Carta do editor

Março-Abril de 2024

A IGREJA E A COMUNICAÇÃO
NA ERA DIGITAL

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

O Dicastério para a Comunicação do Vaticano publicou, no dia 28 de maio de 2023, o documento intitulado Rumo à Presença Plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais. O documento é resultado de reflexões conjuntas de especialistas, professores, jovens profissionais e líderes, leigos, clérigos e religiosos. Inspirado na parábola do Bom Samaritano, o documento tem 82 parágrafos, divididos em quatro partes. Vida Pastoral traz como matéria de capa esse importante material, que nos ajuda no uso inteligente das redes sociais digitais.

A primeira parte do documento pede: “Atenção às ciladas nas rodovias digitais: Aprender a ver a partir da ótica de quem caiu nas mãos dos ladrões” (cf. Lc 10,36). De acordo com o texto, “muito além do ato de usar as redes sociais como um instrumento, vivemos em um ecossistema plasmado na sua essência pela experiência da partilha social” (n. 10). Essa parte do documento também faz referência ao papel da inteligência artificial e chama a atenção para os impactos que ela poderá causar. “Atualmente testemunhamos o desenvolvimento de máquinas que trabalham e tomam decisões por nós” (n. 8).

A segunda parte, intitulada: “Da consciência ao verdadeiro encontro: Aprender com aquele que teve compaixão” (cf. Lc 10,33), é um convite aos seguidores de Jesus a se deixarem guiar e a agir pela verdade do Evangelho. “O discípulo que encontrou o olhar misericordioso de Cristo experimentou algo mais. Ele ou ela sabe que a boa comunicação começa pela escuta e pela consciência de que outra pessoa está diante de mim” (n. 25).

A terceira parte, com o título: “Do encontro à comunidade: ‘Cuida dele’ (cf. Lc 10,35) – abranger outros no processo de cura”, trata da importância do ambiente da comunidade e do acolhimento nesse espaço, que deve ser de verdadeiro encontro, especialmente com o outro ferido no corpo e na alma. “A comunicação começa com a conexão e passa para os relacionamentos, a comunidade e a comunhão. Não existe comunicação sem a verdade de um encontro” (n. 45).

A quarta parte discorre sobre nossa atuação nas redes, daí o título: “Um estilo distintivo: Ame… e viverá” (cf. Lc 10,27-28). “Para comunicar a bondade, precisamos de conteúdo de qualidade, uma mensagem destinada a ajudar, não a prejudicar; para promover ações positivas, não para desperdiçar tempo em debates inúteis” (n. 66).

Em síntese, o documento Rumo à Presença Plena quer advertir que, diante das mais variadas plataformas em rede, diante das novidades da tecnologia da comunicação, e agora com o advento da inteligência artificial, por vezes corremos o risco de nos esquecer do meio de comunicação primordial: o nosso corpo.

Sim, este corpo que Deus nos deu, com suas fragilidades e potencialidades. O corpo é verdadeiro meio de comunicação. Sem um corpo vivo, portanto, e sem outros corpos, não há comunicação, mas tão somente conexão. Do corpo não se espera só conexão. Esperam-se vínculos. Nós precisamos de vínculos, dos afetos.

A autêntica comunicação é calor humano, para além do lume frio das telas. Precisamos urgentemente de mais vínculos e menos seguidores, de mais abraços e menos curtidas. Faz bem aguçar nossa capacidade de perceber o outro para criar vínculos. Comunicar é criar vínculos. Nos ambientes em que tecemos vínculos, já não somos indivíduos, somos um nó apoiado por outros nós e entrecruzamentos. Nisto consiste a comunhão, a fraternidade, a amizade: na comunicação. Jesus Cristo é nosso verdadeiro modelo de comunicação. Ele nos inspire na missão.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor