Carta do editor

maio-junho de 2012

Graça e Paz!

A pessoa e a mensagem de Jesus Cristo têm despertado o interesse de milhões de pessoas ao longo dos séculos.É enorme o número dos que professam a fé cristã ou que de alguma maneira conhecem a Cristo ou têm nele uma referência importante. No Brasil, considerando as diversas confissões, cerca de 90% da população se professa cristã. No mundo, os cristãos são mais de dois bilhões. A figura de Jesus marca presença entre os livros mais vendidos e os filmes mais assistidos. Mas, como diz o evangelho, não basta dizer “Senhor, Senhor” para entrar na dinâmica do reino de Deus (Mt 7,21). Entre tantas mensagens e imagens do Filho de Deus, o Jesus dos evangelhos foi se diluindo em um mar de interpretações, práticas religiosas e devoções descentradas daquilo que ele viveu e ensinou, fundamentalismos, versões falsificadas… Desde o Jesus moldado à lógica do espetáculo a canções que exaltam Cristo como general e o uso da sua figura para justificar poderes absolutos e injustos e o acúmulo de riquezas materiais. Enfim, como nos diz pe. Manuel Hurtado em seu artigo, muitos que professam a fé cristã acreditam em tudo, menos em Jesus Cristo morto e ressuscitado. Trata-se de fé que se separou paulatinamente do que lhe é central: crer e viver segundo o estilo de Jesus de Nazaré.

            Diante dessa realidade, é inegável a importância da reflexão cristológica, de uma reflexão em perspectiva atual que auxilie na equilibrada compreensão da vida, morte e ressurreição de Cristo e ajude a relacionar isso com nossa vida. É necessário estarmos atentos para uma contínua volta ao evangelho e a Jesus, às reflexões sobre o Jesus histórico, ao caminho da comunidade nascida com Jesus antes e depois da ressurreição, para fazer nosso próprio caminho como cristãos. Não apenas como conhecimento doutrinal ou racional exterior, mas como experiência profunda, um processo de procurar se tornar semelhante a Jesus, professado como Cristo, o ungido, vendo as pessoas, o mundo e as situações com os olhos dele.

            A salvação revelada e realizada em Cristo significa a superação de toda desumanidade, negatividade, injustiças, discriminações e falta de sentido da vida. Não diz respeito apenas ao transcendente, mas também ao entorno histórico; passa pelo amor autêntico e desinteressado ao outro, especialmente aos que mais necessitam de solidariedade. A nova modalidade de existência anunciada e vivida por Jesus desagradava aos dirigentes religiosos, políticos e econômicos de sua época. Por isso ele foi crucificado. Mas Deus autenticou sua vida e prática ao ressuscitá-lo. Na cruz e ressurreição está o sentido e a suprema motivação para a autodoação em favor de um mundo mais justo, pacífico e feliz.

O evangelho e a prática histórica de Jesus se opõem a uma vida cristã voltada apenas para práticas religiosas. Estas têm sentido à medida que nos transmitem uma imagem de Cristo em coerência com o evangelho e mantêm desperta nossa consciência de seguidores seus. Não se trata apenas de professar a fé ou fazer belos discursos. Como cristãos, convém principalmente que demos testemunho concreto e autêntico de discípulos de Jesus.

A fé vivida ao modo de Cristo tem muito a contribuir para o mundo de hoje, tão marcado por falsas promessas de felicidade, fundadas no individualismo, no consumismo, na hegemonia do econômico, na pouca preocupação com o bem comum, no racionalismo voltado apenas para a produtividade e para o lucro, no egoísmo, na busca do poder e na tirania do prazer imediato. A sociedade alicerçada nesses contravalores tem se direcionado ao vazio e à decepção. Uma vivência que procure superar tudo isso incomoda e gera oposição agressiva, mas a vitória de Cristo sobre o mal e a morte nos inspira a nos manter firmes, mesmo diante dessas dificuldades.

Pe. JaksonFerreirade Alencar, ssp

Editor