Carta do editor

julho-agosto de 2011

GraçaePaz!

Com esta edição, damos continuidade ao tema “Pastoral em novas perspectivas”, que foi iniciado na edição anterior e será contemplado em ainda duas edições (novembro/dezembro de 2011 e janeiro/fevereiro de 2012).

Na edição anterior, vimos sobretudo as mudanças de cosmovisões ao longo da história: as cosmovisões teológica e antropológica e a que está se estabelecendo atualmente, a ecológica. Estamos entrando em novo paradigma, o ecológico, mas os anteriores ainda se mantêm com forte influência. Na presente edição, os autores apresentam uma reflexão sobre as implicações dessas mudanças para a pastoral.

Conforme nos aponta padre Nicolau Baeker, a pastoral inspirada na cosmovisão teológica tende a ser dogmatista, com concepções de revelação estáticas, que não levam em consideração os limites temporais, espaciais e de contexto cultural de compreensões elaboradas no passado. Confunde-se fidelidade à doutrina com o seu engessamento em fórmulas.

Por outro lado, a virada antropológica abalou concepções teológicas e eclesiásticas, pondo o ser humano e a razão como medida de todas as coisas, com uma escalada de dificuldades de abertura ao transcendente e à fé. Dessa forma, criticando o dogmatismo da Igreja, que ficou na defensiva, a ciência se cerca de seus próprios dogmatismos.

A dificuldade de interação entre ambas as cosmovisões deu curso a uma lógica binária enganosa: a verdade única da Igreja versus a verdade única da ciência. Essa dificuldade é um obstáculo para a pastoral, pois as transformações nas visões de mundo a afetam profundamente.

Com a nova cosmovisão que avança, surgem perspectivas promissoras para a pastoral. A cosmovisão ecológica concebe o mundo e a humanidade como teia e rede de vida, na qual tudo e todos são interdependentes e não há organismos separados do todo. Sobressai a lógica da interdependência e da cooperação. A dinâmica da vida é a criatividade, e não a estabilidade e o imobilismo.

Essa nova perspectiva favorece a troca do “dedo em riste” de uma pastoral e de uma ciência “dogmatistas” pela mão estendida do diálogo, cooperação, estabelecimento de redes e teias vitais. A Conferência de Aparecida percebeu isso e indica a necessidade de reformas pastorais, espirituais e institucionais.

Muitas vezes se espera que esses avanços pastorais se originem de cima, da macromentalidade eclesial de Roma, esquecendo-se dos dogmatismos e fechamentos presentes nas práticas do dia a dia, no próprio entorno, na base, na paróquia. Muita coisa depende da vontade local para evoluir e mudar no sentido de descentralizar; desfazer dogmatismos e clericalismos; diminuir a fragmentação e tornar as estruturas mais participativas e criativas. Por exemplo, havendo empenho do pároco e de lideranças locais, é possível passar da paróquia centralizadora, burocrática, fragmentada, com ritualismos e calendários intocáveis ano após ano, para paróquias-rede, com descentralização, variedade de comunidades interdependentes, empoderamento dos fiéis, consciência de pertença, poder-serviço, missionariedade e transformação social.

Pe. JaksonFerreirade Alencar, ssp

Editor