Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2021 - ano 62 - número 342 - pág.: 54-56

3º DOMINGO DO ADVENTO – 12 de dezembro

Por Izabel Patuzzo

Preparar o caminho do Senhor

I. Introdução geral

O Evangelho deste domingo, dando continuidade ao relato da missão de João Batista que a liturgia nos apresentou no domingo anterior, propõe uma pergunta fundamental a nós, cristãos: Que devemos fazer para nos convertermos de fato e acolher o Messias? O evangelista Lucas relata a missão profética de João Batista, que chama e desafia a multidão a mostrar evidências de conversão. O profeta recorda aqueles que ouvem sua pregação de que não basta confiar na pertença a Israel. É necessário cumprir as diretivas que Deus aponta para seu povo. A verdadeira conversão se traduz em ações concretas. João Batista assinala algumas delas: partilhar com quem não tem; ser justo; cumprir com os deveres e responsabilidades.

Na primeira leitura, o profeta Sofonias nos assegura de que, em todas as etapas do caminho de conversão, Deus permanece ao nosso lado. O perdão divino revoga nossas faltas, converte-nos, transforma-nos e nos renova. Por isso, o texto de Sofonias é grande convite à alegria e ao júbilo como reconhecimento da misericórdia divina.

A segunda leitura também se apresenta como um convite à conversão, insistindo com os membros da comunidade de Filipos nas atitudes corretas que devem marcar a vida de todos os que desejam acolher o Senhor. Isso requer atitudes de bondade, alegria e oração.

II. Comentário dos textos bíblicos

1. I leitura (Sf 3,14-18a)

O profeta Sofonias exerce seu ministério profético durante a reforma religiosa e política do rei Josias (640-609 a.C.). Foi em um ambiente caótico, resultante da política injusta de vários reis de Israel de práticas idolátricas, que Sofonias dirigiu sua mensagem ao povo, exortando todos ao verdadeiro culto e adoração ao Senhor Deus. As consequências do desvio do coração para os falsos deuses ou ídolos foram a injustiça, a corrupção, o suborno, os abusos de autoridade, o materialismo e a indiferença religiosa.

A intenção do profeta não é anunciar o castigo, mas demonstrar ao povo a proposta de salvação que Deus oferece mediante a conversão. A alegria anunciada nesse texto é fruto de uma vida segundo a proposta divina; a leitura recorda que Deus deseja caminhar com seu povo, fazer-se próximo de cada pessoa, pois nos ama apesar de nossas falhas e fraquezas.

Segundo a mensagem profética, a força transformadora da conversão é a misericórdia divina: Deus não desiste de seu plano de salvação. O que renova o mundo não é o medo de castigo, a busca de ídolos que nos satisfaçam, mas o amor, o perdão e a comunhão com Deus. Por isso, Sofonias faz um apelo à alegria, como fruto da consciência da presença de Deus em nosso meio como aquele que nos consola e anima. Neste tempo de preparação para a vinda do Senhor, deixemo-nos interpelar por essa mensagem, perguntando-nos: como discípulo de Jesus, dou testemunho dessa alegria?

2. II leitura (Fl 4,4-7)

O objetivo da carta de Paulo aos cristãos da comunidade de Filipos é manifestar sua gratidão por lhe terem enviado auxílios enquanto se encontrava na prisão. Essa comunidade era muito generosa para com as necessidades dos irmãos e irmãs de outras comunidades; o auxílio caritativo era uma forma de contribuição à missão evangelizadora de Paulo. Apesar de sua generosidade, os cristãos filipenses sofriam com a hostilidade das comunidades judaicas que se opunham fortemente à fé cristã.

Em sintonia com a temática da liturgia deste dia, o texto constitui grande exortação à alegria, como fruto da bondade e generosidade existentes na comunidade. O trecho destaca a alegria daqueles que dão testemunho da fé por meio da prática da caridade, tal como na oração de São Francisco, que nos recorda que há mais alegria em dar do que em receber.

O apóstolo acrescenta outras recomendações além da bondade, como a confiança na oração, súplicas e ação de graças. A comunidade solidária é também perseverante na oração. São essas algumas atitudes que devem acompanhar os discípulos de Jesus, que esperam a vinda próxima do Senhor. Essa alegria, constitutiva da fé cristã, deve estar presente neste tempo do Advento. Não é alegria que resulta de ganhos materiais, de promoção econômica ou profissional, e sim que brota em nosso coração porque Deus está presente em nossa vida; porque o vemos renascer no coração das pessoas que vivem a fraternidade, a doação, o sair de si e ir ao encontro daqueles que mais precisam, a exemplo da comunidade de Filipos.

3. Evangelho (Lc 3,10-18)

O texto do Evangelho segundo Lucas apresenta a pregação de João Batista à multidão. O profeta olha para a realidade que o cerca e tenta buscar formas de suscitar esperança e renovação da fé entre aqueles que o seguem. Ele se dirige à multidão com um apelo à conversão, a qual consiste em uma mudança radical nas atitudes daqueles que podem partilhar. A pregação de João Batista tem como objetivo preparar o ministério público de Jesus. E o evangelista Lucas mostra que as respostas dadas por João à multidão são semelhantes às que serão oferecidas por Jesus.

O texto descreve o chamado de João para preparar o caminho do Senhor. Narra como as pessoas simples e marginalizadas se preparam para a chegada do Messias enviado. Há um detalhe importante a ser notado: aquele que prepara o caminho não é o enviado; a missão do profeta não é a mesma de Jesus, mas está em sintonia. O ministério de João Batista e o de Jesus estão inseridos no plano da salvação. João é um profeta de Deus que não pertence ao período do anúncio das promessas, mas inaugura o tempo da sua realização, a plenitude dos tempos marcada pelo ministério de Jesus.

João é apresentado por São Lucas como um modelo de discípulo que dá a vida para que as pessoas preparem o coração para receber o Messias. Seu anúncio profético põe em evidência todos os pecados contra o próximo. Tudo aquilo que atenta contra a vida do outro nos afasta de Deus. Quem comete essas injustiças está se fechando para a proposta divina de salvação. E o batismo oferecido por João é apenas um convite à conversão, enquanto o batismo oferecido por Jesus será uma vida segundo o Espírito; é a decisão de se tornar discípulo/a num caminho constante de serviço aos irmãos e irmãs e formar comunidades fraternas. É deixar-se transformar por Jesus, tornando-se novas criaturas que vivem e testemunham o mandamento do amor.

III. Pistas para reflexão

O Evangelho deste domingo nos indica que Deus não pede as mesmas coisas aos diferentes personagens mencionados no texto, mas a todos pede algo que manifeste a solidariedade, a justiça, a generosidade, a paz e, sobretudo, o cuidado com os necessitados. Quando as pessoas perguntam a João o que devem fazer para expressar sua mudança de vida, pedindo o batismo de conversão, o profeta aponta os caminhos segundo as Escrituras. A multidão que vem em busca de João deseja converter-se, seguir os caminhos do Senhor. E a conversão não é apenas uma atitude interior da pessoa, mas exige ações que correspondam a uma vida nova. É também obra divina, pois abre caminho para o encontro com Jesus, que irá batizar com o Espírito Santo. Assim, a mudança de vida abre caminhos para o encontro do/a discípulo/a com o Mestre.

O Advento é também tempo propício para nos interrogarmos: o que devemos fazer? Não é necessário fazer coisas extraordinárias nem sair de nossa vida cotidiana, mas escutar a Palavra que nos impele a partilhar, a olhar atentamente para o outro e a nos deixarmos iluminar por Deus. Deixar de lado a indiferença, a intolerância ao diferente, e abrir-nos ao diálogo fraterno, vendo o outro não como ameaça, mas como irmão, mesmo quando pensa diferente de nós. Que nosso Natal não seja apenas uma data comercial, mas uma festa de muitos gestos de generosidade, como sinal da alegria suscitada pelo Senhor que veio morar entre nós.

Nós, cristãos, fomos batizados no Espírito Santo. Portanto, somos portadores dessa vida nova em Jesus Cristo. Que este tempo de preparação para a vinda do Senhor seja para nós uma oportunidade de testemunhar Jesus e responder positivamente à sua proposta de conversão e de discipulado. É também tempo de buscar o que precisamos fazer para que, ao nosso redor, haja mais justiça e menos violência, fome e tantos outros sofrimentos.

Izabel Patuzzo

pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. E-mail: [email protected]