para recordar a condição mortal da vida humana, e nem o poderio bélico nem a tecnologia bastaram para nos livrar das ameaças e mortes.

Inseguro diante do desconhecimento da nova realidade imposta por um vírus que mata, impotente e incapaz de definir as rotinas, o ser humano precisa lidar com sua condição finita e mortal. Cresceram a difusão de notícias sobre o sofrimento dos agonizantes nos hospitais, as estatísticas sobre o número de mortos e a circulação de imagens de covas sendo abertas em grande escala nas metrópoles. A realidade da morte ficou próxima, entrou nas casas pela mídia e desconcertou protocolos, processos e projetos. A facilidade do contágio e a consequente ameaça de morrer pelo vírus assombraram todos. Foi necessário pensar e falar sobre a morte numa sociedade que havia erradicado esse assunto do seu cotidiano.

2. A MORTE FAZ PENSAR

A consciência reprimida da morte mata já em vida e torna o ser humano apático em relação aos outros e a si mesmo, passando a assumir preconceitos contra as novidades e a erguer muralhas ao seu redor. A reflexão sobre a vida não deixa de contemplar o limite e as perdas como ocasião de compreender o mistério da existência em momentos de crise.

A morte traz consigo novas interrogações e discussões que envolvem tudo e todos. “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto. O homem não se aflige somente pela dor e pela progressiva dissolução do corpo, mas também, e até mais, pelo temor da perpétua extinção” (GS 18).

É, porém, justamente para exorcizar essa possibilidade que a religião alarga a compreensão sobre a condição mortal da vida humana. A fé se traduz como uma reação à morte de cada ser humano: “a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte” (GS 18).

As estatísticas sobre os mortos, o luto reprimido pelo distanciamento social e a possibilidade de não sobreviver suscitam questões escatológicas. O futuro próximo está em questão, e a esperança além da vida também. Na recusa do desaparecimento definitivo, a fé cristã não cria uma teoria ou uma resposta ao problema; ela acolhe a revelação de Jesus Cristo como normativa. Cristo ressuscitado livrou o ser humano da morte com sua própria morte.

3. SURGIRÃO NOVO CÉU E NOVA TERRA

O destino futuro de todo ser humano não será o fim, mas a vida eterna, que é vida nova que não conhece dor, pranto ou morte. A fé na ressurreição é basilar para todo ensinamento cristão e determina o presente, o futuro, a fé e a esperança de quem crê. Assim, a pandemia fez caírem as “máscaras” de uma fé muito religiosa, mas sem esperança em Cristo. Revelou que, sem uma mística pascal – que passa necessariamente pela cruz e ressurreição –, não há autêntica fé cristã.

A promessa de ressurreição não se restringe ao destino da pessoa, mas abrange o da história e do cosmo igualmente. Na escatologia cristã, a humanidade, a história e toda a criação anseiam pela realização da promessa: “Deus ensina-nos que se prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reina a justiça e cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam no coração dos homens” (GS 39). Esperar o Reino que não tem fim implica cuidar da vida, ressignificar o sofrimento e discernir, à luz do juízo de Deus, sobre o hoje da história.

Nesse hoje há muitos questionamentos. Há injustiças cometidas, violências repetidas e urgências omitidas. Os sofrimentos e as mortes não são causados apenas pelo vírus ameaçador, mas também pela falta de informação, pelo descuido dos que ignoram a gravidade do momento, pelas políticas sanitárias equivocadas, pelas escolhas que priorizam o mercado e pelo descaso com os pobres e vulneráveis.

Tudo isso clama por justiça. A escatologia cristã, fundamentada no Evangelho, prevê que todos serão julgados no amor. O juízo envolverá a pessoa, a história e o universo. Esse juízo é esperança e graça.

Se fosse somente graça que torna irrelevante tudo o que é terreno, Deus ficar-nos-ia devedor da resposta à pergunta acerca da justiça – pergunta que se nos apresenta decisiva diante da história e do mesmo Deus. E, se fosse pura justiça, o Juízo em definitivo poderia ser para todos nós só motivo de temor (SS 47).

Cabe considerar que muitas decisões concretas de pessoas e instituições não são pautadas pela verdade, bondade e beleza; são reguladas pelo mal, pelas seduções do Maligno, que tenta e seduz. É, contudo, o ser humano quem cede à opção que mata e fere a vida do outro. Isso se faz tanto em âmbito pessoal quanto social e até ambiental. Toda maldade cometida não será esquecida no juízo universal.

No capítulo 25 do Evangelho de Mateus, estão os critérios do juízo e a sentença já definida pelo Justo Juiz. Cada um deve colocar-se, desde agora, diante daquele momento escatológico que se constrói pelas escolhas realizadas ao longo da vida. Há os benditos e os malditos no juízo. Tudo que for feito ao menor dos irmãos de Jesus será contado como se tivesse sido realizado ao próprio Juiz e Senhor. O futuro se constrói hoje, na fé e na esperança.

4. ESPERAR E CONFIAR

Na contradição entre o hoje e o amanhã, entre a experiência e a espera, o ser humano se defronta com as várias possibilidades de se posicionar em relação ao futuro: desespero, presunção ou esperança. Entretanto, o que mais ameaça a esperança é a crise. Ela faz que se perca a confiança no tempo, pois já não se sabe se haverá futuro. Para Santo Agostinho, “estas duas coisas matam a alma: o desespero e a falsa esperança” (Sermão 87,8).

Desespero é a atitude daqueles que negam o futuro porque o identificam com o mal que está presente. Pensam o hoje como tédio e caos. Apregoam o fim do mundo e interpretam a pandemia segundo uma visão catastrófica e, às vezes, até como resultado de castigo divino. É atitude de quem perde a fé e a esperança. Confiar demais nas próprias forças pode ter um custo muito alto: não saber confiar totalmente na surpresa de Deus. “O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores das estrelas” (FRANCISCO, 2020, p. 23). Deus está do nosso lado, e não do lado do vírus.

Presunção é a atitude daquele que avalia falsamente a si mesmo e as capacidades do mundo. Identifica-se o presente com o bem que deve vir. Faz-se a idolatria da hora, vive-se o engano da falsa esperança. Sugerem-se soluções simplórias, fáceis e até mágicas; postura essa de quem não é realista nem prudente, visto que prefere julgar a realidade numa ótica unilateral e equivocada. A Covid-19 desmascara as presunções e

pega nossas sociedades despreparadas […] em relação à nossa visão de mundo e existência. Do que julgamos distante, e do que é realmente próximo. Do que consideramos estritamente individual e do que é coletivo. Do que acreditamos poder nos proteger e do que isso nos expõe (MENDONÇA, 2020, p. 7-8).

Esperança é a paixão por aquilo que é possível. É a estrutura originária da existência humana no mundo e a estrutura originante que qualifica a existência diante do futuro e, ao mesmo tempo, subverte a ordem atual. O humano vive na medida em que espera, porque ele é esperança. Entre o já realizado e o ainda não alcançado, a esperança galvaniza o presente, suscitando novas possibilidades, oportunidades e caminhos.

A esperança se fundamenta na confiança na ação do Espírito Santo, que infunde conforto e paz em tempos de adversidade. Essa serenidade e alegria são penhor e antecipação da glória vindoura (2Cor 1,3-7). A dor, então, não é prerrogativa do apóstolo ou de alguns cristãos, porque, na verdade, faz parte do ser em Cristo. Sofrer com Cristo, assim, é graça especial que ultrapassa a graça da fé.

Por isso, o apóstolo Paulo chega a anunciar aflições para sua comunidade cristã. Para ele, a dor não é apenas algo que deva ser suportado, mas é, muito mais, uma luta ativa pela causa de Cristo. Assim, não se envergonhava nem se abatia pelos sofrimentos; ao contrário, via, nas perseguições e nos tormentos pelos quais passava, motivo de alegria e fonte de conforto, porque sabia que se tornavam um indício da salvação ao se incorporarem à paixão de Cristo.

Nesse sentido, a fé não pode ocupar-se em responder ao porquê da pandemia e das mortes. Na Sagrada Escritura, não se encontra uma solução racional para a questão da dor e da morte. Mesmo que os textos tendam, em sua maior parte, a conceber a dor como resultado de uma desordem introduzida no mundo pelo pecado, o certo é que, biblicamente, não se sustenta a ideia de que todo tipo de sofrimento humano é resultado de um destino cego que advém sobre a humanidade. Muito mais, ele é entendido como uma disposição da insondável sabedoria divina, a qual o ser humano deve reverenciar pela força da fé.

5. SOLIDÁRIOS NA DOR E NO SERVIÇO À VIDA

O flagelo não é uma vingança, tampouco um castigo divino para descontar as faltas humanas. É um caminho para que a humanidade alcance a felicidade eterna. Por um lado, a dor induz o pecador a abandonar o pecado e se voltar para Deus; por outro, o sofrimento é vivido pelo justo como um meio da pedagogia divina. Essa pandemia nos tornará melhores ou piores, disse o papa Francisco no Ângelus de 31 de maio de 2020. Se todos entenderem o significado de estarmos juntos e na solidariedade que nos envolve, cresceremos.

A dor de Cristo se renova e continua na dor do seu discípulo. Isso acontece porque Cristo não sofreu por si mesmo, mas pelos outros. O mesmo vale para o cristão, que não sofre por si, mas pelos outros. Ele, portanto, não sofre só porque Cristo sofreu, mas padece porque é continuador da obra de Cristo (Cl 1,4). Enquanto for instrumento de Cristo por essência, ele deve sofrer pelos outros.

Essa dor solidária se traduz, sobretudo, na incansável labuta dos profissionais da área da saúde que se dedicam a mitigar o sofrimento das vítimas da Covid-19. Para poder ajudar, esses servidores da vida precisam lidar com o sofrimento de assistir às mortes ocorridas na solidão, com a agonia do paciente incapaz de respirar e com a carência de recursos suficientes para atender a todas as demandas. Para permanecer na missão, esses profissionais, mesmo sem saber e, talvez, até sem crer, ingressam numa comunhão profunda com os sofrimentos de Cristo. Entenderam que somos capazes de “sofrer com o outro, pelos outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente” (SS 39).

CONCLUSÃO

Para quem crê, até mesmo a provação da pandemia pode estabelecer uma intimidade com Cristo e fortalecer a esperança na vida eterna. Com ele, o sofrer implica tentação e convite.

Tentação, porque a dor, seja ela qual for, ameaça as seguranças e certezas. Ela é uma ruptura que pode fragmentar a pessoa. Quando o sofrimento provoca revolta, constata-se uma reação até natural de quem se sente impotente e não consegue avaliar os limites da natureza. Não raras vezes, imputa-se a Deus a impotência humana. Nesse caso, a crise atinge a fé e a esperança.

Convite, porque ao absurdo da dor se contrapõe a solidariedade de Cristo, a qual modifica o sentido do sofrimento. Se a revolta é uma reação natural, a paz é um dom sobrenatural a ser acolhido. Quem sofre pode crescer moral e espiritualmente com essa experiência. É claro que poucos conseguem viver tudo isso em meio a grande provação. Isso depende da capacidade mística de se abandonar, incondicionalmente, nas mãos de Deus. É a condição de quem compreende que somente quem crê e espera em Cristo pode abrir caminhos de libertação da escravidão imposta pelo mal. Assim, não interessa quanto se sofre, mas como se sofre.

No cristianismo primitivo, entendia-se que as perseguições, os martírios e as dificuldades de toda sorte tinham profunda conexão com a esperança. Aceitava-se sofrer porque Cristo havia sofrido. Não era uma atitude passiva e fraca, e as tribulações eram percebidas como sinais de que o tempo messiânico havia efetivamente começado. Os sofrimentos permitiam participar da paixão de Cristo, mas se esperava que, em breve, ocorreria sua vinda gloriosa. Enfim, sofria-se na esperança da vitória (2Ts 1,4-10).

Afinal, precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar todo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir (SS 16).

A pandemia da Covid-19 encerrou um jeito de viver neste mundo. Novos ritmos e novos estilos de interação com a nova rea-
lidade irão se impor. A falsa segurança e o delírio de onipotência ruíram. Há dúvidas, incertezas e inseguranças sobre o futuro próximo. A fé cristã, porém, sustentada por uma esperança que não decepciona (Rm 5,5), assegura que as promessas de Cristo se cumprirão, porque Deus é fiel (1Cor 1,9). Cabe a cada cristão acolher o tempo presente vivendo entre as coisas que passam e “abraçando” aquelas que não passam. A empatia, a solidariedade e a defesa da vida são testemunhos de uma caridade que jamais se perderá.

 

Referências bibliográficas

BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Spes Salvi: sobre a esperança cristã (SS). São Paulo: Paulinas, 2007.

CAMUS, Albert. A peste. Rio de Janeiro: Record, 2009.

FRANCISCO, Papa. Vida após a pandemia. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2020.

MENDONÇA, José Tolentino de. Il potere della speranza. Milano: Vita e Pensiero, 2020.

Dom Leomar Antônio Brustolin

é bispo auxiliar de Porto Alegre, doutor em Teologia, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), membro da Comissão de Doutrina da Fé da CNBB. E-mail: [email protected]