Carta do editor

Janeiro-Fevereiro de 2021

Temas pastorais para um novo futuro

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Iniciamos um novo ano. Com ele, a esperança de um novo tempo. Dizer “novo ano” é diferente de dizer “mais um ano”.  A expressão “mais um ano” poderia dar a sensação de um peso, de um fardo semelhante ao do mito de Sísifo. O tempo presente, apesar dos cenários incertos, e agora agravados pela pandemia da Covid-19, revela-se para nós como um desafio de encontrar brechas que apontem para um novo tempo, um novo futuro. Nossa perspectiva é a da esperança. Aquela esperança iluminada pela fé, capaz de fazer nossos olhos enxergarem além do cinza do tempo.

Para nós, a teologia não consiste somente em ideias, discursos e altas elucubrações. Ela tem suas raízes na realidade concreta. Num fato. No caso da teologia cristã, o fato é Jesus mesmo, que se fez história, “em tudo semelhante a nós, menos no pecado” (Hb 4,15). Já na passagem do século IV para o V, com Santo Agostinho, a fé era percebida de duas maneiras: uma maneira que era olhar na fé os seus conteúdos (fides qua), outra que era olhar na fé o ato de crer (fides quae). Os conteúdos da fé seriam vazios sem a fé. A fé é um movimento. E esse movimento não nos permite paralisarmos. Nas adversidades e na dúvida, o desafio da fé se intensifica. Um exemplo elucidativo é Pedro caminhando sobre as águas (Mt 14,22-33). Como não duvidar, se o lugar onde se pisa não é sólido? Que alguém não afunde, aí subjaz o mistério. Há uma atração diferente, outro fio de gravitação. Esse fio nos permite olhar a realidade presente com o olhar da fé.

O cinza dos dias que se abate sobre a humanidade nos revela que não pisamos em lugar muito sólido, isto é, não temos muita segurança. Basta um olhar aguçado para os olhos das pessoas. Por imposição da pandemia do novo coronavírus, o uso de máscara deu maior exposição ao nosso olhar. A boca escondida deixa os olhos falarem mais. Há olhos aparentemente amedrontados e, consequentemente, com a expressão de exaustão. Há em muitos olhos uma espécie de grito silencioso ou pedido de socorro, feito aquele grito confiante de Pedro:  “Senhor, salva-me”.

Este número de Vida Pastoral propõe temas para pensar “um novo futuro”. Para tanto, nosso primeiro olhar é sobre a Amazônia, ambiente que nos recorda o projeto original de Deus. Na perspectiva do Sínodo, há um caminho a ser percorrido junto para o cuidado urgente da “casa comum”. Tudo está interligado. Desse modo, é preciso considerar, ao mesmo tempo, o valor das formigas e o lugar dos aviões. Daí o convite para pensar a “economia de Francisco”, nosso segundo olhar, desafio imenso para um futuro integrador, em que cessem a exploração e o lucro desenfreado, enquanto multidões ficam à beira do caminho. Certamente todas as possibilidades de um novo tempo são factíveis mediante o diálogo e a tolerância entre povos, nações, religiões. Trata-se do apelo da Campanha da Fraternidade Ecumênica, nosso terceiro olhar. Por fim, o novo futuro pede vozes proféticas, capazes de abertura ao Espírito. Homens e mulheres imbuídos de ternura e comunhão ecológica. O perfil de Pedro Casaldáliga recorda-nos a importância de seu legado e, ao mesmo tempo, o apelo para uma vivência pastoral autêntica e integrada às causas do Reino de Deus.

O novo futuro é a Nova Jerusalém (Ap 21,2), dom prometido por aquele que faz novas todas as coisas.  Vida Pastoral inicia o ano de cara nova. Esse colorido é a expressão de nossa esperança em um novo tempo.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor