Roteiros homiléticos

Publicado em janeiro-fevereiro de 2021 - ano 62 - número 337 - pág.:

EPIFANIA DO SENHOR – 3 de janeiro

Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj

As nações se encaminham para a luz

I. INTRODUÇÃO GERAL

Na liturgia da solenidade de Maria, Mãe de Deus, o enfoque estava na humanidade de Jesus; hoje celebramos a manifestação e o reconhecimento de sua divindade. O que celebramos na liturgia é o que esperamos: que todos os povos reconheçam e adorem em Jesus o Deus de Israel.

A primeira leitura anuncia a vocação das nações à fé no Deus vivo e verdadeiro. No Evangelho, vemos em torno de Jesus os magos (sábios do Oriente), como representantes de todos os povos, para prestar-lhe homenagem e adoração. Na humildade do ambiente onde se encontra o menino, deve-se reconhecer a luz da salvação oferecida por Deus a todos os seres humanos. Também Paulo fala deste grandioso mistério que ele mesmo teve a missão de anunciar: os gentios são chamados a formar o mesmo corpo, isto é, a ser participantes da mesma promessa anteriormente destinada apenas a Israel. É na luz de Jesus que caminham os cristãos e é para essa luz que deve se encaminhar toda a humanidade.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. Evangelho (Mt 2,1-12)

Epifania significa literalmente manifestação. Nesta solenidade, a liturgia nos apresenta a manifestação da universalidade da salvação realizada em Cristo. Jesus, o Rei dos judeus, é adorado pelos magos (sábios do Oriente), representantes de todos os povos. Isso significa que a promessa feita primeiramente a Israel atinge agora a todos os que acolhem o Cristo.

Na época em que foi escrito o Novo Testamento, os povos ainda eram politeístas (adoravam muitos deuses). Por isso se usava a metáfora de que as nações caminhavam nas trevas, enquanto Israel era orientado pela luz da Escritura. Com a entrada de Jesus na história, a Palavra de Deus incultura-se. O Evangelho afirma que alguns sábios estrangeiros (do Oriente) viram a estrela e a seguiram. Isso significa que Deus se valeu da admiração que os astros exerciam sobre as nações politeístas e as guiou para o Cristo. Os sábios orientais enfrentaram um caminho desconhecido e encontraram o menino, a verdadeira luz, da qual a estrela era apenas um sinal. Os sábios se deixaram guiar e encontraram um menino muito mais humilde e também mais importante do que pensaram.

Depois daquele encontro, eles percorreram outro caminho, já não guiados por um corpo estelar, mas pela estrela de Davi, o Messias. Seguiram o caminho indicado por Deus, o caminho que é a verdade e a vida, o próprio Jesus.

O Evangelho afirma que os mestres (ou sábios) judeus tinham conhecimento até do local onde deveria nascer o Messias descendente de Davi. Entretanto, apesar de serem os primeiros destinatários das promessas de Deus, aqueles mestres de Jerusalém não acolheram a luz verdadeira que é Jesus. Foi necessário que sábios estrangeiros viessem do Oriente para lhes anunciar (orientar sobre) a chegada do Messias de Israel, quando, ao contrário, Israel é que deveria orientar as nações para Deus.

2. I leitura (Is 60,1-6)

Quando o povo de Israel foi expulso da Terra Prometida e se dispersou pelo mundo, sentia-se mergulhado nas trevas das nações politeístas e violentas. Contudo, não obstante essas circunstâncias, o profeta vê um final glorioso: quando tudo parecer desmoronar e dissolver-se na escuridão, a glória de Deus será refletida por meio de Israel e iluminará as nações, que começarão a andar na luz do amanhecer de um novo tempo.

O profeta está convencido de que os judeus retornarão para a Terra Prometida, as nações nas quais estavam dispersos verão a glória de Deus refletida no povo de Israel e, então, também elas se encaminharão para Jerusalém. Israel será como um oceano de luz para as nações antes imersas nas trevas do politeísmo.

3. II leitura (Ef 3,2-3a.5-6)

Paulo afirma ter recebido um encargo sagrado (v. 3): foi-lhe conferida a graça de proclamar o Evangelho aos gentios, ou seja, aos não judeus. O apóstolo insiste que sua atividade missionária entre os gentios não foi uma decisão pessoal. Dar a conhecer o Evangelho a todas as nações foi um ato poderoso de Deus, em seu plano eterno de salvação da humanidade. Coube a Paulo a docilidade e a fidelidade ao chamado divino.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

O enfoque da liturgia não está na devoção aos magos, mas sim na manifestação da divindade de Jesus e no apelo à missão. Quem vê a luz da estrela deve pôr-se a caminho. Solicitude e prontidão são as atitudes dos magos e do apóstolo Paulo, os quais servem de exemplo aos cristãos de nosso tempo. No hoje de nossa existência, faz-se necessário reconhecer a luz de Cristo numa sociedade dividida, na qual se verifica a pluralidade de tantas luzes que apontam para várias direções, mas nem sempre refletem a luz inextinguível que é o Cristo. Para que as pessoas do tempo presente possam adorar o Deus vivo e verdadeiro, é necessário que os cristãos saiam do comodismo e do individualismo e, por meio da missão e do testemunho, façam brilhar para o mundo a “estrela de Davi”, o Filho de Deus.

Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj

graduada em Filosofia e em Teologia, cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje (MG). Atualmente, leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de Pernambuco – Unicap. E-mail: [email protected]