Carta do editor

novembro – dezembro de 2017

As comunidades eclesiais de base e os desafios da cidade

Prezadas irmãs e prezados irmãos, graça e paz!

O papa Francisco tem insistido na expressão “Igreja em saída”. Trata-se de uma tônica em seus discursos aos bispos, aos padres e aos cristãos em geral. Não somente nos discursos, mas sobretudo nos gestos, o pontífice tem dado testemunho de uma Igreja que não se acomoda na sacristia e nos escritórios frios, que não se autoreferencia, mas vai ao encontro dos que estão nas periferias geográficas e existenciais.

Nas rodas de conversas nas comunidades, muitas vezes se exaltam e se consideram bonitos os discursos e os gestos do papa. Mas isso não basta. É preciso aplicá-los em nossa vivência pastoral. O que Francisco tem feito é sinal da fidelidade ao seguimento de Jesus Cristo, que passou pelo mundo fazendo o bem: “Ele sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas” (Oração Eucarística VI-D).

A insistência do papa é bíblica. Desde Abraão, passando por Moisés e por todos os profetas, Deus chama e envia. Ninguém é chamado para se instalar em seu próprio mundo. O envio é para anunciar a boa notícia e testemunhar a alegria de caminhar com Deus. Em Jesus Cristo, o enviado do Pai, a boa notícia se plenifica. Ele mesmo envia os seus discípulos: “Vão pelo mundo todo, proclamem o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Este mandato deve ecoar todos os dias nos ouvidos dos cristãos de hoje.

No começo e no fim do seu ministério, Jesus contou com o trabalho de colaboradoras e colaboradores.  É interessante notar que ele não envia os discípulos sozinhos, envia-os dois a dois. A narrativa do evangelista Lucas enfatiza: “O Senhor escolheu outros setenta e dois e os enviou à sua frente, dois a dois, a toda cidade e lugar aonde ele devia ir” (Lc 10,1). Daí um dos aspectos fundamentais da vida cristã: a vida em comunidade e, por conseguinte, o trabalho em equipe.

A Igreja, nascida da Trindade, é essencialmente comunitária. Feita de santos e também de pecadores, tem o desafio de viver e anunciar a boa-nova do reino de Deus no terreno da história estando, portanto, rodeada por contradições. Porém, jamais se permite paralisar frente aos desafios e contrariedades, porque é guiada pelo Espírito Santo e confiada à promessa do Mestre: “Eis que estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Por isso, enxerga à sua frente horizontes de esperança, não obstante um mundo marcado pela dor e pela morte.

Em todo tempo e lugar, a comunidade cristã encontrou formas de superar a anestesia que, por vezes, tenta se apoderar dela. Um dos grandes e inspiradores eventos da história da Igreja foi o Concílio Vaticano II (1962-1965). Dentre as muitas iniciativas advindas das decisões do concílio, destacamos o nascimento das comunidades eclesiais de base, as CEBs, que encontraram terreno fértil na América Latina e, especialmente, no Brasil.

Esta edição é uma colaboração ao 14º Intereclesial de CEBs, que ocorrerá em Londrina, PR, nos dias 23 a 27 de janeiro de 2018, com o tema: “CEBs e os desafios no mundo urbano” e o lema: “Eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7).

Jesus continua enviando discípulas e discípulos a toda cidade e lugar. Os desafios são inúmeros. Peçamos ao Espírito que nos guie no caminho para que sejamos fiéis ao nosso batismo. As comunidades, inspiradas na palavra de Deus e atentas à realidade, sejam sempre “Igreja em saída”, dóceis ao Espírito e preparadas para enfrentar os desafios das cidades.

Boa leitura e feliz missão!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor