Carta do editor

Maio-Junho de 2019

Sínodo da Amazônia

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Que o planeta Terra vive uma das grandes crises de sua história todos nós sabemos. É fato. Basta um pouco de atenção aos sinais dos tempos e ouvidos abertos aos gritos da criação toda, que “geme e sofre dores de parto até agora” (Rm 8,22). No entanto, para além de uma postura apocalíptica, no sentido de destruição, a comunidade cristã tem sempre à vista de seus olhos horizontes de esperança.

A metáfora do apóstolo Paulo acerca das “dores de parto” indica a possibilidade de um recomeço. A imagem do parto expressa renovação. Todo parto é dolorido, mas depois que a nova vida é dada à luz, toda a dor é superada pela alegria.

Essa imagem tem relação com a esperança cristã. Quem segue Jesus está aberto a superar todo e qualquer fatalismo ou desencanto diante da vida e dos acontecimentos. De acordo com o teólogo Jürgen Moltmann, a esperança visa à obtenção de perspectivas de futuro para um mundo mais justo, mais pacífico e mais humano. Portanto, não se trata de um sentimento ou comportamento indiferentes ao mundo da vida. Ao contrário, a esperança gera atitudes de justiça, de humanização e de promoção da paz.

A esperança é como que um alerta, uma centelha em nós, que não nos permite comodismo diante das situações da vida. É nessa perspectiva que se pode situar o grande gesto do papa Francisco de convocar a Igreja e todas as pessoas de boa vontade para a realização do Sínodo da Amazônia, com o tema “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O evento ocorrerá em outubro de 2019.

Trata-se de um olhar permeado da esperança de que é possível mobilizar o mundo em defesa da Amazônia. Trata-se ainda de ouvidos atentos ao grito dos povos amazônicos contra os homens do mercado, que devastam o santuário da vida e toda variedade de criaturas que ali habitam. O verdadeiro seguidor de Jesus não compactua com as artimanhas diabólicas do deus mercado que, em nome do dinheiro, exploram, agridem e matam a natureza.

Para que novos caminhos sejam percorridos, como propõem o tema do Sínodo e seu Documento Preparatório, é imprescindível ouvir os povos que habitam a Amazônia: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, os povos indígenas.

A ecologia integral de que fala o tema do Sínodo diz respeito a um entrelaçamento da vida em sua totalidade, desde a vida humana aos animais, às plantas, aos pássaros, aos rios, enfim, às mais variadas formas de vida. Todos nós fazemos parte de uma mesma casa. É desta casa que devemos cuidar, empenhando-nos para que todos tenham vida em plenitude (cf. Jo 10,10).

O Sínodo da Amazônia é um apelo a caminharmos juntos pela causa da vida. É, sem dúvida, um grande desafio, uma vez que as forças contrárias são poderosas e há tempo agem ambicionando o lucro desregrado, derrubando árvores, envenenando os rios, matando as pessoas e os bichos. Mas ainda há esperança. Nisso consiste a exortação do papa: “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar” (LS 13).

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor