Roteiros homiléticos

3º Domingo da Páscoa – 26 de abril

Por Luiz Alexandre Solano Rossi

Igreja missionária
por excelência

I. Introdução geral

A Igreja deve ser compreendida como Igreja em saída, ou seja, missionária. A mensagem de Jesus ressuscitado não pode se tornar refém das quatro paredes de uma paróquia. Discípulos e discípulas não podem ser compreendidos como pessoas que se limitam somente às celebrações litúrgicas. É fora das quatro paredes que a missão ganha sentido. A Igreja não pode se acomodar e sonegar a mensagem da salvação a homens e mulheres. A missão exige o envolvimento de cada um da comunidade. Nesse sentido, todos os discípulos e discípulas são, simultaneamente, também missionários e missionárias.

II. Comentários aos textos bíblicos

1. I leitura: At 2,14a.22-33

A Igreja existe para fazer missão. Ela é e deve ser compreendida, necessariamente, como uma Igreja missionária. Dessa forma, encontra-se sempre “em saída”, ou seja, não se tranca nem, muito menos, foge de sua responsabilidade. Pedro, diz-nos a leitura, ficou de pé. Todavia, não foi uma ação isolada e particular do apóstolo. A ação de Pedro – seu discurso missionário – representava o desejo de todos, e, assim, todos os demais apóstolos se levantaram com ele. Todos naquele ambiente ouviam a voz de Pedro e, no entanto, por meio daquela única voz, todo o corpo apostólico falava. Qual o conteúdo do anúncio de Pedro? Ele faz o anúncio da Boa-nova do Ressuscitado. Sabiamente se utiliza de passagens do Antigo Testamento para demonstrar como Cristo foi assassinado por meio da crucificação e, todavia, a habitação dos mortos não conseguiu segurá-lo. Por isso, na comparação feita por Pedro, enquanto o túmulo do patriarca Davi podia ser visto até aquele momento, o túmulo de Jesus se encontrava vazio. Jesus representa, a partir da ressurreição, a plenitude do amor e da misericórdia. Afinal, mesmo estando entre eles com milagres, prodígios e sinais, e tendo sido brutalmente assassinado e ressuscitado, continua a amar e ser misericordioso.

2. II leitura: 1Pd 1,17-21

A segunda leitura está inserida numa série de exortações para o bem viver em comunidade, além de reforçar a identidade daqueles que assumem o discipulado como estilo de vida. O tom dos versículos recai sobre o comportamento que a comunidade deve exibir. Seus membros não podem, na verdade, reproduzir os comportamentos que herdaram de seus antepassados. Embora estejam em terra estranha e vivam na condição de marginalizados, não podem negligenciar a vontade de Deus e dela se afastar. O fundamento das exortações é que eles foram resgatados por meio do sangue de Jesus Cristo. Prata e ouro, mesmo que possam mover mundos e fazer que os olhos de muitos brilhem, são perecíveis. Somente em Jesus é possível preencher “o vazio de viver” que é próprio a cada ser humano.

3. Evangelho: Lc 24,13-35

Jesus já não se encontrava no túmulo, e a notícia que se espalhava era que ele havia ressuscitado. Muitos creram, e tantos outros consideraram a notícia absurda. Provavelmente nesse momento se inicia a dispersão daqueles que não acreditaram no testemunho das mulheres discípulas de Jesus – Maria Madalena, Joana e Maria. Entre os desconfiados, há dois discípulos que resolvem se afastar de Jerusalém. A cidade ainda respirava ares de ameaça. Os acontecimentos eram ainda bastante recentes, e o mais apropriado era se afastarem em direção a um vilarejo chamado Emaús. Dez quilômetros separam a cidade de Jerusalém do vilarejo de Emaús. Pode-se dizer, porém, que, quanto mais eles se afastavam da cidade de Jerusalém, mais ela se fazia presente neles. Conforme caminhavam, os dois conversavam a respeito dos últimos acontecimentos. Seus pés os levavam para longe da cidade, mas a mente deles ainda se encontrava lá. Possivelmente estavam desanimados e a esperança lhes havia fugido por entre os dedos. Teriam de reiniciar a vida. Apostaram-na no projeto de Jesus e, nesse momento, para eles, Jesus se encontrava morto. Os dois discípulos fugiam do furacão que havia atingido toda a comunidade. A fuga era a única aparente saída para eles.

Mas justamente nesse caminho é que Jesus se aproxima e passa a caminhar ao lado deles. Não somente caminha, mas também inicia um diálogo. Os discípulos têm os olhos embaçados de tal forma que não reconhecem aquele que caminha com eles. Têm olhos e não podem enxergar. Jesus provoca: “Sobre o que vocês estão falando?” (v. 17). Com o rosto marcado pela tristeza, um deles responde: “Será você o único estrangeiro em Jerusalém que não sabe das coisas que aí aconteceram nesses dias?” (v. 18). Caracterizam os dois discípulos olhos que não conseguem ver com clareza, faces marcadas pela tristeza, pés que caminham sem esperança, mentes que não conseguem interpretar os últimos acontecimentos e corações que se esfriaram por falta de fé. Jesus faz uma primeira catequese aos dois discípulos desiludidos. Explica-lhes o que as Escrituras dizem a seu respeito. No entanto, será somente num segundo momento de catequese que os discípulos “acordarão”. Trata-se de catequese que integra gestos e palavras. Jesus, estando à mesa com os dois, toma o pão, abençoa-o, parte-o e o distribui. Nesse momento, os olhos dos discípulos se abrem e conseguem reconhecer Jesus, recordando-se de que, desde a primeira catequese, o coração deles ardia por causa das palavras que ouviram no caminho. Aqueles dois já não são os mesmos que haviam saído de Jerusalém. Haviam sido transformados e, por conta disso, resolvem voltar para o lugar de origem. Voltam já não vazios e sem sentido de viver. Trazem no coração e na mente a mais fantástica das mensagens: Jesus realmente está vivo!

III. Pistas para reflexão

1) Os discípulos fogem porque não conseguem compreender claramente o projeto de Jesus. Fazem um caminho com medo e assustados. Teriam renunciado a Jesus por causa da possível decepção que viveram? O caminho de Emaús pode ser considerado o caminho de cada um de nós. Somente o encontro com Jesus no caminho é que restaura a vida, produz motivação e expulsa a decepção.

2) Quais características da nossa comunidade indicam ser ela uma comunidade missionária? Quais características lhe faltam? De que forma seria possível alcançar as características faltantes?

Luiz Alexandre Solano Rossi

é doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e pós-doutor em História Antiga pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Califórnia, EUA). É professor no programa de Mestrado e Doutorado em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Publicou diversos livros, a maioria pela PAULUS, entre os quais: A falsa religião e a amizade enganadora: o livro de Jó; Como ler o livro de Jeremias; Como ler o livro de Abdias; Como ler o livro de Joel; Como ler o livro de Zacarias; Como ler o livro das Lamentações; A arte de viver e ser feliz; Deus se revela em gestos de solidariedade; A origem do sofrimento do pobre.