Carta do editor

maio-junho de 2011

GraçaePaz!

A partir desta edição, apresentaremos uma série de quatro edições de Vida Pastoral focadas no tema “Pastoral em novas perspectivas”, com artigos que interpretam a realidade atual, identificam desafios e obstáculos e indicam pistas de caminhos a serem assumidos pastoralmente. Dessa forma, procuramos ir ao encontro das prementes necessidades pastorais da Igreja. Tais edições serão, além desta, as de julho/agosto, novembro/dezembro e janeiro/fevereiro.

No decurso dos séculos, o mundo e a humanidade tem passado por profundas transformações; na atualidade, esses processos de mudança se aceleram, embalados pelo ritmo frenético das tecnologias e das descobertas científicas. Como pano de fundo das transformações históricas estão os grandes paradigmas de compreensão da realidade, chamados “cosmovisões”. Conhecemos, ao longo da história, três cosmovisões: a teológica, segundo a qual Deus ou as divindades são o centro de todas as coisas; a antropológica, na qual o ser humano e a razão humana, particularmente, são considerados o centro e a medida de tudo; e a nova cosmovisão, ecológica, que ganha contornos no presente, segundo a qual o todo da criação se encontra no centro, tudo está interligado e tudo depende de tudo.

Essas cosmovisões, como poderemos ver no artigo do pe. Nicolau Bakker, são geradoras de sentido, e todas as pessoas, consciente ou inconscientemente, deixam-se guiar por elas. Embora as cosmovisões se mesclem, em cada época há uma que é principal. A cosmovisão de cada época afeta profundamente a ação pastoral da Igreja. Desempenhar iniciativas pastorais e de evangelização em desacordo com a visão de mundo predominante é tarefa de baixos resultados ou de resultados que não vingam a médio e a longo prazo. Por exemplo, ter como princípio norteador das pregações, da pastoral, da moral e da eclesiologia cosmovisões ultrapassadas em um mundo que evoluiu é como falar para paredes.

Deus é absoluto e eterno, a plenitude de sua revelação cumpriu-se em Jesus Cristo. Mas a compreensão humana dele e do que ele revelou não é absoluta, nem eterna, nem imutável. Nenhuma época esgota o conhecimento de Deus e da realidade. A revelação de Deus se realiza na história, e a compreensão dela se transforma à medida que a humanidade adquire novos conhecimentos e passa por novas experiências.

Dessa forma, o que propomos com as edições sobre “pastoral em novas perspectivas” é conhecer mais as mudanças pelas quais o mundo passou e passa, para que a pastoral possa dialogar com elas. Assim se podem aproveitar as oportunidades oferecidas pela cosmovisão ecológica para compreender a Deus e falar dele de maneira renovada, com novas práticas pastorais em sintonia com a humanidade de hoje.

Talvez alguns leitores venham a pensar que os artigos do pe. Nicolau Bakker, nesta e nas próximas edições, trazem muitos dados científicos, da física, da biologia, e que o público da paróquia, do grupo ou da pastoral pouco ou nada tem a ver com isso. Não podemos nos acomodar com esse tipo de “crença”, pois, embora boa parte da população não conheça a fundo a ciência e os dados científicos, a mentalidade gerada pelos avanços científicos se populariza de diversas maneiras e, mais cedo ou mais tarde, chega à grande maioria. Isso tem muitas implicações para a pastoral.

Pe. JaksonFerreirade Alencar, ssp

Editor