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Publicado em novembro-dezembro de 2021 - ano 62 - número 342 - pág.: 4-13

Homem do “amém” ao Espírito, à história, à pastoral

Por Joana T. Puntel, fsp

Na celebração dos 50 anos da páscoa do fundador da Família Paulina, Tiago Alberione, a proposição do presente artigo é convidar os leitores a acompanhar o percurso de uma vida exemplar, que, no seu tempo, sempre buscou projetar o futuro. O caminho é entrelaçado com fios dourados de “améns”: ao Espírito, à história e à pastoral. Hoje, vive-se a proposta de Alberione para continuamente reinventar-se na evangelização que o contexto atual solicita.

Introdução

Conhecemos1 o Pe. Tiago Alberione (hoje, “Beato”), fundador da Família Paulina, como um tecido de vida (usando uma metáfora!) que se desdobra com fios entrelaçados, bordados, fecundados de “améns” ao Espírito. Nos 50 anos de sua páscoa, enfatizamos seu legado comunicacional para a Igreja, como fruto do “entrelaçamento” dos seus contínuos “améns” ao Espírito que o conduzia.

Tudo começou com um primeiro “amém” de Tiago Alberione ao Espírito. Os “améns” de Alberione têm profunda conexão com o ESCUTAR, no que isso significa, desde a etimologia da palavra: escutar, do latim auscultare, dar ouvido, obedecer. Assim, destacamos os “améns” de Tiago em três grandes escutas, bem como suas consequências: escutar o Espírito, escutar a história, escutar a pastoral (aspecto eclesiológico). Os “améns” são indissociáveis: um supõe o outro, um depende do outro. Todos, porém, se entrelaçam na vivência e no cumprimento da missão.

1 Conheci-o pessoalmente, em uma de suas vindas ao Brasil.

1. As três grandes escutas

1.1. Escutar o Espírito

Há um chamado de Deus e uma resposta de Alberione. Isso remonta à passagem do século XIX para o século XX. Uma noite em que, em adoração, Alberione viveu profunda experiência, a escuta do Espírito, como consequência de sua sensibilidade a Deus e ao contexto histórico em que vivia. Dócil ao Espírito, profundamente sintonizado com a bastante complexa realidade sociocultural e eclesial do seu tempo, ele rezava diante do Santíssimo. Inquieto e sensível à realidade que se transformava, perguntou ao Senhor, na oração: “O que fazer pelos homens do novo século?” Sua inquietação, naquele contexto, nascia de um chamado para proclamar a Palavra de Deus com os modernos meios de comunicação, então florescentes. No início, certamente com a imprensa; depois vieram o rádio, a TV (chegou até a tentar o cinema), enfim, os audiovisuais e – vislumbrando o futuro – “tudo o que a ciência poderia oferecer para fazer o bem”. Era preciso alargar o horizonte, estar em sintonia com os tempos, para proclamar a Palavra de Deus. Tudo foi amadurecido na oração, e Tiago Alberione fundou, então, a Família Paulina, iniciando-a com os padres e irmãos paulinos e, depois, promovendo a valorização da mulher, com a fundação das congregações femininas e seus apostolados específicos, sobretudo com um carisma para a evangelização com a comunicação.

Alberione se inquieta! Já com um coração de apóstolo, analisa, reflete, contempla a humanidade, com suas angústias e alegrias. Há mutações profundas em vários campos do saber e, portanto, dos comportamentos humanos, quer no âmbito da antropologia, quer no da eclesiologia. Ele se acerca de pessoas que igualmente se preocupam com as ideias do modernismo, que dialogam sobre a crescente falta de sentido, de Deus, na sociedade; e também sobre a situação eclesial, bastante despreparada para indicar rumos de esperança para a sociedade da época. O que fazer pela humanidade que nascia com o “novo século”? Alberione busca, então, Aquele que possui todas as respostas, porque é a Verdade, que indica a direção, porque é o Caminho, e enche a existência de vitalidade, porque é a Vida. Amadurece, então, suas ideias, sua inquietação, na Eucaristia, à luz da Palavra de Deus, os dois grandes geradores de energia para as atividades apostólicas que Alberione deixa, como legado essencial, à Família Paulina.

1.2. Escutar a história

O “amém” ao Espírito conduziu Alberione ao “amém” da escuta da história. Ele busca, em Paulo apóstolo, o Espírito, para “enxergar” a história. Meter-se dentro, estudar, enxergar, agir. Em que contexto viveu Paulo? Em que contexto vivia Alberione?

Era assíduo leitor das cartas de São Paulo, pois o apóstolo o encantava, o inspirava, era o evangelizador por excelência. Alberione, então, escolhe Paulo como o pai, o protetor, o modelo para seguir Jesus Mestre. No apóstolo, ele encontrou um protótipo da vida em Cristo. Um santo que se destacava em duas direções: a intimidade com Jesus Cristo e a missionariedade. Enfim, a escolha por Paulo concentrava-se no fato de o apóstolo ser uma pessoa possuída por Deus, dócil ao Espírito Santo, empenhada num processo de cristificação: “Até que Cristo se forme em mim” (Gl 4,19); mas também: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16).

Alberione compreendeu que Paulo viveu do Espírito, agiu sob a influência do Espírito, tinha a força, a luz que lhe vinha do Espírito. Sobretudo, Paulo “enxergava” com a luz do Espírito (é possível ver as realidades e não enxergá-las). Portanto, era o Espírito agindo na identidade cristocêntrica de Paulo que o fazia enxergar, isto é, perceber onde a evangelização precisava atuar, encarnar. Como Paulo, Alberione mergulhou na história para dar uma resposta ao contexto em que se encontrava. Dizer “amém” à história é enxergar e ser criativo para agir.

O contexto da passagem do século XIX ao século XX revelava um homem moderno, com novas aspirações. Alberione procurava participar de congressos, escutando sociólogos do seu tempo, que faziam perceber os desafios vividos pela sociedade e apresentados à Igreja. Destacava-se, nesse campo, um economista e sociólogo apaixonado por Cristo e pela Igreja, Giuseppe Toniolo, que, sem dúvida, teve grande influência sobre Alberione. Na época, também o papa Leão XIII solicitava rezar pelo novo século que nascia. Ambos falavam das necessidades da Igreja, dos novos meios que surgiam e do dever de opor imprensa a imprensa, organização a organização, de fazer o Evangelho penetrar nas massas.

A sociedade progredia bastante velozmente, em relação aos tempos anteriores. Estavam desabrochando já as novas invenções tecnológicas para desenvolver a comunicação, de maneira que o “amém” de Alberione ao Espírito o conduzia também à cultura e à percepção de onde o Espírito queria dar a resposta, aquela que Alberione buscava para “dar à humanidade”. Sensível à história, ele percebe a importância da comunicação, de fazer nova “pregação”. Os meios de comunicação podiam se tornar o “novo púlpito”, para alimentar a dimensão espiritual existente no ser humano e o agir consequente numa sociedade que se transformava progressivamente. Ali estava a Igreja, com suas necessidades, mas, ao mesmo tempo, não bem preparada para o “novo” que emergia. Um grande desafio!

Alberione diz mais um “amém” ao Espírito e, agora, à história. Ele não hesita. Lança-se e funda a Família Paulina. Põe a comunicação a serviço da Palavra de Deus, no contexto sociocultural do seu tempo. Já em 1925, entendeu e afirmou que “o mundo tem necessidade de nova, longa e profunda evangelização” (ESPOSITO, 1983, p. 680).

1.3. Escutar a pastoral

O “amém” à pastoral, sempre à luz do Espírito Santo, impulsionava Alberione a viver a mística apostólica, a exemplo de Paulo, que enxergava a realidade. Era preciso abrir fronteiras para o Evangelho; tal como Paulo, Alberione parte, então, de uma experiência profunda com Cristo (uma identidade cristocêntrica!) e vai não somente ver a realidade, mas enxergá-la. Isto é, vai sentir a necessidade de não somente levar Cristo, mas também enxergar os modos de percepção da fé que o contexto, a ambiência do momento atual, oferece. Sabemos que a fé não muda, mas a percepção da fé, essa, sim, se modifica, varia conforme as sociedades evoluem e novos sujeitos, novas relacionalidades surgem a partir de tantas interferências – por exemplo, das novas tecnologias.

Alberione iniciou, assim, um estilo original de evangelização – santidade e apostolado com a imprensa e com os sucessivos meios de comunicação, “a pregação escrita junto à pregação oral”. Ele intuiu o significado e a importância da comunicação como “eixo” sobre o qual se movem as pastorais. Introduziu, então, na Igreja um carisma pastoral: evangelizar com a comunicação.

As mudanças do contexto social influenciam a pastoral. Alberione chega a dizer, em certa ocasião: “Convém alargar [os horizontes] segundo as necessidades de hoje […]. Convém tomar o mundo e os homens como eles são hoje, para fazer o bem hoje” (ALBERIONE, 1973, p. 157). Fala-se muito, atualmente, a respeito do espírito pastoral; no entanto, já faz algum tempo que esse espírito pastoral despertou. Dar orientação moderna às obras é o que deduzimos do espírito profético e criativo de Alberione. Assim, ele diz:

a religião, a doutrina, a moral, a ascética são imutáveis; no entanto, têm sofrido e sofrem ainda certo progresso acidental, porque vão sendo compreendidas pelos homens e se adaptam às necessidades dos tempos e das classes sociais. Nós devemos conduzir as almas ao paraíso; no entanto, devemos conduzir não aquelas que viveram dez séculos atrás, e sim aquelas que vivem hoje (ALBERIONE, 2012, p. 92-93).

Os caminhos de Alberione, pontuados pelos seus contínuos “améns” à pastoral, se, por um lado, se mostraram proféticos, por outro, foram sempre sofridos. Também a Igreja, em sua lentidão como instituição, demorava a perceber a importância da comunicação. Alberione sentia e colaborava para que houvesse uma pastoral “moderna”. Chegou inclusive a afirmar sobre a Igreja (o clero) da época: “Uma parte ainda apegada aos antigos métodos de vida e pastoral; ficavam alheios às novas necessidades; a outra, convencida da necessidade de sistemas, organizações e iniciativas pastorais atualizadas” (AD 49).

 Grande contribuição para o desenvolvimento de nova mentalidade sobre comunicação, iniciada pelo Concílio Vaticano II, foi oferecida por Tiago Alberione, que, como superior geral de uma congregação, participou das sessões do Concílio Vaticano II. É possível encontrar, por exemplo, entre tantos dos seus apontamentos (respondendo aos questionários em preparação ao Concílio), sua manifestação em favor da língua vernácula nas celebrações, bem como sobre a necessidade de um dicastério que se ocupasse da comunicação. Na verdade, o que resultou do decreto Inter Mirifica foi o incentivo para a criação de um secretariado pontifício.

Com o amém à pastoral de Alberione, passamos a um novo exame.

2. Inter Mirifica: recordar por quê?

Há exatamente 58 anos, em 4 de dezembro de 1963, o segundo dos 16 documentos do Concílio Vaticano II – o decreto Inter Mirifica – era aprovado, assinalando a primeira vez que a Igreja, de modo formal e “solene”, se voltava para a questão da comunicação. Em seus escritos e palavras, Alberione manifesta o contentamento por essa aprovação, que ele interpreta como vontade de Deus para o início de um modo original de evangelização, indicando ser possível santificar-se mediante o exercício do apostolado da comunicação (santidade e apostolado).

A importância do decreto, como aceitação oficial, reside na “legitimação” do uso dos meios de comunicação social pela Igreja. Isso representa um divisor de águas, se levarmos em conta a trajetória anterior da relação entre Igreja e cultura, desenvolvida, em diferentes épocas, praticamente sem diálogo em muitas áreas, como a da comunicação.

Querendo referir-se a todas as tecnologias de comunicação, mas também ao ser humano, o documento usou um conceito de tecnologia que não se atinha apenas às técnicas ou à difusão delas, mas incluía também os atos humanos decorrentes – que são, no fundo, a principal preocupação da Igreja no seu trabalho pastoral. A Igreja quis assumir, assim, uma visão mais otimista da comunicação diante das “questões sociais”, pois a comunicação não pode reduzir-se a simples instrumentos técnicos de transmissão, mas deve ser considerada como um processo de relacionalidade entre as pessoas. Por isso, a Igreja optou pela terminologia “comunicação social”, preferindo-a a outras expressões que pareciam ambíguas ou redutivas.

Os 24 artigos que compõem o Inter Mirifica foram aprovados quase no final da segunda sessão do Concílio, já sob a presidência de Paulo VI. O texto se divide em dois capítulos, e o primeiro deles trata das normas para o correto uso dos meios de comunicação social. São deveres que a Igreja considera como princípios a serem levados em consideração, como o direito à informação (tema candente na década de 1960; hoje, ainda se verifica a exigência da temática “informação”, mas ligada à reflexão sobre as fake
news
e a “desinformação da informação”).

O capítulo 2 do decreto aborda “os meios de comunicação social e o apostolado”. O ponto de partida, sem acrescentar inovações em relação às recomendações de documentos romanos anteriores, consiste na ação pastoral, incentivando todos os católicos a que promovam (art. 14) e sustentem (art. 17) a boa imprensa, produzam e exibam excelentes filmes; deem eficaz ajuda à boa transmissão de rádio e televisão. Para alcançar tal objetivo, é preciso formar os autores, atores e críticos (art. 15), bem como os usuários (art. 16). As orientações da Igreja, contidas nesse capítulo, são princípios “que não envelhecem” e se aplicam a toda a extensão de inovações tecnológico-digitais em contínua evolução.

O Inter Mirifica incluiu na prática pastoral o dever da formação pessoal do receptor (art. 9), com a consequente indicação das formas para consegui-la (art. 16). Tal recomendação abriu caminho para os documentos posteriores sobre o tema incentivarem a necessidade de formação para a comunicação, ultrapassando o reducionismo do uso dos meios, isto é, levando em consideração a cultura, o diálogo entre fé e cultura, com novos paradigmas, novos processos comunicativos na sociedade contemporânea.

A proposta de estabelecimento de um dia anual para estudo, reflexão, análise, ação e oração no que concerne à comunicação (art. 18) foi concretizada já em 1966, e o papa Paulo VI, em 1967, escreveu a primeira mensagem para a celebração desse dia, prática que continua a ser seguida pelos pontífices até o presente. O decreto contém, também, a solicitação para que se criasse, na Santa Sé, um secretariado especializado para a comunicação (atualmente, já dentro de nova estrutura, o Dicastério para a Comunicação).

3. Nosso “amém” nas pegadas de Alberione

O “amém” ao Espírito, que continua chamando para evangelizar, o “amém” à história, que se modifica e reconfigura a sociedade em contextos contemporâneos e pandêmicos, e o “amém” à pastoral, que necessita ser consequência de um “amém” ao Espírito, de uma sensibilidade à história, levam a pastoral a realizar o diálogo entre fé e cultura na sociedade contemporânea, marcada pela cultura digital. É questão de fidelidade ao legado que Tiago Alberione deixou aos seus filhos e filhas e a todos os que na atualidade se propõem comunicar a mensagem da Boa-nova.

Em sentido pastoral, hoje, no campo digital, é preciso ir além do simples “manejo” dos dispositivos, mas incluir a primazia do ser humano; portanto, contribuir para qualificar o “estar nas redes sociais”. Uma pastoral que seja profetismo, que ajude as pessoas a fazer suas escolhas, especialmente nestes tempos de pandemia.

3.1. A Igreja, a pastoral… a caminho

Em meio à complexidade das transformações no campo da mídia, especialmente nos últimos anos, as quais provocam mudanças não somente nas organizações administrativas e de mercado, mas também na convivência humana, a Igreja cresce na consciência de que comunicação e evangelização não podem trilhar caminhos paralelos sem realizar estreito e efetivo diálogo com a sociedade contemporânea.

Nos últimos 55 anos, o magistério da Igreja, por meio das mensagens dos papas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, tem acompanhado o desenvolvimento e as mudanças ocorridas no âmbito da comunicação, um fenômeno em contínua transformação no tocante a sua criatividade, suas articulações e suas consequências na sociedade contemporânea. O primado de tais mensagens, em sintonia com a missão fundamental da Igreja, tem sido sempre situar a pessoa humana como centro do papel histórico e da função que os meios de comunicação têm na construção do viver humano, segundo nossa vocação basilar de filhos e filhas de Deus. O magistério avança no esforço e no incentivo para que a Igreja seja um sinal que aponte Jesus Cristo, mas na “ágora moderna”. É ali que a Igreja deve também ser e estar, conforme Bento XVI: “Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma ‘diaconia da cultura’ no atual ‘continente digital’” (BENTO XVI, 2010).

Dizer “amém” à pastoral – assim como Alberione, quando escutou o Espírito, escutou a história – exige, a exemplo do apóstolo Paulo, enxergar nossa realidade, em situação de pandemia. Isso requer mudança de mentalidade, para desenvolver a pastoral com base em um diálogo atual entre fé e cultura. Esse é grande e necessário desafio para a atualidade da Igreja, porque está nascendo “nova maneira de aprender e pensar” (BENTO XVI, 2011). O interesse da Igreja pela comunicação nas redes sociais digitais, também como espaço de evangelização, manifesta sua capacidade de acompanhar o desenvolvimento humano, cultural e científico da comunicação, o desejo permanente de dialogar e participar ativamente da ambiência que envolve o processo de criação das novas expressões de relacionamento.

Sem deixar de olhar positivamente para o que a comunicação digital pode e deve construir (pontes, por exemplo), em continuidade com Bento XVI, Francisco chama a atenção, na Fratelli Tutti (n. 43), para o fato de que, quando não existe responsabilidade, as redes podem também se tornar uma plataforma de desrespeito e ódio. Por isso, ele adverte que “a [simples] conexão digital não é suficiente para construir pontes, não é capaz de unir a humanidade”. Nesse caso, a comunicação se tornaria “uma ilusão”.

3.2. É chegada a hora de reinventar-se

Em nossos dias, a “complexificação” no mundo digital chegou a altos níveis. A questão que se apresenta sempre é a centralidade da evangelização. Em virtude do fascínio e encantamento das possibilidades que o mundo digital oferece, há a exigência de reinventar, inovar e educar para viver a ressignificação de novas relações consigo mesmo, na família, nas comunidades, no trabalho… Aqui, não somente pelo digital, mas também por causa da pandemia, reinventar, inovar nossa produção no mundo digital deve se traduzir em evangelizar para que os seres humanos vivam nova realidade de se sentirem interligados uns aos outros, de maneira que a fraternidade e a solidariedade não fiquem canceladas pelo isolamento. Por conseguinte, seguindo os apelos do Concílio Vaticano II, realizar a comunicação não é simplesmente noticiar, mas também envolver as pessoas em nova humanização, que perpassa a educação – uma comunicação das relações humanas e evangélicas. Isso passa pelos novos métodos, pelo esvaziamento de nós mesmos para podermos obter uma mudança de mentalidade. O critério é sempre a Boa-nova de Jesus Cristo. Não é a produtividade baseada unicamente no profissionalismo, no número de likes, no mercado, mas os critérios do Reino de Deus (GUIMARÃES, 2020).

Inovar é ser convocado para uma evangelização mais profética, que toca temas candentes na sociedade, pois é preciso falar não o que agrada às pessoas, e sim o que elas precisam ouvir. O que emerge dessa realidade de pandemia? A solidão, a dor, a fraternidade, o perdão, a compaixão, a morte, a cidadania, as políticas públicas, a ética, dar-nos conta de que estamos vivendo um novo ethos.2 A evangelização profética precisa descobrir, refletir e alimentar a esperança, a solidariedade, porque somos construtores de esperança na comunicação. Diz o papa Francisco: “Precisamos de ternura. O mundo da mídia tem de se preocupar com a humanidade”; “O mundo digital pode ser um ambiente rico em humanidade, uma rede não só de fios, mas de pessoas”. É um chamado para produzir conteúdos, usar métodos que, nos diversos campos (também na educação), levem as pessoas a nova humanização.

2 Vale a pena acompanhar a preocupação da Igreja – bem como sua abertura ao diálogo – sobre a questão da inteligência artificial. Papa Francisco insiste sobre a primazia do ser humano. Artigos sobre a temática estão presentes especialmente nas publicações do IHU, com particular atenção para o teólogo Paolo Benanti.

Conclusão

A vida de Tiago Alberione foi realmente um tecido desdobrado com fios entrelaçados, bordados e, sobretudo, “fecundados de améns” ao Espírito, na sua escuta profunda que interioriza o movimento-apelo do Espírito e lhe obedece. O Espírito o conduz para escutar a história. Assim, Alberione se deixa tomar pelo contexto e pergunta ao Senhor “o que fazer por essa humanidade”. Surge, então, o fio de ouro que borda todo o tecido, a pastoral com novo “jeito de evangelizar”, novo púlpito de pregação da Palavra. Sempre fiel à Igreja, Alberione colabora com ela, ajuda a formar nova mentalidade, novos métodos, com os meios de comunicação, pois era firme em dizer: “Nosso apostolado visa criar uma mentalidade nova na sociedade. Dar-lhe novo rumo” (ALBERIONE, 1973, p. 161).

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Joana T. Puntel, fsp

(irmã paulina) é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação pela Simon Fraser University (Canadá) e pela Universidade de São Paulo. Docente no curso de especialização em Comunicação, Teologia e Cultura (Sepac/Itesp). Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação – Intercom. Membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB (Grecom). Pesquisadora, conferencista nas áreas de cultura, Igreja-comunicação e pastoral. E-mail: [email protected]