Setembro-Outubro de 2023
Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e
paz!
No tempo em que a carta aos Efésios foi escrita, o Império Romano impunha a mão pesada sobre
as populações dominadas, sem nenhuma compaixão. Os efésios viviam sob aquele regime
desumano. Por isso, a expressão “vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24) é apelo a um estilo de vida
contrário ao imposto pela tirania do imperador. “Não vos comporteis como os pagãos: com suas ideias
vãs, com razão obscurecida, afastados da vida de Deus, por sua ignorância e dureza de coração” (Ef
4,17-18).
Vestir-se da nova humanidade é se contrapor às durezas de coração do império e cultivar os
afetos. São os afetos que humanizam e edificam a vida. “Sede amáveis e compassivos uns com os
outros” (Ef 4,32). Enquanto o palácio se pautava na violência, na força das armas e na ostentação do
poder, os efésios deveriam insistir na humanização, na solidariedade e no respeito mútuo. “Quem
roubava não roube mais; ao contrário, trabalhe e se afadigue com as próprias mãos para ganhar
alguma coisa e estar em condição de socorrer a quem tem necessidade” (Ef 4,28).
Vestir-se da nova humanidade é opor-se à violência do império. Os efésios, “enraizados e
alicerçados no amor” (Ef 3,17), são vocacionados à construção de um mundo novo: “com toda a
humildade e modéstia, com paciência, suportando-vos mutuamente com amor, esforçando-vos por
manter a unidade do espírito com o vínculo da paz” (Ef 4,2-3). Não a pax romana, mas a paz que é
dom do Ressuscitado (Lc 24,36). Paz que supera o medo, a indiferença e toda espécie de injustiça.
Vestir-se da nova humanidade é não compactuar com os sistemas que disseminam o ódio, a
mentira e o preconceito. De acordo com a carta aos Efésios, a comunidade deve ser sinal de lucidez
em uma sociedade marcada pelas “obras estéreis das trevas” (Ef 5,11). Cabe aos discípulos e
discípulas terem os olhos fixos em Jesus, a fim de não se deixarem enganar “com discursos vazios”
(Ef 5,6). Uma comunidade verdadeiramente comprometida com o Evangelho não se deixa corromper
com o fermento da hipocrisia. Conhecendo a verdade, a mente e o coração do discípulo evitam todo e
qualquer fanatismo. “Comportai-vos como filhos da luz. Fruto da luz é toda bondade, justiça e
verdade” (Ef 5,8-9).
Vestir-se da nova humanidade é comunicar a Boa Notícia, respeitando a diversidade e construindo
pontes ao invés de muros. Como ensina o autor da carta aos Efésios, a vocação da comunidade
consiste em incluir, agregar ao corpo de Cristo, todos os afastados: “por meio da Boa Notícia, os
pagãos compartilham a herança e as promessas de Jesus Cristo e são membros do mesmo corpo. A
mim, o último dos consagrados, foi concedida esta graça: anunciar aos pagãos a Boa Notícia, a
riqueza insondável do Messias, e iluminar o segredo que Deus, criador do universo, guardava havia
séculos” (Ef 3,6.8-9).
Vestir-se da nova humanidade é ter um olhar de esperança para o mundo, ainda que este mundo
pareça não ter saída. Esta edição de Vida Pastoral é um convite ao leitor para a contemplação e o
aprofundamento da cristologia e eclesiologia presentes em Efésios: “Um é o corpo, um o Espírito,
assim como uma é a esperança a que fostes chamados” (Ef 4,4).
Nossa missão tem seu fundamento no Evangelho. Para nos contrapormos aos impérios de hoje,
nossos rins estejam cingidos com a verdade, estejamos revestidos com a couraça da justiça e
calçados com as sandálias da prontidão para o Evangelho da paz (Ef 6,14-15). O Espírito Santo nos
guie na missão.
Boa leitura!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor