Publicado em novembro-dezembro de 2024 - ano 65 - número 360 - pp. 50-52
1º de dezembro – 1º DOMINGO DO ADVENTO
Por Pe. Maicon André Malacarne*
Progredir no amor para esperar a vinda do Senhor!
Com o 1º domingo do Advento, começamos mais um ano litúrgico. Deus nos concede a graça de peregrinar, através da liturgia, por um itinerário exterior e interior, na direção de uma vida maior, mais plena de sentido. O ponto de partida do ano litúrgico é o mistério da encarnação do Senhor, que, no Advento, é convite a tomar consciência da sua vinda no meio de nós e a abrir espaços do nosso cotidiano para acolhê-lo sempre mais.
A liturgia da Palavra provoca-nos a “progredir no amor” com base na experiência de espera da vinda do Senhor. Não se trata de acomodação, mas de movimento! Progredir é evoluir, crescer, aumentar. O povo de Israel, em um dos momentos mais trágicos da sua história, recebeu do profeta Jeremias a esperança de que “o Senhor é a nossa justiça”; ou seja, a salvação integral do povo sofrido e cansado será realmente atendida, ao contrário da fantasia de outras promessas. A vinda de Jesus Cristo, no discurso apocalíptico do Evangelho de Lucas, guarda o convite: “levantai-vos e erguei a cabeça”. Em meio às tragédias e movimentos cósmicos, a atitude de vigiar e orar constitui um mapa para não cairmos no desânimo e na busca por compensações que distraem a realidade da vida.
II. Comentário dos textos bíblicos
1. I leitura (Jr 33,14-16)
Os israelitas estavam reconstruindo Jerusalém, depois da tragédia do exílio babilônico. A reconstrução exigiu muito esforço e não era difícil desanimar! A pergunta que os acompanhava era: por quê? Por que tudo isso aconteceu conosco? Deus se esqueceu de nós? Então, o profeta Jeremias chega com uma palavra de esperança. O trecho da leitura retoma a fidelidade de Deus com seu povo: “farei cumprir a promessa” (v. 14).
Tudo parecia indicar que era o fim! A grandeza da destruição impedia alcançar os sinais da presença de Deus. O profeta fala na “semente da justiça” (v. 15) que vai brotar de Davi. A semente nem sempre está visível, mas está agindo, trabalhando na terra para nascer forte e carregar vida nova! Deus não esqueceu seu povo: “O Senhor é a nossa justiça” (v. 16).
O Messias esperado – da descendência de Davi – manifestou-se em Jesus Cristo. Ele é o cumprimento da promessa da fidelidade de Deus. Em seus dias, Jesus retomou a obra criadora do Pai, anunciando o Reino de Deus, buscando alternativas para superar as forças da morte. Sua passagem transformou a história. No entanto, ainda resistem e persistem as potências do mal, e a palavra do profeta é sempre atual e urgente: “naqueles dias, naquele tempo...”. tudo está destinado à vitória do bem!
2. II leitura (1Ts 3,12-4,2)
O verbo “progredir” é como um motor que põe em movimento o convite de Paulo à comunidade de Tessalônica. Essa carta, o primeiro documento escrito do cristianismo, ressalta o tema da “vinda do Senhor com todos os seus santos” (v. 13). Para crescer na vigilância e na atenção paciente dessa espera, Paulo não tem dúvidas de que o caminho é crescer no amor, com base na boa convivência, e de que a comunidade cristã é convidada a testemunhá-lo no mundo: “que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais” (v. 12).
Progredir, portanto, significa crescer e transbordar o amor! A promessa de fidelidade de Deus, a qual se realizou na vinda de Jesus Cristo e continua a ser um imperativo de trabalho e de espera até sua segunda vinda, passa pela escola do amor. As comunidades cristãs devem ser lugar privilegiado de purificar a vida com base em experiências humanizadoras e amorosas.
O verbo “progredir” nos faz lembrar que estamos em constante evolução, não somos estáticos, mas sempre dinâmicos. A fé não é mágica, vai crescendo à medida que fazemos a experiência do amor de Jesus Cristo, da sua paixão, morte e ressurreição, a qual deve nos ajudar, dia após dia, a continuar progredindo. Inseridos na dinâmica da história, com todas as suas contradições e tragédias, não podemos perder de vista aquilo que é prioritário e aquilo que é secundário para dar o salto na direção do amor.
3. Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)
A vinda gloriosa e potente do Filho do Homem vem anunciada pelo Evangelho de Lucas com a marca apocalíptica: guerras, revoluções, sofrimentos, medos, sinais cósmicos do sol, das estrelas, da lua e conflitos familiares e de convivência. Essa linguagem simbólica não está distante da realidade atual e das suas contradições e tem objetivo bem demarcado: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (v. 28).
As catástrofes não devem ser motivo para espalhar o medo, profetizar a desgraça, mas sim para fazer memória de que, em todos os momentos, o Senhor está próximo. O Evangelho incentiva a retornar para o plano criador de Deus, do livro do Gênesis – “tudo era bom” – e perceber como o pecado ganhou força e desequilibrou a obra criada. É a segunda vinda de Jesus que poderá harmonizar, recriar tudo! O advento é grande tempo de esperança e de alegria em meio às dificuldades.
Levantar-se e erguer a cabeça é um estilo de vida. Somos muito vulneráveis, e é fácil desanimar, entregar-nos às angústias, cair nos vícios que anestesiam a vida, buscar compensações, mas Jesus nos garante mais uma vez: “a libertação está próxima”. O Evangelho, de fato, cita o excesso de comida e de bebida como armadilhas – como tantas outras – que não nos deixam preparar bem a vinda do Senhor. As distrações – os maiores de todos os perigos, diziam os Padres do deserto – não possibilitam “ficar atentos e rezar a todo momento” (v. 36), que é condição fundamental para ter forças em momentos difíceis.
A vigilância e a oração são como que guias do tempo do Advento. Trata-se de assumir bem nossa condição humana, sem fazer uso de máscaras ou buscar compensações, para crescer na vida espiritual, com a ajuda da oração, a fim de acolhermos todas as alegrias e esperanças deste tempo oportuno.
III. Pistas para reflexão
As tragédias e dificuldades fazem crescer a tentação de fugir, de buscar uma vida anestesiada, e o tempo do Advento se inicia com o convite a “levantar-se”, que é uma forma de viver e de comunicar a vida. O destino não é a destruição, é o florescimento! O Filho do Homem virá, e é mirando nosso olhar no seu olhar que conseguimos, como diz São Paulo, “fazer progressos ainda maiores”. Este não é o tempo das distrações que endurecem o coração e acentuam a insensibilidade. É preciso viver bem tudo aquilo que o Senhor nos coloca diante dos olhos para, purificados no olhar e dispostos a crescer no amor, notar sua presença no meio de nós.
Pe. Maicon André Malacarne*
*é pároco da paróquia São Cristóvão, Erechim, diocese de Erexim-RS. Possui mestrado em Teologia Moral pela Pontifícia Academia Alfonsiana (Roma), onde cursa o doutorado. É especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje, Belo Horizonte-MG); formado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier (Ifibe, Passo Fundo-RS) e em Teologia pela Itepa Faculdades (Passo Fundo-RS). E-mail: [email protected]