Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2022 - ano 63 - número 348 - pág.: 41-43

13 de novembro – 33º domingo do Tempo Comum

Por Izabel Patuzzo*

Não tenhais medo!

I. INTRODUÇÃO GERAL

Ao nos aproximarmos do fim do ano litúrgico, cujo último domingo é a solenidade de Cristo Rei do Universo, a ser celebrada na próxima semana, a liturgia deste 33º domingo do Tempo Comum nos relata os momentos derradeiros do ministério público de Jesus. Em linguagem simbólica, as leituras refletem sobre o sentido da história da salvação, apontando para a meta final, e Deus nos conduz para habitar no novo céu e na nova terra, isto é, no mundo novo que lutamos para construir com base nos valores evangélicos. A descrição de eventos como destruição, guerras, revoluções, lutas, terremotos, pragas, fomes e visões pode dificultar nossa compreensão da Palavra de Deus, na qual Jesus nos convida a não ter medo, porque o término desses sofrimentos está próximo.

A primeira leitura afirma que o dia do julgamento está chegando; o profeta Malaquias usa a imagem do fogo ardente na fornalha. Nesse dia, todos os arrogantes e malfeitores se tornarão como palha. Aqueles, porém, que caminham na justiça resplandecerão como raios luminosos. O fogo é a imagem da purificação necessária do reino do mal, que é feito de escolhas individuais e coletivas. Nossa experiência de Deus deve ser como o fogo, eliminando o mal por meio de escolhas que nos conduzam ao bem comum e à justiça.

A segunda leitura é forte convite a esperar a vinda definitiva de Deus não com uma atitude de comodismo, mas participando ativamente da construção do seu Reino. E o Evangelho complementa a mensagem deste domingo, apresentando o caminho que nossas comunidades devem percorrer. A missão que Jesus entrega aos seus discípulos consiste em transformar o mundo, para que as forças do mal não prevaleçam.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Ml 3,19-20a)

O profeta Malaquias provavelmente exerceu seu ministério quando o segundo templo já havia sido reconstruído. O povo escolhido estava sob o domínio do Império Persa. O fato de estarem subjugados a um poder estrangeiro não impede que o profeta exorte o povo a permanecer entusiasmado pelas expectativas de reconstrução na terra. Depois do tempo devastador que foi o exílio da Babilônia, com a destruição de Jerusalém, Deus vai dar nova chance para o povo escolhido se reconstruir.

O significado do nome de Malaquias é “mensageiro de Deus”, por isso, em sua mensagem, o profeta encoraja o povo desanimado a prestar atenção e perceber os sinais que apontam para a realização das promessas de Deus, que já estão em curso. Diante da falta de esperança e da apatia do povo escolhido, em um contexto de dominação estrangeira, marcado por injustiças e arbitrariedades, Malaquias convida o povo a se levantar e reagir. Este não pode duvidar do amor de Deus, da sua justiça e do seu cuidado por Israel. A reconstrução depende do empenho e envolvimento de cada fiel.

O profeta dirige um convite a cada um para assumir o compromisso com Deus, pôr em prática o amor ao próximo e entrar na dinâmica da conversão, prestando verdadeiro culto ao Senhor. Ele exorta a comunidade dos fiéis a participar das assembleias litúrgicas no templo como sinal de pertença a Deus. A menção ao dia do julgamento significa que Deus conduz a história e irá intervir. O dia do Senhor não é o fim dos tempos nem o fim do mundo, mas o tempo em que Deus será, de fato, o único soberano de Israel, quando o povo escolhido depositará toda sua confiança nele, não desistindo de lutar pelo bem mesmo diante dos desvios dos soberanos deste mundo.

2. II leitura (2Ts 3,7-12)

Na segunda carta aos Tessalonicenses, o apóstolo Paulo retoma o tema do dia do Senhor. Aqueles que esperam, com entusiasmo, o tempo da parusia devem adotar um estilo de vida condizente com a vinda triunfal de Jesus ressuscitado, permanecendo sóbrios e dedicados à oração.

A comunidade de Tessalônica está enfrentando sério problema pastoral. Devido à ausência e ao distanciamento de Paulo, a comunidade se deixou levar pela catequese da sinagoga judaica, que proclama que o dia do Senhor está próximo. Portanto, já não seria preciso se dedicar ao duro trabalho do dia a dia. Essa concepção errônea da parusia faz que a comunidade se dedique apenas a futilidades, deixando de assumir as fadigas do dia a dia. Dessa forma, muitos estavam vivendo à custa dos outros. Paulo não pode aceitar essa atitude de acomodação, pois ele mesmo sempre se manteve com o próprio trabalho. A comunidade dos discípulos de Jesus é convidada a trabalhar com dignidade para manter seu sustento, e não ficar alienada, olhando para o céu; ao contrário, seus membros devem se envolver ativamente na construção do Reino de Deus.

3. Evangelho (Lc 21,5-19)

No texto do Evangelho, Jesus ensina sobre o futuro do templo de Jerusalém. A tradição evangélica conservou esses seus derradeiros ensinamentos, antes de sua condenação. A leitura faz parte dos últimos acontecimentos em Jerusalém, nos quais Jesus pronuncia seu discurso escatológico. A escatologia inclui toda doutrina acerca do fim dos tempos.

O discurso de Jesus, introduzido como decorrência de comentários sobre a beleza e o esplendor do templo de Jerusalém, anuncia a destruição do templo. A seguir, vem a pergunta dos discípulos sobre quando tal evento acontecerá. O ponto central do ensinamento de Jesus não é datar a destruição do templo, mas convidar seus seguidores à vigilância e à fidelidade, como preparação para os acontecimentos futuros. Nessa leitura, Jesus prediz a destruição do segundo templo, a qual, historicamente, ocorreu. Ele insiste que tal dia chegará de forma surpreendente e lamenta a atitude das autoridades religiosas de Jerusalém por conduzirem um culto vazio, que justifica a destruição.

O evangelista Lucas chama a atenção de seus ouvintes-leitores para o fato de que, após a destruição do templo, surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim dos tempos, mas sua comunidade não os deve seguir. Jesus também fala dos sinais que irão preceder a destruição. O novo que irá surgir exige resistência e perseverança da parte dos discípulos. A questão fundamental é permanecer fiel no tempo intermédio entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus. É justamente nesse período que Lucas escreve sua obra, para ajudar sua comunidade a entender as adversidades enfrentadas e perseverar. Ele tem plena consciência de que a Igreja está lutando para dar testemunho da fé em Jesus Cristo e de que o martírio e a perseguição são uma realidade muito presente nas comunidades às quais se dirige.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

As leituras deste domingo não estão preocupadas com o fim do mundo. A questão fundamental é o percurso que devemos fazer enquanto esperamos a plenitude dos tempos, segundo os desígnios de Deus. É a esperança de que Deus conduz a história que deve acompanhar nosso caminhar, e não o medo do fim do mundo.

O caminho do discipulado é, sem dúvida, permeado por provações, adversidades e luta contra todas as formas de mal. Jesus se encontra em Jerusalém para enfrentar a morte e não esconde que seus seguidores passarão pelos mesmos confrontos. Essas, porém, são as condições para construir o novo que irá surgir. O templo foi destruído, mas a Igreja, alicerçada na fé dos apóstolos, resistiu a todas as adversidades e atravessou o tempo.

Assistimos a muitas especulações acerca do fim do mundo, mas será que conseguimos identificar, em nosso tempo, sinais que apontam para o risco de destruição da humanidade? Povos se levantando uns contra os outros, descaso com a natureza, fome, diversas formas de intolerância, divisão e fake news, falta de vida e de liberdade são acontecimentos que nos levam a ter medo ou, antes, a dirigir nosso clamor a Deus, para que a fé na ressurreição fortaleça nosso compromisso de construir um mundo sem medo, permeado de esperança?

Izabel Patuzzo*

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica. E-mail: [email protected]