Carta do editor

julho – agosto de 2017

Papa Francisco: por uma Igreja aberta, acolhedora e inclusiva

Prezadas irmãs e prezados irmãos, graça e paz!

Naquele 13 de março de 2013, quando uma multidão estava de olhos voltados para a chaminé da Capela Sistina e a fumaça branca surgiu, o coração da gente se acelerou, com aquela ansiedade que toda surpresa acarreta. A simbologia do rito tem a força de marcar a memória. O anúncio “habemus papam”, “temos um papa”, feito pelo cardeal protodiácono agita a praça de São Pedro, tomada por uma multidão de olhos brilhantes e por flashes de celulares que mais pareciam velas iluminando a praça. No mundo todo, os televisores ligados e os católicos à espera de seu novo líder.

Aparece um senhor de 76 anos, com passos suaves, face serena, olhar iluminado, alfaias leves e o mesmo crucifixo que sempre usara. É o argentino Jorge Mario Bergoglio, que doravante se chamará Francisco, bispo de Roma, o 266º sucessor de Pedro.

Desde a sua primeira aparição como papa, Francisco nos surpreende. A começar pela escolha do nome. Francisco é uma mudança de mentalidade. O nome em si carrega a marca do amor total. Aquele mesmo amor de Jesus que se derrama por todos. O amor que envolveu o jovem Francisco de Assis. Perdidamente enamorado por Deus e por toda a criação, ele deixa-se dominar por uma loucura sã, num tempo em que a humanidade e a própria Igreja estavam em ruínas. Ama as coisas simples da vida, desfaz–se das pompas e das honrarias tão atraentes e tentadoras à condição humana, por vezes fruto de injustiça e do derramamento de sangue dos inocentes. Francisco é alguém que mira o céu com os pés no chão, tendo-os por vezes feridos e enlameados.

Mira o céu não com discursos divagantes nem com rompantes de uma razão orgulhosa. Mira o céu sem a tentação de fugir do mundo. Mira o céu com a alegria do evangelho (Evangelii Gaudium), alegria que mal nenhum tem o poder de entristecê-la. Mira o céu louvando a Deus (Laudato Si’) pelas pequenas coisas da criação: as formigas e seus caminhos estreitos e trabalhosos; os pássaros e seus cantos e voos. Tudo é fraternidade: irmã água, irmã terra, irmão sol, irmão fogo. Até a morte é irmã. Não a morte matada, mas aquela que nos faz todos iguais. Um dia teremos de partir desta travessia e encontrar o Criador face a face. Mira o céu compadecendo-se dos que carregam o fardo e a dor do pecado (Misericordiae Vultus). Mira o céu tocando e sarando as feridas dos sofredores. As feridas da carne e da alma. As feridas que tanto humilham e desumanizam as famílias. É preciso um cuidado atento pela família. A alegria tem seu lugar fundamental ali (Amoris Laetitia).

O papa quis o nome de Francisco. E vem seguindo com fidelidade o caminho de Jesus. Há relatos de que, logo após ser eleito bispo de Roma, teria ouvido de seu amigo o cardeal Cláudio Hummes a frase: “Não se esqueça dos pobres”. A mesma recomendação que outrora a Igreja fizera ao apóstolo Paulo: “Apenas nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que, aliás, eu mesmo propusera fazer com todo cuidado” (Gl 2,10). Francisco tem insistido numa Igreja pobre para os pobres, sempre em saída, de portas abertas e marcada pela misericórdia.

Este número de Vida Pastoral é uma colaboração para conhecer uma síntese do pensamento de Francisco ou as linhas mestras de seu empenho evangelizador nestes tempos marcados por crises, sobretudo a crise humanitária. Estejamos em comunhão com o papa e ouçamos o que nos diz. E como sempre pede, rezemos por ele. Boa leitura e feliz missão!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor