Roteiros homiléticos

29 de dezembro – SAGRADA FAMÍLIA, JESUS, MARIA E JOSÉ

Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade

FELIZ QUEM AMA O SENHOR E ANDA EM SEUS CAMINHOS!

I. INTRODUÇÃO GERAL A liturgia de hoje põe em relevo o fato de que o Filho inseriu-se na humanidade, numa família, ele não é um mito. Ele fez o mesmo caminho de cada ser humano, pertenceu a um lar, a uma pátria e a uma cultura. Os percalços vividos pela família de Jesus não são muito diferentes dos que são experimentados por muitas pessoas ainda hoje. A família é a base dos valores, as atitudes de José e de Maria se tornam modelo de vida para os pais e mães hoje, animando-os a percorrer sua trajetória em atenção à vontade de Deus. Os demais textos são um desdobramento do quarto mandamento da Lei de Deus. II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1. Evangelho (Mt 2,13-15.19-23): Quem ama o Senhor lhe obedece O evangelho de hoje narra a fuga de José, Maria e o menino Jesus para o Egito. Revela-nos a importância da obediência e da colaboração humana para que se realizem os desígnios de Deus para a salvação humana. Em Jesus, a figura do povo de Israel é recapitulada e levada à plenitude. O que acontece a ele refere-se ao seu povo. O Egito, em muitos textos bíblicos, é visto de forma negativa por remeter às nações que oprimiram Israel. No entanto, durante séculos o Egito havia sido um lugar de refúgio para os judeus que fugiam de risco de morte (cf. 1Rs 11,40; Jr 43,7). Daí se entende o porquê da fuga da sagrada família para lá. Existe uma relação notável entre a ida e a saída do Egito da parte de Israel e da parte de Jesus. Quando Mateus cita de Oseias 11,1 a frase “Do Egito chamei o meu filho”, o faz indicando a nação de Israel que era conhecida como “filho de Deus” (cf. Ex 4,22; Jr 31,9). O texto refere-se a Israel, agora representado por Jesus que repete o êxodo. A vida de Jesus é a vida do povo, portanto Jesus realiza a vocação de Israel ao repetir-lhes os passos: Israel desceu ao Egito para evitar a ameaça da fome, e Jesus foi levado por seus pais para evitar a ameaça de Herodes. O Egito foi refúgio provisório para Israel e o foi também para Jesus; Moisés fugiu do Egito para escapar da ira do faraó e regressou só quando morreu esse faraó que o conhecia (Ex 4,19). Jesus fugiu da Palestina e regressou depois da morte do rei que tinha ameaçado sua vida. Em ambos os casos, Deus deu ordens para sair do Egito e para voltar à terra prometida. Israel desceu ao Egito quando era uma nação muito jovem, e Jesus desceu quando era um menino. Deus escolheu Moisés para libertar Israel da escravidão do Egito e assim salvar o povo, levando-o à terra prometida. Da mesma forma, aconteceu com Jesus, Deus o chamou do Egito para salvar os homens de seus pecados e conduzi-los ao reino de Deus. Em todos esses passos, Deus guiou Israel e a família de Jesus pelos caminhos que o próprio Deus escolheu. Tanto os hebreus, no tempo de Moisés, quanto a família de Jesus permitiram que Deus os conduzisse pelo caminho. É um testemunho concreto de que a salvação se torna eficaz na medida de quem colabora com a ação de Deus mediante a obediência aos seus desígnios. 2. I Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a): Quem ama o Senhor honra pai e mãe A fidelidade para com o Deus da aliança exige o amor ao próximo. Isso implica numerosas exigências éticas. Entre elas, o livro do Eclesiástico dá referência ao amor que deve ser dispensado ao pai e à mãe. O texto que foi proclamado hoje é um comentário ao mandamento de Ex 20,12. Não há desculpa alguma para o não cumprimento dessa norma. Na época em que o livro do Eclesiástico foi escrito, as motivações para se seguir uma norma se davam através de um elenco de recompensas e de castigos decorrentes do cumprimento ou não do mandamento. Por isso, o texto exorta que Deus não atenderá as orações de quem não cuidar dos próprios pais. Da mesma forma, enumera as vantagens para aqueles que dão especial atenção ao pai e à mãe. A recompensa para quem honrasse pai e mãe seria uma vida longa e próspera, porque naquela época as pessoas ainda não tinham clareza sobre a ressurreição dos mortos, portanto, a longevidade e a prosperidade eram o que de melhor poderia acontecer com uma pessoa. Para o cristão, esse elenco de bênçãos e castigos não é necessário. Cristo nos deu o exemplo quando decidiu nascer numa família, e nós nos sentimos motivados pela ação do Espírito Santo a configurar nossa vida à vida de Cristo. 3. II Leitura (Cl 3,12-21): O amor é o vínculo da perfeição O texto da segunda leitura faz uma descrição da vida na comunidade cristã dos primórdios. O emprego dos termos “eleito, santo, amado”, que antigamente se referiam a Israel, sublinha o fato de que os cristãos estavam conscientes de formar uma nova comunidade como povo de Deus, e isso devia se refletir em suas mútuas relações. Segue-se uma lista de virtudes que destacam a transformação interna necessária para se adquirir um novo comportamento, uma vida nova configurada à de Cristo, com humildade, mansidão, paciência etc. A expressão “uns aos outros”, repetida duas vezes (v. 13.16), sublinha que as responsabilidades são mútuas. A obediência ao Senhor será demonstrada através do modo como as responsabilidades comunitárias e familiares são assumidas por todos como testemunho para o mundo. O elenco das regras familiares acentua muito mais as responsabilidades que os direitos de cada um. Isso é um testemunho para nossa época, na qual as pessoas geralmente colocam a exigência dos direitos em primeiro lugar, seja no ambiente eclesial ou familiar.  III. PISTAS PARA REFLEXÃO O presidente da celebração deverá destacar alguns problemas da família na atualidade sem, contudo, cair no sermão moralista e ofensivo. Não se trata de mencionar assuntos polêmicos, mas de orientar as famílias nas luzes do Espírito Santo. Destacar que Jesus está empenhado em resgatar o valor da família, pois ele mesmo quis pertencer a uma.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected].