Carta do editor

Novembro-Dezembro de 2020

Perspectivas pastorais em tempo de pandemia

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Estamos às portas de concluir 2020. Ano marcado por tensões, incertezas e sofrimento. A pandemia do novo coronavírus lançou sobre nós uma nuvem de incertezas. A rotina, já tão precária, transformou-se num quadro de angústia e desespero. A mudança não foi somente na rotina. Na verdade, a Covid-19 revirou e mudou nossa vida.

Ainda é cedo para interpretar tantos fenômenos. O medo do vírus nos ronda e até nos bloqueia. Embora haja uma avalanche de previsões e opiniões de todos os matizes, talvez precisaremos de certo distanciamento para ler as transformações pela quais o mundo vem passando. No entanto, a leitura dos “sinais dos tempos”, tão querida pelo Concílio Vaticano II, pede-nos atenção. Essa leitura é urgente, sobretudo porque, no tempo presente, os que mais padecem as consequências da pandemia são os pobres, os invisíveis.

Um dos temas mais presentes nestes tempos incertos tem sido a questão da morte. Todo dia somos lembrados pelo noticiário sobre o número de óbitos das vítimas da Covid-19. Somos finitos. Porém, o vírus, ainda indomável, inimigo invisível, parece aguçar a lembrança de nossa finitude. Quanta gente fez sua páscoa neste período perturbador da história da humanidade! Até o momento, o Brasil tem figurado como o segundo país do mundo com maior número de mortos na pandemia. Vida Pastoral se solidariza com cada família e expressa profundo pesar diante de tanta dor.

É possível que o índice de mortos fosse menos drástico se o país tivesse se preparado, com o tempo que teve, para aprender com os outros países por onde o vírus circulou primeiro. Quando o noticiário internacional anunciou a existência do novo coronavírus em Wuhan, na China, parecia ser algo muito distante. Por aqui fomos seguindo como se nada tivesse que ver conosco. As primeiras análises, até de especialistas, e os burburinhos nas conversas comuns quase sempre versavam sobre um vírus pouco perigoso. Assistíamos à China construindo hospitais às pressas, a Europa confinada e o alto número de mortos contabilizados diariamente. Embora nos assombrássemos com os noticiários e o vírus já circulasse entre nós, ainda tínhamos o agravante: um “governo insensível”, sem projeto nacional de combate à pandemia. Faltou projeto, mas abundaram declarações e práticas negacionistas.

Temos grandes desafios pela frente. Há uma travessia que devemos enfrentar. O termo “travessia”, por sua poesia, é o que mais se adequaria aqui, justamente por conter em si a marca da esperança. Apesar dos sinais de morte que se abatem sobre a realidade, nossa perspectiva é a esperança. Aquela esperança que é o combustível atuante entre o já realizado e o ainda não que se vislumbra no horizonte. A esperança é como que o brilho dos olhos de uma mãe, porque, naquele olhar, ainda que haja dor, o amor é luz diante das situações mais desafiadoras.

Nossa gratidão aos articulistas que compõem esta edição de nossa revista. O intuito é lançar luz sobre a realidade, desafiando-nos a dar razões de nossa esperança (1Pd 3,15). Afinal, nossa condição humana, embora finita, transcende a mera existência do tempo e do espaço. Nosso horizonte é o eterno. Exatamente por isso, nossa sensibilidade pastoral não pode se furtar aos desafios de acender a esperança, especialmente dos mais fragilizados no atual cenário dramático da existência humana, da criação, da “casa comum”. Estamos todos interligados.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor