Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2021 - ano 62 - número 342 - pág.: 51-54

2º DOMINGO DO ADVENTO – 5 de dezembro

Por Izabel Patuzzo

Todos podem ver a salvação

I. Introdução geral

A liturgia deste 2º domingo do Advento nos convida a celebrar a chegada da vida com alegria. O tempo de luto está para terminar, porque a misericórdia de Deus é maior que todas as crises e calamidades humanas. O Criador não abandona sua obra, por isso recria e reanima seus filhos e filhas continuamente.

A primeira leitura ressalta o convite à conversão, à renovação do coração, a fim de remover todos os obstáculos que impedem nossa proximidade com Deus. O texto do livro do profeta Baruc sugere ao povo eleito refazer o caminho da conversão como novo êxodo, isto é, deixar a escravidão do pecado em direção à liberdade. O grande fruto da conversão é a alegria, é a decisão de deixar as vestes de luto e aflição para se revestir do manto da justiça.

A segunda leitura recorda à comunidade de Filipos sua missão profética de anunciar o Evangelho por meio de ações concretas, do testemunho da caridade. Todos devem trabalhar para eliminar as divisões entre os membros e, assim, de fato, acolher o Senhor que vem.

O Evangelho nos apresenta a figura de João Batista como aquele que veio preparar o caminho do Senhor, convidando todos a uma transformação radical de vida. Assim como João, somos chamados a exercer nossa missão profética de preparar o caminho do Senhor no coração das pessoas e em nossas comunidades.

II. Comentário dos textos bíblicos

1. I leitura (Br 5,1-9)

O livro de Baruc é atribuído ao companheiro de missão do profeta Jeremias, tendo ambos feito a experiência do exílio da Babilônia (538 a.C.). No entanto, o livro retrata a situação de Israel muito tempo depois (século II a.C.). Em sua mensagem, Baruc convida a comunidade dos fiéis a celebrar uma liturgia penitencial, exortando-a à reconciliação com o Senhor Deus. O texto proposto é marcado por grande exortação e pela consolação como fruto da conversão. O profeta assegura aos fiéis que, por meio do arrependimento e confissão sincera dos pecados, o povo obterá o perdão divino. Assim será iluminado pela sabedoria, voltará ao temor de Deus; a experiência da misericórdia de Deus será motivo de grande júbilo.

O profeta compara o povo infiel como uma mulher em luto, desanimada e aflita. Sua mensagem, porém, é de esperança. Ele exorta o povo a retirar as vestes de tristeza e se revestir de beleza, glória e alegria, pois Deus perdoou todas as faltas. Ele teve piedade e reuniu novamente seus filhos e filhas dispersos; o exílio terminou. Essa leitura anuncia novo advento para o povo disperso. Deus irá congregá-lo outra vez. Como um Pai amoroso, ele sempre olha para seus filhos e filhas. É nessa atmosfera de alegria e de confiança serena na ação salvadora de Deus que somos convidados a viver este tempo de mudança e preparar, em nossa vida, a vinda do Senhor.

2. II leitura (Fl 1,4-6.8-11)

Paulo escreve aos filipenses provavelmente enquanto estava na prisão em Éfeso. O apóstolo tinha grande afeição por essa comunidade, que havia sido muito generosa com ele, sobretudo em tempos de privações. Além da ajuda financeira, os filipenses haviam enviado Epafrodito, um membro da comunidade, para ajudar o apóstolo em suas atividades pastorais. Paulo lhes escreve então uma carta que será levada por Epafrodito em seu retorno, pela qual agradece o cuidado recebido, exorta todos a permanecerem fiéis ao Evangelho que lhes foi anunciado e agradece a Deus pelo crescimento da fé daquela comunidade.

É com sentimento de grande ternura que o apóstolo se dirige aos filipenses, sobretudo pelo empenho deles em anunciar, com a vida e com as obras, o Evangelho que receberam. A solidariedade e a partilha com o apóstolo são sinais de que a comunidade abraçou a fé em Jesus Cristo. Por isso, Paulo a exorta a permanecer pura e irrepreensível na espera da vinda do Senhor. Os cristãos de Filipos compreenderam a essência do Evangelho, que é anunciar a fé com palavras e obras. Atentos às necessidades dos irmãos, fizeram-se solidários com aqueles que davam a vida pelo anúncio do Evangelho e com as comunidades mais necessitadas.

3. Evangelho (Lc 3,1-6)

O texto do Evangelho deste domingo tem dupla finalidade: introduzir o ministério de João Batista e o de Jesus. O evangelista põe em cena o profeta João Batista em vista de introduzir o ministério público de Jesus, depois de narrar os principais acontecimentos de sua infância. No Evangelho segundo Lucas, o ministério de Jesus tem estreita relação com o ministério de João Batista. A figura de João Batista, porém, marca os limites de um novo tempo: a chegada do Messias.

Cuidadosamente, o evangelista situa a ação profética de João na história de seu tempo, mencionando as autoridades políticas do Império Romano e os chefes do povo judeu. Lucas faz um esforço para situar, no tempo da história humana, o tempo da salvação. Ele sugere que Deus entra na história humana para transformá-la. Deus sempre toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, permanecendo fiel ao seu projeto de salvação.

A missão de João Batista, na visão de Lucas, é preparar a inauguração de nova etapa da história da salvação. Por isso, João é descrito como um profeta itinerante, que prepara o caminho do Senhor. Retomando um texto de Isaías (Is 40,3-5), João anuncia um tempo de consolação, de cumprimento das Escrituras, o qual exige, porém, conversão. O batismo de arrependimento é sinal dessa renovação do coração para acolher o tempo de salvação, isto é, o tempo de Jesus, o Messias enviado de Deus. O texto conclui com a citação de Isaías para anunciar a chegada de um novo tempo, que exige preparação do caminho que leva ao encontro com o Senhor; não é um encontro qualquer, por isso é exigido grande empenho no preparo desse caminho.

III. Pistas para reflexão

À semelhança de João Batista, a missão profética de anunciar o Messias e preparar os corações para acolhê-lo é parte de nossa vocação cristã. Pelo sacramento do batismo, todos fomos constituídos profetas e chamados a dar testemunho de que o Senhor continua a vir habitar no meio de nós. Acolher Jesus em nossa vida exige séria preparação. Quais obstáculos dificultam meu encontro com o Senhor?

A preparação do caminho do Senhor exige de nós lutar contra todas as formas de egoísmo, discriminação, dominação, opressão e violência que ameaçam a vida de tantas pessoas. Preparar o caminho do Senhor significa reorientar a vida para Deus, de modo que ele e seus ensinamentos ocupem lugar central em nosso coração e se tornem prioridade para nós.

Izabel Patuzzo

pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. E-mail: [email protected]